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Gestão Flexível do Currículo

No documento Partilhar saberes e aprender em conjunto (páginas 83-90)

4. Actividade Educativa

4.3. Currículo

4.3.1. Gestão Flexível do Currículo

De acordo com Marques & Roldão (1999:17), currículo é “ aquele conjunto de textos normativos, centralmente definidos, e desmultiplicados de forma idêntica […] servidos por manuais tendencialmente uniformizadores e concebidos e usados como base da acção dos professores nas escolas.”

Desde os tenros tempos dedicados à origem do termo currículo, que este conceito possui uma conotação central com a ideia de igualdade e não de diferença. (Roldão, 2003) Contudo, como se constata no ponto anterior, o conceito de currículo possui variadas interpretações ao nível do seu conteúdo e do seu desenvolvimento. Este termo, que comporta diversos significados, tem vindo a alargar-se nos últimos anos, pois a diversidade e a heterogeneidade são características comuns nas sociedades actuais. Deste modo, já não é sustentável a ideia de um currículo uniforme, mais associado a uma escola que se limita a passar informação. Assim, o currículo escolar deverá adequar-se às características individuais dos alunos no sentido de promover condições iguais para o sucesso escolar e para uma educação com qualidade.

De acordo com o Decreto-Lei nº 6/2001, o programa do Governo tem como objectivo uma educação base para todos, onde o processo de educação e de formação se faz ao longo da vida.

Para tal, é necessário proceder a uma reorganização curricular ao nível do Ensino Básico que proporcione e assegure uma maior qualidade de aprendizagens. De modo a assegurar uma maior qualidade foram lançadas algumas medidas de intervenção como “o novo regime de autonomia e administração e gestão flexível ” ( decreto-lei nº 6/2001) – o projecto de gestão flexível “com a finalidade de melhorar a eficácia da

resposta educativa aos problemas surgidos da diversidade de contextos escolares e assegurar que todos os alunos aprendam mais e de modo mais significativo.” (Fontoura, 2006:161)

Esta noção de gestão flexível do currículo é salientada “pela possibilidade de cada escola organizar e gerir, autonomamente, o processo de ensino/aprendizagem, tomando por referência os saberes e as competências nucleares a desenvolver pelos alunos no final de cada ciclo, adequando-o às necessidades diferenciadas de cada contexto escolar.” (Fontoura, 2006:161)

De acordo com estas medidas, a ideia de currículo foi alargando, acabando por se definir como “um processo flexível de procura e experimentação, no sentido de responder adequadamente à diversidade cultural.” (Fontoura, 2006:34)

Na primeira etapa educativa, a educação pré-escolar, é exaltada muitas vezes a questão acerca da necessidade de haver currículo. Tal facto advém da ideia de que as actividades desenvolvidas no jardim de infância servem mais para entreter as crianças do que para educar e favorecer as suas aprendizagens.

Desta forma, torna-se importante a necessidade de “desenhar currículos adaptados aos interesses e necessidades das crianças em idade pré-escolar que promovam o seu desenvolvimento global e assegurem uma transição de sucesso para a escolaridade futura.” (Rodrigues, 1995:36)

Falar de currículo em educação pré-escolar é valorizar e reconhecer a importância deste nível educativo e a identidade pedagógica que tem adquirido no decorrer dos tempos. É importante reconhecer que as crianças em idade pré-escolar, se apresentam num período vital da sua vida e do seu desenvolvimento, no qual tudo é assinalado por um ritmo evolutivo rápido, em que elas adquirem aprendizagens básicas de todo o tipo. Este facto “ justifica a necessidade de um desenho curricular específico, fundamentado nas características próprias deste período etário, tendo em vista o desenvolvimento integral e a consecução de grandes finalidades que o sistema educativo preconiza.” (Rodrigues, 1995:39)

De acordo com Stenhouse (cit. Por Fontoura, 2006: 35) concebe-se por “currículo como um problema prático, aberto à investigação prática e à reflexão por parte dos professores, as figuras centrais da actividade curricular, visto que são os que executam e devem formular juízos a partir dos seus conhecimentos e experiências, assim como das exigências das situações práticas. ”

permanecerão, mas a grande maioria das decisões tornar-se-ão cada vez mais específicas da gestão curricular de cada escola e de cada professor, inseridos numa determinada comunidade e com determinados alunos. Deste modo, cabe agora à escola e aos Professores ajustar/reconstruir o seu currículo e a sua forma de gestão relativamente ao mesmo.

Fazer a gestão do currículo é portanto “(…) decidir o que ensinar e porquê, como, quando, com que prioridades, com que meios, com que organização, com que resultados…” (Roldão, 1999:25) Já ajustar e diferenciar “(…) significa definir percursos e opções curriculares diferentes para situações diversas, que possam potencializar, para cada situação, a consecução das aprendizagens pretendidas.” (Roldão, 1999:52)

A autora Maria do Céu Roldão pressupõe uma diferenciação curricular a vários níveis:

 Nível político (opções de cada escola, de forma a responder melhor ao seu público).

 Nível organizacional (diferenciação ao nível dos projectos curriculares das turmas ou grupos de alunos, de forma a melhorar a sua aprendizagem).

 Nível pedagógico (diferenciação ao nível dos modos de ensinar e organizar o trabalho dos alunos, de forma a garantir uma aprendizagem em sucedida).

O equilíbrio entre todos estes níveis é necessário. Entre o modo de diferenciação escolhido e a aprendizagem a assegurar, é necessária a aprendizagem de tal forma que todos os alunos dominem o melhor possível as competências e saberes que necessitam para a sua vida em sociedade.

Como refere Paskiewiscz (2008:48) “Só tratando de forma diferente, a educação poderá estar mais próxima de dar a todos o mesmo… Aqui começa a flexibilidade.”

A forma / estratégias segundo as quais é realizado o desenvolvimento flexível do currículo nacional deverão estar presentes no Projecto Curricular de Turma. Este Projecto deverá ser desenvolvido tendo em conta o contexto e as particularidades de cada turma. O documento é realizado, aprovado e avaliado pelo Professor da turma em questão. É considerando o Projecto Educativo, o Projecto Curricular de Agrupamento, o Plano Anual de Actividades, o Projecto Curricular de Grupo/Turma e o Regulamento Interno, que se dá a gestão flexível do currículo. Estes projectos nasceram da Reforma

do decreto-lei nº 6/2001, na qual se procura flexibilizar o currículo nacional. É segundo este conjunto de documentos que podemos realmente falar em gestão flexível do currículo.

O Projecto Educativo deverá envolver todos os adultos da acção educativa, onde através de um processo de negociação articulada em diferentes perspectivas e interesses se chegue a um compromisso entre todos.

Este documento de gestão curricular apresenta-se como um “(…) instrumento dinâmico que evolui e se adapta as mudanças da comunidade, por isso este projecto deverá ir sendo repensado e reformulado, num processo que implica uma avaliação e reflexão realizada por todos os intervenientes.” (Ministério da Educação, 1997:44)· A elaboração do Projecto Educativo provém da necessidade de alterar situações/problemas e optimizar as mesmas de modo a encontrar respostas e soluções.

Segundo Alves, o Projecto Educativo é “um documento que orienta a acção educativa, que esclarece o porquê e para quê das actividades escolares que diagnostica os problemas reais e os seus contextos, que exige a participação crítica e criativa […] de generalidade dos actores, que prevê e identifica os recursos necessários de forma realista, […] e que sabe o que avaliar, para quê, como e porquê. ” (cit. por Ricardo, 2000:41). O documento deverá apresentar, de forma coerente, valores e intenções educativas, formas previstas para concretizar esses valores e intenções declarados, e, por fim, os meios necessários à sua realização. (Ministério da Educação, 1998)

Para Barroso, o Projecto Educativo equivale a um conjunto de “ princípios e valores e políticas capazes de mobilizarem a acção da escola e orientarem a tomada de decisão.” (cit. por Almeida, 1998:31)

Por sua vez, Costa, numa definição abrangente, refere que o Projecto Educativo de escola é um documento de carácter pedagógico que, elaborado com a participação da comunidade educativa, “estabelece a identidade própria de cada escola através da adequação do quadro geral em vigor à sua situação concreta […] o modelo geral de organização e os objectivos pretendidos pela instituição, enquanto instrumento de gestão, é ponto de referência orientador na coerência e unidade da acção educativa.” (cit. por Homem, 18:12)

Abraçando o Projecto Educativo como uma construção progressiva, é de ressaltar, segundo o Ministério da Educação (1998), três etapas:

 Caracterização/diagnóstico da situação: consiste no levantamento e recolha de informação relativamente ao meio que rodeia a Instituição. Trata-se da recolha de elementos necessários para o melhor funcionamento da escola e o encontrar formas de resposta mais adequadas à comunidade em questão.

 Elaboração do projecto: corresponde à determinação de prioridades educativas e suas formas de realização, de acordo com a população educativa. Estas prioridades são traduzidas em objectivos.

 Previsão de formas de avaliação: consiste na avaliação e reformulação do Projecto Educativo. Apresenta-se como uma reflexão sobre a realização do projecto.

Assim, este documento é um elemento regulador da autonomia do Agrupamento, servindo de igual modo para que este encontre as respostas às suas necessidades, aos desafios que lhe são propostos, assim como, à participação dos vários intervenientes.

Aliados estão o Projecto Educativo e o Plano Anual de Actividades, visto que o primeiro se concretiza no segundo. O Plano de Actividades é “(…) um instrumento de planificação de actividades escolares para um ano lectivo (…) estruturado e adaptado à consecução dos objectivos fixados.” (Almeida, 1998:33) Deste modo, é necessária a existência de uma coerência e articulação entre ambos.

Por consequente aliado aos documentos anteriores está também o Regulamento Interno. Este documento “(…) especifica a dinâmica da própria escola, a sua estrutura organizativa e seu modo de gestão clarifica regras de funcionamento e ajuda no processo de execução ou implementação do Projecto Educativo.” (Almeida, 1998:33) O Decreto-Lei nº 75/2008 também define o Regulamento Interno de forma idêntica.

Podemos supor, então, que boa parte da harmonia e da integração das acções desenvolvidas nas escolas dependem das orientações emanadas destes três documentos. Sob uma perspectiva reflexiva com base nas definições aqui apresentadas e outras, o Projecto Educativo é um documento escrito, executado por um conjunto de pessoas que contam com a participação da comunidade educativa e onde se estabelecem traços orientadores para a vida escolar. Este é um documento da comunidade educativa, da escola, não da sala e do educador.

Deste modo, podemos dizer que o Projecto Educativo contribui “para globalizar a acção educativa da escola, obrigando a pensar a escola como um todo, exigindo um

esforço permanente em termos de articulação e coerência entre as várias actividades desenvolvidas.” (Almeida: 1998:33)

Por tudo isto, “o projecto educativo de escola[…] é um processo e um produto de planeamento […], logo um instrumento de gestão. É um processo que tem um modo próprio - participado e faseado – de elaboração e é um produto porque se concretiza num resultado que corresponde a um documento que o explícita.” (Homem, 1998:13)

Já o Projecto Curricular de Turma/Grupo é um processo de construção em acção, segundo Pacheco e Morgado (2002) e, de acordo com Carlinha Leite (2003), ele deseja adequar o currículo nacional às características específicas das crianças de um grupo/turma. Assim, define-se em função do currículo nacional, descreve as prioridades da turma/grupo, as competências essenciais e as transversais que servirão para organizar o projecto e os conteúdos/temas que serão trabalhados nas áreas curriculares. Deverá permitir uma articulação vertical e horizontal que só as situações reais tornam possíveis realizar.

Através da construção deste projecto (PCT/PCG) é possível respeitar as crianças reais e estruturar a acção dos educadores/professores, de maneira a acabar com a acumulação de informação e proporcionar uma visão interdisciplinar e integrada do saber. Como é esperado, este documento é elaborado pelo docente encarregado da turma/grupo, que vem dar resposta ao Decreto-Lei nº 6/2001 de 18 de Janeiro e ao Despacho Normativo nº 30/2001 de 19 de Julho.

O referido documento é realizado com base no Projecto Curricular de Agrupamento (PCA) e no Projecto Educativo (PE) .

Então, o PCT/PCG é um documento que desabrocha do PE e como tal têm características idênticas, mas, o PCT/PCG adequa essas características à especificidade da turma/grupo.

Em suma, e como será de esperar, o PCT/PCG é de uma importância extrema para uma acção educativa coesa, um vez que é através deste que o docente propõe objectivos a atingir e competências a desenvolver, que vão ao encontro das necessidades e interesses específicos de uma turma/grupo, com a finalidade de melhorar e equilibrar a acção educativa.

O Infantário de Vila Real, Instituição Particular de Solidariedade Social, possui Projecto Educativo e Plano Anual de Actividades, para além do Projecto Curricular de Grupo para o grupo de crianças com o qual foi realizado o Estágio I.

Observando e analisando o Projecto Educativo da Instituição, ressaltam dois temas: “Nós e a Natureza” e os “3 R´s”, sendo estes de duração de um ano lectivo (2008/2009). Seguidamente são apresentadas as razões pelas quais os temas foram seleccionados, e como seria de esperar, frisam a necessidade de educar para “melhor cuidar dos recursos essenciais à nossa existência”. Posteriormente, serão apresentados os princípios orientadores / finalidades deste projecto.

Por fim, é apresentado o modo de avaliação, que será efectuado periodicamente e posterior à reunião de Conselho Pedagógico. Deste modo, a avaliação será feita pela comunidade educativa e discutidos serão aspectos positivos e negativos deste documento (Projecto).

Analisando o Projecto Educativo desta Instituição, este contempla medidas no sentido de resolver problemas da comunidade educativa em que está inserida. O facto de se centrar em torno de temas tão actuais como os anteriormente referidos revela a importância dos problemas reais, que nos afectam a todos, para esta comunidade educativa.

A Escola nº 2 de Mateus pertence ao Agrupamento Vertical de Escolas Monsenhor Jerónimo do Amaral, também possui Projecto Educativo e Plano Anual de Actividades e apresenta um Projecto Curricular de Turma recorrente para os anos lectivos de 2008/2011.

Com o tema “Aprender em comunidade”, o Projecto Educativo do Agrupamento Vertical de Monsenhor Jerónimo do Amaral inicia-se com a caracterização da realidade do Agrupamento e da história do mesmo, fazendo referência a três marcos históricos relevantes para a sua existência, passando um olhar de relance a alguns dos projectos, uns com continuidade no tempo, outros pontuais mas, da mesma forma, marcantes para o Agrupamento.

De seguida, são abordadas a área de influência, caracterizando as freguesias e populações às quais o Agrupamento presta serviço educativo, procede à caracterização da comunidade escolar (alunos, docentes e não docentes), ao levantamento dos recursos internos e externos já existentes, identificando as suas potencialidades e as necessidades a suprir, no sentido de serem proporcionadas as melhores condições possíveis às práticas educativas.

Após a caracterização e levantamento das necessidades, sistematizaram-se os pontos fortes a rentabilizar e os pontos fracos a eliminar ou minimizar, bem como as

oportunidades futuras a aproveitar e as ameaças externas em relação às quais o Agrupamento se deve prevenir.

Posterior à caracterização e levantamento das necessidades da comunidade educativa em que se inserem as Escolas, é iniciada a elaboração do Projecto. Decorrendo das necessidades da comunidade, o Projecto Educativo inicia-se segundo os seguintes princípios: “O desenvolvimento de atitudes de solidariedade e respeito mútuo, de regras de convivência, de aceitação, valorização e compromisso com a diversidade; A igualdade de oportunidades, atendendo às características individuais de cada aluno e de cada estabelecimento de ensino.” (Projecto Educativo do Agrupamento Vertical Monsenhor Jerónimo do Amaral, 2008: 51)

De seguida, são enunciadas áreas prioritárias, metas e objectivos gerais. Objectivos como: “ Melhorar a qualidade do sucesso escolar; Implicar e comprometer os alunos nas tomadas de decisão; Operacionalizar a articulação e sequencialidade entre os vários níveis de ensino; Detectar precocidades, dificuldades ou outras necessidades do aluno, com vista a promover a melhor orientação e encaminhamento.” estão presentes na perspectiva educativa do Agrupamento. (Projecto Educativo do Agrupamento Vertical Monsenhor Jerónimo do Amaral, 2008: 52) De acordo com estes objectivos, são referidas estratégias e situações, com vista a melhorar cada objectivo.

Por fim, mas não menos importante, é apresentada a avaliação do projecto: “O processo da avaliação deverá assentar numa negociação democrática, flexível, intensa e transparente.” (Projecto Educativo do Agrupamento Vertical Monsenhor Jerónimo do Amaral, 2008: 59)

No documento Partilhar saberes e aprender em conjunto (páginas 83-90)

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