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1 INTRODUÇÃO 25 1.2 OBJETIVOS E HIPÓTESES

2 GERENCIALISMO NA EDUCAÇÃO: A ESCOLA COMO CENTRO DA GESTÃO

2.1 MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL E DAS REFORMAS EDUCATIVAS?

Conforme se materializa o modelo de gestão educacional gerencial nas escolas públicas brasileiras, torna-se possível perceber a relação que há entre as políticas educacionais internacionais, nacionais e locais. Tendo em vista que, nas últimas décadas, as políticas educacionais vêm sendo delineadas por interesses de grandes grupos corporativos, Hill (2003) define esse momento histórico como a “era do neoliberalismo global”, pois, na medida em que ocorre o enfraquecimento dos Estados-nação, o mundo vê ascender o crescimento dos grandes grupos transnacionais. O capital deixa de ter uma fronteira física e geográfica e passa a se movimentar conforme os interesses de um mercado corporativo global.

“[...] o „modelo de mercado‟ que temos hoje é um sistema que na verdade beneficia „o mercado corporativo global‟. Este é um sistema em que as regras são distorcidas a favor das imensas corporações multinacionais e transnacionais que tomam posse, destroem ou incorporam as empresas pequenas, inovadoras, etc., que possam competir com elas (portanto, o estágio „câncer‟ do capitalismo) (HILL, 2003, p. 26).

As distorções econômicas criadas por grandes corporações atingem os Estados nacionais em proporção global, gerando impactos no âmbito local de cada país. Esse processo ocasiona uma maior concentração de renda e acumulação de lucro por um grupo cada vez mais reduzido de pessoas, contribuindo com o agravamento das desigualdades sociais. A transnacionalização do capital produz efeitos

imediatos no campo educacional, as instâncias privadas vão transformando a educação em um grande negócio (big business).

O ensino começa a sofrer um processo de mercantilização, passando a ser tratado como uma mercadoria. Corporações econômicas prestam serviços educacionais de acordo com as metas do mercado internacional, baseadas em duas premissas: a primeira procura “assegurar que o ensino e a educação se vinculem à reprodução ideológica e econômica”; a segunda se refere “a Agenda empresarial nas escolas – é em favor das empresas privadas, para que os capitalistas privados possam fazer dinheiro, possam lucrar com o controle desta área: esta é a agenda empresarial nas escolas” (HILL, 2003, p. 34, grifo do autor).

Decerto, a educação exerceria papel fundamental dentro das novas exigências do mercado; para tanto, a administração pública precisaria tornar-se

[...] mais ágil e flexível, com o objetivo de imprimir eficiência ao desempenho do Estado, tornando-o mais compatível com a atual fase do capitalismo global e competitivo. Uma das ações prioritárias foi a descentralização, pela qual foram transferidas funções da burocracia central para estados e municípios e para as denominadas organizações sociais, configuradas como entidades de direito privado, públicas não estatais (FONSECA; OLIVEIRA, 2009, p. 234).

Aparentemente, há um esforço por parte do governo em desenvolver esse trabalho segundo uma lógica pautada na “eficácia” no campo do gerencialismo educacional, apregoando a crença de que a resolução dos problemas qualitativos da educação supõe a melhoria da gestão educacional. Porém, o que está incutido nesse modelo é a intenção do Estado em instituir novas formas de organizar a escola pública, com base na regulação que compõe o universo do setor privado.

Seguindo essa premissa, Santos (2012, p. 147) aponta o planejamento como elemento central para:

[...] melhorar os resultados, modificando o funcionamento da escola, tornando-a mais eficiente e eficaz; em outros termos, melhorar o desempenho das escolas, sem que isso implique aumento de gastos com educação por parte do Estado, como defenderam os reformadores do Estado brasileiro nos anos 1990.

De acordo com o Plano diretor da reforma do aparelho do Estado (BRASIL, 1995), a reforma objetivou substituir o antigo modelo burocrático weberiano, alicerçado no acompanhamento dos processos, por um modelo denominado de gerencial, no qual o controle recai sobre os resultados. Sua lógica assenta-se nos princípios da eficácia e da eficiência, que aliados a boas técnicas mantidas do antigo modelo constituem um reordenamento ou modernização. Tal reforma envolveria:

[...] (1) o ajustamento fiscal duradouro; (2) reformas econômicas orientadas para o mercado, que, acompanhadas de uma política industrial e tecnológica, garantam a concorrência interna e criem condições para o enfrentamento da competição internacional; (3) a reforma da previdência social; (4) a inovação dos instrumentos de política social, proporcionando maior abrangência e promovendo melhor qualidade para os serviços sociais; e (5) a reforma do aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua “governança”, ou seja, sua capacidade de implementar de forma eficiente políticas públicas (BRASIL, 1995, p. 11).

Com vistas a aumentar sua governança, o governo federal institui a administração pública gerencial e divide o Estado em quatro setores: Núcleo estratégico; Atividades exclusivas; Serviços não exclusivos e Produtos de bens e serviços para o mercado (BRASIL, 1995).

Diante disso, estabelece um novo marco legal que fortalece o núcleo estratégico do Estado ao mesmo tempo em que descentraliza a administração pública através de “Agências Autônomas” e “Organizações Sociais28”, por intermédio do setor de Serviços não exclusivos29, todos aparelhos privados de hegemonia. “Objetivava-se,

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Organizações Sociais (OS‟s) são entidades de direito privado que obtêm autorização e recebem recursos públicos do governo para prestar serviços não- exclusivos nas áreas da saúde, educação, ciência e tecnologia, que antes eram providos exclusivamente pelo Estado (BRASIL, 1995).

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São organizações públicas, não-estatais e privadas, que recebem subsídios do Estado, mas que não possuem poder de Estado, porém prestam serviços que estão ligados a direitos humanos fundamentais, como saúde e educação. Como exemplo, podemos citar as Organizações Não-Governamentais (ONG‟s), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP‟s) e as Fundações e Associações sem Fins Lucrativos (FASFIL).

com isso, aumentar a governança, ou seja, a capacidade administrativa de o Estado governar com efetividade e eficiência, limitar sua ação para a prestação de serviços básicos e essenciais e dividir responsabilidades” (PERRUDE, 2013, p. 81).

Buscou-se implementar uma nova racionalidade na administração pública; para isso foram “[...] criados novos mecanismos de controle, muitos deles envolvendo uma determinada concepção de trabalho em grupo, e de interferência nas áreas de planejamento a fim de regulamentar e, desse modo, controlar a participação” (ZANARDINI, 2006, p. 65).

Decerto, o processo de descentralização das ações com a ênfase na autonomia e na implantação da gestão baseada na escola evidencia as relações globais-locais. Azevedo (2002) define a articulação entre os interesses corporativos do meio empresarial e o Estado, na qual este passa a desempenhar o papel de “gerente” dos interesses do capital mundializado.

Nesse contexto, o gerencialismo, que é uma das marcas das reformas educativas em escala planetária, implica uma nova postura dos gestores que se tornam responsáveis pelo delineamento, pela normatização e pela instrumentalização da conduta da comunidade escolar na busca dos objetivos traçados.

Na verdade, não podemos desconsiderar que tanto no modelo de administração burocrática quanto no gerencial se inserem as tentativas de vincular a educação aos parâmetros do desenvolvimento econômico (AZEVEDO, 2002, p. 59).

Shiroma (2006, p. 5) assevera que os princípios do gerencialismo servem para alocar recursos públicos em diversas organizações, tanto públicas quanto privadas, ainda aponta que:

O discurso gerencial institui uma nova linguagem para promover a mudança na cultura da escola. Embasada na ideologia técnico-burocrática, incorporando o léxico da re-engenharia, o discurso participativo da transformação, do empreendedorismo, do cidadão pró-ativo. Fala da mudança orientada pelo planejamento estratégico, pela missão e pelas metas. Busca transformar o servidor burocrático num líder dinâmico, tenta provocar transformações na subjetividade dos educadores. Evoca imagens futuristas, tenta criar

um gestor motivador, visionário. O gerencialismo tende a modificar a natureza da linguagem que os profissionais usam para discutir a mudança. Esse discurso influencia não só a linguagem mas também a prática. Afeta a forma de ser professor e diretor de escola.

A Reforma do Estado impacta o modo de conduzir as políticas públicas no Brasil, e com isso há uma profunda alteração na forma de organização da escola pública.

2.2 A MATERIALIZAÇÃO DOS PRINCIPIOS DA REFORMA DO