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investigação se situar no contexto da descoberta, a formulação da teoria ou do modelo de análise pode ser realizado tendo por base hipóteses elaboradas no

decurso ou no final da investigação. Em contrapartida, no contexto de prova, o

Não deixa de ser relevante que, em termos conceptuais, subsista uma importante diferença entre comportamento e acção. Enquanto para aqueles que utilizam o termo comportamento, o indivíduo é um sujeito passivo de causa que lhe é exterior e, em simultâneo o determina de modo consciente ou não, para os que percepcionam a vida social por intermédio do termo de acção, o indivíduo, no plano epistemológico, é um sujeito ou actor, dotado de uma consciência capaz de eleger, de avaliar e de atribuir significado aios seus actos (Pizarro, 1998).

7 De Bruyne [et ai.] referem-se ao contexto da descoberta como sendo "aquele no qual nos

perguntamos como encontramos, como construímos nossas hipóteses e nossas teorias". O contexto da prova, por sua vez, é "aquele no qual levantamos a questão de saber se aceitamos ou rejeitamos as hipóteses e as teorias" (De Bruyne [et ai.] 1991, pp. 108-109).

principal objectivo é o de verificação ou refutação das hipóteses e da teoria. Trata-se, no fundo, de uma questão de lógica aplicada no processo de investigação (Lessard [et ai.] 1994).

Atendendo a que o principal objectivo da nossa investigação foi o de percepcionar as principais formas e dinâmicas das políticas sociais ao nível da região do Minho-Lima (a partir da segunda metade dos anos noventa), assumimos, no plano teórico-metodológico, uma postura assente no papel crucial que a teoria tem na orientação da investigação empírica. Como vários sociólogos têm defendido, de modo recorrente, e colocado em prática no âmbito dos seus trabalhos científicos, a concretização da investigação empírica só ganha um sentido de descoberta, de renovação e, por vezes, de transformação radical do conhecimento científico, socialmente aceite num determinado momento histórico, desde que enformada pelo comando da teoria (Almeida e Pinto, 1976 e

1986). A reflexão realizada sobre o problema de investigação a que procurámos dar uma resposta e os principais eixos que sintetizam algumas das contribuições analíticas em torno da temática das políticas sociais, já expressa uma orientação teórica que consideramos se foi tornando mais explícita e enunciativa à medida que as actividades se realizavam.

Uma outra dimensão a considerar em torno das metodologias qualitativas respeita à recolha da informação. É nesta fase que as informações sobre o mundo real se transformam em dados pertinentes à problemática da investigação, operação intimamente associada aos procedimentos técnicos utilizados na recolha da informação. Neste sentido, utilizamos uma estratégia de investigação que, no quadro do método de análise intensiva, se baseou em determinados componentes:

- delimitação dos principais eixos de recomposição social da região do Minho-Lima;

- delimitação das diversas políticas sociais activas que tiveram tradução ao nível local;

Essa estratégia foi integrada por um conjunto de técnicas de recolha e tratamento da informação empírica que, em simultâneo, nos possibilitou não só o acesso à complexidade inerente ao nosso objecto empírico, como igualmente à saturação da informação e à triangulação da prova (Lessard [et ai.] 1994; Ragin,

1994; Yin, 1994). Este procedimento não só nos permitiu a validade

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instrumental (também designada de validade pragmática ou validade de critérios), como também a validade de teórica9 (ou validade de construção).

Deste modo, e no que diz respeito aos procedimentos técnicos a que recorremos, a nossa investigação teve por base contributos diversificados. Recorremos à análise documental, às entrevistas semi-directivas e directivas e à própria observação. No caso da primeira, a nossa atenção incidiu sobre diversos tipos de documentos: informação estatística (produzida por organizações locais, públicas e privadas, e pelo Instituto Nacional de Estatística); legislação; programas sobre as acções desenvolvidas pelos agentes locais; documentos das diversas organizações (Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social, Associações, Autarquias, IPSS's); documentos de avaliação das políticas implementadas, entre outros. As entrevistas foram realizadas a informantes-privilegiados, a responsáveis locais pela aplicação das diversas políticas sociais e a agentes institucionais. A observação confinou-se ao conhecimento do modo como os diversos agentes foram gerindo, nas suas múltiplas vertentes, as diversas políticas sociais.

A validade instrumental manifesta-se quando um procedimento consegue demonstrar que "as observações efectuadas vão de encontro àquelas que foram geradas por um procedimento alternativo, ele próprio tendo sido considerado já como válido" (Kirk e Miller, 1986 in Lessard [et al.] 1994: 70).

A validade teórica existe quando um procedimento pode demonstrar claramente que o quadro teórico corresponde efectivamente às observações. Acrescente-se que este tipo de validade tem por base não somente a validade instrumental e a aparente mas, também, "o modo como é construída a ligação inferencial entre os factos alvo de observação e os conceitos ou modelos teóricos a eles ligados" (Lessard [et ai.] 1994: 70).

2. Definidos que foram os aspectos principais que enformaram o desenho global da nossa investigação, pretendemos neste ponto dar conta, de um modo mais específico, das técnicas de recolha e tratamento da informação accionadas, referenciadas pelos objectivos do nosso trabalho.

Objectivo 1: Caracterização da evolução das políticas sociais ao nível

nacional e respectiva contextualização no âmbito da União Europeia.

Para a concretização deste objectivo, recorremos, fundamentalmente, à análise documental, uma vez que esta técnica nos permitiu fazer um levantamento de todo o património teórico existente sobre esta temática. A nossa atenção incidiu sobre diversos tipos de documentos: legislação, relatórios elaborados no âmbito do Conselho Europeu, documentos de trabalho do Parlamento Europeu, Resoluções do Conselho de Ministros, Plano de Desenvolvimento Económico e Social, Plano Nacional para a Inclusão, Planos Nacionais de Emprego, entre outros.

Dada a panóplia de documentos analisados, e consequentemente o manancial de informação disponível, procedemos a uma sistematização contínua à medida que a recolha de dados se foi processando, isto é, à redução (selecção, codificação e simplificação) e à organização do material compilado. Foi, assim, criada uma base de dados, bem como um conjunto de matrizes, com a apresentação da informação. Deste modo foi-nos possível uma constante regulação, quer dos procedimentos técnicos da pesquisa, quer da análise da informação (Costa, 1986).

Objectivo 2: Identificação dos principais eixos de recomposição social da

região do Minho-Lima ocorrida nas últimas décadas.

Tendo como quadro de referência a evolução rápida e multifacetada que caracteriza a sociedade portuguesa, sobretudo a partir dos anos 60, procurámos

apresentar numa perspectiva histórica os principais traços que enformam o Portugal contemporâneo, o que nos permitiu contextualizar o nosso objecto de estudo.

Foi privilegiada uma abordagem retrospectiva e comparativa. Assim, partindo da caracterização geral do país, procedemos à sua comparação com a região do Minho-Lima e desta com os concelhos que a constituem.

Em função dos interesses da análise e das disponibilidades estatísticas, foram tidas como datas de referência os anos 1960, 1981, 1991 e 2001, tendo como principal fonte os Recenseamentos Gerais da População. Paralelamente, foram utilizadas informações estatísticas produzidas por organizações locais. Acrescente-se que dada a insuficiência e a duvidosa qualidade atribuída à informação do Recenseamento Geral da população de 1970, os dados referentes a esse ano não foram considerados.

Os dados obtidos foram lidos a partir de uma grelha teórico-empírica, baseada nos seguintes indicadores:

- indicadores espaciais e socio-demográficos (áreas, freguesias e densidade populacional; população total e respectiva taxa de variação; estrutura etária e taxas de variação; índice sintético de fecundidade; taxa de natalidade, mortalidade e índice de envelhecimento);

- indicadores referentes às estruturas familiares (tipo de família, média de pessoas por família, famílias segundo o tipo de alojamento, entre outros);

- indicadores de escolarização (taxa de analfabetismo, níveis de escolaridade por sexo e idades por concelho);

- indicadores de recomposição socioprofíssional (taxa de actividade global, população activa por sector de actividade económica, por grupo de profissões, idade e sexo; principal meio de vida e situação na profissão);

- habitação e qualidade de vida (alojamentos familiares, segundo instalações existentes; indicadores per capita concelhio, percentagem de poder de compra; saúde, entre outros).

A informação recolhida foi tratada mediante uma análise estatística simples (frequências absolutas, frequências relativas e taxas de variação) que nos possibilitou uma noção diacrónica dos indicadores acima apresentados.

Objectivo 3: Delimitação e análise dos programas e das políticas sociais

locais aplicadas na área territorial e no período em análise.

A partir da recolha e da compilação de vários documentos escritos (relatórios de actividade, folhetos de apresentação e divulgação dos programas, dados económicos relevantes, levantamentos e análises sóciográficas, monografias, documentos de avaliação das políticas sociais implementadas, entre outros), foi nosso intuito caracterizar os programas e as políticas sociais activas aplicadas na região do Minho-Lima, no período em análise10.

Este procedimento metodológico foi complementado pela técnica da observação, quer directa, quer indirecta (através de entrevistas de carácter exploratório). O objectivo pretendido era duplo: primeiro, a observação in loco e a aproximação ao objecto de estudo; segundo, encontrar pistas de reflexão, ideias e hipóteses de trabalho que complementassem e esclarecessem alguns aspectos pertinentes e ocultos na documentação escrita.

Saliente-se que em relação ao financiamento não nos foi possibilitado o acesso a esse tipo de informação na esmagadora maioria dos programas e políticas sociais implementadas, o que conduziu a que na sua caracterização não entrássemos em linha de conta com esta dimensão.

Importa ter ainda presente que nunca foi objectivo do nosso trabalho fazer uma avaliação plena, quer das consequências das políticas sociais locais ao nível 10 Vd. Anexos EU e IV.

da região, quer dos resultados das acções das duas IPSS's que constituíram os nossos estudos de caso. Consideramos humildemente que o trabalho que fizemos poderá contribuir para o início de um tal processo, mas posiciona-se na interpretação de cariz sociológica das acções dos agentes institucionais locais no que concerne à implementação e aplicação das políticas sociais.

Objectivo 4: Elaboração de estudos de caso das Políticas Sociais Locais. Tendo por base a inventariação, a sistematização e a análise da informação recolhida nas etapas anteriores, foram escolhidas duas unidades de pesquisa que, na nossa opinião, se apresentavam pertinentes para responder à nossa pergunta de partida - o Gabinete Social de Apoio à Família (GSAF) e a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental (APPACDM) - núcleo de Viana do Castelo. A primeira por se ter candidatado à medida 5 do Programa INTEGRAR - Construção e Adaptação de Infra-estruturas e Equipamento de Apoio - e por ter criado o Centro de Acolhimento aos Sem Apoio (CASA), com o objectivo de oferecer uma resposta estruturada e englobante às problemáticas de exclusão social como a toxicodependência, o alcoolismo, a seropositividade, os sem-abrigo, entre outros; pelo esforço e preocupação constantes na rentabilização dos recursos disponíveis em prol dos segmentos da população mais vulneráveis. A segunda pelo espírito empreendedor demonstrado no que concerne ao combate ao desemprego, à pobreza e à exclusão dos grupos sociais mais desfavorecidos (pessoas com deficiência mental, beneficiários do Rendimento Mínimo Garantido, desempregados, mulheres com baixas qualificações, entre outros), mais especificamente pelas medidas adoptadas no âmbito do Mercado Social de Emprego. Refira-se que aquelas duas unidades de pesquisa foram seleccionadas porque ambas: i) são instituições particulares, sem fins lucrativos, e com incidência ao nível distrital; ii) integram-se no designado terceiro sector; iii) desenvolveram projectos a partir de candidaturas a financiamentos públicos,

operacionalizados através de programas e medidas no âmbito das denominadas políticas sociais activas; iv) empreenderam esforços no sentido de responder a necessidades locais não satisfeitas pelo Estado ou outras instituições; v) assumem um importante papel na promoção do desenvolvimento social local; vi) apresentam-se como agentes activos e promotores de alternativas tendentes à atenuação dos problemas e das necessidades sociais locais.

A adopção do método de estudo de casos11, com uma vertente fortemente

empírica (Ragin, 1994), prendeu-se com o facto deste permitir, através de uma análise em profundidade, alcançar não só o que comummente se designa como "factos", como também a experiência, os significados e os símbolos implicados nas interacções dos actores sociais, definindo os seus próprios pontos de vista (Hamel [et ai.] 1993). A flexibilidade metodológica dos estudos de caso permitiu-nos cruzar informação de diversos tipos (estatísticas oficiais, documentos das instituições, relatórios, entre outros) e recolhida junto de diversas fontes, complementando-a com a análise de entrevistas, bem como da sua interacção com as instituições a que pertencem e com os actores que delas fazem parte.

As entrevistas foram uma técnica privilegiada na recolha da informação, em particular as entrevistas semi-directivas. A escolha deste tipo de entrevista justifica-se por duas razões: por um lado, porque possibilita ao entrevistador conduzir a conversa no sentido dos temas pretendidos; por outro, porque permite ao entrevistado uma certa liberdade de resposta que pode funcionar como uma chamada de atenção para novas pistas de exploração. O recurso à entrevista semi- directiva apresenta-se como a melhor forma de captar os processos e as dinâmicas, as subjectividades, as interpretações, os contextos e as acções, enfim, captar o palco onde os principais protagonistas, mais ou menos dirigidos pelas circunstâncias, embora dentro de limites muito estreitos ditados pela realidade.

11 Refira-se que para Hartley (1994) o estudo de caso não deve ser encarado como um método

de investigação mas antes como uma estratégia que utiliza vários métodos em simultâneo: entrevistas, questionários, observação directa, análise documental, de discurso, entre outros.

Nessa medida interessava-nos obter elementos que pudessem complementar as fontes de pesquisa documental, assim como conhecer a diversidade de posições e de opiniões de um conjunto seleccionado de pessoas relacionadas com o nosso objecto de estudo.

As entrevistas foram acompanhadas por um guião de entrevista elaborado previamente12. Deste, constavam os nós centrais da nossa investigação, a saber:

a) diagnóstico do meio e da população local; composição, características e condições de vida da população e sua evolução; problemas e carências; tipos de intervenção efectuados e sua avaliação;

b) caracterização da acção das instituições no contexto local: valências, actividades e âmbito de actuação; população alvo dessas actividades; redes de cooperação inter-institucional e apoios; formas de participação das populações; relação entre essas populações a instituição em causa; autoavaliação das acções desenvolvidas;

c) representações dos entrevistados sobre as políticas sociais de um modo geral.

No que diz respeito à escolha dos entrevistados13, a nossa principal

preocupação foi a de reunir os pontos de vista e os contributos de diversos actores e das diversas instituições envolvidas. Incluíram-se indivíduos que foram, ou são, vereadores camarários com o pelouro da acção social na Câmara Municipal de Viana do Castelo (CMVC), dirigentes e técnicos das IPSS's em estudo, bem como técnicos do Instituto de Reinserção Social (1RS), do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), do Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social (CDSSS) e do Centro Hospitalar do Alto Minho (CHAM) - totalizando 17 entrevistas (5 no CASA, 5 na APPACDM, 1 no 1RS, 1 no IEFP, 3 no CDSSS, 1 na CMVC e 1 no CHAM), num total de cerca de 21 horas de gravação.

12 Vd. Anexo I. 13 Vd. Anexo II.

O registo da informação recolhida foi complementado por uma posterior