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Gestão Escolar Participativa – Exercícios de Autonomia e Poder

2 GESTÃO, DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO – PRINCÍPIOS

2.1 Considerações iniciais – Teoria e Prática, Relações

2.1.8 Gestão Escolar Participativa – Exercícios de Autonomia e Poder

O conceito de Gestão Escolar Participativa tem como um de seus alicerces o exercício do Princípio Constitucional da Autonomia Relativa da Escola, o qual ainda encontra eco nos ideais da Administração Pública, sobretudo quando se pensa em eficiência, eficácia, economicidade e, no caso específico da realidade fluminense da proteção da confiança legítima e interesse público – Lei 5.427/2009 art. 2º ao definir os parâmetros a serem adotados nos atos praticados pela Administração Pública Fluminense.

Nesse contexto o conceito de autonomia, como bem coloca Barroso (1996), seria “[...] resultado da ação concreta dos indivíduos que a constituem, no uso das suas margens de autonomia relativa." (BARROSO, 1996, p.18).

O autor continua a discussão pontuando sobre qual o espectro da autonomia escolar, com destaque para o fato que essa autonomia é coletiva, ou seja, é da escola em si, e não instrumento de representação de um grupo ou segmento específico,

[...] a autonomia da escola não é autonomia dos professores, ou a autonomia dos pais, ou a autonomia dos gestores. A autonomia, neste caso, é o resultado do equilíbrio de forças, numa determinada escola, entre diferentes detentores de influência (externa e interna) dos quais se destacam: o governo e os seus representantes, os professores, os alunos, os pais e outros membros da sociedade local. (BARROSO, 1996, p.186)

Lück (2000), ao tratar da temática autonomia escolar reforça o entendimento que ela não se resume unicamente ao espaço da escola, apontando para a ingerência de outros setores do sistema, bem como da própria sociedade,

[...] autonomia não é um processo interno à escola, mas sim, um princípio que deve permear todo o sistema e até mesmo a sociedade. É por isso que não se realiza autonomia por decreto, nem se delega condições de autonomia. Para ser plena, necessita de que no âmbito macro de gestão, que tanta influência exerce sobre a escola, não apenas por suas regulamentações e determinações, mas por seu modo de ser e de fazer, adote-se a prática da construção de

sua própria autonomia, que implica sua responsabilização pelo todo. (LUCK, 2000, p. 26)

A autora chama atenção para a necessidade de apropriação do conceito de autonomia pelos atores envolvidos nos processos escolares, apropriação essa que se corporifica, segundo Lück (2000), na assunção da responsabilidade pelo todo.

O viés da responsabilização como ponto essencial na administração escolar com vista a uma perspectiva democrático-participativa é, em uma ótica mais operacional, destacado por Hora (1994)

[...] no sistema educacional, a concepção teórica do critério de relevância está em função direta com a postura participativa dos responsáveis pela sua administração. Desse modo, quanto mais administrativo, solidário e democrático for o processo administrativo, maiores as possibilidades de que seja relevante para indivíduos e grupos e também maiores as probabilidades para explicar e promover a qualidade de vida humana necessária. O papel da administração da educação aí, será o de coordenar a ação dos diferentes componentes do sistema educacional, sem perder de vista a especificidade de suas características e de seus valores de modo que a plena realização de indivíduos e grupos seja efetividade. (HORA,1994, p.41).

Luiz (2010) reforça o entendimento da participação consciente e efetiva como exercício de autonomia,

[...] para conseguir esta gestão democrática na escola a palavra chave é participação, a qual é baseada no conceito de autonomia (capacidade de pessoas ou grupos se conduzirem sozinhos). A organização escolar democrática implica não só a participação na gestão, mas a gestão da participação em função dos objetivos da escola. (LUIZ, 2010, p. 31)

Vale ressaltar que a participação nesse processo é ampla e engloba muito além dos envolvidos por força da legislação ou de alguma vinculação direta, seja ela profissional ou referente à vida discente, ela é necessariamente aberta a todos aqueles que tiverem sobre a escola um interesse legítimo, como destaca Lück,

Ao referir-se às escolas e sistemas de ensino, o conceito de gestão participativa envolve, além de professores e funcionários, os pais, os alunos e qualquer outro representante da comunidade que esteja interessado na escola e na melhoria do processo pedagógico. Destaca-se que o entendimento do conceito de gestão já pressupõe, em si, a ideia de participação, isto é, do trabalho associado de

pessoas analisando situações, decidindo sobre seu encaminhamento e agindo sobre elas, em conjunto. (LÜCK, FREITAS, GIRLING, KEITH, 2000, p.17).

Monlevade (2005) ao descrever esse processo o identifica como espaço de poder político institucional, classificado pelo autor como Poder Escolar,

Gestão Democrática é participação dos atores em decisões e na avaliação. Talvez o ideal fosse fazer da assembleia geral escolar o órgão máximo deliberativo. Mas, no dia-a-dia, temos que construir um Conselho Escolar competente e viável, onde todos os segmentos estejam presentes e operantes, gerando e acumulando um novo e influente poder: o poder escolar. Professores, funcionários, alunos, pais e direção passam a ser um colegiado que se reúne ordinariamente e vai propondo e avaliando o Projeto Político- Pedagógico da escola, que na nova LDBEN ganhou substancial importância. (MONLEVADE, 2005, p. 29)

O autor destaca que o exercício desse poder é balizado pelo Projeto Político Pedagógico da Escola e, ressalta ainda, que os envolvidos com objetivo de atender efetivamente as demandas desse processo se conscientizem, façam um exercício crítico e revejam suas posturas e interesses,

[...] a Gestão Democrática da escola se baliza pelo Projeto Político- Pedagógico da Escola. São os objetivos e metas da escola, referenciada à sociedade do conhecimento, que unem o Conselho, que presidem as eleições, que direcionam as decisões e práticas de seus atores. O professor e o funcionário precisam abdicar de seu corporativismo; os pais precisam superar seu comodismo; os alunos precisam conquistaro exercíciode sua liberdade de aprender: de aprender ciência, de cultivar a arte, de praticar a ética. Não abrir mão de seus dias e horas letivos, que lhes garantem o direito de crescer na cultura e no saber. Embora a Proposta Pedagógica deva ser cientificamente assessorada pelos profissionais da educação, ela deve ser elaborada e avaliada por toda a comunidade escolar, presidida pelo Conselho. (MONLEVADE, 2005, p. 29)

Dourado (2005) destaca o fato do princípio da gestão escolar democrática participativa possuir um trajeto histórico recente, e que apesar de todos os esforços nesse sentido os sistemas ainda são desenhados de maneira centralizadora, que esse conceito não será feito por si só, que exige uma construção coletiva e representa, ainda hoje, um grande desafio,

[...] a despeito do avanço na legislação no tocante à gestão democrática, é fundamental não perder de vista que o modelo de

gestão adotado pelos sistemas públicos conserva, ainda hoje, características de um modelo centralizador. A autonomia pedagógica e financeira e a construção coletiva de um projeto político- pedagógico próprio da unidade escolar constituem-se em grande desafio para a educação. (DOURADO, 2005, p. 47)

A autonomia relativa da escola, caracterizada aqui como conjunto de ações interdependentes baseadas no diálogo direto promovido entre as diferentes esferas gestoras a partir da conciliação das demandas regionais com os princípios gerais definidos pelas políticas públicas para a educação básica, representa um espaço de poder institucional que tem como missão representar, para além de interesses de grupos ou segmentos específicos, os interesses gerais da comunidade escolar. É um espaço legítimo de convergência de forças a favor da construção de uma escola democrática de qualidade.