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GRÁFICO 8 – NÚMERO DE FILHOS DAS PRESIDIÁRIAS DO COMPLEXO PENAL DR JOÃO CHAVES – NATAL/RN

Apesar do Gráfico 06 apontar uma média relativa entre as que têm 1 (um), 2 (dois) e 3 (três) filhos, o fato de 10% (dez por cento) das mulheres ter 6 (seis) filhos ou mais, justifica, o que Oliveira (s/d, p. 211), denuncia: “o retrato de deficiência das políticas públicas de controle de natalidade”.

De modo geral, tendo em vista o perfil, apresentado destas mulheres do Complexo Penal Dr. João Chaves – Natal/RN, indicam que a sua inserção no meio criminal é motivada por determinantes que entrelaçam as dificuldades socioeconômicas com as questões afetivas. Seja, quando elas cometem um crime em conjunto com seu companheiro, mostrando um apoio mútuo entre o casal, seja quando elas cometem para “mostrar” que são iguais aos homens e que também tem capacidade de transgredir a ordem social e romper com os esteriótipos que mulher é um ser ontologicamente bom. Ou ainda quando matam para proteger de calúnias o seu casamento, ou por uma questão socioeconômica de sobrevivência.

Esse novo contexto corresponde a algo que poderia ser denominado de “igualdade na criminalidade”, isto é, homens e mulheres [...] apresentariam participação assemelhada num horizonte mais amplo de fenômenos criminológicos, sejam eles violentos ou não. A palavra chave dessa mudança de eixo na criminalidade feminina residiria, portanto, no status socioeconômico da mulher na sociedade atual, o que pode estar relacionado [...] com as visíveis mudanças na vida social em conseqüência da maior penetração da mulher em diversos segmentos das atividades humanas, mas principalmente, no mercado de trabalho. [...] O que se poderia esperar desse quadro, considerando a criminalidade geral não deixa de ser um retrato do modo de vida em sociedade, é que o perfil da mulher envolvida com o crime também sofresse alterações profundas (OLIVEIRA, s/d, 210-211).

A Infância e suas relações afetivo-conjugais.

Diante de tal realidade, não podemos deixar de fazer menção, de forma breve, a história de vida destas mulheres, no que tange as suas infâncias e suas relações afetivas, esta última já pontuda anteriormente como um dos fatores determinantes para a inserção da mulher no meio criminal.

De acordo com Magalhães (2001, p. 102), “as mulheres encarceradas, geralmente descrevem sua infância e adolescência marcadas por dificuldades”. São apontados problemas sociais como violência sexual, violência familiar e de gênero, drogas, abandono, fome, miséria, falta ou baixa de escolaridade, famílias

numerosas, pais desempregados ou até mesmo trabalhando “no mundo do crime”, como forma de garantir a sobrevivência.

Quanto a realidade de nossas 6 (seis) entrevistadas iremos relatar um pouco de suas infâncias e adolescência.

A nossa primeira entrevistada, „Joana‟, recebeu educação de seus avós maternos: “Sempre me senti a xodó dos meus avos”. Viveu sua infância e adolescência em bairros periféricos da Zona Oeste da Capital. Na adolescência, começou a trabalhar muito jovem, aos 15 (quinze) anos de idade para ajudar sua mãe, que é funcionaria pública e seu pai que é motorista de ônibus.

Nunca morei como os meus pais por ter uma relação conflituosa com os meus 4 (quatro) irmãos (ãs), porque mesmo longe deles sempre eu os ajudei e eles não (Relato de Joana).

Sobre esta questão da entrada jovem no mercado de trabalho, podemos mencionar que é um ponto negativo, tendo em vista que muitas abandonam a escola ou ainda tentam conciliar jornadas duplas, entre trabalho e escola, o que prejudica o seu desempenho e resulta na má qualidade da formação. Outra conseqüência é a questão do próprio futuro destas meninas, pois acabam se inserindo no mercado informal, com baixa remuneração e sem direitos trabalhistas assegurados.

Quanto sua vida afetiva, sempre foi marcada por conflitos nos seus relacionamentos. Aos 16 (dezesseis) anos saiu de casa pela primeira vez e foi morar com o namorado, em virtude da imaturidade viu que a vida conjugal não era o que esperava, então voltou para casa. Aos 19 (dezenove) anos teve o seu segundo relacionamento afetivo, que durou 4 (quatro) anos e teve fim por causa do alcoolismo do seu marido. O último companheiro, o qual foi preso juntamente com ela pelo crime de seqüestro, apesar de afirmar que era um bom relacionamento, acaba contradizendo-se ao afirmar que o mesmo era muito ciumento e fazia o estilo: “entre tapas e beijos”, ou melhor, quando a violentava trazia flores ou chocolates. Mas ela afirma, que o pior problema era a situação financeira.

Minha situação financeira piorou com o meu marido atual, chegamos a ficar dias sem comer, eu, ele e as crianças, mas superamos juntos (Relato de Joana).

O afeto que as mulheres sentem por seus namorados, maridos ou companheiros escondem e dificultam quanto à violência sexual pode ser injusta e desvalorizar a mulher. Há a violência domestica, os medos que cercam as mulheres com relação a menstruação, a gravidez, o parto. Existem ainda as dificuldades na criação e cuidado com as crianças (CAMURÇA & GOURVEIA, 1997, P. 15).

Para se evitar esse tipo de visão que as marcas das violências sofridas no cotidiano se transformem em gestos de carinho ou em simples trocas de presentes, é que Saffioti (2004), afirma as diversas expressões da violência, principalmente, contra a mulher devem sair do patamar de individualidade e passar a ser encarada como violação dos direitos humanos, exigindo, claro, uma releitura desses direitos, até então pensado para atender aos direitos dos homens.

A nossa segunda entrevistada, „Juliana‟, retrata a sua infância e adolescência nas ruas da capital, sob um regime de muita violência e drogas. Aos 10 (dez) anos saiu da casa para fugir dos maus-tratos sofridos pela madrasta. Foi viver nas ruas - “lá vi muitas crianças morrerem”. Aos 11 (onze) anos passou a fumar maconha e por medo de ser estuprada decidiu manter relações sexuais com um homem mais velho. Conheceu o seu primeiro marido nas ruas.

Vivi com esse rapaz nove anos, eu o deixei porque ele roubava, eu dizia muito a ele: „roubar pai de família é feio, se quer roubar alguém roube um banco‟(Relato de Juliana).

Segundo Baierl (2004), o traficante tem nas crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade social e pessoal, o seu exército, que através do poder das seduções e, principalmente, pela total ausência das políticas públicas voltadas para esse segmento, acabam vendo no tráfico ou nas drogas uma alternativa. As crianças são usadas pelos traficantes como os chamados “aviãozinho”, por não poderem ser presas.

Depois deste meu companheiro, conheci o meu atual marido. Ele era um homem bom, só mudava quando bebia ou usava drogas(Relato de Juliana).

Para explicar tal fato mencionamos a questão dos atos de potência e impotência já discutidos no capítulo II deste trabalho. O que podemos acrescentar aqui é a questão da co-dependência, pois a relação marcada pela violência, segundo Saffioti (2004), tornou-se um vício, é como se fosse um ato inseparável da relação.

Quanto à questão do seu acirramento com as drogas, a presa afirma que:

Hoje tenho trinta e seis anos, mas parei, depois que entrei aqui. Aos vinte e oito anos, passei a usar o craque e o mesclado. No início eu tive medo de usar estas drogas pesadas, via como as meninas bonitas ficavam feias(Ibidem).

A realidade da nossa terceira entrevistada, „Josefa‟, tem um determinante a mais em sua vida também marcada pelas drogas e pela violência intrafamiliar. A entrevistada é homossexual, e ao ser entrevistada, o tempo inteiro se intitula enquanto indivíduo do sexo masculino, só respondia aos questionamentos flexionando as palavras para o gênero masculino.

Diferente de muitas no presídio que descobrem os seus laços homoafetivos após o cárcere, a entrevistada aponta que despertou para essas relações aos 12 (doze) anos de idade, quando se sentiu atraída afetivamente por uma colega da escola. Em poucas palavras, afirmou que sua família descobriu quando ela tinha dezoito anos e depois disso ela saiu de casa e foi viver com uma companheira durante três anos e seis meses. Apesar de ser bem resolvida quanto a sua orientação sexual, a nossa entrevistada, aponta que sofreu diversas formas de discriminação – afirmando os preceitos funcionalistas da sociedade conservadora - , a começar pelo seu próprio ambiente familiar.

As normas e valores também têm um papel muito importante nas relações de gênero, elas dizem não só o que devemos ou não fazer, separando o que é de mulher e o que é de homem, mas também valorizam de maneira diferenciada pessoas e suas ações. Geralmente a sociedade valoriza quem segue as normas bem direitinhas, a mulher ou homem quando fazem ou pensam alguma coisa diferente, são discriminados, considerados „errados‟(CAMURÇA & GOURVEIA, 1997, P. 23).

Quanto a sua infância e adolescência, conviveu com as mais variadas formas de violência em seu lar, principalmente a violência de gênero contra a sua mãe e com o uso de drogas aos 9 (nove) anos de idade. “O meu pai batia em minha mãe e eu tomava a frente” (Relato de Josefa). E aos 15 (quinze) anos, deu-se início a sua trajetória no tráfico de drogas.

A forma de sedução da criança e adolescente inicia-se pelo consumo da droga, através de processos que envolvem criar vínculos, criar dependência através do prazer que, aos poucos, se transforma em relação de medo e de busca de status. Essa fase do processo leva o adolescente e o jovem para outras esferas de ações ilícitas: de usuário para trabalhador do tráfico e da sustentação do tráfico (BAIERL, 2004, p. 144).

A nossa quarta entrevistada, „Maria‟, afirma também uma infância e adolescência marcada pelas drogas e pela violência em suas mais variadas expressões.

Minha mãe mesmo foi minha avô. Meu pai foi assassinado quando eu tinha 5 (cinco) anos e minha mãe mesmo, era usuária de drogas, eu a considerava como uma irmã mais velha (Relato de Maria).

Ao todo ela afirma ser 6 (seis) irmãos em sua família, um sendo usuário de drogas. “Aos 15 anos minha mãe verdadeira perdeu a nossa guarda e minha tia acabou ficando com nossa tutela”. A entrevistada também é uma usuária.

Quanto às relações afetivas, teve três filhos. O primeiro aos 17 (dezessete) anos com uma namorado, o segundo sofreu um aborto em virtude de agressões do seu segundo companheiro e o terceiro filho, o qual está com ela no presídio é de seu terceiro marido que também está preso por transporte de drogas. Um fato importante é a questão da prostituição na vida desta mulher, apesar dela achar que isso era uma forma de tirar proveito financeiro de seus relacionamentos afetivos e não uma forma de estar se prostituindo:

Entre um marido e outro os namorados que eu arranjava, pagava para ficar comigo, o meu segundo marido foi um deles (Relato de Maria).

Quanto à quinta entrevistada, não há o que mencionarmos tendo em vista que foi uma das quais perdemos a entrevista e o que temos escrito sobre esta não refere-se a sua infância nem as suas relações afetivas.

A nossa última entrevistada, diferente da realidade de todas as outras relatadas, passou por uma vida socioeconômica marcada por boas escolas – estava fazendo cursinho pré-vestibular quando foi presa -, apesar de morar com a avó paterna, julga não ter problema de afetividade com os pais que eram separados, era desportista e freqüentava bons locais da classe média da capital, como boates e bares badalados.

Esse processo envolve não só o medo, mas é permeado de prazer, desejos e fascínios de conseguir acesso aos bens de consumo e de ter poder e status propiciados pelo mundo do tráfico e da marginalidade. É profundamente sedutor para adolescentes e jovens (BAIERL, 2004, p. 144).

Paula foge das prerrogativas e dos mitos que condicionam a questão da pobreza à criminalidade, assim como também aponta que não podemos resumir os estudo sobre tal categoria a uma simples análise econômica, é uma questão muito complexa, que permeia relações afetivas, história de vida familiar, o social, o econômico e até mesmo a questão política. “Imputar aos pobres uma cultura da violência significa pré-conceito e não conceito” (SAFFIOTI, 2004, p. 83).

O dia-a-dia no Pavilhão Feminino do Complexo Penal Dr. João Chaves – Natal/RN sob o olhar das apenadas

As nossas 6 (seis) entrevistadas foi lançado o seguinte questionamento: como é o seu dia-a-dia na prisão, já sofreu algum tipo de violência e como você lida e/ou lidou com isso?

A resposta foi unânime: entre todas as entrevistadas foi afirmado que a maior forma de violência vivenciada durante o tempo em que estão presas é a ausência do estado em relação ao sistema carcerário.

A violência aqui pra mim é tudo, principalmente, porque quero trabalhar e o governo não oferece isso a todos os presos (Relato de Josefa).

O governo só é bom quando querem voto e no começo do mandato. Depois... o governo não dá chances aos presos. Não dá trabalho, sem ele como vou comer? Já vi pai de família sendo preso por crimes simples e o governo o marca para sempre, não dá outra chance. O governo promete e não cumpre. Enquanto isso ele vai subindo e a gente vai ficando mais pobre. O governo não é feliz, ele pode até ter dinheiro, mas é às custas de roubos contra os pobres (Relato de Juliana).

O governo deixou a violência avançar demais. Não teve limites. Muitos dizem que aqui não é lugar para crianças, eu já até sugeri pintar uma sala para receber nossas crianças. Pois nos dias de visitas, aos domingos, eu não vou negar que nos domingos, vem muita gente se drogar, usar celular, fazer certos tipos de negociações... e aí o que vai passar pela cabeça de nossas crianças que também vem aos domingos nos visitar? (Relato de Joana).

A maior violência que vivo aqui é não ter assistência de nada pelo Estado, ale de não ter nenhum tipo de ajuda do governo, ainda sofro com a discriminação. Desse jeito considero violência como a necessidade que vivo, a falta de tudo aqui no presídio e o estado não tá nem aí (Relato de Ana).

O governo não faz nada. Só existimos durante os três primeiros anos de mandato. Depois ele nos esquece. Na política, vejo que não temos mais escolhas de voto. Vejo que o ser humano perdeu o direito até de ser humano. Aqui não temos escolhas, não posso nada, há negação de todos os nossos direitos (Relato de Maria).

O relato das apenadas retrata a falência do sistema carcerário brasileiro e contradiz todo o discurso utilizado pelo governo de que as prisões são organizações cujo caráter é reeducador do indivíduo, na busca de uma “nova reinserção social”,

assim como, contradiz os números84, de que um preso custa para o Estado cerca de R$ 700,00 (setecentos reais) mensais.

Todas as ações voltadas no presídio no que se refere à questão da profissionalização destas mulheres, considerado um dos principais problemas no presídio – a falta de profissão e a ociosidade –, é suprido por ações assistencialistas e paliativas, muitas vezes por instituições privadas de Natal. A FAL (Faculdade de Natal) e a COSERN (Companhia Energética do Rio Grande do Norte), são os grandes idealizadores privados de projetos no pavilhão, oferecendo cursos de retalhos, crochê e pedrarias, de onde surgiu os desfiles das peças produzidas pelas presas participantes do projeto “Transforme-se”. Enquanto este projeto ganha a mídia, esconde-se as mazelas sociais e as mais diversas ausências de direitos aos quais a presas do complexo vivenciam.

De acordo com a Lei de Execução Penal, em seu Art. 10, a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Já no Art. 11, a lei prevê que a assistência será: material; à saúde; jurídica; educacional; social e religiosa.

Quanto a assistência material, houve presas que afirmaram nas entrevistas que trabalham no próprio presídio para outras apenadas de melhor poder aquisitivo, em troca de produtos de higiene pessoal, como por exemplo, absorvente e papel higiênico, negando a assistência material, a qual o estado afirma cumprir.

A assistência jurídica para aquelas que não podem pagar advogados, fica a mercê de apenas 5 (cinco) Defensores Públicos para atender a todo o Estado do Rio Grande do Norte. Pela afirmação já podemos imaginar o caos, como já foi citado anteriormente e conclui-se que temos uma grande parcela de presas que nunca compareceram a audiências, e já faz cerca de 1 (um) ano que estão presas.

Quanto a Assistência Social, a lei de Execução Penal prevê no seu art. 22 que a assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará- los para o retorno à liberdade e, de acordo com o artigo 23, incumbe ao serviço de assistência social:

I - conhecer os resultados dos diagnósticos e exames;

84 Behring & Boshetti (2008), apontam que segundo Relatório e pareceres prévios sobre as

contas do Governo da República – exercício 2001, o Departamento Penitenciário Nacional gastou em 2001 R$ 237,6 milhões com construção, ampliação e reforma das prisões enquanto assistência e a profissionalização dos presos custaram parcos 5,6 milhões. Ou seja, a maior parte dos recursos são investidos na contenção e na segurança.

II - relatar, por escrito, ao diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentados pelo assistido;

III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias; IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;

V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;

VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da previdência social e do seguro por acidente no trabalho;

VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.

Contudo, a realidade do Serviço social do presídio é ainda mais complexa do que a simples aplicabilidade destes artigos. A Assistente social a considera atrasada tendo em vista as novas expressões da questão social dentro do âmbito prisional e os próprios limites encontrados dentro do serviço público burocratizado. Na tentativa de assistir as apenadas, procura dialogar com as presas e ver suas principais demandas.

Quanto à religião, a Lei de Execução prevê, no art. 24, a assistência religiosa, e que a liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, permitindo-lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.

Na realidade do pavilhão este direito é assegurando e organizado pelo próprio Serviço Social, que faz o credenciamento das Igrejas, sejam elas católicas ou protestantes, assim como também permite a liberdade a outros cultos religiosos.

Esta questão da religiosidade é muito presente na vivência destas mulheres. Em suas falas a figura de “Deus” está muito presente, como uma “fortaleza” necessária para o enfrentamento de sua situação atual.

Eu quero voltar a se como era antes, da Igreja e do meu marido. Foi o inimigo que me tentou, pra você vê como ele é... (Relato de Juliana).

Eu vou sair daqui, se Deus quiser, vou voltar a trabalhar (Relato de Joana).

Da relação com a Guarda do Presídio.

É comum no meio criminal, se ter a seguinte posição: quem é bandido e quem é policial. E como sempre, repete-se a questão do olhar esteriotipado sobre o outro: um sempre é o marginal e o outro o mocinho.

Na realidade do presídio, temos duas guardas: interna, que é formada pelas agentes penitenciarias (fazem parte do corpo da polícia civil do estado) e a externa do presídio que é formada por policiais femininas militares.

Sem quer fazer colocações diretas, pois se trata de um assunto considerado extremamente delicado no âmbito do complexo, afirmamos que são comuns os conflitos entre as presas e estas guardas. Os relatos das presas são de que algumas lançam palavras discriminatórias e muitas são bastante agressivas. É importante também frisar que essa posição também se estende à direção do presídio e aos demais profissionais, por parte de algumas apenadas. Na visão da guarda, as mulheres são “vagabundas”, “perigosas” e não merecem confiança, pois ao saírem do presídio voltarão à marginalidade tendo em vista que são “bandidas”. Claro que não podemos afirmar que todas as guardas agem desta forma, há exceções.

Para se ter uma idéia do conflito, algumas presas afirmam:

Algumas colegas de cela acham que se falarmos com a direção do presídio ou até mesmo da Assistente Social, estamos „puxando o saco‟ da polícia, mas acho que cada uma tem a sua maneira de pensar.

Outras afirmam:

Na sociedade as pessoas entendem que a violência está ligada à criminalidade. Por isso, aqui, não há respeito para nós. Há excesso de poder por parte da guarda.

Quando entrei apanhei de um policial, me jogou no chão e me deu um tapa. Fiquei cinco dias no „castigo‟ por ter „batido de frente‟ com uma agente. Tem também a diferença nos alimentos feitos para as (os) presos (as) e os (as) agentes.

Caberia a polícia, [...] o papel de prevenir, coibir e conter as diferentes formas de violência e criminalidade. [...] Essas organizações através de suas estruturas, cultura e por intermédio de seus agentes policiais, tem sido responsáveis por um conjunto de ações truculentas e arbitrárias que desconsideram os direitos humanos [...] Trata-se de um poder exercido