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2.3. ESTRATÉGIAS GENÉRICAS PARA DESENVOLVIMENTO REGIONAL

2.3.1. O GOVERNO FEDERAL

A estratégia de desenvolvimento regional pela formação de redes flexíveis requer, no mínimo, que as regras e regulamentos de nível federal se harmonizem com as iniciativas tomadas a nível regional. Assim, a política de ajuda às PMEs não deve ser desarticulada, mas sim formar um conjunto coerente com a política de desenvolvimento geral.

Raud (1999) se pergunta: qual a política nacional de ajuda as PMEs? É possível adotar uma política única?

O Brasil é caracterizado por uma forte heterogeneidade regional. Políticas de desenvolvimento unicamente nacionais não possuem adaptabilidade aos diferentes

contextos socioculturais. A centralização administrativa no Brasil tem por conseqüência um elevado nível de burocratização que impõe dificuldades às PMEs. Entretanto, o governo central já apóia as PMEs através: dos bancos públicos que oferecem linhas de crédito especiais para as PMEs; da aprovação do estatuto das microempresas que entrou em vigor em 1984, reduzindo a carga de impostos. O Estado também pode tornar-se cliente das PMEs: estas podem se tornar fornecedoras de escolas; hospitais; órgãos públicos e as forças armadas, de modo que um Estado cliente das PMEs pode ser um instrumento de política industrial. No entanto, as PMEs necessitam de uma política específica, diferente das políticas para as grandes empresas, conforme atesta a experiência Italiana. As PMEs precisam de crédito; apoio à gestão; à modernização tecnológica; ao preparo da MDO; ao marketing, etc. O SEBRAE desempenha um importante papel neste sentido.

Raud defende uma política de industrialização descentralizada. A autora nota que uma estratégia de industrialização eficiente não parece ser exeqüível pelos canais burocráticos tradicionais e sim requer a participação das instituições locais que sirvam de intermediários entre o governo Federal e a sociedade. De fato, a situação mais favorável seria aquela na qual o agente de desenvolvimento local tivesse controle sobre, por exemplo, o uso da terra, taxas, transporte e outros, implicando em um grau elevado de descentralização (Pyke, 1992). Enquanto Raud reconhece a dificuldade de recriar artificialmente as condições de formação dos distritos industriais, afirma que o Estado pode incentivar a industrialização descentralizada. A autora destaca dois tipos de políticas:

Ø De acompanhamento (que atuam sobre os sistemas produtivos existentes, visando modernizá-los), que podem ser:

Ø Locais: Implantação de agencias de exportação, apoio à participação em feiras (internacionais inclusive), ações sobre o preparo da MDO, modernização tecnológica e melhoria da qualidade dos demais insumos e produtos.

Ø Estaduais: formação de redes nos pólos de modernização tecnológica, melhoria da infraestrutura de transporte; de educação; financeira e de comunicação.

Ø Federais: Implantação de centros regionais de ensino e pesquisa; garantia da infraestrutura nas áreas de transporte, educação, comunicação e financeira.

Ø De indução (que tem por objetivo incentivar a industrialização em espaços geográficos determinados fundamentado no emprego de recursos locais), que podem ser:

Ø Locais: Aplicação da poupança em empresas comunitárias e holdings; implantação de programas de crédito imobiliário; implantação de condomínios; apoio às cooperativas e associações; melhoria das condições de comercialização e transporte; formação de MDO em escolas técnicas (SENAI); apoio a agencias como SEBRAE; prestação de serviços como treinamento em administração de empresas; difusão de informações técnicas e comerciais.

Ø Estaduais: Fornecimento de crédito; estatuto da micro-empresa e apoio à difusão de tecnologias.

Ø Federais: Reforma agrária; delegação de poderes aos agentes de desenvolvimento regionais e locais; incentivo à criação e difusão de tecnologias.

Bosworth & Rosenfeld (1993) perguntam: o que pode fazer o governo federal [dos EEUU] para incentivar a colaboração entre as pequenas e médias empresas? Tal pergunta foi colocada ao grupo reunido em Aspen com o objetivo de discutir o fenômeno das redes flexíveis. Este grupo propõe sete passos a serem seguidos pelo governo federal para estimular a colaboração entre pequenas empresas:

1) Usar o poder de persuasão: os líderes políticos podem inspirar e influenciar agências e firmas para cooperarem simplesmente usando seu poder de persuasão. Podem discursar sobre os benefícios da formação de redes para as economias locais, ressaltando que cooperação não implica em anular a competição.

2) Estabelecer uma agenda para redes flexíveis: Uma possível criação de uma Comissão Nacional para Cooperação e Competitividade Industrial poderia levar os representantes das pequenas empresas a participarem do debate sobre a política industrial nacional, contribuindo para a elaboração de uma agenda que incentivasse a formação e desenvolvimento de redes flexíveis;

3) Educar seu pessoal: através da educação de seu próprio pessoal sobre a formação e operação das redes, o governo federal poderia contribuir com o fornecimento de Brokers ou disponibilizar informações sobre oportunidades de negócios para as pequenas firmas; 4) Destinar recursos financeiros para as redes: recursos federais poderiam ser destinados ao

incentivo da cooperação entre empresas. Programas de bolsas desafios destinadas a três ou mais firmas que se disponham a trabalharem juntas (similar aos programas realizados

na Europa) podem servir para complementar o capital necessário para implantação de uma rede;

5) Ignizar a ação regional: O governo federal poderia ofertar bolsas a agentes estaduais para estimular a colaboração inter-firmas;

6) Fazer demonstrações: exemplos de redes operando e produzindo desenvolvimento poderiam ser demonstradas e avaliadas pelo governo federal, disseminando conhecimento, incentivando a pesquisa de como estas funcionam;

7) Legalizá-las: esforços iniciais com intuito de formar redes são atrapalhados pelo emaranhado de leis que regulam a cooperação entre as empresas (como por exemplo as leis anti-trust nos EEUU), de modo que o governo federal poderia liderar um processo no legislativo, no sentido de reduzir possíveis restrições à colaboração entre estas.