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2.2. RELAÇÕES INTERORGANIZACIONAIS E REDES FLEXÍVEIS

2.2.3. REDES FLEXÍVEIS

a. Definições

Bosworth & Rosenfeld (1993) escrevem a definição à qual chegaram um grupo de 28 especialistas reunidos em Aspen, Colorado, no verão de 1992. Afirmam que o termo empregado com mais freqüência para uma Rede de Cooperação Contingente é “Rede de Manufatura Flexível” ou, simplesmente, “Rede”. Entretanto “Rede” tem um significado amplo, sendo usada, por exemplo, nas áreas de telecomunicações e eletrônica. Alstyne (1997) apresenta uma definição comportamental, na qual uma “rede é um padrão de relações sociais de um conjunto de pessoas, posições, grupos ou organizações”(p. 4). Também cita uma definição do ponto de vista estratégico, na qual redes são arranjos organizacionais que visam obter vantagens competitivas. Mas, aqui adere-se à definição do grupo de Aspen:

“Uma rede envolve uma forma de comportamento associativo entre firmas, que as ajudam a expandirem seus mercados, aumentam suas produtividades ou agregação de valores, estimula o aprendizado e melhora suas posições de mercado em longo prazo” (Bosworth & Rosenfeld, 1993, p. 19)

b. Classificação das Redes Flexíveis

As redes podem ser classificadas segundo: seu objetivo (Produtora ou Criadora de Fatores; Redes Duras ou Leves); sua estrutura (República ou Reino; Vertical ou Horizontal) ou sua dinâmica (Estática ou Dinâmica).

Ø Quanto ao Objetivo (Cameron, 1993):

a) Criadora de Fatores: são as redes que têm por objetivo catalisar os esforços coletivos na criação de infra-estrutura adequada para uma determinada indústria. Associações comerciais fortes ou centros de serviços (em redes mais desenvolvidas), com o apoio do governo local e de universidades ( ou de outras instituições educacionais e de pesquisa) engajam-se em atividades como:

• Programas de aprendizes e de treinamento;

• Organização de centros para treinamento de pessoal;

• Desenvolvimento ou introdução de novos processos tecnológicos;

• Patrocínio de pesquisa em universidades ou em outras instituições capacitadas;

• Promoção de programas de qualidade e fornecimento de certificados;

• Levantamento de informações atualizadas e de uso específico da indústria em foco sobre competidores e mercados internacionais, bem como tendências tecnológicas e de mercado;

• Promoção de um diálogo mais intenso entre os membros da rede, permitindo maior partilha de informações através de um contato social mais denso. Redes formadas desta maneira são entendidas como redes de conhecimento, onde os membros se reúnem buscando solucionar problemas comuns, incentivar a melhoria e o aprendizado contínuo, tendo por meio a troca de informações. (Bosworth & Rosenfeld, 1993)

A meta de uma rede Criadora de Fatores é tornar a rede competitiva em nível internacional, através da elevação do padrão de competição doméstico. Este tipo de rede existe no Norte da Itália, na Dinamarca, na Alemanha e no Japão, mas não tem similar Norte-Americano. É fundamental, na Europa, a atividade das Câmaras de Comércio e

Associações Comerciais na Criação de Fatores para as diferentes indústrias. Estes órgãos dão enfoques distintos e englobam uma gama de atividades maior que seus equivalentes Americanos. “Eles preocupam-se relativamente menos com condições de custos estáticas e muito mais com suas capacidades estratégicas.” (Cameron, 1993: p. 21)

b) Produtoras: são redes formadas por firmas que se engajam na produção conjunta e/ou desenvolvimento de atividades de marketing partilhadas. Cameron (1993) simplifica o termo mais preciso “redes de produção conjunta/marketing” para “Redes Produtoras”. Segundo Rabellotti (1998) os projetos executados em conjunto podem ser classificados em três formas:

• Especialização no Processo: cada firma executa uma fase do processo produtivo e o produto final é comercializado em conjunto: aqui a localização é fundamental, pois, a cada fase da produção o produto inacabado tem de se movimentar de uma firma para outra. O resultado é a melhoria da qualidade e a confiabilidade dos serviços, ocorrendo um movimento para cima no mercado;

• Especialização no Produto: toda uma gama de produtos é comercializada sob uma mesma marca de uma rede, porém cada firma especializa-se na produção de um determinado produto. A expectativa é a manufatura de produtos melhores, feitos em maior quantidade, bem como oferta de serviços melhores, resultando em um movimento para cima no mercado;

• Provisão de Instalações e Equipamentos comuns: os membros se reúnem para partilharem o local de instalação de um equipamento de uso comum ou dividirem o espaço para estocagem de componentes e materiais brutos.

Sommers (1998) relaciona dois tipos de redes que têm sido encorajadas nos Estados Unidos e Canadá: Redes Duras e Redes Leves.

I. Redes Duras: são pequenas empresas que cooperam, formando uma nova organização que produz e distribui um novo produto ou serviço, ou entra em um novo mercado. Para atingir seus objetivos, a nova organização (rede) faz uso da

capacidade especializada das pequenas firmas, combinadas do modo mais eficiente e eficaz possível.

II. Redes Leves: são grandes redes frouxas, constituídas por firmas em um mesmo setor, ou que estão concentradas em determinada área geográfica, desenhadas para responder a problemas econômicos utilizando estratégias de cooperação como programas de marketing; de treinamento; de compras conjuntas ou transferência de tecnologia.

As redes produtoras/duras tornaram-se conhecidas na América do Norte através do trabalho de Piore & Sabel (1984), o qual trata tais redes como redes de “Especialização Flexível”. Estes autores definem um contínuo de arranjos de redes em cujas extremidades estão os Reinos e as Repúblicas.

• Reinos: arranjo de pequenos fornecedores de grandes clientes, em uma cadeia de fornecedores vertical, cujo controle está nas mãos de uma grande companhia. A indústria automobilística representa um Reino pois requer vários componentes e sub-componentes manufaturados por diversas empresas que atendem a uma grande montadora que produz grandes volumes.

• Repúblicas: é o arranjo de pequenos fornecedores em redes horizontais, sem que haja o predomínio de uma determinada firma. Freqüentemente estes pequenos produtores estão concentrados geograficamente em uma pequena área. Com o amadurecimento deste tipo de rede, as firmas se rearranjam em padrões distintos para atender a diferentes demandas do mercado. A orientação estratégica fica a cargo do Broker, que articula os esforços de conquista e manutenção dos mercados.

As formas híbridas estão por todo o universo das Redes Flexíveis. Empresas líderes, ainda que pequenas e em posição de liderança temporária, fazem o papel de Broker na

produção de componentes de um bem para o qual somente ele é que tem acesso ao consumidor final. (Cameron, 1993)

• Redes Verticais: ocorrem quando firmas com produtos complementares ou em diferentes fases da cadeia produtiva se reúnem para a produção, marketing ou desenvolvimento de produtos.

• Redes Horizontais: neste tipo de rede as empresas cooperam com a partilha de maquinaria, compra de materiais brutos, demais recursos e aquisição de capitais. (Bosworth & Rosenfeld, 1993)

Ø Quanto ao tamanho: estabeleceu-se o seguinte critério para classificação de redes quanto ao tamanho:

• Duas a nove empresas: rede pequena;

• Dez a 49 empresas: rede média;

• 50 ou mais empresas: rede grande.

Redes Flutuantes são redes cuja a quantidade de membros varia freqüentemente.

c. Brokers, Facilitadores e Campeões

Brokers:

“Agentes intermediários - comumente chamados ‘Brokers’ - podem ser críticos na construção de novas redes. Brokers facilitam a colaboração. Eles ajudam as pequenas e médias empresas através das fases iniciais da construção da confiança, identificação de oportunidades e cultivo de projetos em colaboração. (...) Eles podem trabalhar [localizados] em associações comerciais, agencias governamentais, companhias consultoras, bancos, universidades, instituições financeiras ou outras firmas. Mas para ganhar confiança das pequenas e médias empresas, Brokers precisam agir somente

como agentes da rede e não terem interesses conflituosos.” (Bosworth & Rosenfeld, 1993: p. 4-5)

Assim, um Broker é, na essência, alguém que desempenha um papel semelhante a um gerente integrador, exercendo a função de “iniciador” do comportamento colaborativo.

Facilitadores:

São consultores especialistas na indústria em questão que prestam seus serviços sem, no entanto, pertencerem à rede ou a alguma organização que faça parte desta.

Campeão(ões):

Cook & Barry (1995) afirmam que um Campeão é uma organização (ou indivíduo) que canaliza e orienta os esforços para que o projeto em questão passe por todo processo necessário para torná-lo bem sucedido. O Campeão “assume o papel de organizador e dá apoio para formar e coordenar o esforço [para influenciar e obter resultados]”(p. 10). Sem o(s) Campeão(ões) a tendência pela manutenção da individualidade e autonomia das pequenas empresas predomina e o projeto pelo qual estas firmas se mobilizaram não é levado a bom termo.

É interessante que um Campeão possua especificidades que atraiam a formação de ligações interorganizacionais.

A maior parte dessas são elementos da estrutura organizacional:

• Tamanho;

• Posição financeira;

• Características do pessoal;

• Níveis de recursos.

Outras variáveis catalizadoras de ligações interorganizacionais são:

• Prestigio organizacional;

• Auspícios (proteção; patrocínios);

• Semelhança estrutural;

• Diferenciais de poder; (Laumann, Galaskiewicz & Mardsen, 1978)

• Avaliação positiva da qualidade do trabalho; (Benson, 1975)

• Existência de laços familiares.

Observa-se que a presença de algumas destas características em outras empresas, além do Campeão, também auxiliam na formação de redes.