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O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, NOVO FÔLEGO DO PDE ESCOLA

1 INTRODUÇÃO 25 1.2 OBJETIVOS E HIPÓTESES

2 GERENCIALISMO NA EDUCAÇÃO: A ESCOLA COMO CENTRO DA GESTÃO

2.4 O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, NOVO FÔLEGO DO PDE ESCOLA

Em 2007, o governo federal apresenta o Plano de Desenvolvimento da Educação (BRASIL, 2007) por meio do Decreto 6.094 (BRASIL, 2007a). Esta política educacional se materializa no Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, que estabelece um conjunto de metas e compromissos que devem ser concretizados na área da educação pública até 2022, com o objetivo de se obter uma suposta melhoria na qualidade da educação básica.

Com o lançamento do PDE (BRASIL, 2007), pelo governo federal, o PDE Escola torna-se uma das ações constantes desse novo plano. A partir desse momento, essa política é ampliada para todas as regiões do país, atendendo escolas de acordo com os resultados de verificação de aprendizagem em larga escala. É priorizada a destinação

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Pesquisa sobre o impacto do PDE Fundescola, na qual: “Foram realizadas entrevistas em nove escolas situadas em três municípios goianos [...]” (FONSECA; OLIVEIRA, 2009, p. 239).

de recursos financeiros às escolas que apresentam baixos resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

A priori, esse programa tem, aparentemente, o propósito de fomentar ações que elevem os padrões de qualidade da gestão escolar, já que é nas escolas que se encontra o seu foco de ação. Pela ótica institucional, o PDE Escola é visto como um moderno instrumento de planejamento, uma vez que representa o primeiro passo no sentido de mostrar que a escola deixou de ser burocrática, meramente cumpridora de normas (BRASIL, 2006). Todavia, essa política educacional traduz os princípios do modelo inglês de escola eficiente e eficaz, trazendo conceitos de desenvolvimento e manutenção da qualidade em processos e resultados, na maneira de utilizar os recursos efetivamente e no estabelecimento de uma visão geral estratégica e de direcionamento para a instituição (GLATTER; PREEDY; LEVACIC; 2006).

Com a ampliação do PDE Escola em nível nacional, o governo brasileiro, partindo dos acordos assinados com o BM35, passa a associar a ideia de qualidade com a obtenção de resultados na educação. Por isso, esse plano torna-se instrumento fundamental no monitoramento, como forma de definir valores e objetivos institucionais que possam traduzir ações e metas a serem alcançadas pelas escolas em determinado espaço de tempo.

Esses aspectos relacionam-se à descentralização e responsabilização da educação entre os diferentes níveis do governo, ocorridas com a reforma educacional dos anos de 1990, atreladas à transferência de recursos financeiros entre as esferas da União, do Distrito Federal, dos estados e dos munícipios (KRAWCZYK, 2008).

Esse caráter descentralizado da Educação formal originou-se, principalmente, da omissão do poder público, do embate de diferentes projetos societários das elites locais e, em menor medida, da organização federativa do país. Esses conflitos acompanharam também a lógica de distribuição das competências entre as diferentes esferas de governo – União, estados e municípios – ao longo do século XX (KRAWCZYK, 2008, p. 799). A autora acima citada, discute o papel do Estado nas diferentes formas de regulação contidas no PDE (BRASIL, 2007a), com base na análise da gestão educacional por ele proposta, considerando os

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Para maiores informações, consultar o documento “Prioridades e estratégias para a educação” do Banco Mundial (1995) (mimeo).

municípios como o lócus de regulação educacional. Krawczyk (2008) esclarece que as diversas formas de relação entre o Estado e a sociedade objetivam a uma “regulação”:

A nova forma de gestão da educação implicou também mudanças institucionais e a reconfiguração das relações entre o Estado a escola e a comunidade. Abriu-se espaço para a participação da iniciativa privada nos projetos e nas práticas institucionais das escolas públicas e, ao mesmo tempo, estabeleceu-se um canal de comunicação entre o governo central e as unidades escolares. Este último, principalmente por meio de programas que vinculavam o recebimento de recursos federais extras e de premiações à elaboração de projetos que seriam avaliados pelo Ministério da Educação – MEC (KRAWCZYK, 2008, p. 800).

O novo modelo de gestão educacional proposto pelo Estado por intermédio do PDE (BRASIL, 2007a) consiste em uma significativa alteração do papel do Estado na condução das políticas educacionais.

A divisão de responsabilidades expressa pelo PDE (BRASIL, 2007a) demonstra que a União transfere aos estados e aos municípios o compromisso de desenvolver a educação básica em seus territórios. Em contrapartida, o governo federal destina ajuda técnica e financeira aos entes federados; para tanto é necessário que estados e municípios, por adesão, estabeleçam um Termo de Cooperação Técnica com o MEC, requisito obrigatório para que se inicie a elaboração de um Plano de Ações Articuladas36 (PAR). Nessa nova organização, o MEC estabelece o controle da ação municipal em troca da assistência técnica e financeira; esse processo ocorre com a implantação do Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle37 (SIMEC), utilizado

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“No âmbito do Plano de Metas são instituídos os Planos de Ações Articuladas (PAR) [...] de caráter plurianual, focado em quatro dimensões: gestão educacional, formação de professores e dos profissionais de serviço e apoio escolar, práticas pedagógicas e avaliação e infraestrutura e recursos pedagógicos [...], essa ação do governo é articulada ao chamado PDE Escola [...]. Pelo que se aprende, as escolas com baixo IDEB seriam, por quatro anos, foco do Plano, recebendo auxílios da União, que podem tanto ser financeiros quanto de suporte técnico” (ZANARDINI, 2014, p. 82).

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O Sistema Integrado de Monitoramento e Execução e Controle (SIMEC), ligado ao Ministério da Educação, é um portal operacional e de gestão online

para monitorar as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação e do Plano de Ações Articuladas.

O PAR viabiliza a destinação de recursos financeiros para as Secretarias de Educação. É uma ação governamental que faz parte do arcabouço de intenções constante no Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (BRASIL, 2007a). Dessa forma, o MEC acaba condicionando a transferência de recursos aos entes federados à adesão ao Termo de Cooperação Técnica, que possibilita o preenchimento do PAR (BASSI, 2011).

Outra ação prevista no PDE (BRASIL, 2007a) foi a criação de um indicador educacional que avaliasse o rendimento das escolas por meio do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB). Os resultados são reflexos da aplicação, pelo MEC, da Prova Brasil, que, combinada com os dados do Censo Escolar, definem a nota da escola. A utilização deste indicador e seus resultados determina o conjunto de escolas, que, ao apresentarem o IDEB mais baixo, receberão um atendimento prioritário do governo federal, por meio do acesso ao programa PDE Escola.

Essa política educacional, implantada pelo governo federal, estabelece a escola como eixo norteador de diferentes políticas públicas. Sua função social vai sendo alterada no momento em que o ensino passa a ser uma das possibilidades encontradas na escola. Programas e projetos relacionados a outros Ministérios começam a ser implementados, dessa forma a escola vai sendo vista como centro social e cultural da comunidade. “Assim, o Plano de Desenvolvimento da Educação e o Plano de Aceleração do Crescimento – PAC – passariam, juntos, a ser a alavanca do desenvolvimento nacional” (KRAWCZYK, 2008, p. 801). Dessa maneira, a autora desenvolve uma abordagem crítica sobre essa política, afirmando que a territorialidade expressa no PDE (BRASIL, 2007a) se materializa na comunidade via escola, transformando-se em um poder regulatório do governo federal, que cria políticas públicas conforme a necessidade apresentada por determinadas demandas sociais.

Segundo Adrião e Garcia (2008), à medida que os municípios aderem ao PAR, a União começa a prestar assessoria técnica e transferir recursos financeiros por meio de programas, com o objetivo de elevar os que trata do orçamento e do monitoramento das propostas que chegam ao governo federal na área da educação, por meio dos Estados e municípios, quando preencherem o PAR. Também é no SIMEC que o gestor verifica o andamento do PAR em sua cidade.

indicadores educacionais mensurados pelo IDEB. Nesse período, o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) buscou alterar o padrão burocrático de funcionamento do Estado com a introdução da reforma da administração pública federal no país. O governo federal baseia-se em conceitos contidos na Nova Gestão Pública, desenvolvida pelo governo de Thatcher, na Inglaterra, especialmente sobre o conceito de accountability, ou seja, com base em uma concepção que visa responsabilizar os agentes públicos pela boa ou má condução da gestão pública.

O avanço das políticas neoliberais promovido por essa reorganização do Estado, induzidas pelas agências multilaterais, visavam a direcionar o disciplinamento financeiro e o controle das contas públicas.

A descentralização da gestão pública educacional, à medida que possibilitou maior autonomia financeira e administrativa às escolas, passou a responsabilizá-la, em maior grau, por seus resultados nas avaliações externas e nos dados do censo escolar38.

Diante desse quadro não é de se estranhar que, em um novo esforço de regulação, o MEC tenha proposto, em 2007, a instituição de um programa de apoio técnico e financeiro voltado prioritariamente aos municípios com piores desempenhos, desde que aceitem se submeter a certas medidas aqui caracterizadas como de responsabilização (accountability) (ADRIÃO; GARCIA, 2008, p. 786).

Nesse sentido, o PAR serve como mecanismo que visa acompanhar o cumprimento das metas assumidas pelos municípios ao assinarem o Termo de Cooperação Técnica com a União, no qual consta o apoio técnico e a transferência de recursos financeiros. A Diretriz XXVIII do Decreto 6.094/07 (BRASIL, 2007) estabelece que as autoridades locais devem procurar desenvolver ações que incluam a participação da sociedade39 no acompanhamento dos dados do IDEB, para monitorar se as metas do PAR estão sendo desenvolvidas. O MEC determina que, se cumprirem as metas que constam no convênio, os

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Com base nos indicadores de: aprovação, repetência e evasão escolar. 39

Para Adrião e Garcia (2008, p. 789), a sociedade é compreendida pelos seguintes segmentos: representantes de associações, empresários, sociedade civil, trabalhadores, Ministério Público, Conselho Tutelar e dirigentes do sistema educacional.

municípios estarão aptos a receber os recursos da União. Em síntese, a União monitora os gestores municipais e estabelece um padrão educacional por meio da celebração de um apoio técnico (PAR). Essa política educacional responsabiliza os gestores municipais e os gestores das unidades educativas caso as escolas não venham a alcançar as metas previstas pelo IDEB (ADRIÃO; GARCIA, 2008).

2.5 PDE ESCOLA UM MODELO GERENCIAL DE BASE TÉCNICA