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2.2 GESTÃO ESCOLAR

2.2.2 Gestão Escolar Democrática

Conforme verificado no histórico supracitado, desde as duas últimas décadas do século XX, a gestão escolar pública brasileira é uma gestão democrática. Como tal, considera a participação da comunidade como fundamental para a construção de uma escola pública de qualidade.

O termo gestão democrática da escola tem implícito o significado de participação. A gestão democrática do ensino possibilita a participação de toda a comunidade escolar na elaboração de seus projetos político-pedagógicos e nas tomadas de decisões. Pode haver participação também nas ações de execução, mas não se pode limitar participação a essas ações (LÜCK, 2017; PARO, 2016; LIBÂNEO, 2013).

Alguns princípios são fundamentais para a realização de uma gestão democrática: autonomia da escola e da comunidade, relação entre direção e equipe escolar, envolvimento da comunidade, planejamento de ações, formação continuada dos profissionais, análise dos problemas com profundidade, democratização das informações, avaliação compartilhada, relações humanas produtivas e criativas em busca de objetivos comuns (LIBÂNEO, 2013; LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012).

A gestão escolar operacionaliza e implanta as ações políticas da escola. A atuação na perspectiva democrática apresenta caráter participativo, democrático, autônomo e compromissado com os interesses da sociedade (RIBEIRO; CHAVES, 2012).

Uma gestão precisa estar alinhada com a comunidade e envolvida pelo comprometimento de todos que a compõem: gestores, coordenadores, docentes, técnicos e discentes. A implementação de modelos de qualidade também deve ter comprometimento de todos para que se efetivem (XAVIER, 2016).

A prática cotidiana da administração escolar deve considerar o foco no aluno, o compromisso com resultados e o trabalho em equipe como um conjunto de valores importantes (VOORWALD, 2017).

Na gestão escolar democrática, o poder não é centralizado. Competentes são as escolas em que o poder é disseminado coletivamente. O poder é exercido para a elaboração de soluções, para a tomada de decisões e para a execução dessas decisões (LÜCK, 2017; ZUCCOLOTTO; TEIXEIRA, 2015; LIBÂNEO, 2013).

Duas razões se destacam para justificar a importância da implantação de uma gestão democrática. A primeira razão é o fato de que a escola deve formar as pessoas para a cidadania.

A segunda, é o fato de que a gestão democrática pode melhorar o ensino, que é um objetivo específico da escola (GADOTTI, 2010).

É fundamental, no entanto, que toda a comunidade esteja consciente de sua responsabilidade e de seus deveres. A gestão democrática depende das capacidades e responsabilidades individuais em ações coordenadas (LIBÂNEO, 2013).

A gestão escolar não pode ser reduzida a uma mera mobilização de pessoas para a realização de atividades. Gestão escolar está associada à intencionalidade dos rumos da escola (LIBÂNEO, 2013).

Os gestores têm como função a garantir um ambiente escolar que propicie a participação plena de toda a comunidade, considerando essa como o conjunto de professores, técnicos, pessoal de apoio, alunos e seus responsáveis. É função dos gestores desenvolver o espírito de equipe e o trabalho colaborativo entre os profissionais da escola. Essa prática interfere diretamente na qualidade do ensino (LÜCK, 2017).

O gestor escolar tem a função de conscientizar e integrar a comunidade escolar. Também é sua função propiciar reflexões e garantir espaços para a tomada de decisões coletivas (STÊNICO et al, 2015).

A gestão escolar está associada à gestão de um espaço social que possui uma cultura e onde convivem docentes, técnicos, discentes e seus responsáveis. É um processo coletivo, em que toda a comunidade participa democraticamente (STÊNICO et al, 2015).

A função da direção é colocar em prática o planejamento feito coletivamente, coordenando os trabalhos para que as ações sejam executadas da melhor forma possível (LIBÂNEO, 2013).

A gestão escolar possui objetivos políticos, técnicos e pedagógicos. Os objetivos políticos estão associados à participação da comunidade escolar na gestão. Para que a escola tenha autonomia, faz-se necessário que o gestor tenha vínculos com a comunidade. Entende-se por autonomia a capacidade de as pessoas tomarem as decisões sobre suas próprias vidas. As escolas públicas, no entanto, dependem do sistema central e das políticas públicas, possuindo, assim, uma autonomia relativa. São autônomas no planejamento, organização, orientação e controle de suas atividades internas (LIBÂNEO, 2013).

As funções do gestor escolar são administrativas e pedagógicas. Libâneo (2013) entende que todas as suas ações possuem conotação pedagógica, visto que todas visam à qualidade de um projeto educativo.

As práticas de organização e gestão objetivam garantir o funcionamento da escola, favorecendo a aprendizagem de todos. Essas práticas se dividem em ações de natureza técnico-

administrativa, que envolvem a legislação escolar, normas administrativas, recursos físicos, materiais e didáticos, a direção e as rotinas administrativas, e ações de natureza pedagógico- curricular, como formulação e gestão do projeto político pedagógico, currículo, ensino, desenvolvimento profissional e as atividades da rotina pedagógica escolar (LIBÂNEO, 2013). Na área pedagógica, um gestor escolar precisa compreender os fundamentos da ação educacional e das ações pedagógicas e seus resultados na aprendizagem, conhecimento sobre o processo educacional, mobilização da equipe escolar para alcance dos objetivos pedagógicos e habilidade de orientação e avaliação do trabalho pedagógico (LÜCK et al, 2012).

Os objetivos técnicos estão relacionados à organização do trabalho escolar em suas dimensões administrativa e financeira. O gestor precisa ter conhecimentos para gerenciar recursos humanos e recursos materiais e na posterior prestação de contas. É necessário visão de conjunto e de futuro, consciência do papel da escola na comunidade, conhecimento da legislação, habilidade de planejamento e orientação de trabalho coletivo, habilidade para gerenciar o orçamento, monitoramento de ações, avaliação diagnóstica de projetos e ações, tomada de decisões de forma eficaz e capacidade de resolução de problemas com grande variedade de técnicas (LÜCK et al, 2012).

O desenvolvimento da prática de assunção de responsabilidades em conjunto é fundamental para a realização de um trabalho coletivo, com espírito de equipe. Para que a gestão escolar aconteça de forma participativa, é necessário a mobilização da equipe para a realização das atividades da escola., que são de responsabilidade de todos. Os gestores devem ter ações de difusão contínua de informações claras e precisas a respeito das questões fundamentais da vida escolar, pois quando isso não acontece, é comum que hipóteses e conjecturas inverídicos sejam divulgados. Os gestores também devem ter ações de estabelecimento de adequação entre a geração e a disseminação de informações no contexto escolar para que não ocorram situações de haver informações diferentes da demanda necessária para aprofundamento das ações pedagógicas, informações produzidas a partir de visões limitadas ou até distorcidas da realidade. É importante que sempre se verifiquem a adequação das informações obtidas. Os gestores devem, ainda, ter ações de desenvolvimento cultural e capacitação técnico-operacional dos professores, para que possam atuar em dimensão profissional, segundo os princípios da gestão participativa. Como todos são responsáveis pelas ações e seus resultados, todos devem estar capacitados (LÜCK, 2017).

O sucesso organizacional como um todo é importante, pois as crianças aprendem muitas coisas com o ambiente da escola: com suas formas de organização e de relacionamento,

com as rotinas e com as maneiras de resolver problemas e de solucionar conflitos (LIBÂNEO, 2013).

O estilo de gestão tem influência nas interações entre as pessoas da comunidade escolar, determinando as práticas e formas de relacionamento. A percepção e as atitudes do gestor, assim como dos professores, em relação aos estudantes, são fatores importantes para o sucesso escolar (LIBÂNEO, 2013).

A prática da gestão escolar depende de fatores fundamentais, como autoridade, responsabilidade, decisão, disciplina e iniciativa. Autoridade significa o poder que foi delegado a uma pessoa para dirigir as ações que foram planejadas coletivamente. Responsabilidade é inerente à autoridade. Mesmo com a prática da participação e tomadas de decisões coletivas e descentralização, a responsabilidade final é de quem dirige. Decisão significa a capacidade de selecionar as medidas mais adequadas a cada situação. O plano de trabalho deve ser coletivo, mas o gestor precisa tomar algumas decisões necessárias e não deve furtar-se das mesmas. Disciplina é a compatibilização das ações individuais com as normas assumidas coletivamente. Iniciativa é a capacidade de enfrentar situações não-previstas ou inusitadas que se apresentam no desenvolvimento das ações planejadas (LIBÂNEO, 2013).

O gestor escolar precisa ter a visão de conjunto, articular e integrar os vários setores da instituição. Ter visão de conjunto é fundamental para a gestão, visto que todos os elementos de uma cultura estão associados (LÜCK, 2017; LIBÂNEO, 2013).

Cheng (2010) considera que a educação está em um processo de evolução e pode ser entendido a partir de três modelos de gestão escolar. O primeiro modelo considera a estratégia escolar como uma forma de melhoria interna, com foco no aprimoramento técnico das operações internas de ensino, aprendizagem e gestão. As iniciativas são em maioria orientadas para o curto prazo e com regulamentos burocráticos. O segundo modelo apresenta as reformas direcionadas para a garantia da qualidade de acordo com os interesses de agentes internos e externos. É orientada pela racionalidade mercadológica, conforme acontece em empresas. O terceiro modelo de gestão escolar considera a relevância da educação para o pleno desenvolvimento de indivíduos e da sociedade. Sua ênfase é na efetividade futura.