• Nenhum resultado encontrado

Grammatica Ingleza Theorica e Pratica Redigida sob um plano

SECUNDÁRIA

3. Os Programas de ensino do Collegio de Pedro

3.4 Os Programas de Ensino de 1877 e

3.6.1 Grammatica Ingleza Theorica e Pratica Redigida sob um plano

inteiramente novo e comprehendendo um curso completo de exercicios sobre a etymologia e syntaxe, by Jacob Bensabat. Porto: Lello & Irmão Editores, 1862

A gramática de Jacob Bensabat (1823-1916) teve grande difusão no século XIX, tanto em Portugal como no Brasil, conforme atestado pelo autor, no prefácio de sua obra, intitulado “Duas Palavras”. Neste prólogo, o autor declarou ter sido esta sua primeira obra, e, pelo esmero constante, alguns aprimoramentes foram feitos nas edições seguintes, no que se refere à ortoépia, justamente a parte com a qual o autor mais desprendeu tempo, e cuidado, por ser a mais escabrosa no estudo da língua inglesa (BENSABAT, 1880, p. 5). O contrário foi observado na gramática de Motta (1873), que dedicou apenas quinze páginas a esta seção.

Conforme destacado na capa de seu compêndio, Bensabat escreveu outras obras, como, por exemplo, Novo método prático para aprender a ler, escrever e falar a língua inglesa; Novo dicionario inglez-portuguez; Novo metodo de leitura e traducção ingleza; Nova grammatica practica da lingua ingleza; Nova selecta franceza; Novo metodo portuguez para o ensino de leitura sem soletração; O Francez sem mestre; O Inglez sem mestre; O Italiano sem mestre; O Alemão sem mestre; Temas Graduados de Inglez; e Temas correntes de Francez. Além dos títulos referendadas na sua Grammatica Ingleza Theorica e Pratica, foram também publicados Grammatica preparatoria da infancia por perguntas e respostas: Theoria e aplicação (1883) e Metodo da lingua ingleza (s/d).

Pode-se afirmar que as obras de Bensabat tiveram uma boa circulação no Brasil, não somente levando-se em consideração a afirmativa feita no prefácio do seu compêndio, mas, também, pelo fato de ter sido indicado em quatro programas de estudo do Gymnasio Nacional (1892, 1893, 1895 e 1898) e de terem sido encontrados sete títulos do autor na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: Gramática Inglesa Teórica e

Prática (19?); Nova grammatica pratica da lingua ingleza: accoommodada para o uso das escolas publicas e particulares, comprehendendo na orthoepia lições progressivas de leitura e seguida de exercícios praticos sobre a etymologia e syntaxe (1893); Novo diccionario inglez-portuguez: composto sobre os diccionarios de Johnson, Webster, Grant, Richardson, etc.. seguido de um vocabulário geographico e outro de nomes pessoas que se escrevem differentemente nas duas lingua (1880); Novo methodo de leitura e traducção ingleza (1880); O francês sem mestre em 50 lições: obra redigida num plano inteiramente novo... adaptado ao uso dos portugueses e dos brasileiro (19?); O inglês sem mestre, em 50 lições: obra redigida num plano inteiramente novo (1907); e O italiano sem mestre em 50 lições: obra redigida num plano inteiramente novo para uso das familias, de todos os estabelecimentos de instrução dum e outro sexo, dos que se se dedicam ao comércio e à indústria, dos que frequentam as escolas de artes e oficios, etc., ... adaptado ao uso dos portugueses e dos brasileiros (1951).

A Grammatica Inglesa Theorica e Practica, de Bensabat (1902), contém 381 páginas, e é dividida em quatro partes: ortoépia, morfologia, sintaxe e contrução, e ortografia. Esta última, apresentando as regras básicas de divisão silábica, em apenas cinco páginas. A obra é finalizada com uma lista dos principais verbos ingleses, seguidos das preposições que os regem, exemplos e tradução, bem como da disponibilização dos sinais de pontuação usuais e as principais contrações e abreviações da língua inglesa. As 107 páginas finais de exercícios de morfologia e sintaxe comprovam o caráter teórico-prático desta obra.

É importante ressaltar que o compêndio de Bensabat (1902) contém as quatro partes da gramática, destacadas desde o século XVI, e que continuaram sendo estudadas por grande parte dos compêndios do século XIX. Estudar gramática continuava sendo, mesmo nas décadas finais do século XIX, utilizar uma obra repleta de regras gramaticais a serem memorizadas, com predomínio da morfologia e etimologia, e acompanhada de exercícios focados na tradução e memorização.

As vinte e seis páginas dedicadas à ortoépia mostram a preocupação do autor em trabalhar o som das letras, individualmente, partindo para a combinação de vogais, sílabas e padrões de acentuação. Destaque deve ser dado às transcrições de sons feitas pelo autor e sua tentativa em enfatizar os sons longos pela repetição das letras selecionadas para aquele som específico, como pode ser observado, por exemplo, na

transcrição das palavras pain (peinn), people (piipl) e soon (suunn) (BENSABAT, 1902, p. 15).

Na parte da morfologia e sintaxe, foi observado um trato diferenciado com a gramática, uma vez que, além da exposição detalhada das regras, algumas observações relacionadas a contextos variados, que levam a mudanças de estrutura, foram apresentadas na forma de notas de rodapé, dando uma maior interatividade e praticidade quando do estudo das normas gramaticais. Como exemplo, pode ser citado o modo pelo qual o autor abordou, na morfologia, a apresentação dos verbos regulares, nos tempos simples e compostos. Após a devida explanação, a seguinte nota de rodapé foi disponibilizada: “Se analisarmos a linguagem composta I do plant, veremos que esta expressão não é mais que um modo elíptico de dizer I do the action of planting; ou faço a ação de plantar” (idem, p. 85). Da mesma forma, na parte da sintaxe, ao discorrer sobre a concordância do verbo com o sujeito, tem-se a seguinte explicação:

Note-se que os Ingleses modestamente colocam o pronome da primeira pessoa depois da segunda e terceira. Os portugueses à imitação de Latinos dizem: Eu e Cícero estamos bem (Ego et Cicero valemus); os Ingleses porém alterando dizem: Cicero and I are well (idem, p. 171).

Ao se referir aos exercícios de etimologia e sintaxe, no prefácio da obra, Bensabat (1902) reforçou serem indispensáveis “para pôr em prática as regras gramaticais antecendentes, e exercitar os estudantes na conversação” (idem, p. 6). Interessante observar a associação feita entre os exercícios apresentados e a prática da conversação, uma vez que, ao analisar atentamente os tipos de exercicios propostos, ficou evidente a percepção do autor sobre esta prática, que corresponde ao que rotineiramente era creditado à conversação no século XIX, ou seja, o fornecimento de padrões de escrita, que deveriam ser lidos, repetidos, memorizados e recitados, para que modelos virtuosos e de escrita fossem internalizados e, a partir de então, utilizados. Para a compreensão do pensamento do autor, é importante a análise dos exercícios colocados ao final do compêndio, das páginas 269 a 375.

Inicialmente, foram disponibilizadas questões de morfologia. O primeiro exercício exemplifica o tipo de exercício desenvolvido no compêndio, tendo-se como base o método da gramática e tradução, uma vez que os alunos entram em contato com um

texto em português, seguido da versão na língua inglesa, com espaços a serem preenchidos com palavras em inglês, no plural. A ideia de conversação, então, estava pautada, não no estabelecimento de situações interacionais, com as quais os alunos poderiam iniciar uma conversa, e sim na exposição de textos que poderiam servir de exemplo para recitações e assimilações de padrões considerados como de valor.

O mesmo padrão é observado quando do trabaho com gênero dos substantivos, adjetivos, artigos, pronomes, verbos e auxiliares. Os exercícios empregados na morfologia, apesar de focados em técnicas de tradução, no caso, versão para a língua inglesa, não são tão mecânicos como as corriqueiras atividades de simples decodificação de signo linguístico e memorização, uma vez que, neste tipo de exercício, o aluno deve refletir sobre quais as palavras que melhor se encaixam nos espaços dados. É muito provável, no entanto, que, após esse momento inicial, o aluno tenha sido levado a complementar seus estudos recitando o texto, até mesmo, de cor.

Figura 13: Exemplo de atividade de morfologia da gramática de Bensabat Fonte: BENSABAT, 1902, p. 270

Os exercícios de sintaxe foram disponibilizados por intermédio de 28 pequenos textos na língua portuguesa, para que fossem devidamente traduzidos na língua alvo.

Em cada texto, o autor focou em pontos gramaticais específicos, na mesma ordem do apresentado na morfologia, com o objetivo de, pela repetição de estruturas, consolidar o aprendizado, por intermédio da contínua repetição, o que pode ser comprovado com o excerto a seguir:

Um cristão considera o mundo como um lugar de desterro, onde encontra ciladas, dificuldades, e perigos. Que infeliz situação é aquela que obriga um pai em sua defesa a expor os defeitos de seus filhos. Eu sou inglês; porém, meu pai é espanhol. O melhor café vem de Moca, cidade de Arábia. Seu tio é capitão ou coronel? O pai dele era fidalgo. Ele vendeu o açúcar a um xelim o arrotel, e a seda a meia libra a jarda (BENSABAT, 1902, p. 340).

Os textos empregados, apesar de, quase sempre, destacarem situações relacionadas a padrões de moral a serem seguidos, com a inserção de frases carregadas de toer ético, são desconexos, reforçando a ideia de que, mais importante que o contexto, são as práticas de tradução. Fica, assim, implícito, que só com a constante tradução, a língua poderia ser corretamente empregada, devendo-se trabalhar conteúdos capazes de auxiliar os alunos na obtenção de uma polidez admirável. A conversação, nesse cenário, seria uma extensão do trabalho gramatical e de memorização de textos.