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3.4 – Jundiaí (SP): retorno às origens

GRAU DE PARENTESCO

½ GRAU DE PARENTESCO 1/3 GRAU DE PARENTESCO 2/3 GRAU DE PARENTESCO 2/4 GRAU DE PARENTESCO ¾ 1 - Chrispim da Silva

Franco pai/filho avô/neto

2 - Ignacio Franco de

Camargo pai/filho sogro/genro

3 - Joaquim Franco de Camargo cunhados 4 - Antonio Corrêa de Lacerda

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A trajetória ascendente da família Franco de Camargo na vila de Atibaia iniciou-se com o capitão de ordenanças82 Chrispim da Silva Franco. Nesta localidade tipicamente abastecedora de gêneros alimentícios ao mercado da vila de São Paulo, Chrispim, que em 1810 tinha 70 anos de idade, contava com um plantel de 13 cativos, sendo considerado um médio escravista atibaiense. De outra parte, seu filho Ignacio, valendo-se do cabedal herdado de seu pai na sociedade daquela vila, o substituiu no cargo de capitão de ordenanças e, com seus 23 escravos no ano de 1824, quando tinha 60 anos de idade, estava no rol dos maiores escravistas atibaienses com plantéis acima de 20 cativos, um seleto grupo que representava 2,9% da população total da vila no ano de 1816, mas que tinha 14,9% dos escravos da localidade. Sobretudo, Ignacio foi proprietário de um engenho para produção de aguardente, sendo que, em 1809, a média de escravos nos engenhos paulistas era de 22 cativos, o que demonstra Ignacio estar apto à condição de senhor de engenho paulista.

A ascensão de Ignacio nos quadros militares – passando de soldado de cavalaria a capitão de ordenanças – corrobora sua ascensão econômica, contando agora com um engenho de cana83. Os capitais acumulados na cultura de mantimentos e criações possibilitaram a aquisição do engenho e de uma escravaria suficiente ao seu funcionamento, uma vez que terras ele já possuía. Considerando que os engenhos paulistas, em virtude da baixa tecnologia, não tinham custos proibitivos na fase de consolidação da economia açucareira na região, e que os plantéis de cativos também eram menores em relação às outras zonas açucareiras do Brasil e do mundo.

O suporte financeiro proporcionado pelo sogro Ignacio – que concedera ao genro a escrava Thereza e uma propriedade com 50 braças de testada e três quartos de comprido na vila de Atibaia – foi de grande importância à escalada de Antonio de Lacerda Guimarães na sociedade da vila vizinha de Jundiaí (INVENTÁRIO TERRAS ATIBAIA, 1818). A trajetória que o levou

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Os Corpos de Ordenanças foram criados, por lei do ano de 1549 de D. João III, e organizados conforme o Regimento das Ordenanças de 1570 e da provisão de 1574. Seu sistema de recrutamento deveria abranger toda a população masculina entre 18 e 60 anos que ainda não tivesse sido recrutada pelas duas outras forças militares do período – a Tropa Paga e as Milícias – excetuando-se os privilegiados. Conhecidos também por ―paisanos armados” possuíam um forte caráter local e procuravam efetuar um arrolamento de toda a população para as situações de necessidade militar. Os componentes das Ordenanças não recebiam soldo, permaneciam em seus serviços particulares e, somente em caso de grave perturbação da ordem pública, abandonavam suas atividades. O termo “paisanos armados‖ carrega em si a essência do que seria a qualidade militar dos integrantes das Ordenanças, isto é, um grupo de homens que não possuía instrução militar sistemática, mas que, de forma paradoxal, eram utilizados em missões de caráter militar e em atividades de controle interno e organizavam em terços que se subdividiam em companhias. Os postos de Ordenanças de mais alta patente eram: capitão-mor, sargento-mor, capitão. Os oficiais inferiores eram os alferes, sargentos, furriéis, cabos-de-esquadra, porta-estandartes e tambor (COSTA, 2007, [s.n.]).

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A ascensão nos quadros militares do Reino estava ligada à experiência militar obtida em campanhas bélicas ou cargos menores, mas também à abastança de bens do indivíduo e, no caso da Metrópole, à hereditariedade (COSTA, 2007, [s.n.]).

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de pequeno agricultor a proprietário de escravos, com um plantel de 16 cativos no ano de 1836, quando tinha 38 anos84, e ainda a ser um alfabetizado juiz de paz foi determinada, inicialmente, pelo casamento de sua mãe com Ignacio Franco de Camargo em 1803 e; em 1813, através de seu casamento com a filha de Ignacio, dona Maria Franco – passando de enteado a genro dos Franco de Camargo.

Antonio de Lacerda Guimarães e sua esposa Maria Franco seguiram na vila paulista de Jundiaí, mais exatamente na freguesia de Belém – futura Itatiba. No entanto, em 1850, Antonio morreria naquela localidade.

Antonio de Lacerda Guimarães havia ascendido socialmente. Seu inventário mostra o ponto final de uma trajetória de acumulação de riqueza que perdurou durante toda uma vida. Segundo Araújo (2006, p. 210), que se valeu da classificação feita por João Luís Fragoso em

Homens de Grossa Aventura, os paulistanos da primeira metade do século XIX, com base em

seus inventários, foram divididos em 3 faixas de riqueza: A) os muito ricos, com riqueza superior a 50 contos de réis, categoria que era composta por negociantes-engenheiros, ou seja, pessoas que haviam acumulado grandes fortunas em atividades comerciais e passaram a reinvestir em engenhos no interior paulista – como Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, o Senador Vergueiro; B) os ricos, com riqueza entre 10 e 50 contos de réis, grupo que englobava negociantes, agricultores e funcionários bem-sucedidos que formavam uma elite econômica e cultural; C) camada média, com riqueza de até 10 contos de réis, formada por médios negociantes de atacado.

A par desta classificação, Antonio de Lacerda Guimarães, com uma riqueza de mais de 34 contos de réis (Rs. 34:138$436) declarada em seu inventário, poderia ser considerado um rico na sociedade da vila de São Paulo na primeira metade do século XIX.

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A idade de Antonio de Lacerda Guimarães aqui citada se baseia nos Maços de População do respectivo ano, neste caso 1836. Contudo, devemos ter em mente que no decorrer do trabalho pode haver pequenas discordâncias em relação às idades dos personagens, uma vez que, a própria documentação caracterizava-se por dados que parecem estar incorretos, por exemplo, quando a idade da pessoa não se alterava de um ano a outro.

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Gráfico 7: porcentagem de cada ativo na riqueza de Antonio de Lacerda Guimarães (1850)

Fonte: Inventário de Antonio de Lacerda Guimarães (JUNDIAÍ, 1853).

Dentre seus bens semoventes85 constavam 16 animais mansos, 14 bestas arreadas e 11

cabeças de boi, além de 19 escravos. A resposta quanto à atuação profissional de Antonio de Lacerda Guimarães está na descrição de seus bens de raiz (Rs. 20:950$000). Neste constavam seus sítios e terras; cafezais; casa do sítio, benfeitorias e o mato do quintal; casas do pátio da Freguesia; casas da Rua de Baixo86. O valor destes bens, quase 21 contos de réis, indica a importância elevada de suas culturas e propriedades, afinal, só os valores dos bens de raiz o colocariam na condição de rico dentro da sociedade paulistana – que englobava montantes entre 10 e 50 contos de réis. Mas, relevante é apreender a mudança que estava em curso na economia paulista da primeira metade do século XIX e que fica evidente no inventário de Lacerda Guimarães.

Os 19 escravos que Antonio de Lacerda Guimarães possuía em 1850, em suas terras e cafezais, dão prova de sua inserção na atividade que seria o esteio da economia nacional durante as décadas posteriores. Contudo, considerando que os cafezais têm um tempo médio de maturação entre 4 e 5 anos e que o financiamento agrícola era escasso, fazia-se necessária outra atividade que gerasse os meios para a subsistência enquanto os lucros do café não pudessem ser

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No gráfico, o ativo semoventes não aparece em virtude de ter sido desmembrado no ativo escravos e animais.

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Estas residências urbanas e rurais localizavam-se na freguesia de Nossa Senhora do Belém de Jundiaí.

61,36

27,82

3,94 3,73 3,12

BENS DE RAIZ

ESCRAVOS MÓVEIS DÍVIDAS ATIVAS

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colhidos. Neste caso, provavelmente os capitais teriam sido gerados pela produção de alimentos e criação de animais (MP JUNDIAÍ, 1836).

Além dos cafezais, parte da soma que acumulou permitiu Antonio de Lacerda Guimarães se tornar até mesmo credor, como mostra o item dívidas ativas (Rs. 1:275$598) de seu inventário, em que ele tinha a receber Rs. 980$698 de Manoel Pedro Ferreira da Silva e, Rs. 294$900 de José Inacio Maciel. Aliás, a ausência de um sistema de crédito rural fazia do endividamento uma ferramenta essencial na obtenção do crédito, levando muitas vezes o produtor rural a acumular débitos junto ao comerciante, este na função de prestamista e de comprador da produção, em uma cadeia de dependência que financiava tanto a produção voltada à exportação quanto a de abastecimento.

Antonio de Lacerda Guimarães se inseria nesta sociedade de apreciadores do luxo europeizado, como mostra o item móveis de seu inventário no valor de Rs. 1:347$140, constando da mobília da casa toda, o taboado existente, os patacões, além do doutor e das oitavas de prata. Como demonstra Araújo (2006, p. 193) para os inventários dos habitantes da cidade de São Paulo na primeira metade do século XIX que tinham riqueza entre 10 e 50 contos de réis, 3% da riqueza deste grupo era composta por metais preciosos e 2% por objetos pessoais e domésticos. No inventário de Antonio, quase 4% da riqueza se encontrava nestes itens.

Ter uma riqueza concentrada em terras, cafezais e escravos aliava-se à lógica de acumulação e investimentos na província de São Paulo da metade do século XIX. Na análise de cada vila ou região há de se tomar a devida cautela em relação às particularidades. Jundiaí, por volta de 1850, iniciava a transição rumo à cafeicultura, o que explica o grau de inversões em terras para o plantio de cafezais e escravos para serem utilizados como mão-de-obra.

Por exemplo, quando Araújo (2006, p. 97) sintetiza os dados de sua amostra de inventários87 das cinco primeiras décadas do século XIX na vila de São Paulo, ela constata que as inversões mais importantes eram em imóveis (25,7%), dívidas ativas (23,4%), escravos (23,3%) e bens profissionais (13,4%). Esta distribuição da riqueza na capital da Província se explicava pelo fato de ser uma localidade sem grandes propriedades agrárias, baseada, sobretudo, no comércio e

87 A autora selecionou 146 inventários de famílias que constavam nas listas nominativas de São Paulo em 1798 referentes às três

companhias da paróquia da Sé, separadas em 1818 em nove companhias e, em 1836, desmembradas nas paróquias da Sé, Santa Ifigênia e Brás (ARAÚJO, 2006, p. 64).

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na dependência do crédito – representado pelas dívidas ativas – mas com um núcleo urbano em formação que em muito dependia do braço escravo, tido não só como mão-de-obra, mas também como forma de investimento e de securitização da riqueza88.

Por sua vez, na cafeeira vila paulista de Lorena, Marcondes (1998, p. 172 a 173) se debruça na apuração da trajetória de indivíduos que tiveram seus nomes constando na lista nominativa de 1829 e que morreram em 1879, expondo onde se alocava a riqueza destas pessoas. Esta era composta principalmente por dívidas ativas (62,7%), o que indica que grande parte do financiamento local, não só ao café, era feito por capitalistas que concediam empréstimos, geralmente, com prazos curtos e elevadas taxas de juros – os bancos ainda não predominavam. Em seguida vêm os imóveis – basicamente terras e casas – com 14,7%; depois os escravos, que representavam 13,8% da riqueza. Constando ainda as dívidas passivas (4,8%), que eram os empréstimos tomados; os bens móveis (2,0%); animais (1,3%); dinheiro (0,6%); e o item outros (0,1%). Pensamos que esta concentração da riqueza em dívidas ativas se deve à precedência de Lorena e outras vilas do Vale do Paraíba na faina cafeeira, que demandava capitais para formação das lavouras, aquisição de escravos e de gêneros alimentícios89.

O café foi tomando o espaço da cana-de-açúcar nas terras do Oeste Paulista. As razões para tanto estavam no menor capital exigido pelo café para o início de uma atividade que tinha margem de lucro maior, além do café prescindir de grandes cuidados e resistir melhor às péssimas condições das estradas quando comparado ao açúcar (COSTA, 1982, p. 6-7). Em que pese esta mudança na agricultura do Oeste Paulista ter sido iniciada, vilas tradicionalmente açucareiras como Limeira, Rio Claro, Moji-Mirim e Jundiaí levaram mais tempo até que o café tomasse a frente nas lavouras – o que só ocorreria após 1840, com o declínio do preço do açúcar (DEAN, 1977, p. 45). Localizada na vila de Jundiaí, a freguesia de Nossa Senhora do Belém de

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Mello (1990, p. 102), baseada no estudo de inventários do Cartório do 1º Ofício da Família da Cidade de São Paulo, também tenta captar as transformações da riqueza pessoal de indivíduos que, chegaram à maioridade na década de 1820 e faleceram na segunda metade do XIX, e o quanto ela estava ligada às mudanças na sociedade paulista, basicamente, a passagem da economia mercantil escravista-nacional à economia exportadora capitalista (MELLO, 1990, p. 66). O item escravos, entre 1845-50, chegou a constituir 32,30% da riqueza encontrada nos inventários. As dívidas ativas, outra forma de riqueza tradicional, representavam 31,65% da mesma nos inventários – indicando a importância do crédito pessoal (empréstimos) aos fazendeiros. Os imóveis – terras, casas e terrenos – já representavam uma boa parte da riqueza entre 1845-50 (27,44%). Os valores mobiliários representavam 4,69% da riqueza e os animais tinham participação diminuta entre 1845-50 (3,05%).

89 Em 1836, as seis vilas que mais produziram café na província de São Paulo foram: Areias (102.797 arrobas), Bananal (64.822

arrobas), Pindamonhangaba (62.628 arrobas), Parnaíba (55.000 arrobas), Jacareí (54.004 arrobas) e Lorena (33.649 arrobas). Por sua vez, no futuro Oeste Paulista, Jundiaí naquele ano produziu 1.276 arrobas (MÜLLER, 1923, p. 124 a 129).

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Jundiaí, futura Itatiba, teve o café introduzido nos anos anteriores a 1850 – período em que se formavam as grandes plantações no Oeste Paulista. Os negociantes de animais Antonio da Silva Franco e Ignácio Corrêa de Lacerda – irmão de Antonio de Lacerda Guimarães – em virtude das viagens que ambos realizavam ao norte da província de São Paulo, depararam-se com a florescente cultura da rubiácea naquela região e estimularam o plantio na vila de Jundiaí.

Com seus solos propícios, acrescidos de boas águas90, Belém de Jundiaí rapidamente viu a produção de café prosperar, chegando a 200.000 arrobas (ITATIBA, 1916). A introdução do café na freguesia e a ascensão do cultivo fez aumentar a arrecadação de impostos, os quais eram enviados à Jundiaí e não se transformavam em benfeitorias à freguesia de Belém, o que gerou atritos entre freguesia e vila que culminaram em um abaixo-assinado, em 1856, pelos habitantes da freguesia, que foi base para a lei provincial nº 553 de 20 de fevereiro de 1857, que criou a vila de Nossa Senhora do Belém de Jundiaí (CAMARGO, 2009).

Antonio de Lacerda Guimarães morreu em 1850, portanto, quando se formavam os cafezais na região de Jundiaí. Com uma riqueza que não era das maiores e, visto que o capital necessário à aquisição de um engenho era elevado91, ele optou por investir seus capitais em uma nova, lucrativa e menos dispendiosa atividade: o café. Se pensarmos que a mão-de-obra das unidades produtivas era o escravo africano, vemos que na vila de Jundiaí, em 1836, havia 27 engenhos com uma média de 41 escravos cada. De outra parte, em toda a província de São Paulo, em 1829, os cafeicultores tinham um plantel médio de 10 escravos, número que se elevou a 21 escravos no ano de 1854, sendo que mesmo neste último ano, quando o açúcar já havia sido superado pelo café na pauta de exportações do Brasil, a média de escravos por engenho era de 24 cativos (LUNA; KLEIN, 2005, p. 79, 86 e 90).

Com a morte de Antonio, a viúva Maria Franco recebera por sua meação na herança a quantia de Rs. 17:069$218. Ela continuou na freguesia de Belém do Jundiaí até 1861, ano em que faleceu. Em que pese faltar elementos para uma melhor caracterização de Maria Franco entre

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A formação de vilas e povoações em São Paulo foi fortemente influenciada pela localização dos rios. Esta predileção era fundamentada na necessidade de água às pessoas, às utilidades caseiras e ao monjolo, mas também, a uma crença de que a qualidade da água e do ar determinaria o sucesso da nova povoação (HOLANDA, 1994, p. 41). Assim, Itatiba, com seus 2 rios – Jaguari e Atibaia – tinha predicados para constituir terras fecundas à agricultura.

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Segundo Dean (1977, p. 40), a instalação de um engenho movido por animais, com o equipamento necessário, era mais cara que a legalização da sesmaria, sendo que um engenho movido à água chegava a custar 10 vezes mais. Tais condições implicavam em que a produção de cana fosse em larga escala, a fim de cobrir os custos iniciais, o que só era viável utilizando-se trabalho compulsório, fazendo da economia açucareira uma combinação de elevados capitais, escravos e terras.

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1850 e 1861, seu inventário demonstra, como indicado na tabela 21 (página 78), que ela perpetuou a subida dos Lacerda Guimarães na sociedade paulista e manteve a escolha pela inversão da riqueza preferencialmente nos ativos: terras, cafezais e escravos92.

Gráfico 8: porcentagem de cada ativo na riqueza de Maria Franco, 1861 – valores em mil-réis

Fonte: Inventário de Dona Maria Franco (JUNDIAÍ, 1861).

A esposa de Antonio de Lacerda Guimarães parece ter seguido a trajetória de ampliação do patrimônio do marido falecido. Esta acumulação corrobora os dados de Araújo (2006, p. 136) sobre as viúvas da vila de São Paulo que mantinham as finanças familiares em bom estado tal como no tempo de seus maridos e aproveitavam a efervescência econômica de uma localidade em expansão para reproduzir suas riquezas.

92 Decidimos colocar a tabela 21(Inventário de Dona Maria Franco, 1861) no final no capítulo 3 em virtude de seu grande

tamanho. Pensamos que esse procedimento melhore a leitura do trabalho, uma vez que ele não terá grandes interrupções. Sendo assim, utilizaremos este expediente sempre que necessário por toda a tese.

45,8

50,17

3,25

0 0,76

BENS DE RAIZ ESCRAVOS MÓVEIS DÍVIDAS ATIVAS

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Gráfico 9: Comparação dos valores legados aos herdeiros por Antonio de Lacerda Guimarães (1850) e Maria Franco (1861) – valores em réis

Fonte: Inventário de Antonio de Lacerda Guimarães (JUNDIAÍ, 1850) e de Maria Franco (JUNDIAÍ, 1861).

Tal caminho explica a aquisição de mais escravos – Antonio tinha 19 no inventário e sua esposa tinha 22 cativos – para laborar em suas valorizadas terras, por sinal, cativos com preços majorados em relação ao ano de 1850, em virtude da dificuldade em se obter escravos com o fim do tráfico.

Gráfico 10: Preços dos cativos de Antonio de Lacerda Guimarães (1850) e sua esposa Maria Franco (1861) – valores em mil-réis

Fonte: Inventário de Antonio de Lacerda Guimarães (JUNDIAÍ, 1850) e de Maria Franco (JUNDIAÍ, 1861)

0 10.000.000 20.000.000 30.000.000 40.000.000 50.000.000 60.000.000

MONTE MOR MONTE MENOR MEAÇÃO LEGÍTIMA ANTONIO MARIA 0 500 1000 1500 2000 2500 Pr e ço s d o s e scr av o s Escravos inventariados ANTONIO MARIA

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Cronologicamente, pouco antes de se iniciar a segunda metade do século XIX, alcançou-se o pico da produção açucareira paulista, com a exportação de 597.551 arrobas de açúcar através do porto de Santos na safra 1846-1847. Coincidentemente, aquele ano marcou também a transição do Oeste Paulista de uma zona açucareira à cafeeira, com a formação de grandes cafezais na região e a exportação paulista da rubiácea que, depois de 1850-1851, seria sempre maior que a do açúcar. O fato de vermos no inventário de Antonio de Lacerda Guimarães a presença de cafezais corrobora a idéia do café tomando o espaço da cana no Oeste Paulista, uma vez que ―O quadrilátero do açúcar‘ deixou de sê-lo, para se dedicar com verdadeira obsessão à cultura do café‖ (PETRONE, 1968, p. 163).

No ano de 1844, Bento de Lacerda Guimarães e José de Lacerda Guimarães, respectivamente com idades de 26 e 23 anos, constavam na lista dos votantes da freguesia de Belém de Jundiaí, juntamente com seu pai Antonio de Lacerda Guimarães e o tio – irmão de Antonio – Ignacio Joze Corrêa de Lacerda93 (MP JUNDIAÍ, 1844)94. Os irmãos Bento e José de Lacerda Guimarães tinham laços de parentesco com os Franco de Camargo e estes laços abriram novas e grandes oportunidades a ambos. O custo da formação de um cafezal por volta de 1850 na vila de Rio Claro era, somente para adquirir e limpar a terra, da quantia de Rs. 4:350$000 – referente ao plantio de 100 mil pés de café(DEAN, 1977, p. 41). Apesar da riqueza de Antonio de Lacerda Guimarães, que o situava entre os ricos na sociedade paulista de meados do século XIX, os valores recebidos por seus filhos Bento e José – além dos outros 3 herdeiros – referentes às legítimas paternas não se mostravam alentadores frente aos haveres necessários à formação de novos cafezais95. Porém, como seu inventário demonstra, em vilas como Jundiaí, bem povoadas por volta de 1850, o mecanismo de compra e venda tornara inexistentes as terras livres, sendo