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2 GESTÃO, DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO – PRINCÍPIOS

3.1 Objetivo e apresentação

A gestão da escola pública no âmbito das políticas públicas brasileiras tem como marco referencial o princípio constitucional da gestão democrática do ensino público previsto na Constituição Federal em seu artigo 206, VI, com regulamentação correspondente na LDBEN – Lei nº 9.394/1996 e, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro pela Lei nº 4.528/2005 e um conjunto de normas dispersas e de natureza variada, tais como atos regulamentares do Conselho Estadual de Educação e da SEEDUC/RJ, ou ainda, atos administrativos oriundos do Poder Executivo em seus diferentes níveis gestores. Tanto os atos e normas centrais e de natureza estratégica, quanto os regionalizados e de natureza tática não apresentam uma ideia clara da forma e consecução da gestão democrática, não existindo assim, ainda que a LDBEN sinalize sua necessidade, nenhum marco regulatório específico, ou mesmo um documento unificado que alicerce a operacionalização desse princípio no espaço da escola pública fluminense. Hoje, em síntese, a gestão escolar encontra o seguinte fluxo:

Figura 26 -Fluxo Gestor Atual da Escola Pública Estadual Fluminense

Fonte: Elaborada pelo autor a partir do diálogo entre a Lei nº 9394/96 e as políticas públicas de gestão escolar da Rede Pública Estadual do Rio de Janeiro.

A análise do fluxo gestor da escola pública fluminense, apresentado na figura 26 permite, com base exclusiva do desenho posto pela regulamentação atual – ou sua ausência –, identifica exatamente o momento em que ocorre a descontinuidade do processo de gestão democrática do ensino público. Fato esse que se dá na transição entre o espaço de ação direta da SEEDUC/RJ e suas Regionais Administrativas e a Unidade Escolar, ocorrendo não na equipe gestora, mas sim na figura do diretor geral que detém, por força de regulação específica em ato administrativo perfeito, a prerrogativa de definir os processos internos de gestão escolar, inclusive as atribuições dos outros membros da equipe gestora.

O desenho atual não só fere os processos de gestão democrática definido para o ensino público, como contraria o próprio entendimento que o Estado do Rio de Janeiro tem na condução de seus atos e processos administrativos, quando este elege tendo para a proteção dos direitos dos administrados e o melhor cumprimento dos fins do Estado os seguintes princípios:

Art. 2º O processo administrativo obedecerá, dentre outros, aos princípios da transparência, legalidade, finalidade, motivação,

razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, impessoalidade, eficiência, celeridade, oficialidade, publicidade, participação, proteção da confiança legítima e interesse público. (RIO DE JANEIRO, 2009, grifo nosso)

Ora, um processo que tem por meta atender princípios democráticos com operacionalização e poder de decisão centralizado na figura de um único ente, sem diretrizes gerais e ferramentas institucionais transparentes de controle contraria, como sinalizado, não só os preceitos gestores, tanto os definidos pelos princípios gerais da administração pública, quanto os relacionados à prática escolar em si, como o próprio conceito de democracia já discutido no presente trabalho, em especial o de democracia participativa e suas formas de consecução.

O redesenho proposto tem como foco, não só buscar garantir a continuidade de preceitos democráticos simplesmente, mas desenhar um conjunto de procedimentos que permitam sua operacionalização através de um processo que ao mesmo tempo em que fomenta, favorece e implementa o diálogo, não perde o foco da objetividade, eficiência e eficácia que devem margear a ação pública institucional. Buscamos aqui, antes de tudo, propor uma dinâmica de trabalho que transforme as demandas e anseios dos envolvidos em realizações, sem se perder, seja no extremo da burocracia institucional vazia presente em processos dialógicos amplos e sem possibilidade de execução, seja em atos legitimados de autoritarismo velado com base em regulamentação fragmentada e atos administrativos pontuais.

Desta feita o redesenho dos processos gestores das escolas públicas estaduais fluminenses fica assim proposto, conforme a figura 27:

Figura 27 - Fluxo Gestor Democrático Participativo Proposto Fonte: Elaborado pelo Autor

O fluxo gestor proposto redesenha a perspectiva personalíssima de gestão e, por meio de um conjunto de procedimentos e ações estabelecidas propõe a construção de novo processo de gestão. O foco sai da figura do diretor geral e,

Gestão Escolar Pública – Lei 9394/1996

Democrática – Art. 3º

Art. 15 – Macro-processos gestores

Pedagógica Administrativa Financeira

Processo Gestor

Diretor Geral

Diretor-Adjunto Pedagógico

Diretor-Adjunto

Administrativo Diretor-Adjunto de Pessoas

Assistente

Operacional Escolar Secretário Escolar

Ag en te d e Aco mp an ha me nt o da G est ão E sco la r – A G E Pro fe sso r In sp eto r Es co la r PI E

Legenda do processo gestor SEEDUC/RJ

Ações Estratégicas Ações Táticas Ações Operacionais Acompanhamento e Coordenações Regionais de Inspeção Escolar Coordenações de Gestão de Pessoas SEEDUC/RJ – Órgão Central

Dir. Regionais Pedagógicas e Administrativas

numa perspectiva democrática no sentido de diálogo e equilíbrio gestor/decisor, observados não só os princípios previstos para a gestão escolar e a Administração Pública, como busca a aplicação, em espaços e medidas diferentes dos ideais de

accountability, por meio de ações de conformidade e compliance, buscando assim

contribuir para a consecução do ideal democrático de justiça social no espaço de gestão escolar.

O modelo proposto na figura 27 descreve o universo da escola A, ou seja, uma escola que possui um diretor geral e dois adjuntos, no caso das escolas B, C, D e E, fica adotado o quadro 4 a seguir:

Quadro 4 -Descrição das atribuições das equipes de gestão escolar propostas

Classificação Geral Adjuntos

A Compliance Administrativo Pedagógico De Pessoas B Compliance + Administrativo Pedagógico De Pessoas C Compliance + Administrativo Pedagógico + De Pessoas D Compliance + Administrativo Pedagógico + De Pessoas

E Diretor Único

Fonte: Elaborado pelo autor

Os diretores irão acumular funções e, no caso específico das escolas E, que hoje representam um número mínimo dentro de nossa realidade (14 unidades escolares), propomos que as funções de Secretário Escolar, Orientador Pedagógico, Assistente Operacional Escolar, que em termos gerais já possuem essas funções, assumam, nos termos regimentais, algumas atribuições excepcionais com o fito de garantir o perfil democrático e operacional da Gestão Escolar, destacando, que nesses casos, também assume um caráter especial tanto a Inspeção Escolar quanto os Agentes de Acompanhamento da Gestão Escolar, com um calendário de atividades mais próximo e ativo e, eventual e excepcionalmente, operacional, de acordo com as demandas postas nas ações periódicas integradas a serem desenvolvidas no contexto escolar.

3.2 Atribuições, responsabilidades e custos – os desafios de cada ente na