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Gestão na Educação

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO SÃO PAULO (páginas 77-81)

CAPÍTULO 2: GESTÃO DE SISTEMA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2.1 Gestão na Educação

O termo gestão educacional tem sido utilizado por alguns estudiosos como sinônimo de administração escolar; outros autores fazem a distinção entre os termos gestão e administração (BORDIGNON; GRACINDO, 2000). Essa distinção está aliada ao entendimento que se dá ao termo gestão. Se gestão for compreendido como processo político administrativo, é necessário abordá-lo a partir dos conceitos de gestão dos sistemas educacionais em uma perspectiva mais ampla. Para Almeida (2006, p. 103), “a concepção de gestão educacional supera e relativiza o conceito de administração escolar, embora não o despreze, porque ele se constitui uma das dimensões da gestão escolar”. Para esta autora o sisgnificado de gestão é

[...] mais abrangente, democrático e transformador, percebe a escola como um espaço de conflitos, de relações interpessoais, de emergência e de alternância de lideranças, de negociações entre interesses coletivos e projetos pessoais, em busca de consensos provisórios sobre suas necessidades, desejos e utopias, identificados na construção do projeto da escola (Ibid, p. 103). Os sistemas educacionais, independentes do nível de educação em que atuam, diferenciam-se de outras instituições, em vários aspectos, em especial na particularidade do trabalho pedagógico. Tais sistemas distanciam-se em muito de organizações empresariais que visam o lucro, e, por esse motivo, as

instituições educacionais não podem ser compreendidas e estudadas a partir de teorias advindas da administração de empresas. Visto sob este ângulo, o sistema de educação seria uma organização em que o aluno é entendido como cliente, os docentes são considerados fornecedores e as instituições educacionais funcionariam como empresas (TACHIZAWA; ANDRADE, 2001).

No meu entender, a escola, a exemplo da instituição de ensino superior,

[...] é uma das únicas instituições para cujo produto não existem padrões definidos de qualidade. Isso talvez se deva à extrema complexidade que envolve a avaliação de sua qualidade. Diferentemente de outros bens e serviços cujo consumo se dá de forma mais ou menos definida no tempo e no espaço, podendo-se aferir imediatamente sua qualidade, os efeitos da educação sobre o indivíduo se estendem, às vezes, por toda sua vida, acarretando a extensão de sua avaliação por todo esse período. É por isso que, na escola, a garantia de um bom produto só se pode dar garantindo-se o bom processo (PARO, 1998, p. 303).

Assim, entende-se que o trabalho pedagógico envolve o trabalho com o conhecimento e o saber, e “o saber não se apresenta neste processo como algo que possa ser separado dele; ele se apresenta também como objeto de trabalho[...] O saber não pode ser expropriado do trabalhador sob pena de descaracterizar-se o próprio processo pedagógico” (PARO, 1996, p. 15). Trabalhar com o saber envolve atitudes generosas, envolve partilhar e compartilhar cotidianamente todas as ações e conhecimentos dela advindos.

Um exemplo do conceito de gestão associado à administração é o proposto por Libâneo (2004, p. 97). Libâneo considera que “organização, administração e gestão são termos aplicados aos processos organizacionais, com significados muito parecidos”. O teórico também considera que os termos “gestão” e “direção” são apresentados como sinônimos em algumas situações; em outras, “gestão” aparece confundo a “administração”; e o termo “administração” aparece como um dos aspectos do processo administrativo. Libâneo conclui que “a gestão é a atividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para se atingir os objetivos da organização, envolvendo, basicamente, os aspectos gerenciais e técnico-administrativos” (Ibid., p. 101).

Ao abordar a questão sobre a gestão dos sistemas educacionais, Lima (1996, p.8 ) faz uma reflexão sobre os modelos teóricos propondo uma distinção tipológica entre aqueles que, segundo ele, são os modelos juridicamente consagrados, os modelos de orientação para ação e os modelos praticados. Os modelos juridicamente consagrados são embasados em princípios e orientações jurídicas fundamentais e expressos através de suportes oficiais. Modelos assim consagram “princípios e orientações de fundo que juridicamente constituem-se referências essenciais, embora de tradução variável, na organização e administração do sistema escolar”, sendo orientados a partir das políticas de estado ou de governo – por exemplo, a LDB, os decretos e portarias.

Os modelos de orientação para ação comportam os “modelos teóricos de referência, regras concretas, traçam estruturas, dão lugar a formas, permitem a ação, conferindo-lhe sentido por referência a um quadro global mais ou menos formalizado” (Ibid, p.9 ). Já os modelos praticados, como o próprio nome anuncia, são plurais e diversificados e correspondem às regras efetivamente praticadas no interior da instituição escolar.

Lima propõe como alternativa a construção de modelos de gestão com base na autonomia, argumentando que “um modelo de gestão escolar só tem existência empírica na e pela ação e, neste sentido, encontra-se sempre em processo de criação e de recriação, em estruturação” (Ibid, p.14). O modelo com base na autonomia “é por natureza plural, diversificado, dinâmico, dependendo da produção e da reprodução de regras, de diferentes tipos, construídas e reconstruídas pelos actores envolvidos” (Ibid, p.14). Lima define gestão como um “modelo de orientação para a ação” (Ibid., p.13).

Para Lima, compreender um modelo de gestão como um modelo teórico é assumir o caráter geral e potencial, não necessariamente dependentes da ação e das práticas organizacionais efetivamente realizadas, mas abrindo um leque de possibilidades. Do contrário, apenas inscrito nos textos oficiais, um modelo de gestão teria uma espécie de vida vegetativa (LIMA, 1996, p. 17, grifo do autor). O modelo proposto por Lima não se furta dos modelos juridicamente consagrados, pois a instituição educativa segue parâmetros legais e normativos, a

exemplo das leis e decretos, nem tampouco do modelo de orientação para ação que comporta as práticas instituídas, mas avança no sentido de envolver todos os participantes na tomada de decisões.

Ao sentido defendido por Lima – um modelo de gestão com base na autonomia e no envolvimento dos participantes do sistema –, temos a contribuição de Fernando Almeida (2005), que caracteriza a gestão não apenas como um procedimento técnico, mas como uma ação política. Almeida observa que a palavra “gestão” é um termo que se tornou tão banalizado que acabamos esquecendo o seu verdadeiro significado. Historicamente, ela tem sido identificada com poder e controle, e o gestor, em muitos casos, assemelha-se ao burocrata e controlador de procedimentos da instituição. Almeida acredita que, ao contrário desta marca histórica, devemos retomar o sentido de “gestão” a partir de sua etimologia, que traz as ideias de gestar, gerir, gesto, gerar, gestação, gerenciar – “significa dar a vida, alimentar, proteger, fazer crescer, até o momento de dar à luz”. Trata-se da acepção “dar vida”. Assim, “é nesse sentido em que a boa gestão de uma escola dá vida a algo novo e bom” (ALMEIDA F., 2005, p. 68). Almeida define gestão

[...] pela forma de se comprometer com o todo de um empreendimento: responsabilidade, capacidade de observação e descrição diagnóstica, análise e síntese, tomada de decisão - conjunta e solitária – comunicação, democracia, memória, identidade e utopia: articulação de pessoas e projetos em torno de algo chamado vida: gerar, gestar,.organização, generoso ato de viver.

A definição acima contempla aspectos essenciais na gestão de processos educacionais e constitui a base para a proposição de um sistema de gestão na educação a distância. Os conceitos de Lima (1996) e de Fernando Almeida (2005) sintetizam o meu entendimento sobre a gestão nos sistemas educacionais. Destaco nestes conceitos a especificidade do trabalho educativo, e ressalto que a gestão é compreendida como um “modelo de orientação para ação” (LIMA, 1996), visando “dar vida a algo novo e bom” (ALMEIDA F., 2005, p. 68). O gestor, na sua prática, constrói conhecimento, adquire novas habilidades e competências, reconstrói sua experiência e aumenta o grau de compreensão

sobre a realidade em que vive gerando novos significados. Os significados são construídos no diálogo com “sua equipe, com sua comunidade e com o projeto de seu país” (ALMEIDA, 2006, p. 85). Nesta abordagem “a concepção de gestão enfatiza a práxis humana, considerando que os sujeitos se constituem no trabalho. À medida que desenvolvem suas produções, os sujeitos se transformam, produzem sua realidade e são transformados por ela” (ALMEIDA, 2006). Com base nesses conceitos, discuto, no item seguinte, os conceitos de gestão voltados especificamente para a educação a distância.

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO SÃO PAULO (páginas 77-81)