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Políticas Públicas: ação institucional, controle social e governança

2 GESTÃO, DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO – PRINCÍPIOS

2.1 Considerações iniciais – Teoria e Prática, Relações

2.1.2 Políticas Públicas: ação institucional, controle social e governança

O ideal democrático, no plano operacional, está vinculado necessariamente ao implemento de ações concretas que o garantam, ou seja, a um conjunto específico de atos, processos e procedimentos que o efetive, que o traduza junto ao cotidiano. Esse conjunto de ações é organizado sob a forma de políticas públicas. Pereira (2002) assim define o conceito de políticas públicas

Política pública não é sinônimo de política estatal. A palavra “pública” que acompanha a palavra “política”, não tem uma identificação exclusiva com o Estado, mas sim, com o que em latim se expressa como res publica, isto é, coisa de todos, e, por isso, algo que compromete, simultaneamente, o Estado e a sociedade. (PERREIRA, 2002, p. 7).

A autora continua a discussão destacando o conceito de interação e, necessária interlocução entre as esferas institucionais e sociais,

É, em outras palavras, ação pública, na qual, além do Estado, a sociedade se faz presente, ganhando representatividade, poder de decisão e condições de exercer o controle sobre a sua própria reprodução e sobre os atos e decisões do governo e do mercado. (PERREIRA, 2002, p. 7).

Raichelis (2000), ao tratar da temática das políticas sociais sinaliza para a relação existente entre Estado e Sociedade na consecução das Políticas Públicas,

[...] na formulação, gestão e financiamento das políticas sociais deve ser considerada a primazia do Estado, a quem cabe a competência pela condução das políticas públicas (...) esta primazia, contudo, não pode ser entendida como responsabilidade exclusiva do Estado, mas implica a participação ativa da sociedade civil nos processos de formulação e controle social da execução. (RAICHELIS, 2006, p. 2)

A autora reforça a ideia de interação e interlocução indicada por Pereira (2002) destacando os papéis específicos de cada espaço na consecução das Políticas Públicas.

O espaço de interação e interlocução, já discutidos, apontam para a ideia de corresponsabilidade objetiva junto aos processos. Schommer et al (2013) ao citarem Keinert13 (2000) relacionam a redefinição de cidadania a esse movimento,

A cidadania é redefinida, para além da ocupação de espaços acenados pelo Estado. O cidadão é visto como sujeito ativo, corresponsável pelo seu bem estar e pela qualidade do espaço público, não apenas no âmbito nacional, também supranacional (SCHOMMER, p.5, 2013).

Os autores destacam ainda que “Há uma distinção mais clara entre estatal e público – nem tudo que é estatal é público;” (SCHOMMER, p.5, 2013), reforçando a ideia da necessidade de operacionalização, segundo os interesses públicos.

No que tange a gestão democrática e participativa no âmbito da escola pública brasileira e, o conjunto de forças envolvidas decorrentes das Políticas Públicas adotadas, temos o seguinte desenho:

13

KEINERT, Tânia M. M.. Administração pública no Brasil: crises e mudanças de paradigmas. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2000.

Figura 16 – Espaços de interação, interlocução e corresponsabilidade na escola pública brasileira Fonte: Elaborada pelo Autor

A figura 16 identifica as forças presentes dentro do contexto cotidiano da escola pública nacional, no que tange a definição de sua prática pedagógica e organização.

Existe, neste cenário, especificamente no campo dos instrumentos de normatização, duas forças complementares e interdependentes: a primeira, disposta de maneira vertical, a qual faz referência direta aos princípios gerais democráticos definidos constitucionalmente e regulamentados nos termos da LDBEN como pontos referenciais na gestão da escola; a segunda, disposta de maneira horizontal, está ligada aos princípios de gerais da Administração Pública, regulamentados essencialmente pela esfera de Poder Público ao qual pertence ao sistema e, diferente dos primeiros que fazem menção aos processos educacionais, são comuns a todas as instituições públicas e tem relação direta com os processos operacionais de gestão, ou seja, são parâmetros específicos ligados ao funcionamento objetivo de uma instituição pública.

Complementa esse quadro o conjunto das demandas locais, aqui caracterizada como uma força externa, contudo não exógena. Uma vez que é exatamente ela que irá caracterizar a ação democrática através da definição do que

é a vontade comum, ou seja, é o componente social corresponsável direto de todo processo, desde sua consecução as formas de controle.

Um universo com essas características, onde o diálogo com as demandas sociais locais é a premissa para que se organize a efetiva realização das Políticas Públicas remete, necessariamente, ao ideal de governança.

Alcoforado (2013) ao tratar da temática estabelece, inicialmente, a diferenciação entre os conceitos de governança e governabilidade,

Governança e governabilidade são conceitos que, muitas vezes, se confundem, pois não estão consolidados na sociedade. Enquanto governabilidade se refere á capacidade política de um governo de agir conforme os seus apoios representativos e da sociedade, “governança é a capacidade financeira e administrativa, em sentido amplo, de um governo implementar políticas.” (ALCOFORADO, 2013, p. 7)

O autor amplia a discussão sinalizando, ainda, a existência dentro do ideal de governança dos conceitos de governança pública e governança social,

A governança pública refere-se à estrutura organizacional e de meios que um determinado ente federativo disponha para exercer sua função de Estado e que viabilize a realização dos seus programas e projetos sociais. Enquanto que a governança social é a estrutura social existente numa determinada localidade, também para viabilizar a ação social e o desenvolvimento, só que nesse caso não só do Governo do ente federado, mas também das demais instituições que compõem a sociedade, como o mercado e a sociedade civil. (ALCOFORADO, 2013, p. 7)

O autor complementa a discussão ao pontuar sobre os papéis e operacionalização dos conceitos,

Enquanto a governança pública está relacionada ao aspecto interno da administração pública, à sua máquina administrativa, a governança social está ligada às relações formadas entre as instituições do Estado, mercado e terceiro setor em uma determinada localidade, que se manifesta, especialmente, pelas interrelações estabelecidas entre elas e pela complementaridade de suas ações, tendo sempre o Estado como coordenador desse processo. (ALCOFORADO, 2013, p. 7)

A condução desse processo no âmbito educacional brasileiro apresenta alguns desafios próprios.

O primeiro deles é garantir, dentro da dinâmica de organização e funcionamento dos Sistemas de Ensino os princípios democráticos, de modo que não existam cisões e consequentes processos de descontinuidade.

O segundo, também comum a todos os sistemas, mas com operacionalização direta no espaço escolar, é conciliar o fato da escola ser uma instituição pública sujeita a regras operacionais específicas com as demandas locais, a autonomia relativa, a interação e interlocução sociais.

O terceiro é ter, claramente, a definição de uma matriz de responsabilidades que se estenda desde os entes públicos até os atores sociais envolvidos no cotidiano da escola, de modo a operacionalizar o processo gestor, efetivando a corresponsabilidade definida em lei do Estado, da família e da sociedade para com a oferta de Educação Básica, sem a sobreposição de papéis, ou ainda, a inviabilização de ações por conta de eventuais centralizações de poder ou transferências de responsabilidades.

Schommer et al (2013) sobre esse processo destacam que,

O que mais importa não é de onde se origina ou para onde pende uma iniciativa (o que pode inclusive inverter-se de um momento para outro), uma vez que se quer mútua responsabilização e comprometimento. Os governantes são servidores públicos e os cidadãos são corresponsáveis pela governança pública. Ambos, cada qual com seu papel, são responsáveis pelo bem-estar coletivo, pelo interesse público. (SCHOMMER, p.21, 2013)

A ação pública e sua correlação direta com os espaços sociais, em especial nos referentes a oferta de Educação Básica, deve ser construída tendo por base o diálogo objetivo e factível entre, o referencial da tríplice responsabilidade definida entre Estado, família e sociedade com a clara necessidade de governança institucional, numa soma de esforços públicos e sociais, com definição inequívoca de papéis nos procedimentos de gestão, controle e responsabilização, de modo a que se possa, efetivamente, implementar as Políticas Públicas de Educação Básica no espaço da escola pública brasileira.