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AUMENTO DA SOLICITAÇÃO

2.4 PROCESSOS GEOLÓGICOS CORRELATOS

Entende-se por processos geológicos correlatos os solos que causam diversos problemas e danos estruturais sobre eles assentados (deformações). As deformações são abatimentos superficiais dos terrenos, cuja velocidade e intensidade dependem das características geotécnicas do solo (COUTINHO, 2013). São vários os processos que resultam na deformação. Serão apresentadas quatro formas usuais de ocorrência, cujo entendimento e delimitação cartográfica permitem ações voltadas ao planejamento da ocupação, com medidas preventivas em áreas com possibilidades de situações de risco.

2.4.1 Expansão e contração de solos

São solos não saturados; têm argilominerais de estrutura laminar do tipo 2:1 principalmente do grupo esmectitas, como as montmorilonita ou vermiculita. Contrações e expansões com aparecimento de superfícies de fricção; solos com drenagem baixa e atividade alta, derivados de rochas ígneas, basicamente basalto, diabases e gabos, e de rochas sedimentares basicamente: folhelhos, margas e calcários; são de regiões onde a evapotranspiração excede a precipitação, regiões de alternância de estações secas e chuvas intensas e concentradas (BARBOSA, 2013; SAMUEL, 2004).

A evolução do processo de inchação e retração, com significativas variações volumétricas, dá origem ao fenômeno denominado de empastilhamento (Fotografia 2.13), que torna o solo desestruturado e desagregado, suscetível à erosão, colapsos por compactação e instabilização em taludes, podendo movimentar grandes massas de material, mesmo em áreas aplainadas. O empastilhamento de solo pode afetar também fundações e outras obras de engenharia, promovendo sua ruína parcial ou total, com a geração de trincas, rachaduras e desabamentos nas edificações – Fotografia 2.14 (OLIVEIRA, 2010).

Fotografia 2.13 – Fissuras ou fendas características nas estações secas

Fonte: <https://mind42.com/public/ee2a341a-b21a-4c1b-a436-fc5621e80473>. Acesso em: 8 jan. 2016.

Fotografia 2.14 – Exemplos de processos geológicos correlatos

Fonte: Amorim (2004).

A) rissuras diagonais embaixo e acima das janelas e portas das edificações; B) ondulações e ruptura no pavimento.

Atualmente, o crescimento socioeconômico do estado de Pernambuco é expressivo, e grandes programas habitacionais e obras de infraestrutura se encontram em execução. Algumas dessas obras localizam-se em áreas de ocorrência de solos expansivos, como o canal de transposição do rio São Francisco e a refinaria em Suape.

2.4.2 Colapso de solos

Solos colapsíveis são solos não saturados, metaestáveis, que experimentam um rearranjo radical de partículas e grande redução de volume quando inundados, com ou sem carga adicional (CLEMENCE; FINBARR, 1981 apud FERREIRA, 1995).

Segundo Ferreira (1995), encontram-se solos colapsíveis em depósitos eólicos, aluviais e coluviais, em solos residuais e solos vulcânicos. Apesar de maior ocorrência associada aos solos de depósitos recentes, principalmente eólicos, em regiões áridas e semiáridas, esses solos podem ocorrer também em diferentes condições. No Brasil, a ocorrência desse tipo de solo é geralmente verificada em solos aluviais, coluviais e residuais.

Além da característica natural de colapsividade do solo, um importante fator deflagrador do processo em áreas urbanas diz respeito à saturação do solo provocada pelo vazamento de redes de água, de esgoto doméstico e industrial, de galerias e canais de águas pluviais, de reservatórios de água, de estações de tratamento, etc. (Figura 2.13).

Assim, quando ocorrem inundações e rompimentos da tubulação de abastecimento de água ou, principalmente, de esgoto, pode suceder a saturação de água no solo e modificação de sua estrutura e consequentes recalques bruscos, muitas vezes, com grandes proporções. Tendo como consequência mais comum a danificação nas edificações (trincas, rachaduras e desabamentos) e na rede de infraestrutura – rede de água e esgoto, rede elétrica, sistema viário, etc. (Fotografia 2.15 e 2.16).

Figura 2.13 – Saturação de solo suscetível a colapso causado por chuva e vazamento na rede de abastecimento de água

Fonte: <https://pt.slideshare.net/mjbrollo/atuao-do-instituto-geolgico-na- preveno-de-desastres-naturais>. Acesso em: 14 jan. 2016.

Fotografia 2.15 – Exemplo de deformação na construção (trincas e fissuras)

Fonte: <https://pt.slideshare.net/mjbrollo/atuao-do-instituto-geolgico-na-preveno-de-desastres- naturais>. Acesso em: 14 jan. 2016.

Fotografia 2.16 – Exemplo de deformação na construção (trincas e fissuras)

Fonte: <http://dicasdegesso.blogspot.com.br/2015/07/trincas-como-resolver.html>. Acesso em: 14 jan. 2016.

2.4.3 Adensamento do solo

Trata-se da redução de volume de sedimentos (mais evidentes em argilas saturadas), basicamente por aumento das tensões de compressão e consequente saída de água dos poros. Esse processo é, em geral, lento e costuma ter resultados de maior impacto quando a presença de camadas argilosas compressíveis ocorre em subsuperfície, como nas restingas e em outros depósitos sedimentares, comuns nas cidades litorâneas, causando recalques diferenciais em obras como aterros, pavimentos ou edificações. Se esses recalques não forem adequadamente considerados com obras de prevenção, reforço ou sobrecarga prévia, graves danos poderão ocorrer nas fundações, infraestrutura de drenagem, pavimentação e abastecimento em geral.

Alguns casos típicos de fundações rasas construídas em terrenos constituídos por solos argilosos moles são as edificações situadas ao longo da orla de Santos-SP, construídas na década de 1970, quando ainda não havia a prática das fundações profundas. As fundações rasas foram construídas sobre uma camada de areia compacta com profundidade de aproximadamente 10 metros, mas estava apoiada sobre uma camada espessa de argila mole altamente compressível (Figura 2.14 e Fotografia 2.17).

Figura 2.14 – Fundações superficiais (rasas) construídas em terrenos constituídos por solos argilosos moles

Fotografia 2.17 – Exemplo de edificação sofre um rebaixamento causado por adensamento do solo

Fonte: <http://www.geologiadobrasil.com.br/fundacoes_barbeiragem.html>. Acesso em: 14 jan. 2016.

2.4.4 Subsidência cárstica

Consiste no abatimento brusco ou lento do terreno tendo como condicionante principal a presença de um substrato rochoso carbonático, com circulação de água em superfícies de contato e fraturas. Situações semelhantes são verificadas em rochas quartzíticas, conhecidas como pseudocársticas. Esses abatimentos podem destruir por completo edificações de superfície, pondo em risco patrimônios e vidas humanas.

Esse processo pode desenvolver-se naturalmente (subsidência lenta), ou pode ser acelerado por ações antrópicas (colapso), principalmente na exploração de águas subterrâneas, que intensificam significativamente a sua circulação no maciço, podendo mesmo provocar uma inversão da direção do fluxo das águas subterrâneas. A deposição de camadas sedimentares sobre essas rochas em dissolução tende a aumentar as condições de impacto, fundamentalmente nas áreas urbanas.

É necessário o emprego de estudos e métodos para prever o comportamento das obras, e com isso adotar uma solução adequada na fase de projeto. A eficácia de uma previsão está aliada não só à adequação do método de análise empregado, mas também na determinação dos parâmetros do solo a utilizar nessa análise.

Os colapsos de terrenos são considerados os principais causadores de acidentes sérios em regiões cársticas, ocasionando mortes até com o desaparecimento súbito de pessoas tragadas

pelo afundamento. Porém, a subsidência também causa prejuízos econômicos e mortes pelo desmoronamento total ou parcial de construções (NAKAZAWA; PRANDINI; DINIZ, 1995).

A cidade de Lapão, na região central da Bahia, localiza-se sobre os terrenos cársticos da Formação Salitre. É exemplo de cidade em área cárstica que sofre, com problemas geotécnicos relacionados com a instabilidade de seus terrenos. Nos últimos anos, são muitos os casos de imóveis, arruamentos e espaços públicos que vêm apresentando danos estruturais provocados pelas constantes subsidências e acomodações do substrato rochoso (OLIVEIRA FILHO, 2015). Um famoso caso brasileiro relacionado com esse fenômeno ocorreu na cidade de Cajamar-SP, em 1986, onde houve o afundamento do solo formando cavidades de 32 m de diâmetro e 13 m de profundidade. Esses afundamentos foram inicialmente associados a processos de carstificação. Estudos posteriores, porém, mostraram que os referidos processos foram intensificados pelo bombeamento de água subterrânea por meio de poços profundos de grande vazão, que provocaram a migração do solo para ocupar o espaço deixado pela retirada da água, ocasionando a subsidência do terreno. A Figura 2.15 esquematiza o modelo interpretativo dos fenômenos ocorridos em Cajamar. A Fotografia 2.18 e 2.19 ilustra exemplos de como algumas dezenas de casas foram destruídas ou condenadas (PROIN/CAPES; UNESP/IGCE, 1999).

Figura 2.15 – Modelo interpretativo dos fenômenos ocorridos em Cajamar

Fotografia 2.18 – Exemplo de uma das dezenas de casas que foram destruídas na cidade de Cajamar-SP em 1986

Fonte: Proin/Capes e Unesp/IGCE (1999).

Fotografia 2.19 – Exemplo de uma das dezenas de casas que foram destruídas na cidade de Cajamar-SP em 1986

3 LEI N.º 12.608/12 E CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO: