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3 VIOLÊNCIA E QUESTÃO SOCIAL NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO.

3.1 VIOLÊNCIA, MEDO E SEGURANÇA PÚBLICA.

Para chegarmos a um conceito sobre violência, devemos estudá-la a partir de suas mais variadas formas, levando em consideração o contexto sócio-histórico e os interesses individuais, grupais, de classes e de segmentos de classes, que permeiam as relações sociais, haja vista, que a violência é um fenômeno construído socialmente, que no decorrer da história assume formas e manifestações diferentes. Portanto, não podemos reduzi-la a um simples fenômeno patológico, nem tão pouco a uma simples manifestação da agressividade. Mas

[...] a violência deve ser explicada como um fenômeno social que se objetiva em um dado contexto histórico [...]. Isso não significa afirmar, em absoluto, que qualquer ato de violência praticada nessa ordem social seja direta e mecanicamente coordenada e causada por ela (ainda que, em seu caráter intrinsecamente contraditório, o capitalismo construa e reconstrua, ao mesmo tempo, maravilhas e mazelas, ordem e caos), mas que hoje a violência é elaborada e operacionalizada nesse modelo societário, sob suas condições e, portanto, é influenciada por essa forma de organização social. [...] Não se trata absolutamente de excluir essas características, em nada desprezáveis para a explicação da violência, mas de explicá-la a partir de um complexo circuito que produz e se reproduz, em uma dada sociedade, a partir de condições sócio-históricas especificas, objetivando-se, com maior ou menos intensidade, nas diversas instâncias da sociedade (SILVA, 2004, p. 135-136).

Segundo Fraga (2002), em se tratando da relação entre violência e agressividade, pode-se afirmar que nem toda agressividade pressupõe violência, mas que toda violência pressupõe agressividade. Esta última, para Freud, é vista como inerente ao ser humano. Por isso que nem todo ato agressivo pode ser considerado violento. A agressividade pressupõe uma condição do ser humano para dar respostas a suas atividades48. Caso contrário, podemos afirmar que, um ser humano sem agressividade torna-se um indivíduo inerte, sem iniciativa ou defesa, que fica a mercê da vontade de outrem. Desse modo, podemos resumir que, dependendo das condições sociais, psíquicas e históricas, a agressividade pode ser canalizada para um ato destrutivo da mais pura violência. “Nessa perspectiva, é a nossa própria violência a que mais aterroriza, aquela que nos recusarmos a conhecer em nós mesmo, mas que se encontra latente, se potencializada frente a determinadas circunstâncias” (BAIERL, 2004, p. 67). Por outro lado, essa

48 A agressividade é própria de todos os animais e é fundamental para possibilitar a sua

defesa. Neste sentido, a agressividade também se mantém geneticamente no ser humano para possibilitar a sobrevivência da espécie. Contudo, com a racionalização crescente da sociedade, a agressividade e a naturalidade foi sendo moldado e domesticada. Ver Elias (1994).

agressividade pode se apresentar como um estímulo para aprendizagem do indivíduo ou ainda, esta agressividade pode ser uma resposta a um ato de violência sofrido. Este pode ser o caso, por exemplo, da questão da criminalidade no meio das classes subalternas, que pode ser vista como uma resposta à violência estrutural vivenciada cotidianamente por esses indivíduos.

[...] Nosso propósito, em vez de partir de uma crítica moralista da violência, derivada de éticas universais a priori, cujos modelos pretendem julgar e ser aplicados à sociedade é tomar a violência dialeticamente, entendendo, a partir de suas condições concretas de existência, que ela tem um lugar no bojo das contradições sociais, e não é, como pensa o eticismo abstrato, uma degeneração do verdadeiro ser humano, mas sim, um modo

especifico de afirmação do indivíduo sob vigência de determinadas formas de sociabilidade (FRAGA , 2002, p. 46, grifos do autor).

Para a manifestação da agressividade, enquanto resposta a uma violência outrora sofrida, Baierl & Amendra (2002), dão o nome de medo operante, ou seja, com medo de sofrer uma violência maior, o indivíduo “ataca” primeiro, geralmente, pegando a vítima, que até então era o agente ativo da violência, de surpresa, evitando assim uma reação por parte deste. Portanto, podemos afirmar que na sociedade todos são violentos, uns mais, outros menos. Ou dito de outra forma, todos nós trazemos intrinsecamente a agressividade e a violência, mas esta nem sempre se manifesta. Somente em determinadas circunstâncias, quando é necessário ao ser humano no processo de luta pela sua sobrevivência. Ou em outras circunstâncias, revela-se em um indivíduo que quer manter-se no poder, quando percebe alguma ameaça.

Tudo se relaciona com a utilização do medo, o uso que se faz dele. E é exatamente o uso que se faz do medo – o medo com instrumento de subjugar ou ser subjugado pelos outros - que permite as diferentes formas de atrocidades e crimes contra as pessoas se perpetue. O medo existe na atmosfera do ar. Atinge a todos, os violentos e os violentados (ALMENDRA & BAIERL, 2002, p. 62).

Deste modo, podemos conceituar violência como sendo, reflexo do meio ao qual o indivíduo está envolvido, em outras palavras, não podemos considerá-la apenas como uma forma de ferir fisicamente o outro, mas como parte de uma sociabilidade que expressa símbolos, instituições e políticas que degrada e apodera o indivíduo a uma lógica social que afeta tanto suas condições objetivas de sobrevivência como em sua subjetividade. Assim, como forma de conceituar a categoria, utilizamos a afirmação de Costa (1986 p.47): “a violência é um artefato da cultura e não o seu artífice. Ela é a particularidade do viver social”.

Assim, segundo Baierl (2004), o que torna um ato violento lícito ou ilícito, é a própria construção de uma determinada sociedade, com base em seus preceitos morais e éticos. Sendo que, ainda segundo o autor, quando o poder que perpassa as relações de violência não se constitui como um instrumento legítimo e legal, os diferentes grupos passam a arbitrar o que é justo e injusto. Por esse motivo, em alguns casos a violência é tolerável e aceita pela sociedade. Por exemplo, nos casos em que um traficante é assassinado. Isso desperta nas pessoas que estavam subjugadas a ele um sentimento de alívio e justiça e a outros que dependia diretamente de sua atividade ilícita tristeza ou desemprego.

Historicamente, [a violência], vem sendo utilizada com objetivos diversos, envolvendo desejos e aspirações pessoais, interesses de grupos criminosos/terroristas ou, também, ações oficiais coordenadas pelo Estado (sendo elas legítimas ou não). Toda violência possui uma intencionalidade – uma teleologia – e conta com operacionalizadores e justificadores. É, por isso, concreta, material e historicamente situada, manifestando-se imediatamente como casos isolados, ainda que deva ser explicada, necessariamente, como um processo (SILVA, 2004, p. 134).

O processo de classificar na sociedade os “bons e os maus” trata-se, segundo Baierl & Amendra (2002), do fenômeno da “demonização do outro”, ou

seja, o indivíduo na sociedade contemporânea, tende ao individualismo em virtude da concorrência produzida e reproduzida pelo modelo de produção capitalista, e o outro passa a ser visto como um inimigo em potencial. O outro é o infrator, o transgressor, o violento, como se o “eu” nunca fosse vulnerável a ser também um infrator, um indivíduo violento, em determinadas circunstâncias. Pode-se afirmar que surge um certo solipsismo / etnocentrismo por parte dos indivíduos. “A violência que não me afeta diretamente não tem nada a ver comigo. Entretanto, quando ela bate diretamente em minha porta, começo a ficar com medo” (BAIERL & AMENDRA, 2002, p. 65).

[...]O artista principal em alguns momentos pode ser o „mocinho‟ e em outros o „ bandido‟. Em outro consegue congregar em si mesmo os dois papéis, porque a força que carrega em si suplanta o papel que lhe foi precrito. Outras vezes estes personagens são meros figurantes de um enredo que não foi escrito por eles, para o qual não foram convidados, mas em cuja história de alguma maneira, fazem uma „pontinha‟ – trata-se dos milhares de anônimos que vivem as pontinhas do medo e da insegurança, com a presença do sucesso (BAIERL, 2004, p. 50).

Assim, sem esta noção de que a violência em suas mais variadas manifestações é um “problema” coletivo, a sociedade passa a não cobrar do Estado - que é o órgão representativo da coletividade - ações que não só combatam a

violência, mas que acima de tudo, a previna. Percebe-se que há um enfrentamento individual, ou seja, cada qual preocupa-se como uma forma de defender-se, a partir de um medo obsessivo. Isso gera um medo e uma forte aversão ao Outro.

Assim é que o Outro é sempre visto como um concorrente, como um inimigo em potencial. O Outro é aquele que me ameaça e que pode, como na horda primitiva, comer o alimento que serveria para mim. Em outras palavras, [...] vivemos em um mundo em que o „inferno são os outros‟ (FRAGA, 2002, p. 52).

O autor, ainda ressalta, que esta aversão é tida como o grande motivo pelo qual a maioria das pessoas defende a pena de morte: “porque eu, que sou bom, nunca me imagino na possibilidade de cometer um crime. Me imagino somente na possibilidade de ser a vítima. Então sou a favor, porque é o outro, que é a fonte do mal, é o outro quem vai para a cadeira elétrica” (Ibidem, p. 52).

A mídia neste contexto tem um papel preponderante, não só em relação ao estranhamento do outro, mas no despertar de um novo “sentimento”. Ao exacerbar a violência, segundo Fraga (2002), a mídia desenvolve uma nova forma psicológica de

reconhecimento que não atinge apenas ao chamados “excluídos sociais”, mas todas as camadas da sociedade, despertando um desejo de reconhecimento do “eu”, bem comum entre os jovens49. Assim, o outro não será apenas o estereótipo do “mal”, mas passa também a ser a “celebridade” da mídia. Em outras palavras, do mesmo modo que a mídia encarrega-se de criminalizar o indivíduo, ela também pode torná- lo herói. Em qualquer veículo de comunicação, o poder de persuasão para desrespeitar opiniões sobre um determinado caso ou determinado indivíduo é muito forte. Como por exemplo, o chamado “caso Isabella”, que foi manchetes em todos os veículos de comunicação do país, em Março deste ano. A mídia de certa forma contribuiu para a mobilização popular no sentido de “cobrar” da justiça a solução para o caso, que de certa forma, já tinha o seu pré-julgamento de acordo com a opinião da mídia – de que os pais da menina eram culpados pelo seu assassinato. Aqui fica a crítica: quantas “Isabellas” não morrem todos os dias por causas parecidas grandes favelas do país, em periferias?E por que não incentivar também a mobilização popular na solução das diversas expressões da violência frente ao Estado? A resposta da questão está justamente no fato destes veículos atender a interesses de determinadas classes e da própria banalização que se tem em relação à criminalidade em meio à pobreza social.

Para explicar a existência da violência no meio social, utilizamos alguns argumentos defendidos por autores, como Saffioti, Dominguez e Baierl. A primeira trabalha a questão dos atos de potencia e impotência. O segundo trabalha o fenômeno da visibilidade e invisibilidade da violência e a última, partindo do contexto social, faz uma relação da violência com o medo social.

Saffioti (1999), afirma que o exercício da violência está intrinsecamente ligado à questão da potência e impotência do indivíduo, ou seja, a violência tente a se manifestar quando o indivíduo que foi socializado para dominar e mandar, se vê em uma situação de impotência. Como por exemplo, o marido desempregado que agride a esposa. Ele está passando por um momento de impotência, por estar fora do mercado de trabalho e tenta de outro modo, exercitar o seu potencial, transfigurado no exercício da dominação e agressão frente à mulher. Por isso, é correto afirmar que a questão da violência faz parte do contexto contraditório das relações sociais de poder. Muitos utilizam as mais diversas formas de violência para manter a sua hegemonia e exercer o seu poder. O medo, gerado por essa relação de poder, segundo Baierl (2004), é utilizado para aterrorizar ou fazer com que os indivíduos se entreguem, ou seja, o medo, passa a ser uma estratégia para subjugação, controle, escravidão e dominação de pessoas sob uma determinada ordem ou interesse.

... que preço as pessoas estão pagando para não sentir medo? As pessoas alteram sua rotina, sua forma de ser no mundo, alteram as relações sociais, não ficam mais indignadas, aceitam o inaceitável, fingem não ver, estão reconstruindo territórios, buscando formas de defesa, revides, mudando horários etc (BAIERL, 2004, p. 40).

Quanto à visibilidade ou invisibilidade da violência, Dominguez (2002), defende que uma determinada ordem social, identifica e resolve os diversos tipos de violência, a partir de sua visibilidade e invisibilidade. Neste sentido, a sociedade tende a pressionar por soluções e a se preocupar com os tipos de violências visíveis. Desta forma, o senso comum tende a ver a violência apenas como agressão física, por se tratar da forma mais visível de violência, esquecendo ou velando muitas vezes a violência tida como estrutural, que é mascarada pelo sistema capitalista. Esse velamento do real é típico do Estado neoliberal que substitui o Estado social pelo Estado policial, defendendo, segundo Baierl & Amendra (2002), as classes mais abastadas, ou melhor, o próprio agressor, mesmo que isto não apareça de forma visível. Desse modo, instaura-se o medo coletivo e a insegurança para a maioria da

população. Neste sentido, a noção de paz50, passa a ser entendida, segundo Dominguez (2002), como a capacidade de uma sociedade tornar visível e resolver favoravelmente todos os tipos de violência, realidade que está longe de ser alcançada em todo o mundo.

Dentre este processo não podemos esquecer a importância da tomada de consciência de direitos por parte da sociedade, para que a violência se torne visível, e o que até então não era visto como violência, e sim como algo natural, passa a ter visibilidade social e conseqüentemente respostas.

Para Baierl (2004), a globalização e a tecnologia afetam o mercado de trabalho formal, e conseqüentemente, muda a vida das pessoas, ou melhor, o medo e a violência, produzidos por esta lógica social, econômica e política, fazendo criar novas formas de sociabilidade, segregando grupos sociais, discriminando segmentos mais vulneráveis da sociedade e globalizando a miséria e a criminalidade. Fala-se em novas formas de crime, devido às novas formas de tecnologias criadas para a “defesa” dos indivíduos. Essa violência amplia o medo social e desperta nas pessoas sentimentos de individualidade, impedindo o sentimento de pertencimento a coletividade e inibindo o direito a liberdade.

A violência na forma como vem se construindo na realidade, faz emergir o medo, que leva as pessoas a paralisarem e alterarem suas relações e suas formas de ser no espaço em que vivem, em seus contextos individuais. O outro, o estranho potencialmente ou não, de acordo com as circunstâncias, é objeto de medo e provoca no sujeito reações de paralisação, de entrega ou de agressão. Isso vai depender, contudo, do conjunto de normas e regras tecidas nesses contextos e dos códigos apreendidos e internalizadas pelas pessoas (BAIERL, 2004, p. 40).

O medo por sua vez, é considerado um sinal de alerta biológico, que indica perigo, porém o elemento que o desencadeia não é natural, é condicionado sócio- culturalmente e a reação a ele pode tornar-se até uma reação violenta. Assim, podemos afirmar que, as relações sociais além de serem produzidas e reproduzidas pela lógica capitalista, sofrem influências das construções efetivas dos sujeitos que dela participam, a partir de determinada circunstância da história e de seu contexto

50 É importante mensurar, que estudos tradicionais sobre a paz social, afirmavam que esta

estava vinculada à ausência de guerras, mas com a evolução histórica e com a conscientização de classes e segmentos sociais, esta visão ampliou-se, tendo em vista, a identificação de novas formas de violência no meio social. Portanto, hoje a paz está intrinsecamente relacionada com a identificação e solução para os diversos tipos de violência.

especifico. Desse modo, a mesma autora, ressalta, que o privado e o público, se interpretam e se reestruturam.

Quanto ao aparecimento no decorrer da história das expressões da violência, partiremos da idéia de Dominguez (2002), sobre as noções de Direitos, tendo em vista que a definição deste autor, leva ao exercício de compreensão sobre o que é um ato violento ou não, já que, a violação de direitos significa violência.

O desenvolvimento das diferentes noções de violência se dão no decorrer de três gerações: a primeira, identificada como direitos individuais é típica do fim do século XVIII e início do século XIX, incorporando direitos como a liberdade, civis e políticos, prevenindo a violência direta. A segunda geração é aquela que propõe os

direitos sociais e econômicos dos períodos entre guerras, passando a incorporar o

valor da igualdade entre os indivíduos, na tentativa de prevenir a violência estrutural. E a terceira geração é aquela marcada pela incorporação de novos valores sociais e

descobertas que ameaçam o planeta, em conseqüência do desenvolvimento científico e tecnológico, incorporando, portanto, a valorização de grupos sociais até

então discriminados socialmente, como é o caso das minorias étnicas, as mulheres e aqueles que defendem a natureza e a qualidade de vida.

Todos estes direitos resumem-se em um só direito: Os Direitos Humanos e, conseqüentemente, a preservação das três noções conquistadas ao longo destas gerações, servem como prevenção e proteção contra as mais variadas formas de violência.

Levando em consideração o pensamento de Dominguez (2002), os tipos de violências podem ser divididos em três grupos: as visíveis; as invisíveis e as semi-

invisíveis.

No primeiro grupo encontram-se as formas de violência direta. O tipo coletivo se produz quando a sociedade coletivamente, ou por meio de grupos significativamente importantes, participa ativa e declaradamente da violência direta. O caso típico extremo é a guerra. Além disso, esta forma visível de violência também pode ser expressa através do tipo institucional. Este por sua vez é aquele exercido pelas instituições legitimadas para o uso da força quando, na prática de suas prerrogativas, impedem a realização de potencialidades individuais.

No segundo grupo, têm-se as violências invisíveis, que são as formas de violências ocultas. Os tipos mais comuns neste grupo são as violências estrutural e cultural. A primeira manifesta-se a partir de um poder desigual e, conseqüentemente,

como possibilidades de vidas diferentes, para diferentes sujeitos. Aqui os recursos e o poder de decisão são distribuídos desigualmente. Neste sentido, a violência estrutural é a própria desigualdade. O segundo tipo deste grupo, por sua vez, é a violência exercida por sujeitos reconhecidos (individual ou coletivo), caracterizado pela utilização da diferença para inferiorizar e desconhecer o outro. Esta violência é marcada pela discriminação e preconceito contra indivíduos ou grupos. A exemplo, temos a violência de gênero e a étnica. Podemos considerar também, neste grupo, a questão da violência simbólica, pois através dos simbolismos, da religião, da linguagem, da arte, da ciência, educação etc., legitima-se a violência direta e estrutural, porém de forma velada. Assim, afirmamos que as violências estruturais e culturais estão interligadas, a discriminação e a inferiorizarão nada mais são que exercício do poder para a manutenção da desigualdade.

Segundo Arrazola (1999), a violência estrutural é inerente ao sistema explorador e dominador do capitalismo. “Esta violência aparece como uma fatalidade, para o sistema capitalista, contra qual não é possível resistir, pesando sobre os indivíduos a responsabilidade pelos insucessos pessoais e sociais” (SILVA, 1995, p.136).

Quanto ao terceiro grupo, das semi-invisíveis, temos os tipos violência social em conjunto com a violência individual. Esta última apesar de ser considerada uma forma de violência direta e interpessoal, só muito recente passou a ser incluída nos estudos sobre a paz. Mas porque motivo? O fato é que se trata de uma violência que envolve o indivíduo, mas faz parte de uma questão social, ou melhor, são formas de violência que perpassam a segurança civil. É o caso da violência doméstica, contra crianças, mulheres e idosos, que até então eram consideradas semi-invisíveis por serem vistas, até pouco tempo, como casos de ordem privada, ganhado os espaços públicos após organizações de movimentos sociais em defesa destes segmentos.

Fazer ação política é transformar um problema particular e privado em problema público e coletivo. Fazer política é ocupar o espaço público do debate, da manifestação, das ruas e das praças. Isto é, as mulheres ao fazerem política estão transformando as relações de gênero, já que tradicionalmente não se espera isso delas (CAMURÇA & GOUVEIA, 1997, p.20).

Ainda acerca da violência, é importante assinalar que estes diversos tipos de violência se imbricam e se interpenetram, tornando-se difícil delimitá-las precisamente. A tentativa de classificá-las e de distingui-las é importante para

compreendermos melhor os diversos tipos de violência a que somos submetidos, contudo, temos clara a impossibilidade de delimitá-las precisamente.

É necessário, também, considerar as diversidades culturais, e ao mesmo