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Gestão pedagógica na Educação a Distância

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO SÃO PAULO (páginas 99-104)

CAPÍTULO 2: GESTÃO DE SISTEMA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2.2 A gestão na Educação a Distância

2.2.2 Gestão pedagógica na Educação a Distância

A abordagem aqui adotada parte da ideia ampliada de gestão de sistemas educacionais, centrando o estudo na intersecção entre a gestão e a pedagogia. O conceito que referencia meu entendimento de gestão pedagógica é o de Martins (2007, p. 3):

A gestão pedagógica situa-se entre os níveis macro e micro e dá- se como mediação que possibilita o estabelecimento de mecanismos e iniciativas desencadeadoras de processos pedagógicos, isto é, orientados pelas finalidades da educação superior e da Instituição, que envolvem o ensino, a aprendizagem, o currículo, os professores e gestores acadêmicos.

A gestão pedagógica está ligada a um conjunto de condições e meios para assegurar o ensino e aprendizagem, procurando atingir os objetivos do projeto pedagógico. Esta gestão propicia a reunião, articulação, integração de ações e das atividades das equipes que atuam na EaD, por meio do planejamento, organização, acompanhamento e avaliação.

O trabalho de gestão pedagógica exige o exercício de múltiplas competências dos mais variados matizes. Centramos nosso estudo na intersecção entre a gestão e a pedagogia. Segundo Souza e Cardoso (2007), a coordenação pedagógica é responsável pela articulação do trabalho pedagógico, visando o trabalho coletivo, o planejamento e avaliação do processo. Para Souza e Cardoso, “a equipe pedagógica é a responsável por articular, junto aos demais atores da organização escolar, a construção e implementação do projeto político

pedagógico” (SOUZA; CARDOSO, 2007, p. 95). Partindo dessa premissa, o projeto pedagógico passa a ser o ponto de referência de atuação da equipe pedagógica. Cabe, aqui, indagar: qual seria este projeto pedagógico? Para responder a esta questão, recorro a Valente, que oferece a seguinte definição:

O Projeto Pedagógico é, necessariamente, uma organização

aberta. Organização, porque procura articular as informações já

conhecidas; e aberta, porque precisa integrar outros aspectos que somente surgirão durante a execução daquilo que foi projetado. Assim, o projeto é passível de modificações a qualquer momento, é dinâmico. Qualquer modificação que se faça no projeto não é arbitrária. Os ajustes são ditados pelo aproveitamento e histórias dos alunos, e pelos objetivos que se pretende atingir naquele dado momento. Ele serve de lastro, de referência, de fio condutor que evita o “acaso” e “a camisa-de-força”. O Projeto é uma das formas de organizar o trabalho pedagógico, compatibilizando sempre aquilo que já se conhece e guardando espaço para incorporar de forma “natural” elementos imprevisíveis, decorrentes de sua execução (VALENTE, 2001, p. 8, grifos do autor).

Nos termos de Valente, a integração é determinante para o sucesso da execução do projeto pedagógico. Assim, na educação a distância, um dos primeiros passos seria a criação de estratégias para participação e compartilhamento de experiências entre todos os integrantes do sistema, organizando o trabalho aliado a um processo de formação permanente. Para Souza e Cardoso (2007), quando se trabalha nesta perspectiva, organizam-se “espaços de discussão entre os professores e demais atores, buscando uma genuína troca de informações e de reflexões” (p. 95). Esta dinâmica privilegia o trabalho e a discussão coletiva.

Uma coordenação pedagógica a partir desta perspectiva é ancorada a partir de uma visão sistêmica do processo, compreendendo cada um dos espaços que integram o sistema de EaD de forma dinâmica e inter-relacionados. Nesse sentido uma visão sistêmica da EaD permite coordenar os esforços para responder aos desafios em conjunto.

De acordo com Bof (2002), é o gestor pedagógico quem se responsabiliza pelas etapas e atividades do curso que dão suporte ao sistema de apoio à aprendizagem e à avaliação. Para o bom funcionamento do sistema, é “preciso que as etapas e atividades estejam claramente definidas e que tudo seja

planejado e coordenado de tal maneira que elas ocorram eficientemente, da maneira programada e no tempo previsto” (p. 1). Bof acrescenta que, para uma boa gestão pedagógica, é preciso estabelecer um sistema de comunicação que possibilite o diálogo entre os participantes e um sistema de avaliação de todas as etapas do processo. Bof considera que, na gestão pedagógica,

[...] todo sistema de EaD deve prever a definição, a estruturação, o funcionamento sistemático de tudo aquilo que compõe a proposta pedagógica desse sistema, bem como prever, a preparação, o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação das equipes para assegurar o bom funcionamento do mesmo (BOF, 2002, p. 1). A gestão pedagógica proposta ancora-se nos princípios do trabalho colaborativo e da horizontalidade nas decisões; assim, “realiza-se como co- ordenação, isto é, pressupõe organização conjunta que articula diversos níveis hierárquicos e segmentos em torno de propósitos comuns” (MARTINS, 2007, p. 3). A ideia de co-ordenação exige processos centrados na comunicação e interação entre as equipes que integram o sistema de EaD.

Emprego o significado do termo colaboração, neste caso, como o anuncia a sua própria etimologia: “1) o trabalho em comum com uma ou mais pessoas. 2) ato de colaborar; cooperação” (COLABORAÇÃO, 1996, p. 166). Um sinônimo adequado para colaboração seria cooperação. No trabalho colaborativo, parte-se da ótica do interesse coletivo em detrimento ao interesse individual, uma vez que as relações estruturadas sobre a colaboração “pressupõem uma descentração do pensamento no sentido de haver uma coordenação entre diferentes pontos de vista (diferentes ideias), discussão e controle mútuo dos argumentos” (COSTA, FAGUNDES; NEVADO, 1998, p. 4). Nesta mesma direção, Kaye (1991, apud BARROS,1994, p. 20) conceitua colaboração da seguinte maneira:

[...] colaborar (co-labore) significa trabalhar junto, que implica no conceito de objetivos compartilhados e uma intenção explícita de somar algo – criar alguma coisa nova ou diferente através da colaboração, se contrapondo a uma simples troca de informação ou passar instruções.

Para Almeida (2005, p. 4), a colaboração envolve muito mais que compartilhar informações; “Envolve participação co-responsável na elaboração

conjunta de planos e propostas de ação”, abrindo espaços para emergir “relacionamentos de confiança mútua e cumplicidade, o comprometimento e o reconhecimento de interdependência”. Em um sistema de gestão de EaD com base na colaboração,

O relacionamento criado entre as pessoas propicia: a interconexão entre ideias e concepções, a negociação de sentidos, a realização conjunta de atividades pela integração das distintas competências da equipe, tecnologias e materiais de apoio, o desenvolvimento de processos de participação ativa e de interação e, sobretudo, a elaboração de algo socialmente produzido para atingir determinados objetivos, constituindo processos de fazer e pensar em conjunto, que caracterizam a colaboração (ALMEIDA, 2005, p. 4).

Neste ponto, retomo Lima (1996), que acredita que um modelo de gestão só tem existência na e pela ação dos sujeitos envolvidos e, neste sentido, encontra-se sempre em processo de criação e de recriação, em estruturação. Lima propõe a construção de uma obra própria, e não apenas a reprodução de uma obra alheia, isto é, uma construção coletiva ou uma nova produção em regime de coautoria.

Nesta perspectiva, o desafio que se coloca é o de superar o paradigma fordista que favorece o desenvolvimento de práticas individualistas, fragmentadas e hierarquizadas, e avançar para a organização de espaços que promovam a decisão e o compartilhamento das informações. Para Levy (1998, p. 62), isto significa “imaginar, experimentar e promover estruturas de organizações e estilos de decisões orientadas para o aprofundamento da democracia”.

Partindo destes referenciais, proponho, no quinto capítulo desta tese, um sistema de gestão pedagógica na EaD estruturado sobre o trabalho de colaboração.

Capítulo 3

A PERSPECTIVA METODOLÓGICA

presente capítulo tem por objetivo explicitar

o percurso metodológico que embasa a

organização e discussão dos dados. Opta-se por

uma metodologia

qualitativa

ancorada

nos

referências da pesquisa em ciências humanas da

teoria de Bakhtin. O método da pesquisa é a auto-

observação, trazendo o pesquisador como um

observador da sua própria cultura, uma vez que ele

é um nativo desta cultura.

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO SÃO PAULO (páginas 99-104)