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O Núcleo de Produção de Materiais

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO SÃO PAULO (páginas 168-173)

CAPÍTULO 5: SISTEMA DE GESTÃO PEDAGÓGICA COLABORATIVO NA EaD

5.2 O Núcleo de Produção de Materiais

Na produção de materiais para EaD, o debate ético e sociológico não pode ser ofuscado pelos aspectos técnicos (ALAVA, 2002). Cabe a cada instituição criar seus próprios métodos para a produção de materiais para a educação a distância, recusando-se à aplicação de métodos originários de outras realidades – objetivando, em primeiro lugar, promover o trabalho compartilhado e de autoformação. Produzir materiais didáticos para educação a distância é um ato

autônomo, gestor de seu processo de aprendizagem, capaz de autorregular este processo (BELLONI, 1999, p. 40).

de criação constante, onde a criatividade e a crítica figuram como elementos estruturantes do processo.

Nesse sentido, a educação a distância deve ser compreendida como parte de um processo mais amplo que é a integração das tecnologias de informação e comunicação na educação. Esta integração tem como “eixo pedagógico central” o entendimento das tecnologias como meios e não como “finalidades educacionais”; elas serão usadas, assim, a partir de duas dimensões indissociáveis: como “ferramentas pedagógicas extremamente ricas e proveitosas para a melhoria e a expansão do ensino e como objeto de estudo complexo e multifacetado, exigindo abordagens criativas, críticas e interdisciplinares” (BELLONI, 2002, p. 123). Partindo destes conceitos, o material didático assume um lugar estratégico na educação a distância, pois é por meio dele que se pode garantir o diálogo constante entre docentes e alunos. Conforme lembra Neder (2004), na EaD, o aluno não estará fisicamente presente em todos os momentos da relação de ensino e aprendizagem; contudo, apesar desta distância física, não pode deixar de existir o diálogo permanente entre professores e alunos – o material didático será um dos instrumentos que garantirão este diálogo. Por isso, “Ele deve ser pensado e concebido no interior de um projeto pedagógico e de uma proposta curricular definidas claramente”.

Para que isto seja possível, as equipes de desenvolvimento precisam trabalhar em sintonia, tendo em vista a finalidade precípua: a proposição de conteúdos e atividades que proporcionem a aprendizagem do aluno.

Os materiais precisam manter uma coerência interna com os princípios

pedagógicos adotados e com as mídias definidas para os cursos, privilegiando a interação com os alunos. O impacto dos materiais didáticos sobre as aprendizagens e a motivação dos estudantes estão diretamente vinculados a uma “produção extremamente cuidadosa, envolvendo um delicado trabalho com os conteúdos, com a didática, com as linguagens das mídias, com a organização visual e com os processos interativos” (GATTI, 2002, p. 2).

Outro aspecto a ser considerado é a importância do contexto na elaboração de material didático em EaD. Ao elaborarem os materiais, os

professores precisam estruturar seus discursos considerando os contextos nos quais seus alunos vivem e trabalham. Belloni explicita esta questão dizendo que

A mediatização técnica, isto é, a concepção, a fabricação e o uso pedagógico de materiais multimídia, gera novos desafios para os atores envolvidos nestes processos de criação (professores, realizadores, informatas etc.), independentemente das formas de uso: o fato de que esses materiais possam vir a ser utilizados por estudantes em grupo, com professor em situação presencial (no laboratório da universidade, por exemplo), ou a distância por um estudante solitário, em qualquer lugar e em qualquer tempo, só aumenta a complexidade desses desafios. Há que considerar, como fundamento dessa mediatização, os contextos, as características e demandas diferenciadas dos estudantes que vão gerar leituras e aproveitamentos fortemente diversificados (BELLONI, 2002, p. 123, grifo do autor).

O argumento de Belloni reforça a importância de considerar o contexto e o perfil dos alunos aos quais os materiais se destinam, e lembra, ainda, que estes materiais podem ser úteis em outras situações, por exemplo, em cursos presenciais como materiais de apoio, aumentando as possibilidades para os idealizadores destes recursos didáticos.

Determinados recursos demandam tempo e equipes muito especializadas, a exemplo dos objetos de aprendizagem. Como já existem vários bancos de dados que disponibilizam estes recursos, como a Rede Interativa Virtual de Educação – Rived53, há a alternativa de reutilizar tais recursos, quando considerados adequados para o objetivo visado. Na abordagem aqui apregoada, uma das possibilidades oferecidas pela EaD está diretamente relacionada à flexibilidade. Isto quer dizer que as propostas de implementação de materiais para EaD não respondem a um modelo rígido, mas exigem uma organização que permita ajustar de forma permanente as estratégias didáticas, a partir da retroalimentação provida pelas avaliações parciais do projeto, contando, ao

53 O RIVED é um programa da Secretaria de Educação a Distância – SEED que tem por

objetivo a produção de conteúdos pedagógicos digitais, na forma de objetos de aprendizagem. Além de promover a produção e publicar na web os conteúdos digitais para acesso gratuito, o RIVED realiza capacitações sobre a metodologia para produzir e utilizar os objetos de aprendizagem nas instituições de ensino superior e na rede pública de ensino. Fonte: <http://www.rived.mec.gov.br>.

mesmo tempo, com a utilização de uma variedade de recursos pedagógicos a fim de facilitar a construção do conhecimento.

Há que ser levada em conta, também, na produção dos materiais didáticos, a concepção pedagógica de quem produz o material. Os docentes normalmente trazem consigo uma concepção cristalizada sobre os processos de ensino e aprendizagem e, quando se quiser criar condições para o desenvolvimento do projeto pedagógico concebido coletivamente, é necessária atenção aos processos de formação continuada, pois é por meio deles que se pode discutir e eleger os princípios básicos para a produção dos materiais.

Nos cursos em análise, os princípios pedagógicos que embasam as ações das equipes são: interação, colaboração e autonomia. Ter presentes estes princípios significa observar e compreender, em sua amplitude, a dinâmica do curso proposto. Estes princípios são considerados como metas para orientar o percurso teórico-metodológico de todo o processo. Se a produção de materiais didáticos for planejada a partir desta abordagem, será imprescindível a articulação deste processo com a formação continuada das equipes, bem como a avaliação e a pesquisa.

Na produção dos materiais, vários aspectos precisam ser organizados antecipadamente, uma vez que o processo envolve uma série de profissionais de diferentes áreas do conhecimento e outra série de etapas a serem cumpridas. Sugere-se que o primeiro passo para esta organização seja constituir uma equipe multidisciplinar e formar seus profissionais para o uso das tecnologias na educação e para a criação do projeto pedagógico do curso. Esta equipe precisa definir desde as tecnologias a serem utilizadas e as políticas de direitos autorais e de preservação de documentos até um sistema de logística que permita a distribuição dos materiais em tempo hábil.

Todas as responsabilidades e tarefas da produção de materiais precisam ser compreendidas e assumidas por todos os integrantes da equipe, que atuam em colaboração, visando atingir os objetivos do projeto. Desta maneira, o cotidiano da gestão deste processo e dos profissionais baseia-se na

coparticipação, sendo eles corresponsáveis pelos processos de ensinar, aprender e gerir as tecnologias.

Os materiais são concebidos a partir do conceito de mídias integradas54. A proposta de estruturação dos materiais didáticos tem suporte no princípio de que estes serão recursos utilizados por todos os envolvidos no processo educacional. Em cursos a distância, os materiais transformam-se em importantes canais de comunicação entre os estudantes, a proposta educativa e a instituição promotora. Por isso, a necessidade de serem dimensionados, respeitando as especificidades inerentes à realidade socioeconômica do público- alvo, às condições dos alunos e dos professores em relação ao acesso às tecnologias e as características desta modalidade de educação.

Defendo que o uso do material didático depende da sua formatação, de uma contextualização prévia por parte do professor, responsável por determinar o momento e a intensidade do uso deste material, os objetivos e as metas a serem atingidas, a necessidade de quantificar e qualificar este uso e, ainda, de complementaridade a outros materiais. Este material servirá de apoio ao aluno, como referência na mediação pedagógica e como instrumento para instigar aprendizagens, possibilitando-lhe operar em níveis afetivos, cognitivos e metacognitivos.

Nesse sentido não são os meios tecnológicos de última geração que garantem a qualidade dos materiais didáticos para a educação a distância, mas a organização do sistema como um todo. Assim, os materiais e conteúdos precisam ser constantemente avaliados, gerando um ciclo que ajusta os meios, os conteúdos e as tecnologias. No papel de retroalimentar as ações e de evidenciar as virtudes e pontos que precisam ser repensados, temos o núcleo de pesquisa e avaliação.

54Cada mídia tem seus pontos fortes e fracos. A intenção é utilizar os pontos fortes de

cada uma delas, na busca de minimizar os pontos fracos das demais. Por exemplo, é preferível colocar textos mais longos no material impresso e não no material disponibilizado no computador, pois é cansativo ler textos longos neste formato.

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO SÃO PAULO (páginas 168-173)