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Capítulo 2: SISTEMA DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

2.1 Gestão de conflito

Capítulo 2: SISTEMA DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

2.1 Gestão de conflito

O termo gestão de conflito é mais amplo do que solução de conflito, pois envolve desde a sua evitação até a solução, sob qualquer forma, inclusive violenta.1

CHRISTOPHER W. MOORE, experiente mediador americano, aponta as várias abordagens possíveis para administração e resolução de conflitos.2Utiliza como critério de classificação o poder de tomada de decisão e a

natureza da decisão. Apresenta a seguinte divisão:

a) tomada de decisão particular feita pelas partes, por meio de procedimentos informais, envolvendo apenas os disputantes;

b) tomada de decisão particular feita por terceira pessoa;

c) tomada de decisão legal (pública) e autoritária feita por terceira parte; d) tomada de decisão coercitiva extralegal.

No primeiro item, tomada de decisão particular feita pelas

partes, por meio de procedimentos informais, envolvendo apenas os disputantes, o

referido autor inclui a evitação, a discussão informal para a resolução do problema, a negociação e a mediação, como segue:

A evitação pode apresentar diversos motivos, quais sejam, sentir desconforto, não considerar a questão importante, não ter poder para

1

A conflitotologia é a ciência que estuda o conflito em si, suas causas e efeitos, bem como métodos não- violentos de intervenção em situação de conflito, dentre eles, a mediação. Cf. Eduard VINYAMATA (org).

Aprender a partir do conflito, p. 13 e ss.. 2O processo de mediação, p. 21 e ss.

52 impor uma mudança, não acreditar que a situação possa melhorar, não ter aptidão para negociar, etc.

A discussão informal mostra-se suficiente para a resolução da maioria das diferenças cotidianas.3

A negociação é uma das formas mais comuns de se chegar a um acordo mutuamente aceitável, por meio da qual, “os participantes se unem voluntariamente em um relacionamento temporário destinado a informar um ao outro sobre suas necessidades e interesses, trocar informações específicas ou resolver questões menos tangíveis, tais como a forma que o seu relacionamento vai

assumir no futuro ou o procedimento pelo qual os problemas devem ser resolvidos”.4

A mediação é considerada como um “prolongamento ou

aperfeiçoamento do processo de negociação que envolve a interferência de uma aceitável terceira parte, que tem um poder de tomada de decisão limitado ou não- autoritário”.5

No segundo item, tomada de decisão particular feita por

terceira pessoa, o referido autor inclui a decisão administrativa e a arbitragem,

situações em que as pessoas envolvidas têm menos controle sobre o resultado da disputa.

O autor assinala, no que se refere à decisão administrativa:

Uma terceira parte, que tem algum distanciamento da disputa, mas que não seja necessariamente imparcial, pode tomar uma decisão pelas partes em disputa. O processo pode ser privado se o sistema dentro do qual a disputa ocorrer for uma companhia privada, uma divisão ou uma

3

Cristopher W. MOORE ensina que: “Ou as questões são resolvidas, satisfazendo mais ou menos as pessoas

envolvidas, ou se desiste delas por falta de interesse ou incapacidade para se chegar a uma conclusão”. In O processo de mediação, p. 22.

4 Ibidem, p. 22. 5

53

equipe de trabalho; ou pública, se for conduzida em uma agência pública através de um prefeito, comissário do condado, planejador ou outro administrador. Um processo de resolução de disputa administrativa, em geral, tenta equilibrar as necessidades de todo o sistema e os interesses dos indivíduos”.6

Na arbitragem, a terceira pessoa decide pelas partes quanto à questão em disputa.7

No terceiro item, tomada de decisão legal (pública) e

autoritária feita por terceira parte, o referido autor inclui a decisão judicial e a decisão

legislativa.

A decisão judicial é aquela imposta às partes, proveniente da magistratura oficial.

A decisão legislativa é recomendada para disputas que atinjam um considerável número de pessoas e utiliza como meio a votação.8

Por fim, no quarto item, tomada de decisão coercitiva

extralegal, o referido autor inclui a ação direta não-violenta e a violenta.

A ação não-violenta:

“Envolve uma pessoa ou um grupo cometendo atos ou se abstendo de atos, de tal forma que um oponente é obrigado a se comportar de uma maneira desejada (Sharp, 1973). Estes atos, no entanto, não envolvem coerção física ou violência e são freqüentemente concebidas para minimizar, também, danos psicológicos. A ação não-violenta funciona melhor quando as partes precisam confiar uma na outra para seu bem- estar. Quando é este o caso, uma da partes pode obrigar a outra a fazer concessões, recusando-se a cooperar ou cometendo atos indesejáveis.

6

O processo de mediação, p. 23.

7 Cristopher W. MOORE aponta que seu resultado pode ser consultivo ou compulsório. Cf. O processo de mediação, p. 23. No Brasil, consoante o disposto nos artigos 31 a 33 da Lei nº 9.307/1996, o resultado da

arbitragem somente pode ser compulsório.

8

Cristopher W. MOORE ensina que: “Nesta abordagem, o julgamento com relação ao resultado é feito através

de outro processo do tipo ganhar-perder: a votação. O indivíduo só tem influência sobre o resultado final quando ele – e aqueles que compartilham de suas crenças – podem pressionar os legisladores”. In op.cit., p. 24.

54

A ação não-violenta, muitas vezes, envolve desobediência civil – violação de normas sociais ou leis amplamente aceitas – para despertar a consciência de um oponente ou trazer a público práticas que a parte não- violenta considere injustas ou desonestas. A ação não-violenta pode ser conduzida por um indivíduo ou por um grupo e pode ser pública ou privada”.9

A ação violenta está baseada em coerção física.10

Diante de um conflito, portanto, apresentam-se muitas opções para a tomada de decisão. A reação de cada indivíduo em uma situação de divergência é muito particular e influenciada por inúmeros fatores.

A maioria das pessoas enxerga o conflito de forma negativa e aciona todos os meios de defesa disponíveis para afastar o perigo ou o mal iminente.

Todavia, o conflito, inerente à convivência em sociedade, pode ser uma grande oportunidade de melhoria na qualidade de vida, por meio da transformação pessoal e social, a partir da busca de saídas criativas para o problema.

O conflito sempre decorre de uma mudança que rompe o equilíbrio do sistema em que estão inseridos os envolvidos.

No sistema representado por uma comunidade, a concretização do interesse geral variará em função das qualidades dos indivíduos isoladamente e enquanto grupo. Isso porque a comunidade em seu conjunto possui qualidades que nenhum dos indivíduos possui individualmente. As qualidades do

9

Exemplos de ação não-violenta individual: greve de fome, ocupação de lugar. Exemplos de ação não-violenta coletiva: piquete, vigília, protesto passivo. Cristopher W. MOORE, op.cit., p. 25.

10

Cristopher W. MOORE alerta que, “Esta abordagem supõe que se os custos para a pessoa ou para a propriedade de um oponente, e os custos da manutenção de sua posição forem bastante altos, o adversário será obrigado a fazer concessões. Para que a coerção física funcione, a parte que toma esta iniciativa precisa possuir poder suficiente para realmente prejudicar a outra parte, deve estar apto a convencer o outro lado de que possui este poder e deve estar disposta a usá-lo”. In op.cit., p. 25.

55 grupo refletem em cada um de seus componentes. O que acontece no todo influencia cada uma das partes e vice-versa. E, por conseqüência, cada uma das partes reflete o todo.11

Nessa relação de interação e interdependência entre a comunidade e as pessoas que a compõem, a gestão pacífica dos conflitos é imprescindível para possibilitar a convivência humana.

Nesse sentido, JOSÉ OSMIR FIORELLI, CARLOS JÚLIO OLIVÉ MALHADAS JÚNIOR e DANIEL LOPES DE MORAES ensinam que:

“A gestão do conflito é a aplicação de um conjunto de estratégias capazes de identificá-lo, compreendê-lo, interpretá-lo e utilizá-lo para benefício da homeostase dinâmica de cada indivíduo, das famílias, dos grupos sociais, das organizações e, enfim, da sociedade”.12

Assim, a análise da gestão de conflito, sob a perspectiva de como manejá-lo mais eficientemente, a partir da problemática da ineficácia da prestação jurisdicional para determinadas situações, tem por escopo não só promover a harmonização das relações, por meio da acomodação das diferenças de interesses, mas também possibilita imprimir caráter preventivo aos meios de solução de conflitos.

2.2 Definição de conflito

Sem entrar na discussão acerca dos fundamentos filosóficos para a criação do Estado, o fato é que vivemos em uma sociedade

11 Marinés SUARES. Mediación: conducción de disputas, comunicación y técnicas, p. 77. 12