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3. ASPECTOS EVOLUTIVOS DA GESTÃO DA INFORMAÇÃO

3.1 Gestão da Informação na Atualidade

Embora, a partir dos anos 1990, se tenha apontado para um esgotamento da GI, observa-se que nas últimas duas décadas a Gestão da Informação enquanto disciplina – ou

domínio – tem tido uma participação e relevância exponencial não somente na área acadêmica, mas também nas áreas educacional e empresarial. Possivelmente o referido esgotamento tenha se dado na esfera governamental (Malin, 2003, p. 85), mas em outros contextos ela continua sendo amplamente considerada.

No âmbito acadêmico nacional, ao menos no que tange à literatura de Ciência da Informação, a temática de GI era o quarto assunto mais estudado, em 2004, atrás apenas de “competitividade”, “negócios” e “qualidade”, segundo pesquisa de Freitas (2004, p. 35). Em 2008 sua posição cresceu expressivamente entre os assuntos da temática de gestão13, conforme apontado pela pesquisa de Valentim (2008), sendo o assunto mais abordado da literatura à frente de “gestão do conhecimento”, “administração de sistemas”, “inteligência competitiva, dentre outros”.

Além disso, no âmbito acadêmico internacional, muitos periódicos científicos na área de GI eclodiram a partir dos anos 1990, embora alguns remontem aos anos 1980. Para citar somente alguns, pode-se destacar:

 Information & Management

 International Journal of Information Management

 SRELS International Journal of Information Management  Journal of Information and Data Management

 Journal of Global Information Management  Journal of Enterprise Information Management

 The Journal of Digital Information Management (JDIM)

 Interdisciplinary Journal of Information, Knowledge, and Management (IJIKM)  Asian Journal of Information Management

 Journal of Information Management (Coreia do Sul)

 SALIS Journal of Information Management and Technology (Índia)

No aspecto educacional internacional, um movimento sem precedentes na área de Gestão da Informação tomou corpo entre universidades americanas e canadenses, expandindo-se posteriormente pelo mundo. No final dos anos 1980, Toni Carbo, decano da Universidade de Pittsburgh, juntamente com Donald Marchand (Universidade de Siracusa) e Richard Lytle (Universidade de Drexel), formaram o embrião de um grupo de escolas que

13 Considera-se como referência a temática do GT4 da ANCIB – Gestão da Informação e do Conhecimento nas

discutiam a Gestão da Informação. Pouco mais de uma década depois, em 2003, surgia a rede

ISchools, uma rede acadêmica internacional que congrega renomadas universidades para a

discussão da GI e assuntos informacionais em geral. Esta rede conecta várias universidades com departamentos ou faculdades que se propõem a estudar principalmente a Gestão da Informação, mas também Ciência da Informação, Tecnologias da Informação, Negócios da Informação, dentre outras.

Na China, potência ora emergente, a Gestão da Informação inspirou a criação de escolas de Gestão da Informação, como a School of Information Management, membro da

Ischool e a School of Information Resource Management, da Universidade de Renmin, cujo

conteúdo interdisciplinar congrega Ciência da Informação, Sistemas de Informação, Gestão do Conhecimento e também Biblioteconomia.

Conforme observado, a GI vem sendo expandida, revelando seu caráter interdisciplinar característico desde sua constituição. Seja através de documentos impressos ou digitais, provavelmente as organizações continuarão a ter a necessidade de gerir a informação e seus recursos, independente dos elementos, das vertentes e ramificações que possa vir a tomar. Como atestou Detlor, em 2010,

De acordo com o escopo atual do International Journal of Information Management, o desafio para a Gestão da Informação agora é menos sobre o gerenciamento de atividades que coletam, armazenam e disseminar informação, e mais acerca de colocar maior ênfase no gerenciamento de atividades que fazem alterações nos padrões de comportamento de clientes, pessoas e organizações e as informações que leva a mudanças na forma como as pessoas usam a informação. (DETLOR, 2010, p. 107)

O autor ainda citou Davenport (2008), quando lembrou que

GI é menos sobre a resolução de problemas técnicos e muito mais sobre abordar o lado humano da Gestão da Informação. Os seres humanos adicionam o contexto, significado e o valor à informação, e são os humanos que se beneficiam e usam essa informação. Como tal, o domínio da gestão da informação é uma tarefa essencialmente humana. (DAVENPORT, 2003, apud DETLOR, 2010, p. 107) Apesar da variedade de temáticas relacionadas com a GI, sua relação com a Gestão do Conhecimento tem sido a mais destacada na literatura da área, pois frequentemente não há menção a uma sem referências à outra. Entretanto, como destacaram Barbosa (2008, p. 14) e Ponjuán Dante (2007, p. 111) as teorias e práticas de cada uma são bem definidas e sua relação se dá de forma complementar. Para estes autores, o papel da Gestão da Informação é gerenciar a informação registrada, enquanto a Gestão do Conhecimento foca nos ativos de

conhecimento, no qual a informação é um deles. Segundo Barbosa (2008, p. 14), fica clara a posição das duas disciplinas, tal como exposto no quadro 2:

QUADRO 2: COMPARAÇÃO ENTRE A GESTÃO DA INFORMAÇÃO E GESTÃO DO CONHECIMENTO

Critério Gestão da Informação Gestão do Conhecimento

Fenômenos centrais Informação ou conhecimento explícito Conhecimento tácito, competências pessoais

Visibilidade dos fenômenos Baixa Muito baixa

Processos críticos Organização e tratamento da informação Descoberta e compartilhamento do conhecimento

Nível de centralidade para a gestão

estratégica Mediana Alta

Influência da cultura organizacional

sobre processos e resultados Mediana Alta

Possibilidade de gerenciamento Baixa ou mediana Baixa ou muito baixa

Outros conceitos relacionados Sistemas de informação, gestão eletrônica de documentos Capital intelectual, ativos intangíveis, aprendizagem organizacional

Principais campos disciplinares envolvidos

Ciência da Computação, Ciência da Informação, Biblioteconomia,

Arquivologia Administração, Ciência da Informação

Fonte: Barbosa, 2008, p. 14.

Por sua vez, Ponjuán Dante apresentou um vínculo entre a Gestão da Informação, a Gestão do Conhecimento e a Gestão Documental. Para a autora, a Gestão da Informação, não deve deixar de lado a gestão documental, essencial para um bom manejo da informação. (Ponjuán Dante, 2007, p. 106), enquanto interage com a Gestão do Conhecimento:

[...] Sobre a Gestão da Informação e a Gestão do Conhecimento, tanto a informação quanto o conhecimento tem a ver com pessoas, embora em diferentes níveis ou dimensões. A informação depende dos dados que se convertem em informação ao ter significado a partir de diferentes processos de agregação de valor e de uma determinada contextualização; o conhecimento é informação transformada em crenças, conceitos e modelos mentais mediante o raciocínio e reflexão. (PONJUÁN DANTE, 2007, p. 111)

Ainda segundo Ponjuán Dante, a relação entre estas disciplinas se apresenta da seguinte forma, conforme a figura 2:

FIGURA 2: RELAÇÃO GESTÃO DOCUMENTAL-INFORMAÇÃO-CONHECIMENTO

Fonte: Ponjuán Dante, 2007, p. 106.

A interação entre as disciplinas de Gestão da Informação e Gestão do Conhecimento contribui para o desenvolvimento de uma visão mais holística da GI. A Gestão do Conhecimento, ao considerar o fator humano como essencial em sua disciplina, parece ter influenciado o reforço deste aspecto por muitos autores da GI. Assim, o elemento humano, visto antes como um dos recursos da GI, passou a ser considerado o foco principal das práticas de gerenciamento informacional. Wilson (2002), em seu trabalho sobre Gestão da Informação, reconheceu claramente este aspecto, destacando que o comportamento (de busca) informacional (Information Seeking Behavior), tendo como base a necessidade informacional humana, é a mola-mestra da GI.

Bergeron (1996) assinalou duas vertentes ou perspectivas observadas na GI: a perspectiva tecnológica e a perspectiva integrativa. Sobre a perspectiva tecnológica, a autora declarou que

Na perspectiva da tecnologia da informação, os autores veem a GRI como uma expansão ou subdisciplina da Gestão de Sistemas de Informação ou como uma prática de melhor gerenciamento de sistemas de informação baseados em computador. Esta perspectiva enfatiza o aspecto técnico da GRI. A informação é frequentemente confundida com tecnologia da informação; outros relacionam informação com tecnologia. Esta perspectiva tecnológica, predominante na literatura da Gestão de Sistemas de Informação, enfoca os sistemas de informação baseados em computadores como os únicos provedores de informação na organização. (BERGERON, 1996, p. 266)

Por outro lado, a perspectiva integrativa, segundo a autora,

Vê a GRI como uma abordagem convergente ante os problemas de informação. Para a maioria dos autores, esta visão baseia-se principalmente no campo dos estudos de informação. Esta perspectiva considera a GRI como uma abordagem gerencial que tem como função a visão integrada e harmônica das fontes, serviços e sistemas, além da criação de sinergia entre os recursos internos e externos de informações organizacionais. Também vê a GRI no contexto do processamento de informação

Gestão do Conhecimento

Gestão da Informação

Gestão de Documentos

organizacional e necessidades informacionais sob a seguinte questão: quem adquire, organiza e transmite qual informação, por qual meio, com que custo, para quem e com que efeito? A meta da GRI é estabelecer mecanismos necessários à organização para a criação ou aquisição, processamento e armazenamento de dados e informações de qualidade adequada, rápida e precisa para o suporte dos objetivos organizacionais a custos mínimos. (BERGERON, 1996, p. 268)

Esta concepção integrativa é especialmente interessante aos propósitos deste estudo, uma vez que reconhece a importância dos processos informacionais nas práticas de GI juntamente com as necessidades de informação, que têm por pressuposto o elemento humano, razão de ser das atividades informacionais. A visão integrativa – sistêmica e holística – tal como constatada por Bergeron (1996), têm sido a visão predominante na GI. Vários modelos de Gestão da Informação foram desenvolvidos e apresentados na literatura com base nessas premissas e alguns deles foram selecionados para a presente pesquisa, conforme será visto mais adiante.