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GRÁFICO 03 – INGRESSANTES/ ANO NO COMPLEXO PENAL DR JOÃO CHAVES – NATAL/RN

Fonte: Pesquisa de Campo / 2008.

Os números demonstram o crescimento do ingresso de mulheres ano a ano, desde 2004 a 2008 no lócus de nossa pesquisa, dando destaque ao grande percentual em 2007, pois 45% (quarenta e cinco), das presas do CPJC ingressaram

neste local, no ano passado. Os determinantes para este aumento significativo ao longo dos anos pode ser expresso pelas próprias “falas” das presas nas entrevistas, quando foram questionadas sobre os motivos que as levaram a cometer seus crimes e qual a sua opinião em relação à mulher e o meio criminal. O fato se entrelaça em um movimento de “conservação de costumes” e o movimento de emancipação das mulheres presentes na trajetória histórica de cada mulher, ou melhor, passa pela questão dos relacionamentos, dos laços afetivos com companheiro e/ ou cônjuges que estão envolvidos com a criminalidade e neste caso, quando a mulher se insere por este determinante reafirma a questão da submissão e a função histórica atribuída à mulher em relação ao homem, que é a questão do companheirismo e do próprio determinante afetivo. Outro determinante levantado foi a necessidade de sobrevivência.

Em outras palavras, ocorrem casos em que a mulher é pega junto com o companheiro (a) ou casos em que ao ver o companheiro ser preso, a atividade ilícita é “assumida” pela mulher enquanto forma de sobrevivência da própria família – pois representava a única atividade econômica para o sustento do lar – e até mesmo para custear os gastos com o encarceramento do companheiro, como advogado, alimentação e idas ao presídio para visitas. Segundo Salmasso (2004), na maioria dos casos o fator motivador é sempre a complementação de renda ou até mesmo sua obtenção, face ao nível de desemprego na classe em que estas se inserem.

“A mulher tem que mostrar que pode tanto quanto o homem. Eu via que eles podiam, eu também podia. Queria me sentir famosa” (Presa „Paula‟). Eu acho que as mulheres estão ficando mais independentes. Por outro lado, cometem por causa do marido. Mas também, há mulheres que assumem o „negócio‟ do marido que está preso. Não há mais sentimento, ela querem independente financeiramente. Geralmente, ela toma no irmão ou no marido o exemplo para ela seguir e fazer. A mulher quer tá na mesma escala que o homem (Relato da presa „ Joana‟ sobre a mulher e o crime).

O parceiro é o maior influente, mas a mulher deve mostrar que pode tanto quanto ele. É uma questão de „guerra de sexos‟. Ela ainda é dependente, sofre com a paixão, com a submissão e com a dominação do marido (Relato da presa „Maria‟ sobre a mulher e o crime).

Na minha opinião muitas que „tão‟ aqui, caí por causa dos maridos ou de más companhias, mau influência. Se eu fosse como elas, eu já tinha feito muitas desgraças. No meu caso, meu marido não tem culpa. Foi minha cunhada que me desafiou. (Relato da presa „Juliana‟ sobre a inserção da mulher no crime)

Quanto ao tipo de crime

Hoje, apesar dos valores morais e conservadores que ainda permeiam na sociedade nas relações sociais de gênero, sabemos que há ruptura com estereótipos criados para o ser homem e para o ser mulher e o próprio movimento feminista apresenta-se como uma trajetória histórica de luta em prol da equidade social entre os gêneros. Percebe-se que isso também se propaga no meio criminal. O próprio tipo de crime cometido por homens e mulheres seguem a questão da orientação de gênero, ou seja, existem os crimes que são mais freqüentes entre os homens, como os grandes roubos a bancos, os seqüestros, os assassinatos e os latrocínios, assim como, os mais freqüentes entre as mulheres, como o furto, o uso de drogas e entorpecentes. Este último, apesar de representar a maioria entre as mulheres do Complexo, é considerado um crime em comum entre os gêneros.

Do mesmo modo, que existe a divisão sexual do trabalho, também há uma divisão nas “funções” desenvolvidas por homens e mulheres no meio criminal, principalmente quando se fala nos crimes de associação ao tráfico, mais precisamente como participante de grupos ou associações que cometem o crime de tráfico. Nele a mulher geralmente desenvolve o papel de “aviãozinho” ou “mula”, sendo responsáveis pelo transporte da droga.

Provavelmente, o elemento que teve maior impacto sobre o processo de mudança na inserção da mulher no meio criminal e na expansão de práticas até então ocupadas e executadas pelo universo masculino, foi a inserção da mulher no tráfico de drogas e entorpecentes. Os relatos a seguir, de duas de nossas entrevistadas, que estão presas pelo crime de tráfico e associação ao tráfico, demonstram o seu envolvimento amoroso e afetivo como fator determinante para tal inserção, mas esconde por outro lado, um grande fato que é a questão da facilidade na obtenção de dinheiro por este caminho.

No caso de uma de nossas entrevistadas, que responde pelo crime de associação ao tráfico – artigo 35 da Lei 11343/06 - ao ser questionada sobre os motivos que a “levaram” a envolver-se com este crime, ela relatou como grande fator à questão de seu relacionamento afetivo, ou melhor, o seu relacionamento amoroso com um companheiro traficante. Ela também foi presa como “mula”:

Meu marido era usuário de maconha. Era pedreiro, mas como chefe de família sentiu a necessidade de ser „mula‟ pra sobreviver. Muita gente vem para esse mundo pra sobreviver (Relato de Maria).

Para Oliveira (s/d, p. 213), “as mulheres são encontradas em posições subalternas nos esquemas de tráfico, como os de „avião‟ e „mula‟, o que facilita a sua prisão pela polícia e, por conseqüência, sua inserção no sistema de justiça criminal”.

No tráfico, apesar da presença da mulher, a palavra do homem ainda é mais forte, é mais levada a sério. As mulheres não têm muito contato (Relato da presa Joana).

Ainda de acordo com Oliveira (ibidem), o tráfico de entorpecentes implica em uma organização da atividade do tipo empresarial, na qual a mulher se insere como mão-de-obra que conta com certos atrativos: rendimentos consideráveis, menos suspeição junto à polícia, maior interação com a comunidade, dentre outros. Enfim, tem-se aqui um exemplo claro da reunião de elementos considerados como tipicamente femininos – em consonância parcial com a criminologia tradicional e com fatores socioeconômicos.

Isso demonstra que a divisão sexual do trabalho como um todo – aqui incluo a divisão sexual do trabalho no meio criminal - é sempre indissociável das relações sociais entre homens e mulheres, que são relações desiguais, hierarquizadas, assimétricas e antagônicas. A divisão sexual do trabalho é, assim, indissociável das relações sociais entre homens e mulheres, que são relações de exploração e de opressão entre duas categorias de sexo socialmente construídas.

Apesar de já termos pontuado que a maior incidência de crimes cometidos por mulheres remete a questão do tráfico de drogas, o gráfico abaixo aponta para outros delitos também cometido pelas presas do Complexo Penal Dr. João Chaves.

GRÁFICO 04 – ARTIGOS/ CRIMES COMETIDOS PELAS PRESIDIÁRIAS DO