Capítulo 3: ELEMENTOS ESTRUTURANTES DA MEDIAÇÃO
3.7. Experiência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
3.7.1 Setores de conciliação e mediação
3.7.1.1 Em segundo grau de jurisdição
O primeiro provimento a respeito do tema, editado pelo Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, foi o de nº 783/2002, que criou o “plano piloto de conciliação em segundo grau de
jurisdição”, sucedido pelo Provimento nº 843/2004, que, após o sucesso do período
experimental, criou, efetivamente, o setor.51
Anote-se que entre as considerações apresentadas nos provimentos, está a necessidade de disseminar a cultura da conciliação, que
propicia maior rapidez na pacificação dos conflitos e não apenas na solução da lide, obtendo-se assim resultados com acentuada utilidade social.
Ainda no período experimental, o Provimento nº 819/2003, tornou a conciliação em segundo grau fase processual obrigatória, ao
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Valéria Ferioli LAGRASTA. O gerenciamento de casos, p. 195.
51 Os provimentos referentes ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo estão disponíveis em:
124 determinar que as partes fossem intimadas para manifestarem seu interesse na realização da tentativa de conciliação.
Se todas as partes manifestam interesse, a sessão é designada. Se alguma das partes não manifestar expressamente interesse ou manifestar discordância, a sessão sequer é marcada, pressupondo, então, a voluntariedade de todos os envolvidos para sua realização, sem impor qualquer penalidade àquele que dela não quiser participar, seja parte, seja advogado.
O objetivo é aproximar as partes e restabelecer o diálogo com vistas à conclusão da demanda por meio da composição, especialmente considerando que já foi prolatada uma decisão em primeira instância, que pode servir ao menos como parâmetro.
Se o resultado for frutífero, é lavrado termo de acordo, assinado pelo conciliador, pelas partes e respectivos advogados, submetido à homologação pelo Presidente do Tribunal.
Se a sessão não se realizar ou se o seu resultado for infrutífero, o processo volta exatamente para o mesmo lugar do acervo em que se encontrava, ou seja, a realização da sessão não antecipa a ordem de julgamento do processo.
As partes, os advogados e o conciliador ficam submetidos a cláusula de confidencialidade.
Os conciliadores são todos voluntários, não recebem qualquer tipo de remuneração ou vantagem. São selecionados por uma comissão e designados pelo Presidente do Tribunal de Justiça, dentre membros aposentados da magistratura, do Ministério Público e da Procuradoria do Estado, além de
125 professores universitários e advogados, todos com larga experiência, reconhecida capacidade e reputação ilibada.
Os provimentos que disciplinam o setor optaram pela utilização do termo “conciliação” como gênero, o que inclui também a mediação de conflitos.
3.7.1.2 Em primeiro grau de jurisdição
No primeiro grau de jurisdição, o Provimento nº 796/2003, editado pelo Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, criou o “setor experimental de conciliação no Fórum João Mendes
Júnior”, projeto pioneiro que estimulou a criação de vários outros, tais como o “setor experimental de conciliação de família no foro regional de Santo Amaro” (Provimento
nº 864/2004), o “projeto piloto de mediação da vara da infância e juventude de
Guarulhos” (aprovado pelo Conselho Superior da Magistratura em 19.09.2003), e o “setor experimental de mediação na vara da família e sucessões de Jundiaí”
(aprovado pelo Conselho Superior da Magistratura em 30.08.2004).
O setor experimental do Fórum João Mendes Júnior recebia processos de apenas cinco varas cíveis, encaminhados após seleção judicial, em causas restritas a cobrança, reparação de danos causados por acidentes de trânsito, indenização por dano moral, execução por quantia certa contra devedor solvente e despejo por falta de pagamento.
Na seqüência, o Provimento nº 893/2004 autorizou a criação e instalação do setor de conciliação ou mediação nas comarcas da Capital e
126 do interior do Estado de São Paulo, para matéria de família, de infância e juventude e questões cíveis relativas a direitos patrimoniais disponíveis.
Por fim, considerando o crescente número de setores de conciliação e mediação instalados e os bons resultados produzidos, foi editado o Provimento nº 953/2005, com o fim de uniformizar o procedimento e o funcionamento dos setores.
Diferentemente do processamento no segundo grau de jurisdição, durante a tramitação, fica a cargo do juiz a seleção de processos para remessa ao setor de conciliação e mediação.
As partes e seus advogados são intimados a comparecer na sessão, sem prévia consulta acerca do interesse na designação, e a ausência não acarreta nenhum prejuízo ou penalidade.
Se o resultado for frutífero, é lavrado termo de acordo, assinado pelo conciliador, pelas partes e seus advogados, submetido à homologação judicial.
Se a sessão restar prejudicada pela ausência de alguma das partes ou se o seu resultado for infrutífero, o processo volta à vara de origem.
Há previsão, também, de um expediente extraprocessual (ou pré-processual), mediante requerimento formulado diretamente pelo interessado na secretaria do setor, antes do ajuizamento de qualquer ação. A parte contrária é convocada a comparecer à sessão designada, por meio de convite feito por carta, fax, e-mail ou telefone. Frutífera a sessão, o acordo é homologado judicialmente e registrado em livro próprio. Prejudicada a sessão por ausência da outra parte ou se o resultado for infrutífero, os envolvidos são orientados quanto à possibilidade de
127 buscar a satisfação de eventual direito perante a Justiça comum ou o Juizado Especial.
A critério do conciliador, desde que com a concordância das partes, é possível a convocação de profissionais de outras áreas para esclarecimento de questão técnica controvertida, proibida a utilização dessas informações como prova no processo.
As partes, os advogados e o conciliador ficam submetidos a cláusula de confidencialidade.
Os conciliadores são todos voluntários, ou seja, não recebem qualquer tipo de remuneração ou vantagem. São selecionados por uma comissão de juízes ou pelo juiz coordenador e designados pelo Presidente do Tribunal de Justiça, dentre membros da magistratura, do Ministério Público e da Procuradoria do Estado, além de advogados, psicólogos, assistentes sociais ou outros profissionais, com experiência, reputação ilibada e vocação para conciliação, que deverão se submeter a cursos preparatórios e de reciclagem.
Os provimentos que disciplinam o setor optaram pela utilização do termo “conciliação” como gênero, o que inclui também a mediação de conflitos.