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2.2. RELAÇÕES INTERORGANIZACIONAIS E REDES FLEXÍVEIS

2.2.10. INSTITUIÇÕES DE APOIO ÀS REDES FLEXÍVEIS

a. Organizações Patronais

Tais organizações têm sido reconhecidas como componentes importantes na promoção de desenvolvimento regional, abrangendo as funções: de exercício de influência política; de promoção de descentralização; de comunicação e prestação de serviços e de criação de consenso social.

• Exercício de influência política: as organizações de empregadores e os sindicatos dos comerciários representam um canal com poder potencial para influenciar, tanto o governo regional, quanto o federal. Uma das maneiras que estas instituições têm para influenciar o governo é representarem uma coalizão, à semelhança do processo descrito

por Cook & Barry (1995), já apresentado anteriormente. Um exemplo clássico de uma organização representando os pequenos empreendedores é a Confederação Nacional dos Artesãos (CNA) na Itália;

• Promoção de descentralização: tais organizações são veículos para iniciativas descentralizadoras. Elas permitem que aqueles com poder para tomarem decisões desçam ao nível do empreendedor. Uma organização de empreendedores pode não apenas representar os pontos de vista destes, mas também proporciona um fórum para discussão dos interesses e estratégias defendidas por eles;

• Comunicação e prestação de serviços: associações de empregados disseminam informações facilmente por estarem em contato com inúmeros empreendedores freqüentemente. Esta capacidade de comunicação ganha maior relevância, se as firmas membros estão espalhadas em uma grande área. Como prestadora de serviços, associações deste tipo realizam compras coletivas, pesquisam mercados no exterior, prestam consultoria sobre aspectos legais e fiscais e executam folhas de pagamentos. Também estão oferecendo treinamento, exibição e promoção de produtos. Pyke (1992) lembra que a CNA estava auxiliando a formação de um consórcio financeiro, na ocasião em que escreveu seu livro.

No modelo Italiano, dado ao avançado grau de desenvolvimento de suas instituições, como a CNA, a formação de redes é assistida por estas associações. Hill (1992) comenta que a CNA auxilia na formação de redes de três maneiras: (i) proporcionando um fórum neutro, onde os representantes das firmas de um mesmo setor podem se encontrar; (ii) mantendo cadastros dos produtos das diversas firmas, facilitando a um principal encontrar sub-contratados; (iii) como os gerentes que trabalham na CNA estão familiarizados com as firmas locais, eles podem atuar como Brokers na formação de novas redes.

• Criação de consenso social: tais associações podem se engajar em atividades como estabelecimento de salários e condições de trabalho e questões de desenvolvimento econômico e social. Estas organizações representam legitimamente uma parte importante da sociedade. Então os políticos, ao consultá-las, sabem se terão ou não apoio para suas iniciativas, de toda a comunidade por elas representadas. (Pyke, 1992)

b. Sindicato do Comércio e demais organizações de trabalhadores

Pyke defende que a condição dos trabalhadores em redes flexíveis de pequenas empresas demandam a formulação de novas políticas para os sindicatos. Como principal propulsora para formulação de novas políticas estão a fluidez da condição do trabalhador - que move- se de empreendedor para trabalhador e novamente para empregador em breves intervalos de tempo - e a flexibilidade que se exige dos trabalhadores, que em tais condições precisa ser polivalente. Desse modo, entende-se que os sindicatos podem funcionar como provedores alternativos de serviços, como difusores de avanços tecnológicos e práticas de trabalho, bem como coordenação ou assistência de programas de treinamento. Nas palavras de Kern & Sabel (1991, citado em Pyke, 1992: p. 38) [os sindicatos devem] “assumir a responsabilidade de fornecimento de trabalho habilitado”. Assim, além de envolverem-se em questões como seguro social e das condições de trabalho e salários, os sindicatos teriam um papel mais amplo, que pode incluir a participação no planejamento do desenvolvimento de sua indústria. “Tais instituições têm legitimidade para fornecer liderança dinâmica e, através da discussão e negociação tripartida, dar à industria a capacidade de melhoria contínua”. (Pyke, 1992: p. 40)

c. Outras Instituições

Mecanismos para aquisição de financiamentos

Mecanismos inovativos para obtenção de recursos podem ser criados, como empréstimos realizados em grupos de modo a reduzir os custos operacionais dos bancos. Além disso, as pequenas empresas podem garantir os empréstimos umas das outras, diminuindo o risco dos bancos. Casarotto & Pires (1998) descrevem o consórcio para garantia de crédito que obtém empréstimos a taxas menores que as praticadas no mercado e significativamente menores que as taxas que seriam obtidas por firmas isoladas. O consórcio intermedia as operações entre o banco e as empresas, preparando toda a documentação. A taxa de insolvência das pequenas firmas que se beneficiam deste tipo de arranjo no norte da Itália é

bastante baixa. Os autores ressaltam que a função do consórcio é a garantia de crédito e não a concessão de crédito, que é função dos bancos.

Tais autores comentam que no Brasil há recursos em abundância, porém caros. Se faz necessário a diminuição dos custos operacionais dos bancos e os consórcios para garantia de crédito são a resposta para este problema. Citam que há, no Brasil, o fundo de aval do Sebrae Nacional - FAMPE, que é um instrumento de garantia de crédito. Acrescentam a este o FGPC (Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade) que garante parte do financiamento obtido nos programas do BNDES. Concluem os autores que estes fundos de avais não contribuem com a diminuição da insolvência das pequenas e médias empresas, o que ocorrerá com a presença de mecanismos que incentivem a cooperação entre as firmas.

Instituições de marketing

É necessário que as pequenas empresas tenham contato direto com seu mercado para que o desenvolvimento regional, com base nos pequenos produtores, seja atingido. Esta ligação pequena firmas - mercado pode ser vista como uma política de intervenção que busca libertar as pequenas empresas da condição de subcontratadas das grandes firmas, tal como determinam as duas estratégicas genéricas apresentadas acima. Então consórcios de marketing e/ou valorização do produto podem promover o nome de suas localidades e estabelecerem padrões de qualidade (fornecendo certificados aos produtores), de modo que a região seja identificada pelo público por produzir determinado produto com qualidade, por exemplo, roupas fabricadas em Prato, na Itália. (Pyke, 1992; Casarotto & Pires, 1998).

Centros de design

Diferenciar o produto e mover-se para cima no mercado tem por base bons designs. Nas indústrias moveleira e de vestuário a capacidade de dar estilo e qualidade aos produtos é a maneira de se evitar a competição com base no custo. A melhoria no design é uma das iniciativas destinadas a agregar valor e elevar a competitividade. Então, centros de design

têm importante papel na promoção do desenvolvimento de certas indústrias, com relevante impacto sobre o desenvolvimento regional. (Pyke, 1992)

Centros de treinamento

Uma região na qual existam escolas técnicas e um ambiente no qual se valoriza a manufatura, é uma localidade que facilita o sucesso das redes flexíveis a longo prazo. Pyke cita exemplos de regiões nas quais os Centros de Treinamento ajudaram as indústrias a se modernizarem, a moverem-se para cima no mercado e a melhorarem a qualidade do pessoal recrutado. Tais centros também propiciaram a algumas firmas a se especializarem e a se apoiarem em outras, estimulando a cooperação. Pyke lembra que em regiões onde estas instituições não estão presentes, um caminho possível para melhorar a qualidade dos recursos humanos da região, é atrair uma grande firma que treine seu pessoal que, mais tarde, poderá abrir seus próprios negócios ou as pequenas firmas de região absorverão a mão-de-obra treinada excedente da grande empresa. Cabe enfatizar que a palavra treinamento não implica somente mão-de-obra, mas também se aplica ao desenvolvimento de capacidades de gerenciar pequenos negócios.

Centro Catalisador de Tecnologia

Casarotto & Pires (1998) descrevem uma empresa privada, caracterizada como Parque Científico e Tecnológico, que opera como um elo entre os centros de pesquisa, universidades e demais instituições com seus sócios - 30 empresas médias, associações e cooperativas de indústrias e produtores. Citam tais autores, em texto retirado do estatuto do Parque, que este “[é um] ponto de encontro e de estímulo entre as instituições, empresariado e a pesquisa científica e tecnológica”. O Centro Catalisador de Tecnologia “é um organismo de articulação de grande credibilidade”. (Casarotto & Pires, 1998: p. 129) com capacidade para alavancar projetos que, na ausência do Centro, seriam desperdiçados.