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2. Desigualdades, exclusão e democracia na nova ordem mundial

2.1. Globalização e economia

O termo globalização tem sido amplamente utilizado nas últimas três décadas, designando um processo complexo e ambivalente dada a variedade de fenómenos que abrange, e de impactos diferenciados que origina nos vários domínios: financeiro, comercial, produtivo, social, institucional, tecnológico e cultural (Waters, 1999). Trata-se de um conceito multidimensional e polissémico, com diferentes significados, que nos últimos anos tem sido objecto de intensas discussões e de posicionamentos, no campo das ciências sociais, divergentes25.

Não obstante as diferentes expressões atribuídas, é possível da leitura dos vários textos sobre o fenómeno, perceber quatro linhas básicas de interpretação do mesmo - globalização como uma época histórica; globalização como um fenómeno sociológico de compressão do espaço e do tempo; globalização como hegemonia dos valores neoliberais; globalização como fenómeno pluridimensional - dimensões sócio-económica, cultural e política.

Um exemplo da primeira interpretação é a posição adoptada por Ramonet (1998; 1998a) que define globalização como sendo a característica principal do ciclo histórico em que entramos, depois da queda do muro de Berlim (1989) e do desaparecimento da União Soviética (1991). Para o autor, este processo levaria à redefinição de conceitos sobre os quais assentava o edifício politico-democrático construído no final do século XVIII, tais como o de Estado-nação, o de soberania e o de cidadania. À semelhança de Ramonet, também Arrighi (1998) considera a globalização como um período histórico26. Procurando perceber a crise

económica mundial ocorrida na década de setenta, o autor retrocedeu até à

Para uma análise extensiva do conceito e dos debates em torno dos significados do fenómeno da globalização consulte-se, entre outros, as obras de Held (2000; 2000a).

26 A este propósito consulte-se também os trabalhos desenvolvidos por Wallerstein (1983),

formação do capitalismo como sistema mundial, tendo para o efeito como objecto de análise os processos mundiais de acumulação de capital, com base nos seus "ciclos sistémicos de acumulação". É assim que Arrighi identifica uma crise de superprodução nas décadas de setenta e oitenta, e não propriamente uma tendência para a expansão financeira. Na sua reflexão, chama ainda a atenção para a relação entre capital e Estado, referindo-se a "organizações governamentais e empresariais como principais agentes de acumulação de capital em escala mundial" (Arrighi, 1998: 309). Contudo, e na sua opinião, a crise de superacumulação não conseguirá "criar um agente suficientemente poderoso para recompor o sistema em bases maiores e mais amplas" {Idem: 342).

Adjacente a esta perspectiva encontra-se outra - a globalização como um processo histórico que tem as suas origens mais remotas na passagem do século XV para o século XVI com as grandes navegações por parte dos portugueses. Desde esse momento, em que se iniciou a constituição da economia-capitalista segundo Wallerstein (1990), até ao presente, o que se tem verificado consubstancia-se na internacionalização crescente do capitalismo. A globalização, portanto, deverá ser interpretada nesta linha de continuação histórica, feita de rupturas e continuidades; não mais do que a actual fase da mundialização capitalista.

Desenvolvendo um outro tipo de análise, Giddens (1995; 1997) e Harvey (2000) difundiram a ideia de globalização como compressão do espaço e do tempo. Giddens, propõe a definição de globalização enquanto fenómeno constituído por processos originados na modernidade, de:

"(...) intensificação das relações sociais de escala mundial, relações que ligam localidades distantes de tal maneira que as ocorrências locais são moldadas por acontecimentos que se dão a muitos quilómetros de distância, e vice-versa. Este processo é dialéctico porque essas ocorrências locais podem ir numa direcção inversa das relações muito distanciadas que as moldaram. A transformação local faz parte da globalização tanto como a extensão lateral de ligações sociais através do espaço e do tempo" (Giddens,

Numa óptica próxima à de Giddens, Harvey (2000) sustenta que a ordenação simbólica do espaço e do tempo é geradora do cenário adequado para as experiências pelas quais aprendemos o que somos e onde estamos na sociedade. A organização do espaço define as relações, não só entre as actividades, as coisas e os conceitos, mas também entre as pessoas. A organização do espaço define, pois, as relações sociais. Na actualidade, a liberdade do capital em movimentar-se por todo o mundo daria à burguesia internacional (sua proprietária) uma vantagem decisiva sobre os trabalhadores, cujos movimentos são superintendidos por mecanismos de controle da migração e dos custos inerentes às mudanças geográficas. Tal como o espaço, também o tempo representa uma fonte de valor e de poder. As empresas capitalistas calculariam os custos de produção em termos do tempo necessário para fazer as coisas, e o trabalho seria submetido a uma constante pressão para reduzir o tempo de realização de uma determinada tarefa. Desta forma, a compressão do espaço e do tempo, possível graças às transformações tecnológicas ocorridas nas sociedades contemporâneas, no domínio das tecnologias da informação e da comunicação, dotaria o capital globalizado de um poder crescente, em oposição ao poder detido pelos trabalhadores com menor capacidade de influenciar a acção global e, em muitos casos, aprisionados na sua localidade. Esta antinomia entre a acção global e a reacção local poderá, de acordo com aquele autor, conduzir a resultados e a custos imprevisíveis.

Uma outra forma de conceptualizar a globalização, tem por base a ideia de globalização enquanto hegemonia dos valores neoliberais. Esta pode tomar duas formas: equacionar a existência do fenómeno da globalização enquanto criação ideológica que procura legitimar a actual ordem internacional, por um lado; ou considerar que este fenómeno é real e observável, e que se confunde com a supremacia historicamente determinada da ordem neoliberal, por outro. Um exemplo da primeira perspectiva é a de Hirsch (1998), que argumenta não haver um cenário de uma economia global recém aparecida e virtualmente ingovernável. Segundo este autor, a economia mundial permanece dominada

pelos três maiores blocos de riqueza formada pela Europa, Japão e América do Norte. O autor refere, ainda, que o investimento directo estrangeiro está concentrado num número limitado de países, sendo que fora daquela tríade este se concentra em alguns países em desenvolvimento e em regiões de alguns países, tais como a costa da China. Poucas empresas seriam transnacionais, isto é, realmente internacionalizadas, sendo que a grande maioria seriam multinacionais, ou seja, empresas cultural e economicamente fortemente vinculadas ao país sede, e que operariam em vários países. Um exemplo da segunda perspectiva é a de Fukuyama (1999), que considera que a globalização representa a universalização dos valores de democracia liberal e da ordem económica baseada em princípios da economia de mercado, cujo exemplo seria o modelo norte-americano. Refira-se que para Fukuyama (1999) - tal como para Ramonet (1998) e para Arrighi (1998) -, a ideia de globalização como uma época histórica não é descurada. A diferença é que, neste caso, uma sociedade democrática, num regime político baseado na representação parlamentar, numa ordem económica assente numa economia de mercado e numa concepção económica liberal, seria a última fase do desenvolvimento das sociedades humanas. Deste modo, qualquer desenvolvimento a partir da consolidação desta ordem liberal não modificaria as suas características básicas e seria, neste sentido, pós-histórica.

Uma outra linha de reflexão é a que defende a ideia de globalização enquanto fenómeno sócio-económico. A globalização é, neste contexto, definida como a interacção de três processos que têm acontecido ao longo dos últimos vinte anos, e que originaram alterações significativas nas dimensões financeira, produtiva, comercial e tecnológica das relações económicas internacionais. Tais processos são: a expansão dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais; o aumento da concorrência nos mercados internacionais; a maior integração entre os sistemas económicos nacionais. Chesnais (1996) defende ser a utilização do termo mundialização do capital mais adequada do que a expressão de origem inglesa globalização. Isto porque, para ele, tratando-se da produção e da

comercialização de mercadorias materiais e imateriais, o termo globalização traduz a capacidade estratégica do grande grupo oligopolista em adaptar condutas globais aos mercados compradores, às fontes de aprovisionamento, à localização da produção e às estratégias dos principais concorrentes. A mundialização do capital implica, por conseguinte, transformações qualitativas nas relações entre capital e trabalho, e entre capital e Estado, pelo que:

"(..•) as oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias (...) foram usadas pelos grupos tanto para organizar seu processo de internacionalização quanto para modificar fortemente suas relações com a classe operária, em particular no setor industrial" (Chesnais, citado por Gómez, 1999: 105).

Consequentemente, e a par da utilização das novas tecnologias de produção, assistimos, em particular no contexto dos países mais desenvolvidos da Europa durante os anos 90, à "desconstrução do mundo do trabalho" (Boltanski e Chiapello, 1999) que se tem traduzido: em transformações na organização do trabalho e do tecido produtivo, no caso da Europa com a perda da importância da indústria tradicional, forte empregadora; à emergência de indústrias de alta tecnologia; à persistência do desemprego estrutural, do desemprego ao nível dos jovens e do desemprego de longa duração; à crescente segmentação dos mercados de trabalho; à precarização do emprego; à desregulação das relações colectivas do trabalho; à perda de poder negocial por parte dos sindicatos; à redução da protecção social dos trabalhadores e dos princípios dos Estados-providência erigidos nos pós-segunda guerra mundial. Para Beck (2000: 9) tais transformações configuram a "brasileirização do ocidente" , não mais do que a expansão no norte das condições do mercado de trabalho e de vida profissional e social dos trabalhadores do sul - precário, descontínuo, individualização das relações de trabalho, informal. O trabalho torna-se progressivamente mais complexo, multiforme e inseguro.

A par de ter uma dimensão sócio-económica, a globalização terá de ser vista também em termos culturais e políticos. Situar neste plano remete mais para questionamentos do que propriamente para considerações estabelecidas. Como

salienta Held (2000), subsistem tendências contraditórias, em termos das dinâmicas sociais - umas que vão no sentido da denominada ocidentalização do mundo ou em outros registos mais propriamente da americanização, outras que assentam no desenvolvimento de produções culturais de carácter local, em oposição e alternativa aos processos de uniformização societal. Igualmente se registam simbioses entre padrões culturais locais e outros inseridos naquela ocidentalização. Quanto à dimensão política, mais uma vez não encontramos unanimidade ao nível das ciência sociais. Para alguns (Held, 2000; 2000a ) tende-se a ver a globalização como sinónimo do enfraquecimento da soberania dos Estados nacionais e, em contrapartida, o alargamento do poder de novos actores institucionais - os blocos político-económicos regionais, baseados na união entre países, em que existe a transferência de poder para uma entidade supranacional (União Europeia, Mercosul, Nafta, entre outros); organizações intergovernamentais (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização Mundial de Comércio); empresas industriais e de serviços multinacionais e redes financeiras; organizações não-governamentais (Amnistia Internacional, Greenpeace, etc.). Para outros (Santos, 2001), defende-se que existem propostas e acções consistentes para uma outra globalização, uma globalização alternativa, que não tenha a natureza predatória daquela que é enformada pelos princípios políticos e ideológicos da neoliberalidade.

Das diferentes leituras sobre o significado e o alcance das mudanças actuais com as quais os vários autores identificam o conceito globalização, podemos destacar alguns traços comuns às diferentes teorizações. Em primeiro lugar, trata-se de um processo complexo e não consensual, em termos das leituras que sobre o mesmo são feitas ao nível das ciências sociais e dos agentes políticos, que atravessa os vários domínios da sociedade27:

O processo é de tal forma multifacetado que, como refere Santos, "aquilo que habitualmente designamos por globalização são, de facto, conjuntos diferenciados de relações sociais; diferentes conjuntos de relações sociais dão origem a diferentes fenómenos de globalização. Nestes termos, não existe estritamente uma entidade única chamada globalização; existem em

"(••-) da globalização dos sistemas produtivos e financeiros à revolução nas tecnologias e práticas de informação e de comunicação, da erosão do Estado nacional e redescoberta da sociedade civil ao aumento exponencial das desigualdades sociais, das grandes movimentações transfronteiriças de pessoas (...) ao protagonismo das empresas multinacionais e das instituições financeiras multilaterais, das novas práticas culturais e identitárias aos estilos de consumo globalizado" (Santos, 2001: 19).

Em segundo lugar, o termo globalização tem um duplo sentido: por um lado, refere-se ou nomeia um conjunto de mudanças sociais (no sentido amplo do termo) que as sociedades têm vindo a conhecer nas últimas décadas; por outro, sugere uma visão de futuro como sendo uma realidade já presente. Reveste-se, pois, de uma dupla função - uma expositiva (descrevendo o processo histórico de integração da economia mundial, e as suas consequências nos planos político, social e cultural) e outra normativa (preconizando uma estratégia de crescimento baseada na integração dos mercados nacionais no processo e formação de um mercado mundial integrado). A globalização é, portanto, um fenómeno socio- económico. Por último, o conceito indica que o mercado tende a unificar-se, e a abolir fronteiras ou proteccionismos. Neste sentido, os sistema de comunicações e de tecnologias de informação, rápidos e universais, desenvolvendo-se em tempo real, trouxe-nos a sensação de que o mundo se está a tornar uno; permitiu que as empresas multinacionais acelerassem o seu processo de expansão; mundializou o mercado, independentemente do tamanho da empresa e da sua localização; introduziu uma nova definição do espaço e do tempo; acelerou a competição no mercado, obrigando as empresas a adoptarem padrões de produtividade crescentes com técnicas similares; possibilitou a produção e não apenas a comercialização mundial (Prado, s/d). Esse conjunto de mudanças trouxe-nos, no fundo, a sensação de que cada vez mais o mundo é uma "Aldeia global"- utilizando a metáfora de McLuhan -, como resultado das novas tecnologias de informação e de comunicação.

vez disso, globalizações; em rigor, este termo só deveria ser usado no plural" (Santos, 1997: 14).

Face ao exposto, não temos dúvidas de que, não se tratando de um fenómeno novo28, algo de diferente tem vindo a suceder nas sociedades

contemporâneas. Senão, vejamos. No domínio económico, por exemplo, não só as trocas podem ser internacionais, como também a produção (Adda, 1997). Antes havia uma circulação internacional de capital, de mercadorias e da força de trabalho, mas o espaço de produção era fundamentalmente nacional. Esta situação provocou uma revolução de consequências imprevisíveis, e a primeira delas foi o enfraquecimento do Estado nacional como espaço de regulação económica. Do ponto de vista da dinâmica social, é também possível que algo novo esteja acontecendo - a inversão do sentido da dinâmica social. Na Europa, desde pelo menos o século XVIII, assistimos a um claro processo de integração social: tanto a luta de classes como o Estado nacional nascente criaram um conjunto eficiente de instituições, mecanismos e instrumentos que deslocavam o homem do campo para a cidade e reduziam o mundo das "classes perigosas", enquanto ampliavam o das "classes operárias" (Castel, 1995; Join-Lambert, 1997; Mishra, 1995). Existem, porém, sinais na Europa (desde os anos oitenta) de que este processo se esgotou, conhecendo-se, assim, uma inflexão. Gradativamente, as instituições, os mecanismos e os instrumentos anteriormente criados mostram-se ineficientes no processo de integração, dando lugar a um recente processo de exclusão. É, como referem vários autores, possível que uma nova exclusão social esteja em construção, na qual o personagem central é um indivíduo desnecessário economicamente, perigoso socialmente e incómodo politicamente (Castel, 1995 e 2000; Paugam, 1991 e 1996a; Rosanvallon e Fitoussi, 1997).

Mas, se recuarmos aos inícios da Revolução Industrial, constatamos que também ela foi marcada pela desarticulação social; tanto o emprego agrícola como o artesanal, que correspondiam à quase totalidade da população activa, iniciaram um longo período de declínio, ao mesmo tempo que irrompia um forte processo de urbanização. A oferta de mão-de-obra nas zonas urbanas era

abundante, mas foi a criação de empregos no incipiente sector industrial que passou a comandar a dinâmica social. Importa assinalar que, com a industrialização e a urbanização, emergiram novas forças sociais, abrindo-se o processo histórico de lutas de classes que conduziu ao aumento dos salários reais e modelou a distribuição dos rendimentos.

Devido à interacção entre essas forças, o crescimento do mercado interno surgiu como principal factor de dinamismo das economias capitalistas. Porém, esse crescimento apenas se sustentava se a produtividade do trabalho estivesse em crescendo. São, assim, duas as forças que estão na base do dinamismo das economias industriais: a introdução de novas técnicas, e a expansão do poder de compra da população. As novas técnicas aumentam a produtividade do trabalho e, de um modo geral, reduzem a procura de mão-de-obra. Por outro lado, a massa trabalhadora organiza-se e luta pelo aumento dos salários reais, o que amplia o mercado e abre novos horizontes aos investimentos. O equilíbrio dessas forças é alcançado graças à arbitragem realizada pelo Estado, através da política económica: se predominam as forças que comandam a introdução de novas técnicas, a tendência será para a recessão; se prevalecem as forças que pressionam no sentido da subida dos salários, a tendência será para a inflação.

Ora, o processo de globalização modificou esse quadro em benefício dos agentes que controlam a tecnologia, e em detrimento das organizações sindicais. As empresas transnacionais escapam ao controle dos Estados, na medida em que estão capacitadas para transferir actividades produtivas de um país para outro. Essa é a razão pela qual nas economias industrializadas, nos últimos tempos, tem prevalecido um quadro recessivo, a par de uma notória debilidade da acção sindical.

O cenário actual caracteriza-se pelo avanço da globalização económica, financeira e comercial, defendido pelos organismos internacionais (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio), com base na ideologia neoliberal. Trata-se de um processo em curso, comandado pelas grandes corporações transnacionais que procuram abrir novos mercados

para a sua produção e, simultaneamente, recuperar as taxas de lucro; paralelamente, reduzem os seus custos, aumentando a exploração dos trabalhadores, por via quer da redução dos salários, quer do aumento das jornadas de trabalho, quer ainda da eliminação dos direitos dos trabalhadores,

atacando as conquistas sindicais e trabalhadoras obtidas na idade de ouro do sistema, e desmantelando o chamado Estado de bem-estar social. É, portanto, a antítese da era da prosperidade vivida nas primeiras décadas do pós-guerra, e a manifestação do esgotamento do padrão de acumulação de capital proveniente desse período. Confígura-se, desde logo, uma situação crítica, cujas características são largamente reconhecidas: o aumento do desemprego, que já não é apenas cíclico, mas assume a forma de exclusão social e espacial, criando barreiras crescentes à mobilidade e à ascensão social; a concentração do património e dos rendimentos, que se traduz no aprofundamento do fosso entre uma minoria e a massa da população; a flexibilização dos direitos sociais; o sentimento generalizado de insegurança no trabalho; a debilidade das identidades e das formas de solidariedade.

A par daquelas características, podemos ressaltar outras, tais como: o crescimento do fundamentalismo religioso no mundo; a desagregação das regiões até então integradas no mercado, nomeadamente na Africa; a expansão de mercados informais e locais, assim como de relações não mercantis; o aparecimento de novos obstáculos ao desenvolvimento do comércio internacional (o dumping social, por exemplo) .

Os resultados desses fenómenos são visíveis, não só na esfera económica, mas também na social. Revelam, em larga medida, a crescente ineficiência capitalista na utilização dos recursos colocados à disposição da humanidade pelo progresso das forças produtivas. Consequentemente, a precariedade dos contratos

29 Neste sentido, a liberalização do comércio e a abertura dos mercados nacionais têm produzido

o açular da concorrência. A exploração do trabalho é cada vez mais um instrumento dessa disputa. Essa prática, conhecida como dumping social consiste, precisamente, na violação dos direitos fundamentais, utilizando a exploração dos trabalhadores como vantagem comparativa na luta pela conquista de melhores posições no mercado mundial.

de trabalho, a rotatividade, a informalidade, a redução dos salários e a deterioração das condições de trabalho manifestam-se enquanto investidas contra os trabalhadores. Neste sentido, o novo padrão de acumulação pressupõe a destruição das conquistas trabalhistas obtidas anteriormente.

A visão que temos da economia internacional neste início do século XXI é, pois, a de um mundo submetido a uma espécie de imperativo tecnológico: o processo histórico já não é controlado pelo poder exercido pelas "grandes potências", mas pela inovação técnica, a qual parece estar orientada para a