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Uma breve observação do cotidiano no século XXI já mostra diversas modificações nas práticas de leitura e de escrita, fazendo-nos refletir acerca desses gestos na contemporaneidade. Com a popularização do personal computer (PC) na década de 1970, bem como o boom da internet de banda larga nos últimos anos, o uso do meio digital como suporte de escrita e de leitura tornou-se incontestável. A cada temporada “tinta e papel virtual” (CHARTIER, 2002c) vão se aperfeiçoando com a produção de aparelhos cada vez menores e cada vez mais robustos, tais como laptops, smartphones, tablets, e-book readers, ultrabooks, que potencializam o acesso e o transporte de uma grande quantidade de dados sem a necessidade do uso de fios e cabos.

É possível observar no discurso tanto de alguns teóricos, como de não especialistas, que o texto em meio virtual inauguraria novas formas de transmissão da documentação escrita nunca antes vistas, tais como o uso de material multimídia, exploração dos recursos visuais, uso de hiperlinks. No entanto, uma análise mais criteriosa aponta para a necessidade de se pensar as práticas de leitura e de escrita no ocidente em termos de rupturas e continuidades, inserindo a “era digital” nesse continuum (CHARTIER, 2002c). Assim, seria possível identificar, na forma inovadora do texto digital, diversas marcas que remetem a distintos momentos da história da escrita.

Um dos primeiros diálogos que podem ser estabelecidos entre a leitura no suporte digital, em relação aos seus antecessores, é o movimento corporal empreendido nesta atividade. Conforme afirmam Cavallo e Chartier (1999, p.4), a leitura “não é uma operação intelectual

meramente abstrata; envolve o corpo, está circunscrita em um espaço e implica um relacionamento entre uns e outros”. Ao manusear o volumen, o leitor tinha de desenrolar a matéria para lê-lo, sustentando-o com as mãos frente a seu rosto. Isso gerava alguns inconvenientes como o fato de os livros não poderem ser muito longos, uma vez que acarretaria em um aumento do seu peso, tornando a leitura desconfortável (REYNOLDS; WILSON, 1986).

De modo semelhante, o texto em meio virtual e suas barras de rolagem guardam uma identidade com o volumen na medida em que se desenrola na tela. Além disso, quando é muito longo, sua leitura torna-se cansativa, tendendo a superficialidade e parcialidade14. Por outro lado, o meio digital permite o rolar a tela nas direções vertical e horizontal ao mesmo tempo, ampliar e diminuir o seu tamanho, além da tecnologia do touchscreen, que oferece o deslizar suave na tela com o toque dos dedos, e que logo esmaece a lembrança do volumen, sugerida pela barra de rolagem.

A mudança do volumen para o codex inaugurou a possibilidade de folhear o livro, de utilizar a paginação para localizar informações de maneira rápida, além de liberar uma mão para tomar notas durante a leitura, estabelecendo novos gestos, como detalha Paiva (2010, p. 22):

O pergaminho, a partir do século II a. C., prova que é mais adaptável do que o volumen em resultado final de leitura. Mais resistente. Dobrado equivale a muitos rolos. Modifica a leitura criando pausa. Afinal, o olho agora apreende uma ou duas páginas por vez e não mais duas ou três colunas e seus contínuos logo abaixo como no volumen de papiro. O ato de ler se dirige à autonomia da página vislumbrada inteira. Página total, dando motivos para o folhear. A mão livre do leitor, não mais envolvido com a necessidade de segurar os dois bastões do rolo de papiro, pode à vontade passear, descansar, ir e voltar no texto assim como apreciar e interagir com a margem nova, acolhedora do livro medieval, usada na evolução dos registros para anotações, glossários e comentários.

A descrição do gesto de leitura inaugurado pela mudança do volumen para o codex, dá conta de representá-lo como o avanço da tecnologia da escrita no período: sua materialidade é mais flexível, adaptando-se a diversos contextos que o volumem não alcançava, ao mesmo tempo em que era mais resistente que seu antecessor. A quantidade de informação que cabia em um codex era bastante superior ao volumen, basta ver que um volumen de 7m equivaleria a um códice de aproximadamente 70 folhas (REYNOLDS; WILSON, 1986). Por sua vez, o suporte virtual amplia sobremaneira esta capacidade de armazenamento: se no início dos anos

14 Nielsen (2010) desenvolve uma pesquisa, na qual observa que 80% dos usuários de websites não se sentem

impelidos a usar a barra de rolagem, mantendo sua atenção no conteúdo que aparece antes da dobra, ou seja, antes de se rolar a página. No momento em que utiliza a barra de rolagem, sua leitura se constitui em uma varredura em busca da informação que lhe interesse.

2003 um computador pessoal possuía 20 GB de capacidade em seu disco rígido, nos anos 2010, um computador portátil pode chegar a mais de 1 TB, uma capacidade aumentada em 50 vezes, cabendo dentro de um computador um infindável número de livros.

Como herança do volumen, permaneceu a organização do texto em colunas no fólio; como avanço, surgiu o espaço da margem da folha, lugar onde o leitor poderia acomodar suas intervenções. Sem a necessidade de segurar os bastões do volumen, era possível escrever durante o momento da leitura. É na margem onde o homem medieval letrado se apresenta, onde dá a conhecer o registro de suas leituras, onde anota e explica de que maneira, como sujeito de seu tempo, interpreta aqueles escritos temporalmente distantes.

No auge do desenvolvimento do livro religioso e laico, durante o medievo, diversos profissionais estiveram envolvidos em cada estágio da produção do códice: “o responsável pelo tratamento do pergaminho, o copista, o corretor, o ilustrador, o profissional de acabamento e encadernação” (PAIVA, 2010, p. 32). A divisão de tarefas tornava cada vez mais específica a atividade de cada um desses sujeitos e tinha por finalidade tornar a reprodução dos textos mais célere e eficaz. No entanto, a demanda crescente por livros resultou em um desenvolvimento das técnicas de impressão, dentre as quais a xilografia, até culminar na sistematização das técnicas de impressão com caracteres móveis, identificadas na imprensa de Gutemberg:

Matriz, moldes, tipos metálicos, relevo, entintamento, rolamento, pressão: e eis a impressão! A ideia revolucionária era ter as combinações à mão e poder desmembrar o bloco da página para reutilizá-lo se necessário em outras partes – como no caso das letras – , corrigindo com menor perda possível as falhas detectadas [...].

A técnica dos tipos móveis de Gutemberg valoriza, assim, duas perspectivas essenciais para o futuro da produção editorial: o olhar prévio e compositivo do editor- tipógrafo para a feição da obra em processo de criação-impressão; e a tiragem nunca antes tão facilitada na história do livro. (PAIVA, 2010, p. 43)

Chartier (2002c) afirma que, com a mudança do volumen para o códex e deste para o livro impresso houve uma alteração em termos de técnica de produção do livro. O desenvolvimento da prensa de Gutemberg produz um marco na história da transmissão de conhecimento tanto pela rapidez de produção, como na concepção da produção do livro: o processo de composição dos tipos móveis de uma página tornava possível a visualização prévia do que seria a página impressa. Dessa forma, o momento da composição era também um momento de criação, visto que era papel do compositor fazer a transposição do manuscrito para a lógica do impresso, dentro de suas potencialidades e limites do uso de cores, de entalhes para formar figuras, do uso de letras capitulares, caracteres especiais, a disposição na página, dando nova forma ao manuscrito.

No entanto, essa revolução da técnica não promove, inicialmente, mudanças radicais na forma do livro. Ao contrário, para se consolidar como instrumento de transmissão de conhecimento, os livros impressos necessitaram estabelecer uma relação de semelhança com o livro manuscrito. Não foi ao acaso que o primeiro livro impresso foi a Bíblia de Gutemberg, cuja composição baseava-se nos caracteres do códice cristão. Assim, nos primeiros momentos de sua história, o impresso construía-se de maneira a aparentar semelhança com o livro manuscrito. Os incunábulos, primeiros livros feitos com a tecnologia da prensa, eram elaborados com base no modelo do códice, tanto na disposição do texto na página, no uso de ilustrações e demais adornos, quanto no formato do tipo, que frequentemente imitava a letra manuscrita. Esse exemplo é importante para ressaltar como a história do livro se dá entre continuidades e rupturas.

Observamos, também nas publicações digitais mais recentes, o uso do recurso da paginação, na qual se pode “folhear” uma revista ou jornal na tela (cf. figura 3). Assim como os incunábulos atestam as continuidades dos manuscritos nos impressos, é possível destacar esse recurso como uma tentativa de construir o livro digital seguindo os parâmetros e o modelo do livro impresso.

Figura 3 – Virar a página de um texto digital

Fonte: LAFLOUFA, 2007

Nesses casos, o conteúdo permanece o mesmo da edição impressa, havendo somente uma simples transposição de suporte, sem que se realize uma exploração das potencialidades do suporte digital. Para ter acesso a um conteúdo dotado de recursos digitais, em geral, o usuário deve acessar o blog e/ou aplicativo da publicação.

A técnica da imprensa, apesar de datada do século XVI, só se consolida no século XVIII, momento em que, graças à Revolução Industrial, é possível ter livros produzidos em larga

escala, circulando amplamente na sociedade europeia. Vale ressaltar, ainda, que a consolidação da oficina tipográfica implicou a constituição de um complexo de relações comerciais e laborais envolvidos na produção do livro. A divisão do trabalho tornou as tarefas de publicador, impressor e livreiro muito mais específicas, e promoveu um desenvolvimento tecnológico significativo na forma de preparar e imprimir livros. Some-se a isso o acréscimo de sua comercialização e consequente popularização, dando origem ao livro de massa (ARAÚJO, 2008). Estas publicações adquiriram diversas formatações em diferentes lugares, originando “a venda a domicílio (chapbook ingleses, pliegos castelhanos, plecs catalães, Biblioteca bleu francesa) que, em todo lugar, dá formas novas a textos já publicados para leitores letrados a fim de que possam angariar um outro público mais amplo e mais humilde” (CHARTIER, 2002b p.251).

Atualmente, essas publicações tomam outras formas. No Brasil, os livros de bolso, com exceções, apresentam seu conteúdo alterado. A imutabilidade associada aos impressos e sua decorrente qualidade, são, assim, submetidas a um plano secundário, em favor da produção de edições modificadas e/ou reduzidas, com finalidades preponderantemente comerciais. Nesses termos, a polarização existente entre os livros e os textos publicados em meio virtual, como sendo os primeiros detentores de estabilidade e qualidade e os segundos vulneráveis a qualquer sorte de mudança, se desconstrói, uma vez que os impressos também adquirem um caráter múltiplo, assumindo novas formas, conforme os desígnios do mercado editorial.

Diferente da publicação dos impressos, a produção textual elaborada para o mundo virtual diminuiu a separação entre a escrita pública e a privada: um upload de um arquivo em um site ou a publicação de um post em um blog são suficientes para colocar um texto em circulação. Ao mesmo tempo, essa publicação independe do reconhecimento e legitimação de uma série de atores sociais que regulam o mercado editorial. O advento da internet, dessa forma, produz alternativas de publicação em detrimento dos restritos âmbitos das editoras. Ademais, um texto não precisa ser dado como acabado para ser divulgado em meio virtual, abrindo espaço para a colaboração dos leitores no processo de sua construção. A flexibilidade do suporte permite que uma série de alterações sejam feitas, sem ocasionar gastos financeiros que seriam impeditivos, em se tratando de livros impressos.

Chartier (2002c) chama a atenção para os deslocamentos empreendidos pelo meio digital em relação à ordem dos discursos, e destaca uma diferença basilar entre a cultura impressa e a cultura digital:

Na cultura impressa, a percepção imediata associa um tipo de objeto, uma classe de textos e usos particulares. A ordem dos discursos é assim estabelecida a partir da materialidade própria de seus suportes: a carta, o jornal, a revista, o livro, o arquivo etc. Isso não acontece mais no mundo digital onde todos os textos, sejam eles quais forem, são entregues à leitura em um mesmo suporte (a tela do computador) e nas mesmas formas (geralmente as que são decididas pelo leitor). É assim criada uma contiguidade que não mais distingue os diferentes gêneros ou repertórios textuais que se tornaram semelhantes em sua aparência e equivalentes em suas autoridades (CHARTIER, 2002c, p.109)15.

Daí constituem-se algumas distinções no valor dado às produções no meio virtual, tomando-se como parâmetro o impresso. Considerado fluido, aberto, facilmente modificável, o texto digital é ainda associado a uma forma menos importante de publicação. O livro impresso ocuparia o lugar central do mercado editorial, como materialidade privilegiada para a transmissão de um saber, considerado canônico e legítimo. E para alcançar tal forma distinta, foi submetido a um processo de avaliação que garantiria a sua qualidade. Essa visão, que ainda está bastante presente no senso comum, desconsidera as questões discursivas relativas às políticas editoriais, bem como ao uso do meio virtual como meio para a transmissão de informações fidedignas e factíveis.

Acerca das questões atinentes ao capital econômico e simbólico mobilizados por esse tipo de publicação, Bellei (2012) chama a atenção para a reprodução, no mundo virtual, de formas de controle e legitimação das publicações constatadas no “mundo real”, uma vez que

esse vasto hipertexto conhecido como a internet não existe primariamente para produzir e fazer circular a informação, mas para gerar e fazer circular capital econômico e simbólico. Ou mais precisamente, a rede é o local do acúmulo eletrônico do capital, através do uso adequado da “moeda” da informação e do conhecimento. Toda informação relevante colocada nas malhas da rede é, para todos os efeitos prático, dinheiro. Mais do que uma democracia do conhecimento, a rede é um hipermercado de informação (BELLEI, 2012, p.12-13).

Como todo produto cultural, devemos compreender a internet como meio de circulação de textos, inserido no modelo capitalista de produção de riquezas, sendo, com isso, atravessada pelas questões financeiras e ideológicas. Assim, quem tem mais poder econômico para disponibilizar conteúdo na internet, também terá mais possibilidades de fazê-los circular, aumentando a capacidade de gerar riquezas. Não se nega a importância da apropriação que as classes mais populares fazem dos suportes digitais como forma de empoderamento e intervenção em suas realidades, no entanto, é preciso considerar que a ausência de letramento

15 Ainda nesse momento da discussão, Chartier destaca como um mal-estar causado pela cultura digital a

impossibilidade de hierarquizar os textos pelo seu suporte, prática bastante comum na cultura impressa, em que um livro, somente por se considerar sua materialidade, é mais importante que um bilhete.

digital tem como consequência a repetição do abismo entre as classes sociais também no mundo virtual.

Por sua vez, a velocidade da publicação interfere no contato dos leitores com os textos. Ao publicar em meio digital, o autor tem um feedback mais rápido em comparação com o impresso, o que pode gerar uma série de consequências sobre a elaboração de novas versões. O ambiente virtual configura-se, dessa forma, como um espaço em que a escrita colaborativa se constitui por excelência. O fenômeno é perceptível, por exemplo, na escrita de enciclopédia virtual, como a Wikipedia, em que, mediante um registro, é possível modificar seus verbetes, acrescentando-lhes dados, corrigindo equívocos ou referenciando as informações já registradas com suas respectivas fontes.

A escrita colaborativa se manifesta também na produção de textos literários. Tomamos o exemplo do aplicativo The silent history desenvolvido para iphone e ipad. A história aborda a existência de uma geração de crianças que não possuem habilidades de criação ou de compreensão linguística e é narrada do ponto de vista dos pais, professores, médicos e demais sujeitos que convivem com elas. Como se trata de um aplicativo, o acesso se dá via download na App Store, apesar de denominá-lo romance (“a novel”), o site do e-book não cita o nome do autor, a referência é feita à empresa Ying Horowitz & Quinn LLC, montada pelos idealizados e executores do aplicativo. Verificamos, assim, que neste caso, a informação de autoria constitui-se em uma referência secundária, uma vez que o seu desenvolvimento demanda a elaboração de um design, o uso de linguagens de programação, a produção e manipulação de fotografias e de vídeos, a integração com um sistema de georrefenciamento, habilidades que vão além da escrita do texto literário e que envolvem não só um escritor, mas que o incluem em uma equipe de desenvolvimento de software.

O aplicativo oportuniza que os leitores compartilhem seus próprios textos referentes à narrativa e possibilita uma experiência de interatividade, trazendo certos conteúdos que estarão disponíveis conforme a geolocalização do leitor. A leitura deixa de ser uma experiência do corpo estático, sentado e silencioso e passa a solicitar a movimentação do indivíduo pelo espaço físico da cidade. A história não lhe é dada como um volume completo e terminado de um livro, é preciso fazer o download dos capítulos, que devem ser explorados, na medida em que o leitor percorre os caminhos do aplicativo. Ler na tela não significa apenas ler na frente do computador, mas se utilizar dos gadgets que oferecem a mobilidade do suporte virtual. Nestes termos, entendemos que “[a] revolução do texto eletrônico é, de fato, ao mesmo tempo, uma revolução da técnica de produção dos textos, uma revolução do suporte escrito e uma revolução das práticas de leitura” (CHARTIER, 2002c, p. 113).

A potencialidade do texto no meio digital é também determinada pela apropriação das diferentes linguagens que este meio engendra. Assim, sua escrita não se limita a transpor a lógica linear do impresso para a tela. É necessário que haja uma apropriação dos recursos da esfera digital, tais como o hipertexto, que realiza a integração de uma série de elementos externos a ele, e cuja estrutura de janelas possibilita justapor diferentes conteúdos em favor da construção dos sentidos. Além disso, as questões de design são fundamentais durante essa elaboração, pois, por meio dessas ferramentas, inserem-se outras linguagens como vídeos, animações, fotografia, entre outras.

Interessa aqui mencionar que The silent history ganhou uma versão impressa, num movimento oposto ao caminho normalmente percorrido pelos textos, que são primeiros pensados para a publicação em papel, sendo posteriormente comercializados como e-book, sem muitas inovações no formato. Não foi possível ter acesso a versão impressa, no entanto, acreditamos que a diferença de linguagens entre o aplicativo e o livro tenha demandado uma série de estratégias de tradução, tornando ainda mais evidente as diferenças que os dois suportes podem acarretar em termos do processo de escritura e de leitura. Ademais, a transposição para o meio impresso pode indicar o reconhecimento desse aplicativo como narrativa legítima e capaz de figurar dentro dos moldes dos romances impressos, forma canônica de circulação dos textos literários.

Acerca da questão da autoria no meio digital, Bellei (2012, p.24) esclarece que

O autor tradicional constitui um centro de poder que organiza linearmente o seu texto em sentenças, parágrafos, capítulos, começo, meio e fim. São esses constrangimentos impostos ao leitor, dos quais ele dificilmente consegue escapar. O autor de hipertextos, por outro lado, produz o seu texto de acordo com o princípio da quebra da linearidade porque trabalha com um paradigma de construção textual que substitui sequências de sentido por saltos entre blocos de significado.

A figura do autor não existe fora do hipertexto, mas se constitui pelo estatuto que este recebe no meio em que circula e a posição que ocupa na dinâmica literária. Nesses termos, a noção de autoria no mundo virtual, em comparação com os impressos, configura-se como um elemento secundário durante a leitura.

Se as obras literárias constituídas em função dos recursos do meio virtual conformarão uma listagem de referências, como as impressas, trata-se de uma questão que só será respondida com a intensificação da sua circulação. Não obstante, acreditamos que estas formas oportunizam maneiras de experimentar as potencialidades do meio digital, e originam uma relação assaz diversa das experiências de escrita e de leitura dos textos impressos. Permite-se,

portanto, a elaboração de novas perspectivas para a leitura e a escrita que abalam os pilares das categorias dos textos literários impressos.

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