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15 SIMPLIFICAÇÃO DO DESENHO DAS FORMAS FACIAIS

3.5. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO - PARTE II

3.5.4. O GIRL SQUAD ALTERNATIVO

Depois desta análise decidimos procurar alternativas mais diversificadas para o girl squad mais comum. Regressámos à lista inicial de 89 séries de animação e desta vez procurámos grupos de personagens femininas que apresentassem variações de design, mantendo ainda assim um visual gráfico coerente. No entanto, estes novos grupos de personagens femininas nem sempre andam juntos (como era o caso das girl squads que vimos no capítulo anterior) e são antes representativos de mundos, dentro de séries animadas, onde o género feminino adota diferentes formas.

O primeiro grupo que servirá de exemplo ao que poderia ser um girl squad alternativo vem da série The Loud House (Savino, 2016), que segue a história de Lincoln Loud (um protagonista masculino) e das suas 10 irmãs. As irmãs Loud apresentam certamente muitas semelhanças; até porque são irmãs, seria de esperar. Contudo, o seu design não se limita a uma única fórmula que aumenta de tamanho conforme a idade de cada irmã. Pelo contrário, encontramos diferentes formas de cabeças, diferentes proporções corporais e diferentes narizes; isto para além do óbvio: diferentes cabelos e acessórios.

Figura 19. Personagens de The Loud House.

Sem comprometer a coerência visual da série e sem tomar grandes riscos gráficos, o design das personagens femininas desta série mostra-nos alguma variedade na representação do género feminino.

O segundo exemplo de uma série com design de personagens femininas interessante é

Adventure Time (Ward, 2010), cujas personagens principais são um rapaz, Finn, e o seu melhor amigo,

o cão Jake. Juntos vagueiam pela Land of Ooo, que é maioritariamente governada por princesas. O desenho das princesas é muito variado e oferece aos espectadores um leque diversificado de possibilidades de representação do género feminino. Por exemplo, temos Marceline the Vampire Queen, Princess Bubblegum e Flame Princess, que têm formas humanizadas, mas com tamanhos e proporções diferentes, representando assim três tipos de corpo feminino diferentes. Por outro lado, temos Lumpy Space Princess - uma nuvem lilás -, Slime Princess - uma massa verde e viscosa - e

Seguindo a lógica das teorias do conhecimento de Piaget, poderíamos argumentar que estas séries reforçam o valor da semelhança, em vez do valor da diferença. Apesar de podermos encontrar algumas variações de design entre diferentes séries, a semelhança ainda assim prevalece; e isto ensina os espectadores, ainda novos, que a semelhança domina sobre a diferença. Não podemos esquecer que esta semelhança de forma se traduz frequentemente numa sequência de corpos idealizados e sexualizados, como comprovámos com a análise anterior. Se não existem variantes no desenho da forma feminina, é espectável que as crianças absorvam a única imagem disponível - uma que dificilmente não irá corresponder a expectativas realistas.

Poderíamos argumentar que existe uma tentativa de manter o estilo visual das séries coerentes e que, por isso, não seria possível desviar daquilo que foi estabelecido como sendo a linguagem a utilizar. Contudo, esta explicação parece preguiçosa quando observamos séries como, por exemplo,

The Amazing World of Gumball (Bocquelet, 2011), que desafia questões de estilo, misturando técnicas

com diferentes expressões e provando que tudo é possível em animação.

Figura 18. Personagens da série The Amazing World of Gumball.

De qualquer forma, também encontramos outras opções que nos mostram variedade de design sem utilizar recursos tão inesperados como vemos em The Amazing World of Gumball, mantendo uma linguagem mais tradicionalmente coesa. Exploramos estas alternativas de seguida.

3.5.4. O GIRL SQUAD ALTERNATIVO

Depois desta análise decidimos procurar alternativas mais diversificadas para o girl squad mais comum. Regressámos à lista inicial de 89 séries de animação e desta vez procurámos grupos de personagens femininas que apresentassem variações de design, mantendo ainda assim um visual gráfico coerente. No entanto, estes novos grupos de personagens femininas nem sempre andam juntos (como era o caso das girl squads que vimos no capítulo anterior) e são antes representativos de mundos, dentro de séries animadas, onde o género feminino adota diferentes formas.

O primeiro grupo que servirá de exemplo ao que poderia ser um girl squad alternativo vem da série The Loud House (Savino, 2016), que segue a história de Lincoln Loud (um protagonista masculino) e das suas 10 irmãs. As irmãs Loud apresentam certamente muitas semelhanças; até porque são irmãs, seria de esperar. Contudo, o seu design não se limita a uma única fórmula que aumenta de tamanho conforme a idade de cada irmã. Pelo contrário, encontramos diferentes formas de cabeças, diferentes proporções corporais e diferentes narizes; isto para além do óbvio: diferentes cabelos e acessórios.

Figura 19. Personagens de The Loud House.

Sem comprometer a coerência visual da série e sem tomar grandes riscos gráficos, o design das personagens femininas desta série mostra-nos alguma variedade na representação do género feminino.

O segundo exemplo de uma série com design de personagens femininas interessante é

Adventure Time (Ward, 2010), cujas personagens principais são um rapaz, Finn, e o seu melhor amigo,

o cão Jake. Juntos vagueiam pela Land of Ooo, que é maioritariamente governada por princesas. O desenho das princesas é muito variado e oferece aos espectadores um leque diversificado de possibilidades de representação do género feminino. Por exemplo, temos Marceline the Vampire Queen, Princess Bubblegum e Flame Princess, que têm formas humanizadas, mas com tamanhos e proporções diferentes, representando assim três tipos de corpo feminino diferentes. Por outro lado, temos Lumpy Space Princess - uma nuvem lilás -, Slime Princess - uma massa verde e viscosa - e

Raggedy Princess - uma boneca de trapos desgastada. Os designs das personagens femininas nesta série são realmente inesperados e podem tomar qualquer forma, por muito estapafúrdia que pareça.

Algumas destas personagens femininas são poderosas, independentes, interessam-se por ciência e fazem experiências loucas, mas ainda assim carregam o título de princesas. A única exceção é Marceline the Vampire Queen, uma personagem poderosa e assustadora.

Figura 20. Personagens femininas de Adventure Time: Marceline the Vampire Queen, Flame Princess, Princess Bubblegum, Lumpy Space Princess, Slime Princess e Raggedy Princess.

Por fim, apresentamos o exemplo mais pertinente que encontrámos na nossa lista: o design das personagens femininas (e masculinas) da série Steven Universe (Sugar, 2013). A série segue a história de Steven, um rapaz com poderes mágicos, que vive com as três Crystal Gems - membros de uma raça alienígena de criaturas femininas mágicas. Basta olhar para as Gems principais - Pearl, Garnet e Amethyst - para perceber como o design das personagens femininas é variado nesta série.

Figura 21. As três Crystal Gems de Steven Universe: Garnet, Amethyst e Pearl.

Neste caso, poderíamos dizer que temos uma verdadeira girl squad, uma vez que as três personagens femininas principais andam frequentemente juntas, lutam contra o mal e têm um nome para o seu grupo: as Crystal Gems. O que realmente diferencia este grupo daqueles analisados no capítulo anterior é a variedade de design das personagens que o constituem. Cada personagem feminina presente na série tem um desenho único, que apresenta uma silhueta distinta e feições diferenciadas; não existe repetição de uma única fórmula de figura feminina. Observando algumas das personagens femininas da série, encontramos um conjunto de diversidade de formas e tamanhos, que vão desde baixa a alta, atlética a grávida, voluptuosa a esguia. E, como podemos ver na Figura 22, o design inventivo das personagens não se limita àquelas do género feminino e é visível em todo o elenco da série.

Raggedy Princess - uma boneca de trapos desgastada. Os designs das personagens femininas nesta série são realmente inesperados e podem tomar qualquer forma, por muito estapafúrdia que pareça.

Algumas destas personagens femininas são poderosas, independentes, interessam-se por ciência e fazem experiências loucas, mas ainda assim carregam o título de princesas. A única exceção é Marceline the Vampire Queen, uma personagem poderosa e assustadora.

Figura 20. Personagens femininas de Adventure Time: Marceline the Vampire Queen, Flame Princess, Princess Bubblegum, Lumpy Space Princess, Slime Princess e Raggedy Princess.

Por fim, apresentamos o exemplo mais pertinente que encontrámos na nossa lista: o design das personagens femininas (e masculinas) da série Steven Universe (Sugar, 2013). A série segue a história de Steven, um rapaz com poderes mágicos, que vive com as três Crystal Gems - membros de uma raça alienígena de criaturas femininas mágicas. Basta olhar para as Gems principais - Pearl, Garnet e Amethyst - para perceber como o design das personagens femininas é variado nesta série.

Figura 21. As três Crystal Gems de Steven Universe: Garnet, Amethyst e Pearl.

Neste caso, poderíamos dizer que temos uma verdadeira girl squad, uma vez que as três personagens femininas principais andam frequentemente juntas, lutam contra o mal e têm um nome para o seu grupo: as Crystal Gems. O que realmente diferencia este grupo daqueles analisados no capítulo anterior é a variedade de design das personagens que o constituem. Cada personagem feminina presente na série tem um desenho único, que apresenta uma silhueta distinta e feições diferenciadas; não existe repetição de uma única fórmula de figura feminina. Observando algumas das personagens femininas da série, encontramos um conjunto de diversidade de formas e tamanhos, que vão desde baixa a alta, atlética a grávida, voluptuosa a esguia. E, como podemos ver na Figura 22, o design inventivo das personagens não se limita àquelas do género feminino e é visível em todo o elenco da série.

Figura 22. Personagens da série Steven Universe.

No entanto, isto não acontece por acaso e, quando sabemos mais sobre o contexto da série, percebemos as razões que a tornam diferente de tantas outras que foram aqui analisadas. Passamos a explicar.

Em 2013, estreou Steven Universe, criado por Rebecca Sugar, a primeira mulher a criar uma série televisiva animada para o famoso canal de entretenimento infantil Cartoon Network (Segal, 2016).

O universo da série é populado maioritariamente por personagens classificadas como sendo femininas – as Gems - que pertencem a uma sociedade matriarcal, governada por quatro líderes femininas – as Diamonds. Mas apesar de podermos considerar o seu sexo feminino, o seu género é expresso individualmente de formas diferentes (Morel, 2016), criando uma diversidade muito rica de representações - o que também acontece com as personagens masculinas.

Segundo Tuchman (1979), os modelos de género feminino usualmente apresentados pelos media são prejudiciais porque, depois de serem interiorizados, impedem e travam o sucesso feminino.

“They also encourage both women and men to define women in terms of men (as sex objects) or in the

context of the family (as wives and mothers)” (Tuchman, 1979, 531).

Mas uma vez que temos uma mulher, Rebecca Sugar, numa posição de poder decisivo por trás desta série, torna-se possível inovar nestas representações. A construção das personagens em Steven

Universe é feita cautelosa e propositadamente, como admite Sugar (2015) numa entrevista à revista

americana Entertainment Weekly: “My goal with the show was to really tear down and play with the

semiotics of gender in cartoons for children”. A série de desenhos animados torna-se assim o perfeito exemplo de uma exploração gráfica e narrativa da ideia de género como um espectro (Morel, 2016), uma vez que as personagens adotam não só designs, mas também comportamentos, que não são limitados pelas regras binárias do género; ou seja, não são limitadas pela ideia do que é tradicionalmente considerado feminino ou masculino.

As representações de género apresentadas por Sugar também abordam temas LGBT17, os quais são frequentemente evitados na produção cultural infantil: “I think that by excluding LGBT content from children’s media, a clear statement is being made that this is something that should be ignored,

and that people who are feeling this, their feelings should be ignored, they should be ignored. And I

think that that is wrong” (Sugar em entrevista com EW - Segal, 2016).

Steven Universe apresenta-nos personagens que claramente transgridem a norma, tanto no seu

visual gráfico como na sua narrativa visual, propondo, assim, aos seus espectadores, um leque variadíssimo de hipóteses de expressão pessoal.

Por tudo isto, gostaríamos de propor uma intervenção no desenho de personagens femininas, dentro do contexto da animação mainstream, que levasse os artistas a ultrapassarem as barreiras do óbvio e do estereótipo, alargando assim o conceito de beleza feminina. É necessário amplificar o léxico visual que as audiências mundiais associam ao género feminino, com o objetivo de todos o entendermos como um espectro alargado de diferentes manifestações visuais de identidade.

A criação de um novo código visual que transgrida a formatação visual atual será um passo decisivo na mudança de paradigma da animação mainstream contemporânea.

Figura 22. Personagens da série Steven Universe.

No entanto, isto não acontece por acaso e, quando sabemos mais sobre o contexto da série, percebemos as razões que a tornam diferente de tantas outras que foram aqui analisadas. Passamos a explicar.

Em 2013, estreou Steven Universe, criado por Rebecca Sugar, a primeira mulher a criar uma série televisiva animada para o famoso canal de entretenimento infantil Cartoon Network (Segal, 2016).

O universo da série é populado maioritariamente por personagens classificadas como sendo femininas – as Gems - que pertencem a uma sociedade matriarcal, governada por quatro líderes femininas – as Diamonds. Mas apesar de podermos considerar o seu sexo feminino, o seu género é expresso individualmente de formas diferentes (Morel, 2016), criando uma diversidade muito rica de representações - o que também acontece com as personagens masculinas.

Segundo Tuchman (1979), os modelos de género feminino usualmente apresentados pelos media são prejudiciais porque, depois de serem interiorizados, impedem e travam o sucesso feminino.

“They also encourage both women and men to define women in terms of men (as sex objects) or in the

context of the family (as wives and mothers)” (Tuchman, 1979, 531).

Mas uma vez que temos uma mulher, Rebecca Sugar, numa posição de poder decisivo por trás desta série, torna-se possível inovar nestas representações. A construção das personagens em Steven

Universe é feita cautelosa e propositadamente, como admite Sugar (2015) numa entrevista à revista

americana Entertainment Weekly: “My goal with the show was to really tear down and play with the

semiotics of gender in cartoons for children”. A série de desenhos animados torna-se assim o perfeito exemplo de uma exploração gráfica e narrativa da ideia de género como um espectro (Morel, 2016), uma vez que as personagens adotam não só designs, mas também comportamentos, que não são limitados pelas regras binárias do género; ou seja, não são limitadas pela ideia do que é tradicionalmente considerado feminino ou masculino.

As representações de género apresentadas por Sugar também abordam temas LGBT17, os quais são frequentemente evitados na produção cultural infantil: “I think that by excluding LGBT content from children’s media, a clear statement is being made that this is something that should be ignored,

and that people who are feeling this, their feelings should be ignored, they should be ignored. And I

think that that is wrong” (Sugar em entrevista com EW - Segal, 2016).

Steven Universe apresenta-nos personagens que claramente transgridem a norma, tanto no seu

visual gráfico como na sua narrativa visual, propondo, assim, aos seus espectadores, um leque variadíssimo de hipóteses de expressão pessoal.

Por tudo isto, gostaríamos de propor uma intervenção no desenho de personagens femininas, dentro do contexto da animação mainstream, que levasse os artistas a ultrapassarem as barreiras do óbvio e do estereótipo, alargando assim o conceito de beleza feminina. É necessário amplificar o léxico visual que as audiências mundiais associam ao género feminino, com o objetivo de todos o entendermos como um espectro alargado de diferentes manifestações visuais de identidade.

A criação de um novo código visual que transgrida a formatação visual atual será um passo decisivo na mudança de paradigma da animação mainstream contemporânea.

IV. PROJETO PRÁTICO

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