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GESTÃO DE RESÍDUOS EM GRANDES EVENTOS

No documento Resíduos sólidos: (páginas 92-96)

Capítulo 2. Gerenciamento de resíduos sólidos em entes federativos

2. GESTÃO DE RESÍDUOS EM GRANDES EVENTOS

Nos últimos anos, o Brasil foi palco de grandes eventos, principalmente os que possuem uma

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cultural, político ou social. Por ser um segmento em expansão, os eventos podem apresentar duas facetas, a positiva e a negativa. Os eventos podem se tornar um atrativo turístico, desempenhando um importante papel para o desenvolvimento turístico de um município, gerando renda e empregos. Porém, os mesmos podem resultar em um consumo desenfreado e consequente geração de resíduos (NERY et al., 2013).

De acordo com International Council for Local Environmental Initiatives - Iclei (2014), a

relação direta e correlata entre consumo e geração de resíduos segue as tendências de consumo e de poder de aquisição, cujo crescimento afetará o futuro. Este pode ser impulsionada pelos eventos, por serem responsáveis, em maioria, por picos de população flutuante e geração de resíduos. Segundo

estimativas do Ministério do Turismo apud Iclei (2014), são realizadas cerca de 330 mil eventos por

ano no Brasil, com capacidade de atrair quase 80 milhões de participantes. A expectativa é que ainda mais eventos sejam realizados nos próximos anos, devido à projeção alcançada durante a Copa do Mundo de 2014 e a futura realização das Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016

Essa expectativa tem como base os dados do International Congress and Convention

Association - ICCA, em que o Brasil está entre os dez destinos mais procurados para realização de eventos. Entre 2003 e 2013, o total de eventos de negócios realizados no Brasil registrou um aumento de 408%, trazendo 126 mil turistas estrangeiros, que permaneceram em média 3,8 dias no país, gerando um movimento de US$ 137 milhões. Outra informação relevante é que nos últimos dez anos, o número de cidades que sediaram eventos, nacionais e internacionais, aumentou em 145%, passando de 22 para 54, resultando no envolvimento de cidades menos desenvolvidas do país.

Diante da importância dos eventos, os mesmos podem ser considerados como fonte de impactos ambientais, sanitários e visuais, por existir um excesso de embalagens, gastos energéticos

desnecessários e uso de copos plásticos no coffee break, pela alta concentração de pessoas com

perfis diversificados, somadas a falhas no planejamento, execução, monitoramento, contingência e comunicação (CNUSD, 2012; FRACASSI, 2012;).

Outro ponto que fomenta a discussão dentro do contexto de eventos e resíduos são as emissões de gases de efeito estufa - GEE, pois, de acordo, com o Quarto Relatório do Painel Internacional das Mudanças do Clima (IPCC, 2007), os resíduos provenientes do pós-consumo contribuem apenas com 5% das emissões globais de gases de efeito estufa. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação (FAO, 2013), o desperdício de alimentos é a terceira maior fonte emissora dos GEE, onde se estima-se a emissão de 3,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano. O transporte de produtos, serviços, pessoas e resíduos, corresponde cerca de 22% das emissões de dióxido de carbono equivalente. Outro dado alarmante é a estatística que, em média, apenas 15% dos resíduos gerados em eventos são reaproveitados para fins como a reciclagem (ICLEI, 2014). Neste sentido, é de suma importância, para adequar tais eventos a um eficiente manejo de resíduos sólidos, medidas para diminuir os impactos socioambientais com a instituição de um modelo de gestão que consolide a hierarquia da não geração, redução, reutilização, reciclagem, compostagem e tratamento e disposição final adequados de resíduos (CNUSD, 2012).

Existem varias metodologias e técnicas para gestão de resíduos de eventos, principalmente com diretrizes para um gerenciamento integrado e sustentável. Por isso, serão abordadas as diretrizes e recomendações do “Manual para Gestão Integrada e Sustentável de Resíduos Sólidos em Eventos” (ICLEI, 2014) e guia “Orientação para o Desenvolvimento de um Plano de Gestão de Resíduos de Eventos” (GERES, 2014), para uma gestão pragmática e sustentável dos resíduos em grandes eventos (Quadro 1).

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De acordo com Iclei (2014), inicialmente deve fazer visitas técnicas aos locais que servirão de palco ao evento para conhecer o atual cenário de gerenciamento de resíduos e identificar as oportunidades de adoção das melhores práticas ao longo do planejamento, devendo fazer o levantamento da existência de:

Lixões, aterros controlados e aterros sanitários; Programa municipal de coleta seletiva;

Cooperativas e associações de catadores; Iniciativas e programas de compostagem;

Ecopontos ou bota-foras licenciados para descarga de entulho; Transportadores de resíduos cadastrados na Prefeitura;

Plano de Gestão de Resíduos Sólidos do município ou cidade a ser sediada.

Quadro 1. Principais recomendações para elaborar o planejamento e prerrogativas para a gestão de resíduos em eventos.

PRERROGATIVAS RECOMENDAÇÕES

Estabelecendo objetivos

e metas O que pretendo exatamente? Trabalhando

envolvendo parceiros metas e como pode atingi-las? Com quem precisa trabalhar em conjunto Com quem preciso trabalhar para atingir os objetivos? Como estabelece para atingir estas metas? Conhecendo e

Compreendendo os resíduos

Quais os tipos e quantidades estimadas de resíduos? Em quais locais podem se originar e durante quais períodos? De onde ele vem e quando ele é produzido? Como é feita a gestão destes resíduos e o que acontece com ele? Produzindo menos lixo Como elimino ou reduzo a geração de resíduos? Como pode eliminar ou reduzir a geração de resíduos antes deste ser gerado? Definindo a destinação Quem levará e qual o destino dos resíduos do evento? Organizando descarte,

coleta e

armazenamento

Quais suportes físicos serão necessários? Quais serão os caminhos dos resíduos no evento? Como pode fornecer um sistema mais fácil para uso pelos espectadores e trabalhadores? Comunicação Como pode explicar de forma simples e efetiva a todos envolvidos na geração e tratamento de resíduos, de fornecedores e times de gestão de eventos à expectadores? Como eles podem dar apoio à reciclagem de resíduos? Motivando o público O que devo fazer para que o público do evento adote os procedimentos previstos para a limpeza e o gerenciamento dos resíduos? Avaliando O que deu certo, quais foram os pontos fracos e fortes e como divulgo os resultados? O esquema ao lado resume o manejo ideal dos resíduos em um evento . Medir e compartilhar o

sucesso Como esta medindo as suas metas e passando a experiência adquirida no processo de forma a auxiliar outros gestores de eventos a melhorar suas práticas de manejo de resíduos? Você atingiu os seus objetivos e disse ao mundo sobre o seu processo? Fonte: GERES (2014); ICLEI (2014).

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Todas às decisões tomadas acima, vão depender das instalações, recursos financeiros, técnicos e humanos disponíveis na área ou cidade, e influencia em todo o processo de manejo de resíduos sólidos (BARBARÁ, 2015). Por isso, são necessários todos os procedimentos de um sistema de gerenciamento sustentável de resíduos em eventos, pois se evita o desperdício dos recursos naturais e financeiros. Além disso, o simples hábito da separação do resíduo diminui grande quantidade de resíduos que são desnecessariamente enviados para a destinação final enquanto poderiam ser reutilizados, reciclados ou utilizados para outros fins. A adoção dessas ações permite mudanças no padrão de consumo, diminuindo-se o impacto das atividades antrópicas ao meio ambiente (FRACASSI, 2012).

3. METODOLOGIA

3.1. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Para o desenvolvimento deste trabalho, primeiramente, realizou-se a pesquisa bibliográfica para a apropriação e aprofundamento dos conhecimentos relacionados ao tema, para ter subsídios literários e técnicos. A investigação envolveu a análise de documentos relacionados à operacionalidade do planejamento e gestão do carnaval do Recife. Para isso, foram analisados os Relatórios Operacionais Anuais, referente aos anos de 2013, 2014 e 2015, das atividades realizadas pela Emlurb, vinculada à Secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos da Prefeitura do Recife.

Para analisar os dados coletados e atingir os objetivos propostos desta pesquisa, foi utilizado a abordagem metodológica qualitativa, pautando-se na documentação indireta (pesquisa bibliográfica) e no método de análise descritiva, buscando não se preocupar com a representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da compreensão da gestão dos resíduos sólidos no período do carnaval na cidade do Recife.

3.2. CARACTERIZAÇÃO DO CARNAVAL DO RECIFE

Considera-se como período de carnaval os cinco dias – da sexta-feira até a terça-feira imediatamente posterior a quaresma (GOMES et al., 2007). São cinco dias de folia no carnaval do Recife, considerado internacionalmente multifacetado (diferentes formas de carnaval de rua, desfiles de agremiações carnavalescas, apresentações de cantores e conjuntos musicais); multicultural (diferentes estilos de músicas e danças); e democrático, pois as pessoas não precisam pagar para brincar. É essa combinação que a cada ano conquista mais foliões do Brasil e do mundo.

Atualmente, de acordo com a Emlurb (2014), o carnaval é organizado pela prefeitura, em que desde 2003 são divididos em diversos polos por toda a cidade, de forma a desconcentrar a folia e também permitir que cada folião participe de uma festa com o ritmo que mais lhe agrade ou convenha, tendo a estrutura composta por:

Pólos Centralizados: composta por 11 (onze) polos localizados nos bairros de Santo Antônio, São José, Recife, Boa Vista e Santo Amaro;

Pólos Descentralizados: composto por 14 (quatorze) polos distribuídos em diversas localidades de todas as seis Regiões Político Administrativas (RPAs);

Corredores do Frevo: são 8 (oito) corredores nos bairros dos Coelhos, Alto Santa Terezinha, Alto do Mandú, Buracão-Alto Santa Izabel, Morro da Conceição, Buriti-Macaxeira, UR2-Ibura e Três Carneiro;

Pólos Infantis: são 3 (três) polos localizados no Parque da Jaqueira, Parque D. Lindu, Sítio da Trindade e Parque Santana;

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Pólos Comunitários: ao todo foram 48 (vinte e oito) denominados de Polinhos, além do Galo da Madrugada.

Figura 1. Distribuição dos Polos do Carnaval do Recife

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