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2.3. ESTRATÉGIAS GENÉRICAS PARA DESENVOLVIMENTO REGIONAL

2.3.2. O GOVERNO REGIONAL (ESTADUAL)

Enquanto muitos afirmam que os distritos Italianos não são reprodutíveis, certos princípios de sua operação podem ser adaptados a outros contextos, como nos mostram as experiências Dinamarquesa e Norueguesa.

O estudo dos distritos industriais italianos e a análise das condições catarinenses deixam claro a heterogeneidade dos sistemas produtivos localizados – o que implica em políticas elaboradas sob medida para as condições locais, o que demanda políticas descentralizadas. O modelo de industrialização dos estados do sul que tiveram a colonização fundamentada em pequenas propriedades resultou em uma sociedade mais justa e igualitária com maior equilíbrio na ocupação dos campos e das cidades. A região da Emilia Romagna, como Santa Catarina, são exemplos de desenvolvimento endógeno difuso. Em ambas as regiões, não houve determinação por parte do governo federal: aqui verifica-se o confronto de duas lógicas de desenvolvimento. A lógica dita “de cima-para-baixo” onde vultosos recursos financeiros são transferidos e incentiva-se a implantação de grandes empresas que possuem poucos vínculos com o local e a lógica dita “de baixo-para-cima”, que busca valorizar os recursos locais pela PMEs.

A comparação da experiência italiana com as colônias de Santa Catarina permitiu salientar a importância dos pequenos proprietários possuidores de conhecimentos técnicos e com estilo de vida peculiar que logo se transformaram em empreendedores, MDO e

consumidores, em um processo de industrialização endógeno. Raud, seguindo a comparação entre SC e a Terceira Itália, conclui que um mesmo tipo de industrialização veio a efeito em regiões de origem diversa: o nordeste da Itália encontrava-se povoado, testemunhou uma proto-industrialização e já tinha canais de comércio abertos com o exterior; SC foi ocupada por pequenas colônias isoladas do restante do país. Porém, em ambas as regiões a industrialização deu-se na zona agrícola habitada predominantemente por pequenos proprietários, possuidores de tradições artesanais e mercantis, nas quais a atividade industrial surgiu em meio a atividade agrícola como modo pelo qual as famílias buscavam aproveitar as oportunidades do mercado. Como forma de enfrentar o abandono do governo central e evitar o êxodo rural, as empresas procuravam relacionar-se umas com as outras, misturando competição com cooperação, enquanto formam redes familiares e comunitárias. Em SC verifica-se maior grau de integração vertical, porém observa-se a falta de um industria local de bens de capital, que a autora explica como sendo conseqüência da instabilidade macroeconômica e do nível de industrialização. Em SC o papel das instituições locais é de menor intensidade dado a cultura política diferente daquela da terceira Itália. Se não é possível chamá-los de autênticos distritos industriais, as indústrias catarinenses são testemunhas do potencial de uma industrialização difusa brasileira (Raud,1999).

Hatch (1988) cita os princípios sobre os quais fundamentaram as políticas de reindustrialização testadas na Europa que lhe parecem aplicáveis em outros países. São estes:

• Desenvolvimento endógeno: deve-se trabalhar localmente, desenvolvendo a competência das firmas existentes;

• Mudanças incrementais: a idéia é diminuir paulatinamente a diferença entre a melhor prática e a prática geral de cada indústria; cada indústria normalmente tem uma boa firma, a intenção é fazer com que todas as firmas da indústria sejam boas;

• Desenvolvimento dos serviços puxados pelo mercado: um bom entendimento do mercado é a chave do sucesso de uma empresa. Este conhecimento deve ter prioridade sobre a transferência de tecnologia;

• Planejamento de baixo-para-cima: associações comerciais e sindicatos participam do planejamento de um projeto desde sua fase inicial, enquanto a indústria lidera a busca de soluções com respeito a problemas financeiros, tecnológicos e de marketing. O papel das instituições públicas é o de facilitador do processo;

• Enfoque setorial: a ênfase é dada aos feixes de firmas interrelacionadas. Este é o alvo das políticas públicas, e não as firmas individuais;

• Eficiência de custo: prestando assistência a todo um grupo de firmas, o governo otimiza suas ações e seus custos. Nenhum governo dispõe de tempo e recursos para atender milhares de firmas individualmente;

• Novos papéis: agentes do governo podem desempenhar o papel de Brokers, identificando problemas e oportunidades para grupos de firmas;

• Atenção à economia global: a competição não se limita mais a uma região, mas dá-se entre países e, às vezes, entre continentes inteiros.

2.4. CONCLUSÃO

Esta revisão teve a intenção de apresentar os conceitos teóricos empregados na sustentação dos três pilares nos quais se baseia esta pesquisa. O primeiro deles, avaliação do Ambiente Externo e seu impacto sobre as PMEs, exige conhecimento de conceitos como Domínio; Fronteira Organizacional e Atributos (Dimensões) do Ambiente. Com relação aos Atributos, esta revisão permitiu compreendê-los no contexto em que foram elaborados pelos cientistas organizacionais e proporcionou a formulação, no capítulo seguinte, das hipóteses transpostas. Tais hipóteses transpostas são: de Hostilidade como fator de incentivo à formação de redes; de necessidade de Consenso de Domínio; e de Adequação Estrutural ao aumento de Complexidade e Dinamismo.

A Teoria da Dependência de Recursos, revista no item 2.1.2, está no âmago das iniciativas interorganizacionais e das tentativas de gestão do Ambiente Externo por parte das PMEs, que vêm a dar suporte à proposta para promoção de desenvolvimento de Redes Flexíveis (item 4.3.3.).

Com relação à segunda coluna que sustenta a pesquisa, a elaboração de métodos para a formação e desenvolvimento de Redes Flexíveis, a Teoria do Aprendizado abordada no item 2.1.2., está por traz do Modelo Puxado pela Demanda (item 4.3.1.- e) na medida em que se espera que as demais firmas de determinada indústria imitem as firmas Alfas (firmas de elevado desempenho que são as primeiras a formarem rede, segundo este modelo) e venham a constituír Redes Flexíveis também (Isomorfismo Mimético). Os tipos de ligações apresentados (item 2.1.2. – b.1), com destaque para a interpenetração de fronteiras, representam artifícios estruturais amplamente empregados nos casos estudados de formação de Redes. A utilidade para a seqüência desta pesquisa das definições e classificações de Redes Flexíveis; das definições de Brokers, Facilitadores e Campeões; da descrição dos processo e da dinâmica de tais Redes; das breves apresentações das Redes Italianas; Nórdicas e Norte-Americanas, são óbvias. O leitor irá compreender melhor o valor deste conteúdo no capítulo quatro.

O texto sob o tópico “Estratégias Genéricas para Desenvolvimento Regional” busca lançar luzes sobre o interesse mostrado por vários governos (especialmente na Europa) em desenvolverem Redes Flexíveis como meio de obterem desenvolvimento regional endógeno. Relaciona-se com o terceiro pilar desta pesquisa (levantamento de ações e políticas de incentivo à construção de Redes Flexíveis) na medida em que contextualiza as Redes Flexíveis com agentes promotores de desenvolvimento regional, justificando, desse modo, o interesse do governo em envolver-se na promoção de Redes Flexíveis.

Assim, neste espaço procurou-se ressaltar a relação de tópicos deste capítulo dois com o restante da pesquisa. No capítulo seguinte, formula-se a hipótese básica e as hipóteses transpostas. Algum conteúdo teórico foi adicionado ao capítulo três com o objetivo de facilitar a fundamentação das hipóteses transpostas e para contextualizar o método de pesquisa escolhido – Método Delphi.

CAPÍTULO 3

FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES