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O cruzamento das áreas: a Educação e a Comunicação

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO SÃO PAULO (páginas 64-68)

CAPÍTULO 1: EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR

1.3 Educação a Distância e ensino superior

1.3.1 O cruzamento das áreas: a Educação e a Comunicação

A educação e a comunicação tradicionalmente competem, uma acusando a outra pela rapidez; em contrapartida, a outra pela lentidão. Esta rivalidade, segundo Pinto (2004, p. 59), diz respeito ao tempo para cada um dos saberes, pois, enquanto o saber escolar necessita de tempo para reflexão, no

saber midiático tudo é muito fugaz. Para a pesquisadora Geneviéve Jaquinot- Delaunay (2006), “tudo opõe de fato a escola e os meios, estes dois ‘mastodontes’ em seus papéis concorrentes da transmissão da cultura e da formação dos sujeitos individuais e sociais”. No entanto, Jaquinot-Delaunay considera que, no contexto atual do plano educativo, um dos desafios é confrontar os modos tradicionais de educação e apropriação de conhecimento à “cultura mediática” dos alunos, para que a educação promova ao mesmo tempo o espírito crítico do cidadão e a capacidade de análise dos estudantes. A proposta é aproximar a escola e os meios.

Kenski (2008, p. 648), em recente artigo intitulado “Educação e Comunicação: interconexões e convergência”, acredita que “os temas educação e comunicação são complexos e amplos”, e as possibilidades de pesquisas sobre as interfaces das duas áreas são inesgotáveis. Para Kenski, estas áreas têm uma estreita relação visível quanto mais há uma ampliação do sentido dos dois termos, educação e comunicação. A pesquisadora afirma, ainda, que “o ato da comunicação em educação é um movimento entre pessoas que possuem em comum a vontade de ensinar e de aprender” (KENSKI, 2008, p. 648). A proximidade entre educação e comunicação é alargada no contexto atual, pois as duas tornam-se prioritárias, em uma sociedade inundada pelas tecnologias. A sociedade contemporânea convive com um ambiente tecnificado que exige dos educadores o desempenho de novos papéis decorrentes, especialmente, do avanço das redes telemáticas e das novas modalidades de ensino, como a educação a distância.

Acreditar no cruzamento das áreas Educação e Comunicação é, em última instância, acreditar que as teorias da comunicação e as teorias da aprendizagem aliam-se para substituir o paradigma da “transmissão” de conhecimentos pelo da “mediação” (JACQUINOT-DELAUNAY, 2006).

Belloni, em seu artigo “Mídia-educação ou comunicação educacional? Campo novo de teoria e prática”, de 2002, propõe uma definição para este novo campo: “mídia-educação” seria o conceito que melhor traduziria a integração entre as duas áreas. A mídia-educação tem “objetivos amplos relacionados à formação

do usuário ativo, crítico e criativo de todas as tecnologias de informação e comunicação” (BELLONI, 2002, p. 46). Na contracorrente das propostas que sugerem a criação de novos profissionais para a área, a exemplo do Educomunicador33 proposto por Soares (1999), Belloni propõe a “formação de educadores capazes de realizar satisfatoriamente a integração aos processos educativos das novas e velhas tecnologias de informação e comunicação”, uma formação integradora para que educadores e comunicadores possam desenvolver as novas funções derivadas da combinação dos dois campos (BELLONI, 2002, p. 42). Concordo com Belloni no que se refere à afirmação de que é necessário

[...] evitar a segmentação desse novo campo em disciplinas e funções (carreiras) e buscar uma formação integrada e integradora, que considere efetivamente o caráter duplamente complexo dos campos epistemológicos da educação e da comunicação: a ambiguidade entre teoria e prática e caráter multidisciplinar dos dois campos.

Nesse sentido, os educadores necessitam compreender as mudanças geradas quando são trocados os meios de comunicação tradicionais utilizados no processo educativo, analisando os novos meios a partir das suas potencialidades e limitações (ALMEIDA, 2003). Assim, a “formação de educadores sintonizados com as novas linguagens presentes nas mídias” e a formação de comunicadores mais sintonizados com o papel das mídias na educação e sua responsabilidade social podem ser o caminho mais indicado (BELLONI, 2002, p. 38).

Para responder ao desafio de integrar as tecnologias aos processos de formação, a partir do viés da educação e comunicação, é preciso considerar as técnicas a partir de duas dimensões indissociáveis: (i) como ferramentas pedagógicas extremamente ricas e proveitosas para a melhoria e a expansão do ensino e (ii) como objeto de estudo, fornecendo meios para o domínio das novas

33 A educomunicação é definida como sendo o conjunto das ações inerentes ao

planejamento, implementação e avaliação de processos e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos, melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, desenvolver o espírito crítico dos usuários dos meios massivas, usar adequadamente os recursos da informação nas práticas educativas, e ampliar capacidade de expressão das pessoas (SOARES, 1999). O Educomunicador seria um profissional especialista, formado no campo da comunicação para atuar no espaço escolar, isto é, no campo da educação (BELLONI, 2002, p. 39).

linguagens, exigindo abordagens criativas, críticas e interdisciplinares (BELLONI, 2002, p. 34). É papel dos educadores refletir constantemente sobre o uso das mídias na prática pedagógica, trazendo alternativas inovadoras.

O uso das tecnologias pode potencializar os processos de formação se tiver como base um conhecimento que permita aos educadores interpretar, refletir e dominar criticamente a tecnologia. É importante que o contato que os alunos têm com a tecnologia nas atividades educativas seja diferente daquele que os meios de comunicação de massa proporcionam, pois

Não adianta a tecnologia reforçar o processo educativo tradicional. É preciso, antes de mais nada, repensar a educação. Repensar a educação e repensá-la, a partir dos próprios educandos e, a partir daí, pensar um novo desenho do processo educativo, ver o replanejamento desse processo e verificar para que pode servir a tecnologia (OROZCO GÓMEZ, 1988, p. 79).

Para que isso seja possível, os educadores devem ser capazes de analisar criticamente essas tecnologias, criar situações e experiências a partir da realidade do aluno, construindo e praticando novas propostas pedagógicas que auxiliam a construção do conhecimento e formação crítica do cidadão. O uso das tecnologias na educação pode proporcionar processos de comunicação mais participativos, tornando a relação professor-aluno mais aberta e interativa.

Portanto, o uso da tecnologia auxiliará o desenvolvimento de uma educação transformadora se estiver baseada no conhecimento crítico e no domínio das técnicas. A tecnologia pode auxiliar a prática de novas propostas pedagógicas, propiciando a atuação na realidade de maneira crítica e criativa.

Longe de pretender esgotar o tema, complexo e amplo, meu intuito foi delimitar e posicionar- me sobre as áreas que são a base da educação a distância – a educação e comunicação. No sistema de gestão pedagógica da EaD, objeto deste estudo, estas questões são determinantes sobre como será proposto e conduzido o sistema, levando a organização de sistemas paralelos ao ensino presencial ou a propostas que integram e convergem entre si. A ampliação e o aprofundamento das pesquisas neste campo contribuirá em muito para o desenvolvimento da educação a distância.

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO SÃO PAULO (páginas 64-68)