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3 VIOLÊNCIA E QUESTÃO SOCIAL NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO.

4 MULHERES E A CRIMINALIDADE: VÍTIMAS OU SUJEITOS?

4.2 PERCURSO METODOLÓGICO

4.2.1 Conhecendo o lócus da Pesquisa e os instrumentos utilizados na coleta de dados.

O lócus da pesquisa, o Complexo Penal Dr. João Chaves – Natal/RN68, está situado na Avenida João Medeiros Filho, nº 963 no bairro Potengi, zona norte de Natal (estrada da Redinha), foi selecionado como já assinalamos, se tratar de uma instituição, a qual já mantínhamos contato com a Assistente Social e estudávamos desde o ano de 2004, quando nos deparamos com a realidade vivenciada pelas presidiárias69, no estágio curricular do curso de Serviço Social da UFRN.

A instituição, conforme palavras da diretora do local, objetiva custodiar pessoas sentenciadas para penas privativas de liberdade que lhe foram incumbidas. Atrelada ao Ministério da Justiça possui como missão ressocializar o preso para que esse retorne a sociedade com suas normas vigentes. A sua natureza é pública e é dirigida a nível estadual pela Secretaria de Justiça e Cidadania (SEJUC) e mais diretamente pela Coordenação de Administração Penitenciária (COAP) e em âmbito Federal, ligada ao Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), financiado pelo Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN).

Em questão de Legislação, o Complexo atua de acordo com o Plano Nacional e Estadual de Segurança Pública; com a Lei de Execuções Penais n° 7.210 de 11 de julho de 1984 e com o Código Penal n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940.

A equipe técnica que serve a instituição engloba uma diretora formada em Serviço Social, um vice-diretor capitão da Polícia militar, vinte policiais militares que fazem a segurança externa, trabalhando em regime de 24/48h e, trinta e sete agentes penitenciários, sendo quinze do sexo feminino e vinte e dois do sexo

68 O local é repleto de diversidades, dinamicidade e correlações de forças, onde o Estado

tem todo o dever de garantir a chamada ressocialização ou reeducação das apenadas – porém percebemos na realidade institucional que nem os mínimos sociais previstos em lei são assegurados a esta demanda. Neste sentido, as leis que norteiam essa atuação, como a LEP – Lei de Execução Penal n° 7.210 de 11 de julho de 1984, Código Penal n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940, são constantemente desrespeitadas.

69 Segundo Salmasso (2004), todas as mulheres presidiárias são criminosas, pois quando

condenadas à pena de reclusão é por que foram indiciadas por algum tipo de delito, porém nem todas as mulheres criminosas são presidiárias, pois não são todos os tipos de crimes que tem como pena a reclusão.

masculino, que fazem a segurança interna do complexo, trabalhando em regime de 24/72h. Há ainda uma apenada atuando na limpeza como ASG70.

O setor de Serviço Social é denominado NAS-Núcleo de Assistência Social que possui somente, uma assistente social que, conforme os Artigos 22 e 23 da LEP, respaldada pelo código de Ética Profissional, atua no acolhimento, atendimento aos internos e familiares, elaboração de atestados de conduta, informação de processos, solicitação de auxilio reclusão, marcação de exames, preparação do preso para a sua liberdade, acompanhamento as permissões de saídas temporárias, entre outras atividades que compõe o cotidiano profissional.

Há também o NAM - Núcleo de Assistência Médica que é composto por 01 médico (clínico geral), 01 administrador e 04 auxiliares de enfermagem, de ambos os sexos, que trabalham à serviço da Secretaria Municipal de Saúde.

A instituição não possui a equipe completa para o CTC - Comissão Técnica de Classificação71, isto é, psicólogo, advogado, psiquiatra, possuindo somente a assistente social. Essa comissão teria como intuito, conforme o artigo 8º da LEP, classificar os apenados quanto a sua personalidade e antecedentes, com vistas a orientar a individualização da execução penal. A equipe deve, portanto fazer uma triagem para classificação do apenado segundo personalidade, perfil criminológico, etc. Na realidade do Complexo Penal Dr. João Chaves, na inexistência dessa equipe multiprofissional e da própria precariedade da infra-estrutura do local, a separação é feita apenas para apenados que possuem rixas com os demais. Anteriormente, quando existia o pavilhão fechado masculino, desativado em 23 de março de 2006, eram separados dos demais, também os condenados acusados de crimes contra a moral e bons costumes.

Diante de tal realidade institucional, a idéia de trabalhar com as mulheres enquanto sujeito ativo da criminalidade partiu de uma pesquisa empírica no lócus de estágio ainda na graduação, quando foi observado que a rotatividade e número geral de presas aumentava a cada semestre. Quando entramos em estágio em 2004.1,

70 Segundo o Artigo 126/LEP (1984), quem cumpre a pena em regime fechado ou semi-

aberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena. Sendo, a contagem do tempo para o fim deste artigo feita à razão de um dia de pena para três de trabalho.

71 Em virtude desta ausência, a Assistente Social, atua conjuntamente com a equipe do

NAM, formando uma equipe interdisciplinar, bem como realiza diversos encaminhamentos, para o melhor alcance das demandas e objetivos institucionais.

tínhamos em torno de 60 mulheres no presídio divididas entre os mais variados crimes, penas e regimes. Hoje, ano de 2008, este número já ultrapassa os 80.

Outro fator também observado no momento de estágio no Serviço Social da Instituição foi o grande número de presas que estavam encarceradas em virtude das relações conjugais e/ou afetivas com companheiros e/ou cônjuges que já havia cometido algum crime. Este número passava de 40% (quarenta por cento) das 60 (sessenta) mulheres que estavam detidas.

Também não poderíamos deixar de mencionar que é uma demanda para o Serviço Social, compreender e analisar a realidade destas mulheres, não partindo de uma visão fatalista que as criminaliza, mas de um olhar sobre o social, o econômico e o político, aos quais estas presas estavam inseridas antes de cometerem seus crimes e antes de serem encarceradas. Não é interessante para nós, profissionais do Serviço Social, reproduzir a visão do senso comum em relação aos presos (as) que habitam as prisões, visão esta marcada por estereótipos e preconceitos, quando se observa e acusa as pessoas apenas pelo crime cometido, mas, não se vê os determinantes que os (as) levaram a cometer tal crime.

Partindo destas inquietações sobre a realidade prisional do Complexo Penal, ou melhor, da realidade prisional vivenciada por estas mulheres que habitam o pavilhão feminino do Complexo Penal, resolvemos investigar tais determinantes, partindo de um olhar sobre a questão de gênero em virtude dos números outrora citados e da própria realidade socioeconômica em que vive a imensa parcela da sociedade atual.

Quanto à amostra, esta foi delimitada em conjunto com a orientadora, a partir de diálogos nas orientações. Em conjunto foram definidos critérios (qualitativos) para a escolha das mulheres que seriam entrevistadas. Como primeiro critério estabeleceu-se que seriam aquelas que estivessem em regime fechado, pois as que encontram-se em regime semi-aberto, geralmente saem durante o dia e voltam somente a noite para pernoitar. Tal fato inviabilizaria a coleta de dados, pois só poderíamos ir a instituição durante o dia. Como segundo critério foram levantados pré-requisitos, como a questão da raça/etnia, a faixa etária, a orientação sexual, o tipo de crime a questão da maternidade e se era reincidente. Critérios estes que nos traria respostas para alcançarmos os objetivos da pesquisa, que seria conhecer a realidade vivenciada pelas mulheres antes da entrada no presídio, ou seja,

investigar os determinantes que as influenciaram a cometerem crimes, sob o olhar das relações sociais de gênero.

Outro fator preponderante para a seleção qualitativa e para a definição do número de mulheres foi à questão de como seriam analisados os dados coletados e de que forma os números seriam relevantes para a pesquisa. Portanto, partimos de um entendimento de que aplicaríamos a metodologia da história de vida destas mulheres. Tal forma também foi sugerida pela banca, durante o exame de qualificação.

Contudo, considerando o tempo máximo para a entrega da dissertação e o que faltava a ser corrigido e escrito para finalizar o trabalho, achamos mais viável não mais utilizar o procedimento de “história de vida”, como pensamos inicialmente no planejamento da pesquisa e como foi sugerido na banca da qualificação do projeto de dissertação. Optamos por entrevistas que possibilitassem reconstruir a história de vida das mulheres presidiárias escolhidas para serem entrevistadas,

Após a definição destes critérios a lista foi encaminhada para a Assistente Social do presídio, onde foi debatido a possibilidade de serem entrevistadas 8 (oito) mulheres, que respondessem a esse critérios levantados. Diante do conhecimento da realidade institucional e do público alvo da instituição, a profissional sugeriu reduzir o número para 6 mulheres, tendo em vista que alguns critérios eram comuns entre algumas delas, por exemplo, tinha uma que se encaixava nos critérios de reincidente, homossexual e traficante.

Após estas análises ficou definido que o trabalho seria realizado com um universo de 6 (seis) mulheres, que respondessem aos critérios levantados e, ao mesmo tempo, possibilitassem diversas situações de vida, tornando a amostra o mais plural possível. Frente a isto escolheu-se: 1 (uma) negra, 1(uma) reincidente, 1 (uma) que fosse mãe recente, 1(uma) “famosa” (cujo crime tivesse grande repercussão pública), 1 (uma) com a idade mais elevada, 1(uma) femícida e/ou homicida (atendendo ao critério do tipo do crime e por ser considerado um crime não “tradicional” ).

Quanto à coleta de dados partimos de uma pesquisa quantitativa e qualitativa, ressaltando que números por si só não representam o real, é necessária uma abordagem qualitativa tendo em vista a complexidade do objeto estudado. Optamos por realizar o trabalho de coleta de dados no lócus de pesquisa e utilizamos os seguintes instrumentos metodológicos:

Observação: Inicialmente, pensou-se em começar o contato com estas

mulheres através da observação do dia-a-dia, para manter um contato prévio com elas e possibilitar uma melhor aproximação para o momento das entrevistas. Este seria um momento de também coletar dados através de observações empíricas da realidade das presas no presídio. Porém, essa abordagem não foi possível, em virtude da questão do acesso as celas das presas que ficam restritas apenas as agentes penitenciarias, por ordem da direção e como medida de segurança. A imagem que tivemos do dia-a-dia destas mulheres acabou resumindo-se no relato das próprias apenadas sobre o cotidiano na prisão, e pelo conhecimento já adquirido da dinâmica institucional que já vinha sendo estudada desde 2004 e pelas próprias informações prestadas pela Assistente Social;

Análise documental: que seria a análise dos documentos que contém

informações socioeconômicas e processuais das presidiárias. Estes são os seguintes: a ficha da Avaliação Social (ANEXO A) - questionário aplicado pela Assistente Social, quando a presa entra no presídio, que aborda questões de ordem familiar, como filiação, nome completo, endereço, número de filhos, cônjuge, artigo de acordo com o crime cometido, tempo previsto para o cumprimento da pena, regime, origem (se vem de outro estado ou de outro estabelecimento prisional), documentos pessoais, dentre outros dados; a ficha de visita íntima (ANEXO B) que tem o cadastro do companheiro (a) e/ ou cônjuge que a visita nas quartas-feiras de todas as semanas (dia da “visita íntima”), cadastro também feito pelo Serviço Social, que nós ofereceu alguns dados sobre a relação afetiva; o senso penitenciário

nacional, fornecido pelo site do DEPEN e o próprio senso institucional, fornecido

pela diretoria do Complexo, que abordam o número de mulheres presas, artigos, penas, regime e tempo de prisão (dados estes demonstrados nas tabelas e gráficos do item 5 (cinco));

Entrevista semi-estruturada (APÊNDICE A): instrumento utilizado como

forma de manter um contato direto com a presa, abordando questões abertas sobre a trajetória de vida de cada presa entrevistada, desde a infância da presa até o crime cometido e sua vivência no presídio. Entregou-se uma cópia para a Assistente Social da instituição;

4.2.2 A Execução da Pesquisa: Quanto à coleta, análise e as dificuldades encontradas.

Quanto à análise dos dados coletados utilizamos tabelas e gráficos como forma de expor os números em relação à quantidade de mulheres presas e seus respectivos perfis, como faixa etária, localização da moradia, salário, profissão, número de filhos, companheiros (as) e/ou cônjuge, artigo, regime e tempo de prisão. Para o perfil geral da população carcerária feminina estes dados foram expostos em percentagem. Quanto o perfil específico de nossas entrevistadas, foram utilizados números relativos. Para leitura destes dados quantitativos utilizamos uma abordagem qualitativa, a partir de uma leitura e reflexão crítica sobre este real.

Foram feitos contatos prévios com a Assistente Social - que nos acolheu muito bem tendo em vista os “laços de amizades” construídos durante estes quatro anos - e visitas a instituição para a coleta dos documentos sobre as presas e para levar um cronograma elaborado com as prováveis datas para execução das entrevistas.

O mesmo cronograma foi entregue a direção do presídio, por intermédio da Assistente Social. A profissional, no momento, falou da nossa relação desde a graduação quando ela foi nossa orientadora de campo e do trabalho desenvolvido neste período, assim como, do contato que continuou quando nos tornamos professora substituta do Departamento de Serviço Social e acompanhamos, por dois anos, enquanto orientadora de ensino do núcleo de segurança pública e sócio- jurídico, alunas em estágio obrigatório. Na ocasião, a Diretora, que também é Assistente Social, fez perguntas quanto à execução das entrevistas (como seria a abordagem e o que tipo de informações que queria coletar) e que objetivos teriam o trabalho.

Pelo cronograma ficou definido que as entrevistas começariam no dia 07 de maio de 2008 e finalizaria no dia 25 de junho de 2008, definindo - se o nome da presa de cada dia e ocorrendo todas as quartas-feiras, dia em que não tínhamos nenhuma atividade no trabalho e dia em que a Assistente Social considerava “mais calmo” no presídio. Apesar de ser o “dia da visita íntima”, entre nossas entrevistadas nenhuma recebia visita de cônjuge e/ou companheiro e também não desempenhavam nenhuma atividade, pois tem dias, como a segunda que é reservada para os cultos religiosos, outros para as faxinas das celas etc.

Apesar de todo o planejamento, sempre ocorre contra-tempos e adversidades no cotidiano da execução da pesquisa. A primeira dificuldade se deu quando retornei ao presídio para começar as entrevistas. A diretora estava de licença - maternidade e quem assumiu o seu lugar foi um capitão da Polícia militar do estado. Novamente, a Assistente Social, me apresentou ao substituto e entreguei mais uma vez o cronograma de entrevista.

Apesar do primeiro dia ter correspondido ao do cronograma, a presa que iríamos entrevistar estava na chamada “cela do castigo” por ter sido pega no presídio portando um celular, ato considerado como falta grave para o preso e que prevê castigo. Esta presa seria considerada a “famosa” do presídio, que acabou por ser a última a ser entrevistada, pois passou duas semanas neste castigo e quando saiu participou de uma “rebelião” no dia 27/05/2008 e voltou para o castigo. Segundo a mídia, a rebelião ocorreu como um protesto das apenadas contra a “entrada” de uma presa que vinha transferida de uma delegacia e se tinha informação – pois esta já havia cumprido pena no Complexo - que ela roubava e não respeitava o “código de ética” das presas. Na ocasião, aproveitaram para reivindicar direitos violados, como a má alimentação e as condições de salubridade. Em conversa informal com a Assistente Social do presídio, tivemos a informação que já se tratava de “rixas” antigas de algumas presas com esta “novata” e que esta última mantinha uma relação homo-afetivo com uma apenada da João Chaves, e na semana anterior esta companheira tinha entrado em conflito com algumas presas e que por medo de um conflito maior e de vingança por parte da “novata”, acharam melhor pedir sua transferência.

Enfim, acabamos por realizar a primeira entrevista, no dia 07/05/2005, com uma apenada que apesar de estar “trancada” – gíria usada pelas presas para afirmar que estão em regime fechado – ela ainda é provisória, assim como outras que foram entrevistadas, ou seja, não tinha ido a julgamento, e isso já faz mais de 1 (um) ano. A mesma estava presa por seqüestro, crime considerado “não-tradicional” no universo da criminalidade feminina.

Depois desta entrevista, só retornamos ao presídio no dia 28/05/2005, pois no dia 21/08/2008, não houve entrevista por motivos de trabalho. No dia 28 entrevistamos a apenada prevista no cronograma e que estava presa por femícidio, sendo também considerada provisória.

Entre os dias 04 (quatro) e 11 (onze) de junho não houve entrevistas porque a Assistente Social adoeceu e sem ela no local, não temos permissão de manter contato com as agentes para retirar as presas das celas, por ordem da direção e por medida de precaução, tendo em vista que a confiança depositada pelas presas na hora das entrevistas, era por causa da relação de confiança mantida com a Assistente Social do presídio, pois esta já tem mais de 10 (dez) anos de experiência na área. Sempre antes das entrevistas, ela nos apresentava como profissional e professora da UFRN, assim como, companheiras de trabalho e garantia a presa todo o sigilo profissional. Essa questão do sigilo era tão intensa, que era comum no início de todas as entrevistas, quando eu perguntava se poderia gravar a conversa, sempre ouvia frases, em tom crítico, do tipo: “minha vida é um livro aberto, não tenho o que esconder” ou até “quem não deve não teme”. Da presa, que era considerada “famosa” pela repercussão do ato cometido na mídia, ouvi: “gostaria que estas informações não vazassem, a mídia ia adorar meu depoimento”. O tempo todo ela frisava esta frase.

As falas de arrependimento também eram muito fortes, tipo: “falar do meu crime é a parte mais difícil”. Quanto a isso, nós sempre deixávamos claro que elas só falassem o que pudessem e que sentissem segurança em nos confessar à informação e que aquele momento não se tratava de um interrogatório policial. Muitas tiveram receio em virtude das agressões sofridas pela polícia quando confessaram seus crimes, outras até pelo tipo de ato cometido, como a questão do tráfico de drogas, que geralmente, está ligado a um grupo organizado com um líder. Isso faz com que elas tenham medo de represálias. Isto foi observado e “alertado” pela assistente social, quando entrevistamos a presa por tráfico.

Reportando-se, aos problemas quanto a esta questão das gravações, acabamos perdendo 3 (três) das seis entrevistas realizadas, pois realizamos as gravações em equipamento emprestado e os dados sumiram. Esse fato trouxe déficits negativos na qualidade dos relatos das falas das presas e na própria análise dos dados, tendo em vista, que apesar de termos copiado alguns trechos das falas na hora das entrevistas, é notório que sem as respostas na íntegra ficou mais restrito a exposição dos dados. Outra dificuldade quanto às entrevistas, foi não termos conseguido um profissional disponível para as transcrições. Os que entramos em contato estavam com compromisso e a última pessoa contactada, iria passar por uma cirurgia oftalmológica e não poderia transcrever. Uma amiga, também aluna do

mestrado, se propôs a transcrevê-las, mas teve problemas com um programa do computador e não conseguiu “abrir” as falas. Enfim, terminamos assumindo esta tarefa tendo em vista o tempo para a finalização do trabalho. Por outro lado, tornou- se uma tarefa a mais na execução desta dissertação, afetando inclusive o prazo de entrega do terceiro capítulo para a correção.

Quanto ao andamento do cronograma, só voltamos à instituição no dia 18/06/2008, quando tivemos mais uma mudança no planejamento. A presa selecionada para entrevista do dia, havia recebido liberdade condicional e tinha saído naquela semana do presídio. No momento, a Assistente Social, convidou outra apenada, com o perfil que queríamos trabalhar no dia, que seria a questão da orientação sexual e ela aceitou. Quanto a sua entrevista, foi considerada um pouco “vaga”, tendo em vista, que esta presa é uma das mais antigas no presídio, cumprindo pena desde a década de 1990, com suas “entradas e reincidências”, por tráfico de drogas. Por esse motivo, também é intitulada pelas outras presas como uma das “chefes” do local.

Só retornamos ao presídio após cerca de 30 dias, pois foi final de semestre na UFRN, e os trabalhos intensificaram-se. Comuniquei o meu afastamento a Assistente Social e só retornei no dia 16/07/2008. O cronograma, já havia sido deixado de lado, e partimos para entrevistar a presa que estava marcada para o dia 21 de maio de 2008. Esta é mãe e negra e está próximo de ver o seu filho sair do presídio, já que, é previsto pela Lei de Execução Penal, que o filho só fica com a mãe durante os seus primeiros seis meses de vida, ficando sob a guarda, após este período, de parentes da mãe ou vai para uma casa abrigo quando esta não tem