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RESULTADOS E DISCUSSÃO

No documento Resíduos sólidos: (páginas 23-44)

determinado campo de pesquisa com seus principais autores”. Ainda, de acordo com Richardson

(2012, p. 300-301): “ Quando um assunto, tomado como tema para pesquisa, já mereceu o estudo por outros investigadores cabe, a esse respeito, dar um balanço antes de se empreender de fato a pesquisa que se tem em mente”.

Entende-se, no presente trabalho, que levantamento bibliográfico “[...] consiste na busca de estudos anteriores que já foram produzidos por outros cientistas e que geralmente são publicados em livros ou artigos científicos” (ACEVEDO; NOHARA, 2007, p. 48). Sendo assim, para o desenvolvimento do estudo utilizou-se as seguintes etapas, que segundo Medeiros (2009), compreendem os passos de uma pesquisa bibliográfica: escolha do assunto, elaboração do plano de trabalho, identificação, localização, compilação, fichamento, análise e interpretação, redação. A metodologia empregada no presente trabalho pretende, assim, subsidiar a análise dos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

3.RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. A Sustentabilidade na Supply Chain Management

A gestão de cadeias de suprimento/Supply Chain Management é a administração integrada

dos principais processos de negócios envolvidos com fluxos físicos, informacionais e financeiros, englobando desde os produtores envolvidos na extração de insumos básicos até o consumidor final, no fornecimento de bens, informações e serviços, de maneira a agregar valor a todos os clientes – intermediários e finais – e para outros grupos de interesse relevantes e legítimos para a cadeia (acionistas, funcionários, comunidade, governo, gestores) (CORRÊA, 2014).

Porém, como todas as atividades humanas, as cadeias de suprimento imprimem uma “pegada ambiental”, ou seja, elas geram impacto ambiental, desde as atividades relacionadas à extração das matérias-primas utilizadas em seus processos até a destinação final dos resíduos gerados durante todo o ciclo dos seus produtos. Desta maneira, uma ideia que pode contribuir para a promoção da

sustentabilidade na Supply Chain Management é a aplicação do monitoramento da pegada

ambiental. Para Corrêa (2010, p. 349): “O “rastro” ou “pegada” ambiental (environmental footprint)

de uma rede de suprimentos é a consequência causada ao meio ambiente por fluxos materiais (sólidos, líquidos e gasosos) e energéticos que deixam o sistema definido por ela”.

Algumas organizações empresariais, governos nacionais, bem como indivíduos, têm buscado aplicar o monitoramento de sua pegada ambiental, com vistas à manutenção da sua competitividade, como é o caso da Sita, uma empresa francesa, que atua na gestão de resíduos, e é parte do grupo Suez. A Sita utiliza a pegada ambiental como um instrumento que serve tanto como um indicador para as operações internas como uma ferramenta de comunicação com os seus stakeholders – que vão desde os cidadãos até os formuladores das políticas empresariais (GLOBAL FOOT PRINT NETWORK, 2015).

Quando reconhecem e buscam gerenciar o impacto ambiental/pegada ambiental das suas atividades, as organizações podem agregar valores de natureza ecológica às cadeias de suprimentos,

que passam a ser conhecidas como Green Supply Chain/Cadeias de Suprimento Verdes. A gestão de

Cadeias de Suprimento Verdes/Green Supply Chain Management (GSCM), de acordo com Zhu, Sarkis

e Lai (2011) compreende a integração das preocupações ambientais nos processos organizacionais de gestão da cadeia de suprimentos.

Tal integração visa minimizar os impactos sociais e ambientais de um serviço ou produto, variando desde compras mais sustentáveis até a completa integração do fluxo da cadeia de

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suprimentos, desde o fornecedor até o cliente final. A Microsoft (2015), por exemplo, afirma que os padrões segundo os quais devem se guiar os participantes da sua cadeia de suprimento estão baseados nas seguintes normas internacionais: ISO 14.001, SA 8.000, OHSAS 18.001, Convenções da Organização das Nações Unidas e da Organização Internacional do Trabalho, que são reforçadas através de acordos contratuais.

Para compreender o contexto que torna imprescindível a preocupação com as questões ambientais relacionadas à gestão da cadeia de suprimentos é de fundamental importância

compreender a noção de desenvolvimento sustentável; que segundo Corrêa (2010, p. 346): “[...] é o

desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a habilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. Tal noção acerca do desenvolvimento implica quatro postulados, que são os seguintes:

Equidade intergerações: que acentua a necessidade de maximizar o bem-estar das gerações atuais, sem provocar uma diminuição na qualidade de vida das gerações vindouras;

Equidade intragerações: que implica a justa redistribuição de riquezas, com o intuito de garantir e melhorar a condição de vida das gerações atual e futura; Utilização sustentável dos recursos naturais: que visa garantir que o ritmo de exploração dos recursos naturais não comprometa sua conservação e, consequentemente, assegure a conservação perene de tais recursos;

Integração dos diferentes aspectos do desenvolvimento sustentável: que visa o equilíbrio entre os interesses econômicos, ambientais e sociais (OLIVEIRA; MONT’ALVERNE, 2015).

Para a aplicação da noção de desenvolvimento sustentável em suas práticas, as organizações podem utilizar diversas técnicas gerenciais que lhe dão suporte, tais como: a análise do ciclo de vida

do produto e o ecodesign (GONÇALVES; NEVES, 2015). O ciclo de vida do produto analisa o impacto

ambiental que poderá “[...] influenciar na carga ambiental de uma cadeia de suprimentos, desde a extração de recursos naturais [...] até a reciclagem ou destinação final” (GONÇALVES; NEVES, 2015, p.

61). Já o ecodesign “[...] tem como objetivo criar produtos ecoeficientes, sem comprometer custos,

qualidade e restrições de tempo para a fabricação” (GONÇALVES; NEVES, 2015, p. 59).

Tais técnicas colaboram para o desenvolvimento de redes de suprimento de ciclo fechado, as conhecidas redes de suprimento com sistemas de produção circulares, como os da produção limpa, “[...] uma abordagem de proteção ambiental ampla que considera todas as fases do processo de manufatura ou ciclo de vida do produto, com o objetivo de prevenir e minimizar os riscos para os seres humanos e o meio ambiente [...]” (BARBIERI, 2011, p. 125 e 126).

As redes de suprimento de ciclo fechado são àquelas “[...] compostas de fluxos diretos e reversos formando “ciclos” que fazem materiais usados retornarem a pontos anteriores da rede para reutilização ou reprocessamento para nova utilização” (CORRÊA, 2010, p. 349). De acordo com Thomas e Callan (2010) no mundo real, a aplicação de um sistema fechado gera a formação de um ecossistema industrial, que se trata de um sistema fechado de fabricação, no qual os resíduos de um processo são reutilizados como insumos em outro processo. Embora possam parecer esotéricos, os parques ecoindustriais estão ficando comuns e estão operando na Europa, Ásia e Estados Unidos. As transferências ocorrem através de um esforço colaborativo entre empresas diferentes.

A importância jurídica e de gestão de conceitos como desenvolvimento sustentável, pegada

ambiental e redes de suprimento de ciclo fechado para a Supply Chain Management baseia-se no

fato de que a PNRS institui, no Art. 30, a chamada responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida

dos produtos, da qual tratar-se-á mais a frente. Outro ponto a ser levado em consideração, é o fato de que de acordo com Mendonça, Pontes e Souza (2014, p. 16):

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Segundo a Lei, os consumidores finais são obrigados a disponibilizar adequadamente seus resíduos para a coleta seletiva, ou, quando aplicável, à logística reversa de determinados produtos. A logística reversa deve ser implementada sob responsabilidade conjunta dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, e é aplicável, especialmente, aos seguintes resíduos: eletroeletrônicos; lâmpadas fluorescentes; pneus; óleos lubrificantes e suas embalagens; pilhas e baterias; agrotóxicos e suas embalagens; e outras embalagens que se caracterizem como resíduos perigosos, ou cuja logística reversa seja inviável.

É de fundamental importância atentar para os requisitos de sustentabilidade impostos pelos clientes não apenas para a gestão da cadeia de suprimentos; pois, conforme Corrêa (2010, p. 8): “A concorrência hoje pelos mercados se dá entre ‘redes de suprimento’ e não mais entre ‘empresas’, mesmo quando grande parte dos elementos das redes concorrentes seja comum a várias e

compartilhada”. As cadeias de suprimento, através da implantação de práticas de GSCM, podem

alcançar uma mudança de paradigma, no qual a questão da sustentabilidade deixa de ser vista e tratada como uma fonte de custos, passando a representar uma fonte potencial de vantagem competitiva para as empresas envolvidas.

A GSCM contribui ainda no que se refere ao cumprimento das novas exigências legais, de mercado e à adoção de práticas que integram aspectos da gestão ambiental e da gestão da cadeia de suprimentos. Neste sentido, a GSCM representa a integração entre o gerenciamento dos aspectos econômicos e ambientais, ao longo de toda a cadeia de suprimento, sendo considerada como primeiro passo para o desenvolvimento de um modelo efetivo de consumo e produção sustentáveis,

que envolve todos os stakeholders (GONÇALVES; NEVES, 2015). Cabe compreender, então, o

conceito de logística reversa, tendo em vista a boa fundamentação das estratégias de sustentabilidade nas cadeias de suprimento.

3.2. O Que é Logística Reversa

Não é possível pensar, refletir, acerca da sustentabilidade nas cadeias de suprimento sem a compreensão do conceito de logística reversa, sendo fundamental ainda compreender a relação de tal conceito com as práticas empresariais e as políticas públicas para que se perceba a sua relação

com a PNRS. De acordo com o Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP) (2015,

grifo do autor, s.p) logística é:

Parte da gestão da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla, eficaz e eficientemente, o fluxo bidirecional (para a frente e para trás) e armazena mercadorias, serviços, além de informações relacionadas, entre o ponto de origem e o ponto de consumo com o intuito de atender os requisitos dos clientes.

Na definição de logística do CSCMP o conceito de logística já incorpora na sua essência o conceito de logística reversa, que trata do fluxo para trás das mercadorias, serviços e informações. Já para Costa, Mendonça e Souza (2014, p. 19):

A logística reversa envolve o processo de planejamento, implantação e controle de um fluxo de materiais, de produtos em processo, de produtos acabados e de informações relacionadas, desde o ponto de consumo até o ponto de origem, por meio de canais de distribuição reversos. Tem como propósito recuperar valor ou garantir o descarte de forma apropriada.

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De acordo com Gonçalves e Neves (2015, p. 60) a logística reversa pode ser definida como o “Processo que planeja, implanta e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes do retorno dos bens de pós-venda e pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos”. Outra maneira de definir a logística reversa é dada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei n. 12.305/2010:

Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos (BRASIL, 2010, Art. 3º).

Um ponto que merece destaque na análise dos conceitos de logística reversa é o fato de que o conceito do CSCMP e o conceito dado pelos acadêmicos da área possuem um enfoque direcionado às atividades empresariais, enquanto que o conceito dado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, por tratar-se de uma Lei Federal, que estabelece uma política pública, busca integrar os objetivos empresariais ao objetivo do desenvolvimento econômico e social da sociedade brasileira que conforme Antunes (2012) está presente na Constituição Federal (CF) de 1988, agregando ainda valores de natureza ecológica a tal desenvolvimento, o que é também um dos objetivos da CF/1988, que se encontra presente no Art. 225.

Com vistas à consecução dos objetivos relacionados à proteção ambiental, à logística reversa podem ser agregados os processos relacionados à logística verde, que é o conjunto de operações logísticas preocupadas com a minimização dos impactos ambientais. De acordo com Costa, Mendonça e Souza (2014) a logística verde se ocupa da avaliação e minimização dos problemas ambientais associados às atividades da logística empresarial. Envolve, basicamente, cinco frentes de trabalho:

Redução das externalidades dos transportes de cargas; Logística urbana;

Logística Reversa;

Estratégias ambientais organizacionais para a logística; Gestão verde da cadeia de suprimentos.

Assim, a logística verde pode contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade aplicada à Supply Chain Management, contribuindo para a minimização dos impactos ambientais negativos relacionados às atividades logísticas empresariais, seja atuando nos fluxos diretos, seja atuando nos fluxos reversos. Nesta etapa do trabalho, cabe analisar a logística reversa como instrumento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei n. 12.305/2010.

Sendo um instrumento de desenvolvimento econômico e social, a logística reversa deve ser implementada em parceria com cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis, quando viável. A legislação ambiental brasileira, como, por exemplo, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a Lei n. 12.305/2010, incentiva a atuação dos catadores de materiais recicláveis, impondo, porém, restrições quanto à sua atuação em determinados segmentos. As restrições são as seguintes: as pilhas e baterias que exigem cuidados específicos e uso de equipamentos de proteção em função do potencial de contaminação; os óleos lubrificantes que possuem embalagens que são consideradas como resíduos perigosos e, por isso, não podem ser manuseados por catadores; as lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, que exigem cuidados especiais para que se evite a quebra e contaminação (XAVIER; CORRÊA, 2013).

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De acordo com a Lei n. 12.305/2010, os consumidores finais possuem a obrigação de disponibilizar adequadamente seus resíduos para a coleta seletiva. Já a logística reversa deve ser implementada sob a responsabilidade conjunta dos importadores, fabricantes, comerciantes e distribuidores (BRASIL, 2010), sendo aplicável, especialmente, aos seguintes resíduos: Eletroeletrônicos; Lâmpadas fluorescentes; Pneus; Óleos lubrificantes e suas embalagens; Pilhas e baterias; Agrotóxicos e suas embalagens; Outras embalagens que se caracterizem como resíduos perigosos ou cuja logística reversa seja viável (MENDONÇA; PONTES; SOUZA, 2014).

No entanto, convêm ressaltar que embora tenha sido dada atenção especial aos setores supracitados, a logística reversa não se restringe aos mesmos, tendo a sua aplicabilidade extensível, por conta do Art. 33, da Lei, 12.305/2010, a toda atividade que comercialize embalagens ou produtos plásticos, metálicos ou de vidro, e as demais embalagens e produtos, considerando a extensão e o grau de impacto ao meio ambiente e à saúde pública dos resíduos gerados (GUERRA; GUERRA, 2014).

3.3. Princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos e sua Relação com a Logística Reversa

De acordo com Machado (2012) o Art. 6º da Lei n. 12.305/2010, estabelece os seguintes princípios da PNRS:

Princípio da Prevenção; Princípio da Precaução; Princípio Poluidor-Pagador;

Princípio da Responsabilidade Compartilhada; Princípio da Cooperação;

Princípio do Protetor-Recebedor; Princípio da Visão Sistêmica;

Princípio do Desenvolvimento Sustentável; Princípio da Ecoeficiência;

Princípio do Reconhecimento do Valor do Resíduo Sólido Reutilizável e Reciclável; Princípio do Respeito às Diversidades Locais e Regionais;

Princípio da Razoabilidade e da Proporcionalidade; Princípio do Direito da Sociedade à Informação; Princípio do Direito da Sociedade ao Controle Social.

O princípio da prevenção implica na responsabilidade das atividades logísticas prevenirem efeitos danosos ao meio ambiente (MACHADO, 2012). A prevenção deve ser concretizada por meio de uma consciência ecológica, que pode ser desenvolvida por meio de uma política de educação ambiental. É a consciência ecológica que propiciará o combate preventivo bem sucedido do dano ambiental. Porém, além da educação ambiental, devem ser utilizados outros instrumentos, tais como: o estudo prévio de impacto ambiental (EIA/RIMA), o manejo ecológico, as liminares, o tombamento, as sanções administrativas, etc. (FIORILLO; MORITA; FERREIRA, 2011). Neste sentido, técnicas da logística reversa devem estar alinhadas às técnicas da logística verde, com vistas a prevenir os danos ambientais.

O princípio da precaução implica no fato de que a ausência de absoluta certeza científica não deve postergar medidas de prevenção e mitigação dos impactos adversos ao meio ambiente (MACHADO, 2012). O medo do risco desconhecido é o substrato emocional da precaução, ainda que no futuro, tal risco, venha a demonstrar-se inexistente ou desprezível em face dos benefícios que tal fenômeno ou fato possa proporcionar (CRETELLA NETO, 2012). Neste sentido, a logística reversa deve ser proativa, tomando medidas mitigadoras e preventivas com relação a determinados riscos de degradação ambiental que possam vir a ser causados por seus processos.

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O princípio do poluidor-pagador implica na imposição ao poluidor de recuperar e/ou indenizar os danos causados (MACHADO, 2012). O princípio do poluidor-pagador impõe ao causador da poluição o dever de arcar com as despesas de prevenção, reparação e repressão da poluição, ou seja, o mesmo deve ser o responsável pelas consequências de sua omissão ou ação (GUERRA; GUERRA, 2014). A logística reversa deve, então, ser planejada e executada de forma a causar os menores níveis possíveis de poluição, tendo em vista que em seus processos é inevitável a utilização de poluentes, como, por exemplo, os combustíveis fósseis.

O princípio da responsabilidade compartilhada implica no estabelecimento de uma cadeia de responsabilidade que envolve todos os que entram no ciclo de vida do produto (MACHADO, 2012). Conforme Mendonça et al (2014, p. 16): “a logística reversa deve ser implementada sob responsabilidade conjunta dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes [...]”. Ou seja, consumidores, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes compartilham a responsabilidade pelos impactos causados pelos resíduos dos produtos com os quais interagem.

O princípio da cooperação implica na cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e os demais segmentos da sociedade (MACHADO, 2012). Este princípio implica

na visão dos relacionamentos da organização com os seus stakeholders, ou seja, devem ser

formuladas estratégias logísticas que atendam às demandas da organização, do poder público e da sociedade.

O princípio do protetor-recebedor pressupõe uma relação entre a proteção ambiental e o recebimento por essa proteção (MACHADO, 2012). Tal princípio pressupõe que ao promover a proteção ambiental, evitando e/ou diminuindo a geração de determinados resíduos, as organizações devem receber benefícios por suas ações, os quais devem ser estabelecidos em políticas públicas.

O princípio da visão sistêmica conduz à análise conjunta do meio ambiente, do social, da cultura, da economia, da tecnologia e da saúde pública no gerenciamento dos resíduos sólidos (MACHADO, 2012). A teoria dos sistemas surge apontando falhas da visão atomista, dicotômica, analítica isoladora, que perde as interconexões de influências e fatores, ou a causalidade dos fenômenos da vida. Neste caminho pode-se recordar a visão das redes, da interdependência dos fatores, em que a vida é percebida de modo sistêmico, como um processo integrado e com uma organização complexa – ideia que tem em si a palavra “tecer junto” (PELIZZOLI, 2013). Tal implica que a logística reversa deve levar em consideração a responsabilidade, e o impacto causado ao ambiente, de cada ator no ciclo de vida do produto, o que nos remete a noção de responsabilidade compartilhada, presente na PNRS.

O princípio do desenvolvimento sustentável implica na proteção ambiental, equidade social e crescimento econômico (MACHADO, 2012). O debate que se iniciou em Estocolmo em 1972 e teve continuidade em 1992 no Rio de Janeiro que gira entorno do conceito de desenvolvimento sustentável, com vistas a garantir o futuro do planeta. O conceito de desenvolvimento sustentável, introduzido pelo relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU), que recebeu o título de “Nosso futuro comum” e que na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92) foi introduzido no âmbito do direito internacional público, gira entorno da ideia da utilização sustentável dos recursos naturais de forma que as futuras gerações possam usufruir de seus benefícios (SANT’ANNA et al., 2009; AMARAL JUNIOR, 2011). Porém de acordo com Rodrigues (2009, p. 2348): “Reconhecer que devemos promover a equidade intergeracional é um enorme desafio, pois pressupõe a prevalência da lógica de longo prazo sobre a satisfação dos nossos interesses mais imediatistas [...]”. A logística reversa deve oferecer propostas que promovam a inclusão social dos catadores de materiais recicláveis, o

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crescimento econômico das organizações e a proteção ambiental, desde a extração das matérias-primas até a destinação final dos resíduos.

O princípio da ecoeficiência de acordo com o Art. 6º, V, da PNRS, compreende a compatibilização entre o fornecimento de bens e serviços qualificados, a preços competitivos, que satisfaçam as necessidades humanas e tragam redução do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta, bem como qualidade de vida (MACHADO, 2012). Tal princípio implica que as atividades logísticas devem contribuir, ao máximo, para que o fluxo de materiais não cause a degradação ambiental, o que torna a cadeia logística cada vez mais ecoeficiente.

O princípio do reconhecimento do valor do resíduo sólido reutilizável e reciclável aponta que

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