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A MATERIALIZAÇÃO DOS PRINCIPIOS DA REFORMA DO ESTADO NA EDUCAÇÃO

1 INTRODUÇÃO 25 1.2 OBJETIVOS E HIPÓTESES

2 GERENCIALISMO NA EDUCAÇÃO: A ESCOLA COMO CENTRO DA GESTÃO

2.2 A MATERIALIZAÇÃO DOS PRINCIPIOS DA REFORMA DO ESTADO NA EDUCAÇÃO

As pesquisas que apresentam o histórico do PDE Escola estabelecem uma relação entre a reforma do Estado e a gestão educacional, com base na preocupação com a eficiência na administração pública. Enfatizam que a reforma do Estado brasileiro, na década de 1990, de orientação neoliberal, teve a intenção de atender às necessidades da mundialização do capital.

É importante situarmos essa política no conjunto de redefinições das políticas sociais e educacionais recomendadas pelo Banco Mundial da década de 1990. No documento Prioridades e Estratégias para a Educação, publicado em 199630, esse organismo internacional propõe que:

As medições de desempenho têm aplicações políticas e aplicações pedagógicas. Elas podem ser usadas para monitorar o progresso para alcançar as metas educacionais nacionais, avaliar a eficácia e a eficiência de determinadas políticas e programas, responsabilizar as escolas pelo rendimento de seus alunos [...] Elas (medições) podem ainda ser combinadas com incentivos para encorajar um sistema a obter melhores resultados31 (Banco Mundial, 1996, p. 112, tradução nossa).

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A primeira versão desse documento foi publicada em língua inglesa, em 1995, mas nossa consulta foi realizada na versão publicada em 1996, em língua espanhola.

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Las mediciones del rendimiento tienen aplicaciones de política y aplicaciones pedagógicas. Se pueden utilizar para vigilar los avances hacia la consecución

Naquele documento, o Banco Mundial expressa a intenção gerencialista que inspira sua concepção de monitoramento, eficiência e eficácia. Este é um modelo de gerenciamento empresarial a ser implantado na escola pelo PDE Escola como forma de viabilizar a flexibilização, a descentralização e a eficiência, como elementos para desenvolver a autonomia escolar e avaliar os seus resultados (SILVA, 2004).

Campos (2005, p. 7-8) considera que um novo modelo de gestão educacional, a descentralização dos sistemas de ensino e da própria escola pública, é estabelecido por reformadores para os países latino- americanos onde

[...] a descentralização dos sistemas educacionais [...] é apresentada tanto como condição necessária à autonomia das unidades escolares, como também às políticas de avaliação dos resultados de aprendizagem e de acompanhamento dos impactos dos recursos destinados à esta.

[...] A participação dos pais é enfatizada na perspectiva de consumidores; os pais são considerados os principais atores no que se refere ao controle externo da qualidade do serviço oferecido.

No campo educacional, a reforma da gestão escolar, denominada por alguns autores como gestão compartilhada, é a expressão de uma política governamental que comunga dos mesmos princípios da lógica empresarial, ou seja, mercadológica, parte desse processo de descentralização (VIRIATO, 2004). Assim, a produtividade, a competitividade, a eficácia e a eficiência sobre os processos de gestão escolar tornam-se os parâmetros que a definem como um modelo de gestão racional, que passa a ter nos cidadãos, em conjunto com o Estado, uma aliança que objetiva acompanhar o cotidiano da escola pública e minimizar os custos com a educação.

Se tomarmos como parâmetro os princípios da já citada administração gerencial, perceberemos que o modelo de gestão compartilhada possibilita a de las metas educacionales nacionales, evaluar la eficacia y la eficiencia de políticas y programas determinados, responsabilizar a las escuelas del rendimento de los alunos [...] Se pueden además combinar con incentivos para impulsar a un sistema a obtener mejores resultados (World Bank, 1996, p. 112).

criação de autonomia ao diretor e de participação da comunidade escolar, no sentido de tornarem-se cidadãos-clientes no processo de tomada de decisão sobre os assuntos que dizem respeito à escola. Ressalte-se que a administração pública gerencial não nega os princípios da administração burocrática. Princípios como “admissão segundo rígidos critérios de mérito, a existência de um sistema estruturado e universal de remuneração, as carreiras, a avaliação constante do desempenho, o treinamento sistemático” (BRASIL, 1995) são mantidos. A diferença fundamental reside na forma de controle. Enquanto a administração burocrática firma-se nos processos, a administração gerencial centraliza-se nos resultados. Na verdade, ambas são formas centralizadas de gerenciamento; ambas não rompem com o clientelismo, patrimonialismo e fisiologismo (VIRIATO, 2004, p. 53).

Dessa forma, a autonomia escolar adquiriu novos contornos com a instituição das entidades de direito privado, conhecidas por Unidades Executoras (UEx), ou Associação de Pais e Professores da escola (APP‟s), por meio das quais os recursos financeiros chegam ao estabelecimento de ensino. Naquele contexto, em 1995, o governo federal criou o Programa Dinheiro Direto na Escola32 (PDDE) que destina verbas à escola pública, conforme o número de alunos matriculados. As agências internacionais também depositavam dinheiro nas escolas, via projetos estabelecidos com o MEC.

De acordo com a expectativa gerada pela cooperação do BM, as experiências dos projetos seriam repassadas para o sistema educacional como um todo, produzindo eficiência (maior produtividade educacional com menor custo) e eficácia, esta entendida como alcance de objetivos

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O governo federal criou, em 1995, o Programa de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (PMDE), com denominação alterada para Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), pela Medida Provisória nº 2.100-32, de 24 de maio de 2001, que se justifica pela necessidade de adotar medidas racionalizadoras, menos burocráticas, de modo que os recursos cheguem com mais agilidade e diretamente às escolas, conforme Resolução do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) nº 12, de 10 de maio de 1995 (BRASIL, 1995) (PERONI; ADRIÃO, 2007, p. 29).

de impacto para melhorar o desempenho escolar (expansão de matrículas, diminuição da evasão e da repetência) (FONSECA; OLIVEIRA, 2009, p. 235).

Os resultados do rendimento do aluno na escola em que está matriculado, associados aos dados do censo escolar, tornam-se parâmetros para definir o bom ou o mau desempenho da gestão educacional. Portanto, isso conduz a processos de responsabilização da própria unidade educativa, uma vez que “a escola é tida como responsável pela melhoria da qualidade do ensino e o projeto visa modernizar a gestão e fortalecer a autonomia da escola” (FONSECA; OLIVEIRA, 2003, p.4).

Tais aspectos contribuem para a efetivação da gestão centrada na escola, que, ancorada nos postulados dos reformadores, almejava instituir formas de monitoramento e acompanhamento do trabalho escolar e responsabilização dos docentes pelos resultados escolares.

A centralidade dos conceitos de autonomia, participação e descentralização, nesse processo, tendem a atribuir um novo sentido aos poderes locais em sua relação com poder central, particularmente no que se refere ao financiamento e à condução de políticas sociais.

A parceria entre Estado e sociedade civil tem a finalidade de dividir responsabilidades e de impulsionar a própria comunidade a se sentir responsável pelos resultados e a encontrar respostas para seus próprios problemas. Desta maneira, a proposta de autonomia passa a ser sinônimo de responsabilidade compartilhada. É nítida nesses programas a opção por políticas gerencialistas, as quais introduzem um novo relacionamento entre governo e sociedade civil (combinando redução de gastos públicos com a ampliação da participação social), articulam as esferas públicas e privadas e (re) dimensionam a atuação do Estado na oferta da educação (CARVALHO, 2008, p. 254).

Podemos considerar tal política como expressão de um modelo de gestão que descentraliza ações para o âmbito local, num processo de desconcentração “parcial” e “monitorada”, à medida que se sujeita às políticas definidas pelo órgão central.

Os objetivos dessa mudança no campo de gestão educacional estão diretamente ligados à redução de custos na educação. A ideia

central consistia em realizar mais com menos (CAMPOS, 2005), igualmente uma nova forma de regulação surgia, afim de associar aporte financeiro à gestão por resultados. Com isso institui-se os princípios da gestão eficiente centrada na escola.

Segundo Santos (2012, p. 44):

[...] o PDE-Fundescola conferiu possibilidade de participação e autonomia integrada a aspectos exclusivamente financeiros. Além disso, o processo de responsabilização dos professores e das escolas foi outra conclusão comum nas investigações, indicando a vinculação do programa aos pressupostos fundantes da gestão gerencialista.

Os estudos de Santos (2012, p. 44) concluem que, desde a origem do PDE Fundescola, em 1997, já era possível estabelecer que

[...] esse plano objetiva orientar o foco do trabalho escolar para a solução dos problemas gerenciáveis. A essa forma de resolver os problemas se associa o planejamento estratégico como ferramenta gerencial pela qual as escolas direcionam suas atenções àqueles problemas considerados prioritários, que devem ser mensuráveis e de fácil resolução, sempre vinculados a questões de ordem técnica, condizente com o gerenciamento do trabalho pedagógico.

Passados dois anos dos estudos publicados por Xavier (1996), o MEC, no ano de 1998, instituiu em parceria com o BM o programa Fundescola, com objetivo de fornecer fundos para o desenvolvimento de projetos nas escolas. Para concretizar tal proposta foi criado o programa Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE Escola).

2.3 PDE-FUNDESCOLA: O EMBRIÃO DA GESTÃO POR