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7. Apresentação dos casos

7.4. Gestão do Cuidado

A gestão do cuidado na família de Pedro se dá de maneira compartilhada entre alguns membros, principalmente: pais, irmã mais velha, tio e tia que vivem no Rio de Janeiro. A busca por atenção especializada se deu apenas via algumas consultas com psicólogo, procura por um CAPS AD no Rio de Janeiro e internações em Comunidades Terapêuticas no estado de Pernambuco.

Interessante ressaltar o fato de que ao buscar o CAPS AD como alternativa de tratamento para os problemas relacionados ao uso de drogas, Pedro não chegou se quer a

entrar no estabelecimento. Ele relatou que, ao chegar em frente ao CAPS AD, acompanhado pelo seu tio, (que exercia a função de delegado da polícia federal e que possuía um bom poder aquisitivo) que dirigia um carro luxuoso naquele momento, sentiu-se bastante constrangido. A chegada ao CAPS em um carro de luxo, vestindo roupas de marca, segundo ele, chamou a atenção dos usuários e técnicos do serviço, gerando incômodo em Pedro que decidiu que quele não era o “seu lugar”, pois não se identificou com o perfil de usuário do serviço. Essa foi a primeira e única tentativa de realizar tratamento em um CAPS. Na recusa de se internar voluntariamente e na escassez de alternativas especializadas com históricos de sucesso em termos de garantia de saúde e bem-estar dos usuários de drogas naquele período, Pedro, apesar de ter tido sempre o apoio da família, ficou por muito tempo sem nenhum acompanhamento especializado na área, até o momento em que retorna a Natal, e tendo a piora progressiva do seu estado de saúde mental e a deterioração de suas relações sociais, foi internado em uma comunidade terapêutica no estado de Pernambuco. Esse foi o primeiro internamento em um total de dois de longa permanência. Sua família ia visitá-lo de acordo com a frequência permitida (uma visita por mês) e Pedro também mantinha o contato telefônico com os familiares sempre que possível.

Após concluir o período prescrito para o segundo internamento, Pedro começou a trabalhar na mesma CT em que esteve internado como técnico de referência. Esse tipo de cargo é oferecido para ex-residentes que tiveram o tratamento bem-sucedido durante o período de internação e é justificado para o ex-residente e para a sua família como uma possibilidade de extensão do tratamento de uma maneira alternativa. Pouco tempo antes de voltar para Natal, Pedro tornou-se sócio de uma comunidade terapêutica em Pernambuco junto a um amigo também ex-residente da última comunidade terapêutica onde esteve internado. No entanto, a sociedade se desfez quatro meses após a abertura da CT, pois seu amigo e sócio retornou ao consumo de drogas e foi internado involuntariamente em outra

comunidade terapêutica. Esse episódio ocasionou o retorno de Pedro para a casa dos seus pais em 2015, onde encontra-se vivendo até o momento da construção dos dados desse estudo.

Observa-se que, apesar de a família ter condições tanto financeiras, quanto afetivas de gerir o cuidado no que diz respeito às necessidades e problemas decorrentes do uso de drogas, as soluções procuradas são escassas, e em sua maioria frágeis ou ausentes de conhecimentos científicos especializados, com exceção do CAPS que foi rejeitado por falta de identificação entre Pedro e o público alvo do CAPS. Essa situação denota o cenário de despreparo e desamparo que as famílias se encontram no que diz respeito às drogas.

Ao ser questionada com relação aos equipamentos da rede de saúde mental, a mãe de Pedro afirmou que o CAPS foi procurado, porém Pedro não aderiu ao tratamento por esse ser segundo ela “muito solto”. Nunca foram procurados os hospitais da rede, que segundo ela, “nunca levei, porque aquilo ali pra mim é uma troca de droga. Eles trocam a droga pelo

remédio e eu não queria isso pro meu filho. Lá as pessoas ficam dopadas...é remédio direto.(sic).

Quando questionada sobre a busca de suporte, a mãe relatou:

eu busquei todas as possibilidades, eu vivia no Amor Exigente, eu ia toda semana

para aquelas reuniões. Eu ia pra aquele grupo que a gente conversava e diziam: não faça isso, não faça aquilo, não aceite isso. Tudo que eles diziam pra gente eu tentava fazer para conseguir resgatar meu filho. Procurei tudo que você imaginar. Eu procurei CAPS, mas eram umas coisas muito vagas. (sic.)

Com relação à escolha pelo internamento a família, nas palavras da irmã Amanda, relatou:

a gente não tinha uma referência de clínica. Então nunca foi uma possibilidade e

muitas coisas que aconteciam por aí nessas clínicas né?! A gente tinha medo. Até que um dia, um primo do meu marido se internou e voltou ótimo, bem gordinho. Foi aí que decidimos internar Pedro. Até que ele próprio decidiu ir. Ele já tinha chegado no ponto final. (sic).

Ao “chegar no ponto final” a internação em comunidade terapêutica foi a opção encontrada pela família como estratégia de cuidado. Essa, no entanto, apesar de não conseguir solucionar o problema definitivamente, já que Pedro chegou a ser internado em três momentos da sua vida, ainda se apresenta como estratégia principal para essa família. Esses elementos aqui esboçados são importantes para fundamentar as análises gerais a serem apresentadas posteriormente.

No caso de Pedro e sua família, a gravidade de sua situação é centralizada na droga, pois trata-se de um usuário de crack, fazendo com que a família acredite que a solução dos problemas vivenciados se dará apenas pela abstinência. No entanto, durante o período da pesquisa, Pedro que estava sem usar crack há pouco mais de um ano, voltou a fazer uso da droga subitamente, sendo internado por sua família em uma comunidade terapêutica em outro estado logo em seguida, o que para a família foi fonte de grande angústia, como pode ser registrado através da fala de sua irmã em um dos encontros: “eu perco a esperança, pois até

quando teremos que conviver com isso? Ele passa um período bem, mas acaba recaindo. Não sabemos mais o que fazer”.