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1 INTRODUÇÃO 25 1.2 OBJETIVOS E HIPÓTESES

2 GERENCIALISMO NA EDUCAÇÃO: A ESCOLA COMO CENTRO DA GESTÃO

2.8 GESTÃO AUTÔNOMA DAS ESCOLAS (GAE) PROPOSTA PELA UNESCO

A expressão GCE também foi traduzida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como “gestão autônoma das escolas” (GAE). Wohlstetter e Odden (2000) estabelecem diferenciações na política de descentralização com base na GCE. Tal política leva em consideração três possibilidades de condução de uma escola com base na gestão local. Propõe uma diferenciação particularmente focada na maneira como é exercido o poder deliberativo, no controle e na tomada de decisões da gestão escolar. Conforme podemos observar no quadro abaixo:

Quadro 2 – Modelos de decisões da gestão escolar

Modelos de GAE Características

Controle Comunitário

Grupos comunitários e pais que antes não faziam parte do processo de tomada de decisões na escola agora passam a exercê-la, com isso há a transferência de poder por parte dos educadores e do conselho administrativo a estes.

Descentralização Administrativa

Algumas tomadas de decisões que antes eram exclusivas de instâncias centrais do poder agora passam, por meio dos conselhos locais, a serem realizadas também por professores e demais profissionais que atuam nas escolas.

Controle do Diretor

Este modelo consiste em deixar a critério do diretor de escola criar um conselho ou não para administrar a escola. O gerenciamento pode ocorrer de forma ad hoc.

Fonte: Wohlstetter e Odden (2000, p. 301-302) (Quadro elaborado pelo autor) A UNESCO, ao promover estudos que viabilizaram o desenvolvimento do conceito de GAE, define, em suas diretrizes, princípios que se assemelham aos da SBM. Para essa agência,

A descentralização permite que as coletividades locais desempenhem um papel mais ativo nas decisões sobre os objetivos e nas políticas dos estabelecimentos escolares em face do ensino e da aprendizagem. [...] Para favorecer a tomada de decisões em escala local, convém transferir o financiamento para as escolas. Esta medida permitirá ajudar a financiar os projetos

educacionais, visando à concessão dos recursos em função das prioridades determinadas pelas necessidades escolares. A importância da descentralização varia de um país para outro, mas a tendência é de responsabilizar a escola ao máximo (ABU-DUHOU, 2002, p. 40-41). Os consultores da UNESCO argumentam que a forma de gestão pode ser definida como um movimento de centralização- descentralização da gestão da educação com alterações na cultura organizacional das escolas: [...] “a liderança que se encontra no topo da hierarquia é convocada a transformar a cultura do sistema” (ABU- DUHOU, 2002, p. 24, grifo do autor). Nesse caso, “a figura do diretor da escola” encontra-se no centro das atenções, pois, nessa lógica, será por meio dessa autoridade que poderá se alcançar o sucesso da gestão autônoma. Ponderam que [...] a gestão da educação engloba todas as medidas de caráter administrativo, financeiro e organizacional que entram em vigor devido à adoção de uma legislação na escala parlamentar ou local (ABU-DUHOU, 2002, p. 24).

De acordo com Abu-Duhou (2002) entre os países industrializados que passam a desenvolver a política de responsabilização por resultados temos: Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. A promoção da eficiência da gestão pública procura envolver a comunidade local, variando de país para país as estratégias adotadas para desenvolver este modelo de gestão.

No Reino Unido, as reformas do sistema educacional estão vinculadas aos interesses do mercado, portanto, sob os ditames do neoliberalismo, esse modelo gera, entre outras consequências, a competição entre escolas na disputa por alunos. Essa política é conhecida como Parental choice, que significa a seleção, por parte do pais, da escola em que seus filhos irão estudar. Essa política estabelece uma relação custo-aluno na transferência de dinheiro do governo para a escola; com isso, as melhores escolas recebem mais dinheiro.

Já no Canadá, ocorre uma descentralização de recursos, para que a direção da escola, em conjunto com os professores, assuma as responsabilidades pelas decisões sobre a compra de equipamentos, móveis e serviços. Com a disponibilização de recursos financeiros diretamente destinados às escolas, estas passam a ser submetidas a um processo de responsabilização e controle contínuo.

Nos Estados Unidos, pratica-se o modelo de escolas Charter, cujo objetivo é reestruturar o currículo, e foi motivado por fortes pressões de grupos minoritários, durante a década de 1980, que

demonstravam descontentamento com o sistema educacional segregador (BORGES, 2004). Tal modelo é apresentado como um processo democrático que propõe por meio da descentralização do ensino ampliar e estabelecer um equilíbrio entre autonomia e responsabilidade de: alunos, pais e professores. Entretanto, esse sistema de ensino submete-se as leis do mercado (ABU-DUHOU, 2002).

A educação na Austrália passou por vários modelos de reestruturação para cumprir o objetivo de implementar a GAE. A intenção com isso foi implementar a gestão para a escola por meio da descentralização de responsabilidades, tarefas e funções para as escolas e a comunidade local. O modelo de GAE adotado pela Nova Zelândia teve como características uma gestão local e autônoma que se baseava no lema de “Administrar pela Excelência”, com o intento de combater principalmente a gestão centralizada.

A Reforma da GAE no Reino Unido se fez em diversas etapas: um programa escolar nacional, um sistema de testes baseados no desempenho em ligação com o programa escolar nacional, a escolha da escola deixada nas mãos dos alunos e da gestão escolar local (GSL) que permite descentralizar a maior parte da verba dirigida a cada estabelecimento e ainda autoriza as escolas a recrutar e selecionar o seu corpo docente. [...] Um regime análogo foi instaurado na Nova Zelândia. Nos Estados Unidos da América, cada estado adotou diferentes medidas visando à melhoria de seus sistemas. Assim, a GAE foi introduzida, em alguns estados, unicamente no âmbito de responsabilidades relativas aos resultados de alunos. Em alguns países não anglófonos, as experiências estabelecidas vão desde o controle social e gestão delegada até a autonomia e delegação financeira (ABU-DUHOU, 2002, p. 77).

No Brasil, a gestão centrada na escola apresenta o grau moderado, conforme expresso no quadro 1, que corresponde à criação dos Conselhos Escolares (CE) para auxiliar o(a) diretor(a) na tomada de decisões do planejamento da escola. Nesse contexto, o Estado institui políticas educacionais que envolvem a comunidade escolar nos afazeres da escola, tornando-as copartícipes dos processos educacionais e, ao mesmo tempo, corresponsáveis pela sua manutenção. Essas

características aproximam a gestão escolar brasileira dos padrões estabelecidos na Austrália, atualmente também é possível perceber elementos do modelo estadunidense, este visa transformar escolas públicas em escolas charters, como vem ocorrendo em alguns estados como Goiás, Pernambuco e São Paulo.

Na seção seguinte, apresentamos a análise dos principais documentos do PDE Interativo, procurando identificar seus principais eixos estruturantes, relacionando-os aos princípios destacados pela literatura crítica à GCE.

3 ESCOLA COMO O CENTRO DA GESTÃO? ILUSIONISMOS