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No hist´orico recente do desenvolvimento da humanidade h´a de se ressaltar que o s´eculo XX ficou marcado por duas grandes revolu¸c˜oes na hist´oria da humanidade: a revolu¸c˜ao industrial e a revolu¸c˜ao da informa¸c˜ao, da comunica¸c˜ao e do conhecimento. A cada etapa de desenvolvimento da hist´oria mundial, a produ¸c˜ao de dados e a necessidade de informa¸c˜ao para tomada de decis˜ao tˆem crescido e dever´a crescer em propor¸c˜oes jamais imagin´aveis ( ´AVILA et al., 2012).

A partir desta segunda revolu¸c˜ao, as Tecnologias da Informa¸c˜ao e da Comunica¸c˜ao (TICs), em especial a World Wide Web (WWW) obtiveram grande protagonismo na sociedade em geral. No que tange ao acesso a informa¸c˜ao, tais tecnologias passaram a ser o principal meio de dissemina¸c˜ao e compartilhamento de dados e informa¸c˜oes e considerando os recursos que proporcionam para a publica¸c˜ao de informa¸c˜oes, as TICs tornaram-se uma grande aliada de pol´ıticas de disponibiliza¸c˜ao da informa¸c˜ao.

Reilly (2010) complementa ainda que a Web criou novos m´etodos para aproveitar a criatividade das pessoas em grupos, bem como est´a proporcionando a cria¸c˜ao de novos modelos de neg´ocios que est˜ao remodelando nossa economia, ou seja, uma nova gera- ¸c˜ao nasceu na “era da Web” e est´a empenhada em utilizar suas li¸c˜oes de criatividade e colabora¸c˜ao para enfrentar os desafios das na¸c˜oes mundiais.

Na esfera governamental, Reilly (2010) destaca que, com a complexidade e a proli- fera¸c˜ao das demandas da sociedade e a restri¸c˜ao de recursos para solucion´a-los, muitos l´ıderes de governo reconhecem que as oportunidades que as tecnologias Web fornecem, em especial com seus recursos atuais conhecidas como Web 2.0, n˜ao se limitam apenas para ajud´a-los a serem eleitos, mas tamb´em podem ajud´a-los a fazer um governo melhor. Por analogia, muitos est˜ao chamando este movimento de Governo 2.0 (Government 2.0 ). O Governo 2.0 ´e definido como o uso das TICs, especialmente tecnologias colaborativas do n´ucleo da Web 2.0 para o desenvolvimento de melhores solu¸c˜oes para os problemas coletivos de cidades, estados, na¸c˜oes e problemas em n´ıvel internacional.

Ademais, os cidad˜aos est˜ao a cada dia, mais dispostos a envolver-se na tomada de decis˜oes pol´ıticas de maior complexidade e o surgimento do Governo 2.0 oferece novas oportunidades para que atores sociais atuem na produ¸c˜ao de dados, an´alise e tomada de decis˜oes (MUREDDU et al., 2012).

O conceito de Governo 2.0 ´e recente o que justifica em partes, sua ades˜ao ainda es- tar ocorrendo de forma gradual por governos, especialmente nos n´ıveis subnacionais. Um marco hist´orico no posicionamento pol´ıtico por governos mais efetivos, inovadores e trans-

parentes foi registrada na campanha presidencial americana em 2008, onde o ent˜ao can- didato a presidente, Barack Obama explanou a seguinte proposta em sua campanha:

“We must use all available technologies and methods to open up the federal government, creating a new level of transparency to change the way business is conducted in Washington, and giving Americans the chance to participate in government deliberations and decision making in ways that were not possible only a few years ago.”

Posteriormente, ap´os sua elei¸c˜ao, um dos primeiros atos do Governo Obama consistiu na publica¸c˜ao do “Memorandum of Transparency and Open Government” em 21 de Ja- neiro de 2009 (OBAMA, 2009b). Neste memorando, o Governo Obama se comprometeu a promover um n´ıvel jamais visto de abertura governamental e estabeleceu os trˆes grandes pilares para o que se entende como um Governo Aberto: transparˆencia, participa¸c˜ao e colabora¸c˜ao.

[...] “My Administration is committed to creating an unprecedented level of openness in Government. We will work together to ensure the public trust and establish a system of transparency, public participation, and collabo- ration.” [...]

Posteriormente, em oito de Dezembro de 2009, foi publicado outro memorando deno- minado “Open Government Directive”, que detalhou como deveriam ser implementados os trˆes princ´ıpios para o Governo Aberto supracitados (OBAMA, 2009a). Este documento destaca que a transparˆencia promove e fortalece a responsabiliza¸c˜ao dos atos governamen- tais, fornecendo ao p´ublico informa¸c˜oes sobre o que o governo est´a fazendo. A participa¸c˜ao permite que cidad˜aos possam contribuir com ideias e conhecimentos para que o governo possa fazer pol´ıticas que se utilizem as informa¸c˜oes que est˜ao amplamente dispon´ıveis na sociedade. Por fim, a colabora¸c˜ao melhora a efic´acia do governo encorajando parcerias e coopera¸c˜oes dentro da Administra¸c˜ao P´ublica, dentre os v´arios n´ıveis de governo e entre o governo e institui¸c˜oes fora do governo, como a iniciativa privada e outras entidades n˜ao-governamentais.

Apesar das na¸c˜oes mundiais desenvolverem diversas a¸c˜oes ora voltados a Transparˆencia P´ublica, ora voltadas a participa¸c˜ao, ora voltadas a colabora¸c˜ao, o conceito apresentado de Governo Aberto passou a influenciar o mundo por causa da conex˜ao estabelecida pelos seus trˆes pilares. Somado a isto, o forte encorajamento ao uso extremo de TICs para o fortalecimento da a¸c˜ao governamental com base neste conceito ensejou um novo ecossistema em torno desta tem´atica em n´ıvel global. Bandeira et al. (2014) complementa que um Governo ´e considerado aberto quando ´e implementado uma plataforma de pol´ıticas p´ublicas voltadas para este fim.

Entretanto, a implementa¸c˜ao do Governo Aberto pode requerer investimentos e com- promissos n˜ao-triviais por parte dos ´org˜aos governamentais que precisar˜ao adquirir novas habilidades, capacitar funcion´arios, incorporar novas tecnologias e em alguns casos, atua- lizar a sua infraestrutura de TIC (LEE; KWAK, 2012). Para a implementa¸c˜ao de pol´ıticas desta natureza s˜ao condicionantes a cria¸c˜ao e institucionaliza¸c˜ao de uma cultura de Go- verno Aberto, onde neste contexto o capital humano precisa ser desenvolvido e encorajado para atuar neste novo paradigma (REILLY, 2010). Isto posto, para que esta cultura seja implantada, s˜ao necess´arios outros condicionantes como o enriquecimento da qualidade da informa¸c˜ao governamental e da tomada de decis˜ao, que por ventura, prescinde e esti- mula que haja uma ampla publica¸c˜ao dos dados e informa¸c˜oes governamentais na Web. A Figura 4 abaixo demonstra este fluxo de condi¸c˜oes estabelecidas por Reilly (2010) para a viabiliza¸c˜ao do Governo Aberto.

Figura 4 –Princ´ıpios para o Governo Aberto

Fonte: Bandeira et al. (2014), a partir de Reilly (2010)

Em escala global, desde 2011 que na¸c˜oes de diversos continentes, liderados pelos E.U.A. e pelo Brasil institu´ıram a “Parceria para o Governo Aberto” (The Open Government Partnership - OGP), como uma iniciativa multilateral que visa assegurar compromissos concretos dos governos para promover a transparˆencia, capacitar cidad˜aos, lutar contra a corrup¸c˜ao e aproveitar as novas tecnologias para fortalecer a governabilidade no esp´ırito de colabora¸c˜ao entre os v´arios interessados e que atualmente j´a possui 65 na¸c˜oes filia- das (BANDEIRA et al., 2014; OGP, 2015a) conforme apresentado na Figura 5. Como principais objetivos, a OGP se prop˜oe a ampliar o acesso a novas tecnologias para fins de transparˆencia e presta¸c˜ao de contas; a aumentar a disponibilidade de informa¸c˜oes sobre as atividades governamentais; a apoiar a participa¸c˜ao c´ıvica; e a implementar os mais altos padr˜oes de integridade profissional por todas as administra¸c˜oes (GUIMAR ˜AES; DINIZ, 2014). Este conjunto de na¸c˜oes reunidos estabeleceu cerca de 1.000 compromissos para a promo¸c˜ao de governos mais abertos, transparentes e respons´aveis (OGP, 2015b).

Neste contexto, considerando os conceitos expostos pode-se deduzir que a efetiva¸c˜ao do Governo Aberto passa naturalmente pela transparˆencia e abertura de dados p´ublicos. Todavia, ´e importante destacar que a dimens˜ao do Governo Aberto est´a al´em da camada t´ecnica, envolvendo quest˜oes pol´ıtico-institucionais.

A abertura de dados p´ublicos ´e fundamental para uma pol´ıtica de Governo Aberto, mas n˜ao ´e o ´unico fator respons´avel pelo desenvolvimento de tais pol´ıticas. Dentre os principais desafios associados `a rela¸c˜ao entre dados abertos e governo aberto temos: (i)

Figura 5 – Mapa mundi ilustrado com os pa´ıses signat´arios da OGP

Fonte: OGP (2015a)

Para a tomada de decis˜ao a partir de dados abertos, ´e necess´ario possuir habilidades para encontrar os dados desejados, interpret´a-los e process´a-los corretamente; e ainda (ii) ´e necess´ario que hajam canais de di´alogo entre os consumidores e provedores de dados, para que haja o devido esclarecimento sobre as caracter´ısticas dos dados, bem como para que os governos recebam opini˜oes dos usu´arios dos dados que possam melhorar o que estas institui¸c˜oes est˜ao ofertando (JANSSEN; CHARALABIDIS; ZUIDERWIJK, 2012).

Ademais, ´e importante ressaltar que mais informa¸c˜oes n˜ao necessariamente pode re- sultar em decis˜oes melhores e/ou mais democr´aticas (JANSSEN; CHARALABIDIS; ZUI- DERWIJK, 2012). O excesso de informa¸c˜oes pode reduzir a capacidade de entendimento a respeito dos dados e informa¸c˜oes p´ublicas. Por estas raz˜oes, a pr´oxima se¸c˜ao anali- sar´a os conceitos de Dados Abertos e Dados Abertos Conectados, buscando o melhor entendimento destes conceitos e sua rela¸c˜ao com o Governo Aberto.