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Capítulo 4: UX Design 69

4.13   Gestalt 110

As decisões estéticas a tomar em relação à interface, deverão igualmente ter em consideração as relações existentes entre os vários objetos que a compõem. É neste contexto que deverá ser abordada a Psicologia da Gestalt.

A Psicologia da Gestalt é uma corrente de pensamento da psicologia moderna, de origem alemã e criada em 1912. O termo Gestalt provem do alemão e foi introduzido pela primeira vez por Christian von Ehrenfels. A sua tradução poderá ser interpretada como “padrão”, “forma”, “figura”, “configuração”, “estrutura” ou “aspeto” (Alexandre and Tavares 2007; Johnson 2010; Ware 2012).

Esta corrente de pensamento da psicologia sugere várias leis que explicam a organização percetiva ou como objetos pequenos se agrupam de modo a formar objetos maiores (Anderson 2011). Baseia-se portanto no seguinte princípio: Não se pode ter conhecimento do todo através

das partes, e sim das partes através do todo; Que os conjuntos possuem leis próprias e estas regem os seus elementos, e não o contrário, tal como se pensava anteriormente; E que só através da perceção da totalidade é que o cérebro pode de facto perceber, descodificar e assimilar uma imagem ou um conceito (Alexandre and Tavares 2007).

Da investigação levada a cabo que haveria por formar a Psicologia da Gestalt e confirmada posteriormente através de investigação neurofisiológica, confirma-se que a visão humana é holística ou seja, o sistema visual atribui automaticamente uma estrutura à informação visual que recebe, estando programado para compreender formas completas, figuras e objetos em detrimento de extremidades não ligadas, linhas e áreas (Johnson 2010).

Esta teoria defende também que a perceção da visão está dependente do fator de Pregnância. Para que algo seja pregnante, deverá exibir uma particularidade de forma suficientemente forte/intensa que o permita destacar-se, impor-se e ser fácil de relembrar (Alexandre and Tavares 2007).

As particularidades que estabelecem a pregnância de um objeto são definidas pelas Leis da teoria de Gestalt. Estas são princípios estruturais e funcionais do campo percetivo que demonstram o modo como os elementos que constituem uma imagem podem ser compreendidos a nível organizacional (Alexandre and Tavares 2007).

Proximidade: Este é um dos princípios da Gestalt mais úteis para o design. A distância

espacial e temporal relativa entre objetos afecta a perceção em relação a se estes deverão ou não ser organizados em subgrupos (Figura 4.12). Ou seja, objetos que estejam perto uns dos outros serão percetivamente agrupados num conjunto, objetos que estejam afastados, não o serão (ou pertencerão a outro conjunto: Figura 4.13) (Alexandre and Tavares 2007; Johnson 2010; Ware 2012).

Este principio é especialmente importante e visível em painéis de controlo, formulários de dados ou páginas web.

Figura 4.12: (a) Uma matriz de pontos interpretada como linhas, (b) interpretada como colunas,

(c) devido a relações de proximidade são percebidos 2 grupos (adaptado de (Ware 2012)).

Figura 4.13: Os botões referentes à lista de membros estão agrupados separadamente dos

botões que controlam a janela de diálogo (“ok”, “cancel”) (adaptado de (Johnson 2010)).

Semelhança: Objetos que sejam semelhantes ou idênticos tendem a ser agrupados em

conjuntos (Figuras 4.14 e 4.15). A similaridade poderá dar-se relativamente à cor, forma e textura (Alexandre and Tavares 2007; Johnson 2010; Ware 2012).

Figura 4.14: A semelhança entre objetos em linhas alternadas faz com que o destaque percetivo

seja conferido às linhas em detrimento das colunas (adaptado de (Ware 2012)).

Figura 4.15: Formulário online elsevier.com. A semelhança faz com que os campos de

texto aparentem estar agrupados (adaptado de (Johnson 2010)).

Ligação: Este é um principio da Gestalt que surgiu apenas em 1994 por Palmer e Rock.

Baseia-se na ligação de objetos através de linhas por forma a expressar uma relação entre eles (Figura 4.16). Este consegue ser um princípio que se sobrepõe a nível percetivo à proximidade, cor, tamanho ou forma. A sua utilização pode ser constatada em diagramas de grafos (Ware 2012).

Figura 4.16: O principio de ligação é mais forte que (a) proximidade, (b) cor, (c) tamanho, (d)

Continuidade: O principio de continuidade, indica que existe maior probabilidade de

serem construídas imagens através de elementos visuais que sejam suaves e contínuos em detrimento de segmentos, ou seja, objetos que contenham mudanças abruptas na sua direção. Esta é uma forma que o sistema visual possui de resolver ambiguidades (Johnson 2010; Ware 2012).

No caso da imagem (a) da Figura 4.17, são vistas duas linhas: uma laranja e uma azul a intersetarem-se. Quando poderia ser visto um v no topo ou um v invertido em baixo ou ainda dois segmentos de cada cor separados. Em relação à imagem (b), é visto um monstro na água e não três peças de um monstro. Pode ser visualizada a sua aplicação prática em interfaces digitais na Figura 4.18.

Figura 4.17: A visão humana é influenciada a ver formas continuas, adicionando informação

em falta se necessário (adaptado de (Johnson 2010)).

Figura 4.18: O slider é compreendido como sendo uma abertura com um controlador

algures e não como duas aberturas separadas por um controlador (adaptado de (Johnson 2010)).

Fechamento: Este é um principio relacionado com o da continuidade no qual era afirmado

que o sistema visual tenta fechar figuras que estejam abertas de modo a serem percebidas como sendo objetos completos e não elementos separados. De referir que devido a este principio, a visão humana poderá inclusive interpretar áreas vazias como sendo objetos (Figura 4.19).

A sua aplicação em interfaces gráficas dá-se por exemplo no caso da apresentação de pilhas de documentos, em que ainda que exista um elemento frontal que se sobrepõe a todos os

restantes, se for apresentada uma área dos objetos que estão atrás desse elemento, estes serão percebidos como sendo uma pilha de objetos (Johnson 2010).

Figura 4.19: A visão humana é influenciada a ver objetos contínuos, mesmo quando estes se

encontram incompletos (adaptado de (Johnson 2010)).

Simetria: Normalmente o conteúdo que é capturado pela visão possui mais do que uma

interpretação possível (Figura 4.20). O principio de simetria defende que o sistema visual analisa cenas complexas de um modo especifico que permite reduzir a sua complexidade e a conferir-lhe simetria (Johnson 2010).

Figura 4.20: O sistema visual tenta resolver cenas complexas em combinações simples de

formas simétricas (adaptado de (Johnson 2010)).

Figura/Fundo: A mente divide o campo visual numa figura (um objeto em primeiro

plano), sobre um fundo (o que estiver por trás da figura). Em principio, a figura consistirá no elemento que atrai primariamente a atenção e o fundo corresponderá ao restante do campo visual. A distinção entre ambos será feita através de cor, tamanho, forma e posição. A perceção de uma figura em relação a um fundo é feita basicamente através de um ato percetivo de identificação de objetos (Figuras 4.21 e 4.22) (Alexandre and Tavares 2007; Johnson 2010; Ware 2012).

Em termos de interfaces, este principio pode ser visto em qualquer página web em que existam elementos sobre um fundo. Outro caso mais visível de aplicação deste principio dá-se no caso de existência de janelas modais.

Figura 4.21: Quando dois objetos se sobrepõem, o objeto mais pequeno é interpretada

como sendo a figura sobre o fundo (adaptado de (Johnson 2010)).

Figura 4.22: O vaso de Rubin, As pistas em relação à figura e fundo são equilibradas. Isto

provoca uma perceção dupla: Um vaso ou duas faces (adaptado de (Ware 2012)).

Destino comum: Este principio, ao contrário dos anteriormente definidos onde as figuras e

objetos eram estáticos, aplica-se a objetos que se movem. Este está relacionado com os princípios de proximidade e semelhança uma vez que o resultado será o agrupamento de objetos. Neste caso, serão agrupados aqueles que se movam juntos (Figura 4.23).

Um caso da sua aplicação em interfaces poderá ser em gráficos animados (Johnson 2010).

Figura 4.23: Objetos serão agrupados se movimentarem em conjunto (adaptado de

(Johnson 2010)).

Tendo em conta estas considerações, as estruturas das interfaces devem seguir as regras da

Gestalt de modo a aumentar a compreensão do utilizador para as relações que existem entre os

para dividir os elementos através de grupos aos quais estes elementos pertençam facilitando deste modo a sua perceção (Nielsen 1993).