• Nenhum resultado encontrado

Procuramos, nas páginas que se seguem, dar a conhecer o conjunto de medidas e de programas de combate à pobreza e à exclusão social que

configuram as designadas políticas sociais activas em Portugal, em curso desde

28 Aprovado na Resolução do Conselho de Ministros n.° 44/97, de 21 de Março.

29 Resolução do Conselho de Ministros n.° 57/95, de 17 de Junho, e decreto-lei n.° 189/96, de 08

de Outubro.

30 Resolução do Conselho de Ministros n.° 154/96, de 17 de Agosto. 31 Decreto-lei n.° 22/97, de 23 de Janeiro.

1996. Relembramos que a nossa opção temporal resulta do facto de se tratar do momento em que no quadro da sociedade portuguesa se deu uma profunda alteração no domínio das políticas sociais, no sentido da adopção de uma atitude mais activa e empreendedora face ao social.

Sublinhamos que o nosso objectivo incide na análise descritiva sobre a formação das políticas sociais activas e não na avaliação das mesmas.

Importa, desde logo, tecer algumas considerações acerca das políticas sociais activas. A primeira relaciona-se com o principal objectivo subjacente a este tipo de políticas, isto é, à prioridade atribuída à intervenção sobre as causas inerentes aos fenómenos de pobreza e de exclusão social, tendo em vista a criação de condições para a transformação do meio envolvente e das atitudes individuais daqueles que se encontram em tais situações. A segunda, tem a ver com o facto de que as diversas políticas sociais activas aqui apresentadas, embora distintas, terem em comum alguns pontos, nomeadamente: a promoção de um conceito de cidadania extensível a todos os indivíduos, postulando não só o direito ao trabalho e a um rendimento mínimo, mas também ao exercício pleno dos direitos cívicos, à cultura, à educação e à participação na vida social; assentam no reconhecimento da importância da igualdade de oportunidades como forma de combater as desigualdades e as fracturas sociais; na sua concretização adoptam uma lógica de responsabilização e de mobilização do conjunto da sociedade em geral, e de cada cidadão em particular - envolvendo os serviços do Estado, as autarquias, as Organizações não Governamentais e todos os cidadãos - sendo o combate aos fenómenos da pobreza e da exclusão social considerado um dever de todos os agentes com responsabilidade política, cultural, social e económica, bem como dos próprios indivíduos que experienciam tais situações. Por último, ao conceber a inclusão como um duplo processo de transformação das estruturas e das instituições sociais, económicas, políticas e culturais, as políticas sociais activas visam facultar a todas as pessoas (em função das suas necessidades específicas) a plena realização dos seus direitos de cidadania, criando as oportunidades e as condições necessárias à capacitação de cada

indivíduo para assumir os seus próprios deveres e responsabilidades. Desse modo, é condição sine qua non para o seu bom funcionamento a intervenção, directa ou indirecta, quer sobre as estruturas institucionais, quer sobre as atitudes individuais, reforçando a implicação de todos os actores sociais no processo — da Administração Central, à Administração Local e desta à sociedade civil.

Passamos de seguida a apresentar os princípios delineadores das políticas sociais activas em curso no nosso país, no período que medeia entre 1996 e 200033, a saber: o Projecto Vida, o Rendimento Mínimo Garantido; os Projectos

de Luta Contra a Pobreza; o INTEGRAR - Intervenção Operacional Integração Económica e Social de Grupos Sociais Desfavorecidos; o Mercado Social de Emprego; o Programa de Expansão e Desenvolvimento da Educação Pré-escolar; o Projecto de Apoio à Família e à Criança; o Programa Ser Criança; o Programa de Reabilitação e Integração de Pessoas com Deficiência; o Emprego Apoiado em Mercado Normal/Competitivo de Trabalho; o Programa de Avaliação/ Orientação Profissional, o Programa de Formação Profissional; o Apoio à Colocação e Acompanhamento Pós-colocação; o Programa de Apoio Integrado a Idosos; o Apoio Social e Cuidados de Saúde Continuados Dirigidos às Pessoas em Situação de Dependência; o Programa Vida Emprego; a Formação Profissional Especial; as Comissões de Protecção de Jovens e Crianças em Risco; a Rede Social e o Plano para a Eliminação e Erradicação do Trabalho Infantil.

Programa Nacional de Prevenção de Toxicodependência - Projecto Vida34

O Programa Nacional de Prevenção de Toxicodependência - Projecto Vida, criado em 1987, teve como principal objectivo mobilizar a sociedade para

Refíra-se que esta apresentação tem por base os textos publicados pelo MTS (2000) e a legislação inerente a cada uma das medidas e programas em causa.

Resolução do Conselho de Ministros n.° 23/87, de 31 de Março; Resolução do Conselho de Ministros n.° 17/90, de 06 de Abril; decreto lei n.° 83/90, de 14 de Março; decreto-lei n.° 43/94, de 17 de Fevereiro; decreto-lei n.° 193/96, de 15 de Outubro; decreto lei n.° 266/98, de 20 de Agosto.

a resolução do problema da toxicodependência, colocando um especial enfoque no domínio da prevenção primária.

Através da legislação em vigor para o Projecto Vida, o Estado reforçava essa preocupação consciente de que só com um investimento na prevenção primária junto dos grupos especialmente vulneráveis e em zonas identificadas como prioritárias se poderia ganhar no futuro a batalha em termos de vontades e capacidades criativas da sociedade em geral e da juventude em particular. Sublinha-se, assim, a cooperação dos serviços do Estado com as Autarquias, as organizações não Governamentais sem fins lucrativos, as Misericórdias, as Associações Culturais e Recreativas, os Centros Sociais e Paroquiais, as Igrejas e, ainda, com os parceiros sociais - só deste modo se poderá promover uma intervenção eficaz e eficiente.

Era também objectivo do Projecto Vida, investir na formação de técnicos e de agentes educativos com responsabilidade no domínio da Prevenção Primária, nomeadamente dos pais, dos educadores, dos jovens, e dos recursos humanos ao serviço das entidades públicas e particulares sem fins lucrativos, tendo em vista a diversificação das intervenções e o alargamento da área de abrangência das mesmas.

Rendimento Mínimo Garantido

A medida do Rendimento Mínimo Garantido (RMG), datada de 1996, insere-se num conjunto de princípios de garantia de direitos e de promoção de cidadania social, designadamente: garantir o direito a um rendimento mínimo e acesso a condições de inserção a todo o cidadão (em situação de carência económica), que assenta num princípio de solidariedade nacional independentemente da carreira contributiva; direito à individualidade no cumprimento de um programa de inserção adaptado a cada indivíduo, construído com o próprio; garantir um acompanhamento técnico no percurso da inserção;

implicar o indivíduo no processo enquanto sujeito activo de direitos e de deveres numa relação directa com a activação das políticas de solidariedade.

O RMG destina-se a todos os indivíduos e famílias que se encontrem em situação de grave carência económica, com residência legal em Portugal, e que se obriguem a subscrever e a seguir um programa de inserção social. As acções de inserção são definidas e acordadas entre os beneficiários e um técnico que faz parte da Comissão Local de Acompanhamento (CLA) do concelho onde moram os beneficiários. Na CLA estão representadas as instituições locais e os serviços públicos da Segurança Social, da Saúde, da Educação e do Emprego, que contribuem para o encontro das soluções que mais se adaptam à melhoria das condições de vida das famílias. Por outro lado, o titular da prestação deverá obedecer às seguintes condições legalmente definidas: ter idade igual ou superior a 18 anos; ou ter idade inferior a 18 anos, e encontrar-se em situação de autonomia e: estar emancipado pelo casamento, ter menores na sua exclusiva dependência económica ou do seu agregado e/ ou encontrar-se na situação de gravidez.

As estratégias definidas para o desenvolvimento da medida do RMG passam: pela defesa de direitos e promoção de desenvolvimento individual (e familiar); pela intervenção na multidimensionalidade das causas de inserção do indivíduo e/ ou famílias em função da promoção de integração sócio-económica, e desenvolvimento global; pela co-responsabilização do Estado com a sociedade civil e os destinatários na gestão da Medida numa relação contratual integrando meios accionados pelo estado, pela sociedade e pelo indivíduo; pela territorialização da Medida que permite a articulação entre inserção individual e familiar e processos de desenvolvimento social que favoreçam a criação de condições e recursos necessários à inserção; por fim, pela partilha de saberes, poderes e capacidades de acção entre organismos públicos e privados, e entre técnicos e cidadãos não técnicos, no reconhecimento e valorização da construção colectiva em função dos objectivos comuns.

Entretanto, a lei n.° 13/2003, de 21 de Maio revogou o RMG, previsto na Lei n.° 19-A/96, criando o Rendimento Social de Inserção (RSI). Não sendo nossa pretensão desenvolver uma análise critica (recorde-se que o nosso arco temporal situa-se entre o ano de 1996 e o de 2000), importa referir que o RSI não difere substancialmente do anterior RMG, na medida em que, basicamente, se mantém a mesma estrutura - trata-se de uma prestação pecuniária, integrada no subsistema de solidariedade (não contributivo), aliada a um programa de inserção, em que a prestação é devida e atribuída a quem se encontre em situação grave económica e social e manifeste disponibilidade activa para o trabalho, a formação profissional ou qualquer outra acção destinada a apoiar e preparar a sua integração laboral e social. As principais mudanças introduzidas relativamente ao anterior regime vão no sentido de acentuar o carácter transitório e subsidiário da atribuição da prestação, nomeadamente introduzindo condições mais restritas de acesso e manutenção do direito à prestação e penalizando de forma mais gravosa o incumprimento dos compromissos assumidos pelos titulares e beneficiários, assim como quaisquer condutas consideradas abusivas ou fraudulentas.

■je

Projectos de Luta Contra a Pobreza

O Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza cobre todo o país e tem como objectivo a promoção, a implementação e o apoio de projectos com vista a minorar as assimetrias económicas e sociais que afectam as populações mais carenciadas. O combate à pobreza diz respeito a toda a sociedade, pelo que se pretende implicar as diversas instituições tanto do sector público (incluindo as autarquias), como do sector privado. A complexidade e a multidimensionalidade das questões envolvidas na luta contra a pobreza e a exclusão social requerem respostas integradas e, sobretudo, que fomentem a participação e a responsabilização de grupos e de comunidades locais. Assim sendo, uma das

35 Resolução do Conselho de Ministros n°s 8/90, de 03 de Março e 17/90, de 21 de Abril;

grandes apostas deste Programa consiste na tentativa de encetar e testar experiências inovadoras que permitam reforçar as capacidades de participação da população em situação de pobreza e de exclusão social durante todo o processo que afecta as suas condições de vida.

O Programa destina-se às famílias com carências económicas, nomeadamente: crianças e jovens com dificuldade de inserção social, idosos carenciados, pessoas sem abrigo, famílias monoparentais, crianças e mulheres em risco, toxicodependentes, pessoas portadoras de deficiência, minorias étnicas e comunidades locais empobrecidas e fragilizadas.

A estratégia de implementação dos Projectos de Luta Contra a Pobreza passa, antes de mais, pelo estabelecimento de parcerias. O funcionamento dos projectos tem por base a coordenação entre os vários departamentos do Estado e as iniciativas particulares. São assim maximizadas as sinergias locais, regionais e nacionais na definição de uma actuação selectiva e concentrada em zonas prioritárias e de maior risco social com vista ao desenvolvimento social local. A acção dirige-se para a prevenção, resolução, valorização e integração das capacidades locais, procurando valorizar e integrar essas capacidades, evidenciando as identidades socioculturais através de uma abordagem polifacetada do fenómeno da pobreza.

INTEGRAR - Intervenção Operacional Integração Económica e Social de Grupos Sociais Desfavorecidos

A intervenção Operacional Integração Económica e Social de Grupos Sociais Desfavorecidas, surge no âmbito do II Quando Comunitário, com o objectivo de promover a integração económica e social dos grupos mais desfavorecidos da população, e enquadra-se nos objectivos gerais de política social e de desenvolvimento do emprego e formação profissional.

Visa também apoiar projectos integrados e multidimensionais de melhoria das condições de vida em comunidades socialmente desfavorecidas,

nomeadamente acções e facilitação do acesso à formação e ao mercado de emprego, e acções de formação dirigidas aos diversos grupos socialmente desfavorecidos, assim como acções de formação dos profissionais que intervêm no processo de integração destas pessoas.

O Subprograma INTEGRAR envolve cinco medidas distintas, mas que se complementam:

- Medida 1, Apoio ao Desenvolvimento Social: visa a promoção do desenvolvimento social em comunidades desfavorecidas num quadro de desenvolvimento global e multidimensional, de forma a criar condições para uma efectiva integração destes grupos. Caracteriza-se, sobretudo, pela realização de acções de formação tradicional e acções a montante e a jusante da formação profissional, direccionadas para o desenvolvimento de determinadas comunidades (concelho, freguesia, bairro), ou de grupos de pessoas em situação desfavorecida (idosos, crianças, mulheres com dificuldades de inserção e jovens em risco), devidamente caracterizadas e identificadas.

- Medida 2, Integração Económica e Social dos Adultos Desempregados de Longa Duração: pretende-se fomentar a reinserção dos desempregados de longa duração no mercado de emprego, por meio do desenvolvimento de acções de formação adaptadas às especificidades do grupo, assim como de acções complementares facilitadoras do seu acesso e integração no mercado de emprego. No âmbito desta medida, a Formação Especial confere aos beneficiários do RMG (refira-se que este "grupo" é prioritário para efeitos de candidatura à Medida) uma iniciação profissional que engloba o desenvolvimento de competências e oportunidades de formação, no sentido de obter uma qualificação inicial, bem como a possibilidade de conseguir a escolaridade obrigatória. Esta opção é incentivada pelas várias entidades promotoras que estabelecem parcerias com as escolas, no intuito de encaminhar os

formandos para a frequência do ensino recorrente, o que lhes permite aceder a níveis de qualificação superior.

- Medida 3, Integração Económica e Social das Pessoas com Deficiência: esta medida objectiva promover a integração socio- económica das pessoas com deficiência, através do desenvolvimento de acções de orientação/ formação e integração profissional, assim como da formação dos diversos profissionais que intervêm no processo. As acções inovadoras de formação profissional e emprego propiciam uma formação diferenciada e adaptada à condição específica de cada formando, assumindo a forma de regime em alternância (centros e empresas), formação integrada (empresas) ou formação simulada.

- Medida 4, Integração Sócio-Económica de Grupos Desfavorecidos: visa facultar a integração económica e social dos grupos desfavorecidos mediante o desenvolvimento de acções de orientação/ formação adequadas às características destes públicos, de acções de facilitação da integração sócio-profissional, bem como da formação dos profissionais que intervêm no processo. Os beneficiários das acções desenvolvidas no âmbito desta medida são os jovens em risco, os toxicodependentes (jovens e adultos), as minorias étnicas e culturais, os sem-abrigo e as mulheres com dificuldades de (re)inserção profissional. Neste sentido, e atendendo a que os beneficiários se caracterizam maioritariamente por terem baixos níveis de qualificação ou mesmo ausência de qualquer grau de escolaridade, a formação profissional conferida integra os seguintes componentes: acções de transição para a integração sócio-profissional, acções de orientação/formação; acções objectivando directamente a integração profissional dos grupos sociais mais desfavorecidos ou que potenciem o sucesso dessa integração; incentivos à criação do próprio emprego.

- Medida 5, Construção e Adaptação de Infra-estruturas e Equipamento: tem por objectivo a criação e/ ou a adaptação das infra-estruturas e dos equipamentos de apoio necessários à realização eficaz dos projectos de apoio ao desenvolvimento social, e à integração sócio-económica de pessoas com deficiência e dos grupos populacionais mais desfavorecidos, a saber: Centros de Actividades de Tempos Livres, Centros de Dia, Centros de Apoio Domiciliário, Centros de Reabilitação Profissional ou Centros de Atendimento Integrado.

Mercado Social de Emprego

O Mercado Social de Emprego é um instrumento privilegiado de combate aos fenómenos de desemprego, pobreza e exclusão social, criado em 1996.

A sua operacionalização concretiza-se mediante um quadro de acção consubstanciado num conjunto variado de soluções que se articulam na identificação e na resolução de problemas de desemprego, assim como nas potencialidades oferecidas em matéria de respostas às necessidades sociais não satisfeitas pelo funcionamento normal do mercado de trabalho.

Os seus princípios básicos assentam fundamentalmente no espírito de parceria; no estímulo aos movimentos de dinamização socio-local e partilha de recursos; no estímulo à capacidade de auto-sustentação económica; na qualidade dos serviços prestados; na relevância social das actividades desenvolvidas; no reforço de competências pessoais, sociais e profissionais dos desempregados abrangidos.

São privilegiadas as actividades relacionadas com o apoio social, os serviços de proximidade, a reabilitação do património natural, cultural e urbanístico e a animação turística e dos tempos livres.

Enformadas pelo Mercado Social de Emprego, as medidas dirigem-se a diferentes destinatários:

Escolas Oficina , que têm por objectivo proporcionar uma