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4. As decorações

4.5. Grupo 5 – Motivos Campaniformes

O estudo da cerâmica Campaniforme é uma componente com grande potencial informativo, a nível de técnicas, mobilidade e contactos. No caso do Castro de Ota, a cerâmica de

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tipo Campaniforme não tem grande expressão no conjunto cerâmico, tendo mesmo passado despercebido aquando da publicação de Ernâni Barbosa – este descreve um dos fragmentos Campaniforme como “linhas horizontais formadas por pequenos traços (a carretilha?) de que há variados exemplares na Pedra de Ouro” (Barbosa, 1956, p.122). Contudo, com o presente trabalho, foi possível encontrar, nos depósitos cerâmicos recolhidos por Hipólito Cabaço, um total de dois fragmentos enquadráveis nas tipologias e decorações das cerâmicas Campaniformes.

Estas peças correspondem, na totalidade, a bojos com decoração externa, sendo que um deles representa um fragmento com um ombro/carena marcado. Novamente, como em todo o conjunto de peças provenientes dos depósitos do Museu Hipólito Cabaço, não nos é possível tecer conclusões contextuais, mas a existência de peças como a cerâmica Campaniforme permitem-nos retirar, do sítio da Ota, um conjunto de informações que se prendem com questões cronológicas, faseamento, de utilização e significados baseados em análises integralmente artefactualistas. Como referido por Ana Catarina Sousa (2010, p. 306), para o caso concreto do Penedo do Lexim, onde o número de fragmentos é igualmente reduzido, a fraca presença deste tipo de peças pode indicar o abandono do sítio arqueológico, no período cronológico de vigência destas cerâmicas. Neste caso específico, o abandono do sítio é, como sublinhado antes, difícil de atestar, contudo, se tivermos em conta toda a diversidade material estudada, podemos assumir um possível “abrandamento” da ocupação no final do Calcolítico seguido por uma presença mais destacada na Idade do Bronze (pleno?).

Todos os fragmentos apresentam pastas compactas, onde os elementos não plásticos são raros e, quando visíveis, de reduzidas dimensões – esta característica é muitas vezes usada como ilustradora de uma maior relevância destas cerâmicas para a comunidade que a produzia, podendo, no nosso entender, reflectir sim um processo de selecção e intenção relacionadas com o conhecimento e desenvolvimento de novas técnicas produtivas. As cozeduras são, nos dois fragmentos com decoração linear, oxidantes, onde foi possível identificar a existência de um alisamento seguido de uma aguada, com uma tonalidade esbranquiçada – mostrando aqui que estes fragmentos apresentam um cuidado e um processo de execução apurado, indiciando uma finalidade específica, quando comparado com os restantes fragmentos e motivo decorativos, cuja funcionalidade não necessitaria de recipientes tão cuidados e finos. As considerações que se prendem com as tipologias formais destas peças são escassas, ainda que seja possível compreender, pelo perfil de um dos fragmentos (com decoração linear pontilhada) que pertenceria possivelmente a um recipiente acampanado, já que este apresenta-se ligeiramente concavo, correspondendo a uma das partes inferiores destes recipientes. A peça dotada de ombro não permitiu uma reconstituição de diâmetro a partir do lado interno da carena, mais ainda assim pode ser enquadrado nas tipologias das taças, tendo como paralelo mais directo a forma identificada no Tholos da Tituaria (Cardoso et al, 1996, p.187), ainda que pouco mais se possa adiantar

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relativamente a este fragmento. Assim sendo, ficam excluídas quaisquer considerações ou conclusões relativamente a afinidades formais que foram ultrapassadas ao se olhar mais atentamente para as técnicas, motivos e padrões decorativos.

Os dois fragmentos de que dispomos ilustram as diversas variantes e técnicas associáveis aos recipientes Campaniformes – a técnica incisa, larga, está presente num dos fragmentos, nas suas variantes lineares, assim como a técnica do pontilhado, como referido acima, onde se identifica o motivo linear pontilhado, muitas vezes associado e enquadrado no “pacote” internacional. A existência da técnica do pente não é exclusiva das realidades Campaniformes, encontrando-se já presente no registo arqueológico antes da chegada destas influências (Cardoso e Martins, 2009, p. 277) – referimos, no seguimento desta ideia, que não foram identificadas na Ota cerâmicas com decoração “penteada”, que produziriam, tendencialmente, motivos ziguezagueantes, constando com uma ausência que pode encontrar paralelos nos povoados congéneres, mais especificamente a Sul da linha do Montejunto, onde a sua presença é também ela diminuta (Gonçalves, 1991, p. 216).

Os motivos são relativamente simples, já que a tendência do conjunto é a produção de motivos lineares: o fragmento com motivo linear pontilhado apresenta afinidades culturais com os fragmentos semelhantes identificados para o sítio da Penha Verde (Cardoso, 2010-2011, p. 505) ou Leceia (Cardoso, 1997-1998, p.311), onde este motivo está presente em recipientes acampanados, compatíveis com o motivo e possível forma identificados para o fragmento em questão. Já o motivo linear inciso, uma adaptação da realidade anteriormente expressa, encontra paralelos formais, assim como de motivo, na Tituaria, ainda que a decoração deste seja pontilhado – ambos os motivos, quer incisos, quer pontilhados, apresentam uma afinidade grande com as maneiras de fazer associáveis ao estilo internacional, ainda que o fragmento inciso possa indicar uma “imitação” ou réplica dos motivos lineares originais.

Outra das características muito associável às decorações Campaniformes é a incrustação de pasta branca nas incisões ou impressões (Harrison, 1977, p. 44-45). A composição e constituição dos componentes utilizados para a produção desta pasta têm vindo a ser estudados quer em contextos peninsulares como internacionais, podendo estes reflectir a utilização de Cálcio carbonatado (Salanova, 2000) ou ainda de uma mistura de ossos reduzidos a pó, associados a água ou a um agente gorduroso (Odriozola e Hurtado Pérez, 2007, p.1). Na Ota só um dos fragmentos, referente ao ombro, conservava vestígios de utilização de pasta branca, podendo indicar fenómenos tafonómicos diferenciados em relação aos restantes exemplares, ou ser o reflexo da utilização de diferentes técnicas de fabrico de pasta branca – o significado desta aplicação é muito diversificado, podendo ser interpretado quer a nível mágico-simbólico (Harrison, 1977, p. 44-45), em que se relacione o facto de se incluir uma componente óssea (animal ou humana) em peças

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com decoração Campaniforme, ou ainda lido com um olhar mais decorativo e “funcional”, tentando evitar-se um esbatimento decorativo que reduziria as decorações e o seu significado (Odriozola e Hurtado Pérez, 2007, p. 9).

Em suma, o Campaniforme do Castro de Ota apresenta, ainda que reduzido, uma diversidade interessante a nível decorativo, mostrando que um estudo artefactualista pode, no caso específico das cerâmicas Campaniformes, ajudar no estabelecimento de paralelos e contactos que mostram, neste caso, que a Ota estaria inserida numa rede maior de relações e influências que originaram estes dois fragmentos. Mais adicionamos que os poucos exemplares em estudo, realidade semelhante a outros sítios arqueológicos congéneres (Sousa, 2010, p. 306), mostram uma diversidade de técnicas e motivos que implicam um necessário conhecimento das práticas e maneiras de fazer que são apuradas com a chegada dos paradigmas Campaniformes – não podemos conjecturar uma ocupação para a Ota desta cronologia, mas ainda assim não existe um vazio temporal na ocupação, mas sim um possível abrandamento que se coaduna com as revisitações das populações onde o Campaniforme existiria, a sítios que outrora teriam significado outro estilo de vida.

e. Elementos de Tear

A presença de artefactos que, segundo as teorias actuais, reflectem actividades relacionadas com a exploração secundária dos recursos animais ou com a agricultura do linho (Greenfield, H. J., 2010), está bastante bem documentada em diversos sítios arqueológicos do 3º milénio, em especial na Estremadura Portuguesa (Sousa, 2010, p. 341). É interessante compreender que há uma generalização deste tipo de artefactos nas publicações arqueológicas, em especial se observarmos o trabalho de sistematização dos elementos de tear em placa no Calcolítico Peninsular, desenvolvidos por Rollán em 1996, onde se constatar que “…son muy (…) pocos, también, los hallazgos de elementos de telar…” (Rollán, 1996, p. 125). Esta realidade pode ser rapidamente justificada pelo método de “sistematização” utilizado pelo autor supracitado, que recorre a publicações que não reflectem integralmente os espólios dos sítios.

Este tipo de utensílios é um dos que mais facilmente nos mostra diferenças culturais e tendências regionais de produção, desde logo, pela forma maioritariamente quadrangular e rectangular, onde se registam tendencialmente quatro perfurações, na região da Estremadura Portuguesa e a Norte do país, e pela dualidade placa/crescente bem patente nos contextos Alentejanos (Costeira, 2012, p. 650). As já referidas variações culturais podem expressar-se assim em modos diferentes de fazer e entender o acto de tecelagem, podendo estar patentes em teares verticais (Diniz, 1993, p. 241), teares horizontais (Boaventura, 2001) ou ainda integrados em estruturas tipo “prancheta” destinadas á tecelagem (Cardoso, Carreira, 2003, p. 141) – não excluímos nenhum deste tipo de estruturas de produção, ainda mais quando não dispomos de

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nenhum tipo de contexto arqueológico, sendo certo que a finalidade seria a criação de um produto específico em cada uma destas realidades. A identificação de áreas funcionais ou de concentrações, como as identificadas em Santa Justa (Gonçalves, 1989, p.250) ou recentemente no Cabeço do Pé-da-Erra (informações obtidas na conferência – Gonçalves, V. S. e Sousa, A.C., Cabeço do Pé da Erra: uma quinta calcolítica com 4500 anos), não foi possível de concretizar para o caso da Ota pela já largamente mencionada falta de informações contextuais.

No caso concreto da Ota foram detectados 19 elementos de tear, sendo 18 correspondentes a recolhas antigas com depósito no Museu Hipólito Cabaço e uma outra proveniente de prospecção arqueológica. Deste universo, sete (37%) elementos encontram-se completos e 3 (16%) parcialmente completos, correspondendo assim à maioria do conjunto em estudo (53%). As restantes peças (21%) encontram-se fragmentadas nas zonas dos orifícios, algo que se explica de forma relativamente fácil já que são estes os principais diferenciadores destes artefactos. Como já detectado para os artefactos em pedra polida, o Museu procedeu ao restauro de cinco elementos de tear (26%), sendo impossibilitada a análise dos vários fragmentos que compunham os restauros. A existência tendencial de placas quadrangulares e rectângulares na Estremadura Portuguesa (Sousa, 2010, p. 341) é corroborada quando se analisam os dados da Ota, onde os 19 elementos de tear se subdividem em cinco placas de forma rectângular (26%), 10 placas quadrangulares (53%) e quatro de desenvolvimento impossível de conjecturar (21%), por corresponderem a fragmentos das zonas perfuradas. É de referir a existência de uma placa de pequenas dimensões decorada, que apresenta um tipo de cozedura diferenciada das restantes placas, com uma superfície mais negra – no conjunto dominam as placas de tonalidades avermelhadas. Estas pequenas placas foram também detectadas por Ana Catarina Sousa, no Penedo do Lexim (2010, p. 342), não tendo grande expressividade no registo arqueológico estremenho.

Podemos ainda referir a peça nº1872 que, pelas suas características morfológicas (14 cm de comprimento, 10 cm de largura e uma espessura de 2,6 cm) aparenta ter algum tipo de afinidade cultural com as realidades que surgem nas Beiras, com pouca expressão na Estremadura (Valera, 2007) – uma ocorrência paralela à da Ota, é o elemento de tecelagem do Monte da Quinta 2 (Valera et al, 2006, p. 304). Esta ocorrência, com uma constituição de argila similar aos restantes elementos de tear, mostra que há uma socialização e uma troca de técnicas e maneiras de fazer, que se pode prender com a movimentação de matérias-primas e redes de trocas. Pode ainda reflectir uma necessidade específica e fugaz, que não deixou grandes marcas nos materiais recolhidos, até ao momento.

Todos os elementos de tear apresentam um número de perfurações cilíndricas que varia entre uma, nas peças fragmentadas, e quatro, não tendo sido encontrado nenhum exemplar que

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apresentasse mais do que quatro perfurações em simultâneo. A localização das perfurações é relativamente constante, estando todas elas próximas dos cantos das placas. A nível das arestas e dos cantos, o conjunto apresenta-se integralmente arredondado, quer em placas quadrangulares quer em rectangulares, realidade que contrapõe aos dados obtidos para a Pedra de Ouro, onde há uma tendência geral para os cantos e arestas vincados (Branco, 2007, p. 69).

A decoração das placas é um processo relativamente comum na Estremadura Portuguesa, contrapondo novamente com a situação que se sente no Sul do país, onde a decoração é pouco expressiva (Costeira, 2010, p. 73; Sousa, 2010, p.241). Um conjunto de seis elementos de tear (32%) apresentam decorações na face, sendo que todas elas ilustram a técnica da incisão – motivos decorativos criados através do desenho, por arrasto de estiletes ou pontas rombas, na pasta fresca ou em início de processo de secagem (Costeira, 2010, p. 74). Os motivos decorativos são integralmente geométricos, podem desenvolver-se de forma simples – linhas – ou de forma mais complexa – com motivos intercruzados/axadrezados ou, surgindo no exemplar nº1855/2b, criando um motivo que pode ser encarado como vegetalista, com paralelos em pesos de tear decorados de Vila Nova de São Pedro (Paço, 1940, p.241 e 243; Arnaud, 2013, p. 449), ou zoomórfico, desenhando o que aparenta ser um pequeno peixe. A grande densidade de decorações nas placas de locais como Vila Nova de São Pedro e Pedra de Ouro, levou Afonso do Paço a conjecturar uma hipotética natureza votiva para este tipo de artefactos (Paço, 1940, p.241 e 243; Sousa, 2010, p. 342).

Para o caso concreto da Ota o carácter votivo poderia ser um dos significados destas peças, já que só dois dos exemplares decorados apresentam marcas de uso, mas quando olhamos para a realidade mais próxima, novamente para o sítio da Pedra de Ouro, a funcionalidade está atestada (Branco, 2007, p. 70) e intrinsecamente relacionada com a linguagem representativa do imaginário destas comunidades. Aceder ao “verdadeiro” significado das decorações apresenta-se como um objectivo difícil de alcançar, contudo a imagética que surge expressa nas placas aparenta uma associação directa entre cenas e fenómenos do quotidiano – chuva, animais, motivos vegetalistas, entre outros - representados em artefactos que também eles se inscrevem nessa rotina. Esta ideia surge como uma resposta alternativa às leituras feitas até ao momento, em que se assume que, por um lado, estas representações estariam ligados a mecanismos supersticiosos usados para evitar o enleio das fibras ou a quebra da teia (Valera, 1997; Diniz, 1994) ou, por outro, assumindo-se que as figuras estariam conotadas com o ciclo produtivo e múltiplas actividades necessárias ao fabrico dos tecidos (Cardoso, 1981).

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f. Os artefactos de osso polido

Os artefactos em osso polido da Ota mostram que a preservação de matéria orgânica neste sítio arqueológico é bastante boa e, pela quantidade de peças, enfatiza que este tipo de utensílios teria um grau importância nas comunidades que habitavam e vivenciavam a Ota – quer seja nas tarefas do dia a dia, ou em realidades mais enquadráveis nos contextos do simbólico.

A falta de estudos monográficos, realidade também frisada para os contextos dos sítios fortificados estremenhos, dificultam o estabelecimento de paralelos e comparações que facilitariam a identificação de tipologias, funcionalidades e cronologias deste tipo de materiais. As principais obras a salientar são os estudos realizados para Leceia, que abrangem desde os utensílios mais comuns a outro tipo de artefactos ósseos (Salvada e Cardoso, 2001/2002; Cardoso, 2003), assim como um estudo mais generalista, que inclui um conjunto de contextos funerários e de povoados abertos da Estremadura Portuguesa (como Outeiro da Assenta, Outeiro de São Mamede e Pragança, no caso dos povoados, e Serra das Éguas, Moinhos da Serra e Monsanto III, como contexto funerários), realizado por Clara Salvado (2004). Devido às escassas tipologias criadas para estes materiais, decidiu-se seguir as já existentes, procedendo a uma adaptação ao contexto da Ota.

O conjunto de osso polido da Ota é proveniente, de forma integral, do espólio em depósito no Museu Hipólito Cabaço, não tendo sido identificado nenhum exemplar em âmbito de prospecção. Foi possível identificar um total de 56 fragmentos de objectos em osso polido, tendo sido todos estudados e tratados de forma individual, ainda que existam problemas na definição cronológica dos mesmos – por precaução foram todos incluídos, sendo que só recorrendo a datação directa, e destrutiva, se poderia reconhecer a cronologia a que pertencem efectivamente estas peças. É um conjunto de pequenas dimensões, em especial quando comparado com outros que apresentam mais de 300 peças, como o Penedo do Lexim (Sousa, 2010, p.), Zambujal (Uerpmann e Uerpmann, 2003) e Leceia (Cardoso, 2003, p. 33). As peças aqui apresentadas foram alvo de um estudo preliminar, na tentativa de compreender quais os animais utilizados para obtenção das matérias primas, não tendo produzido qualquer resultado, tendo em conta o grau de transformação dos materiais.

A nível da fragmentação destas peças é bastante grande, encontrando-se somente cinco fragmentos completos – dois deles correspondendo a furadores, um a uma agulha/sovela, outro fragmento referente a um brunidor e por fim uma peça com dupla funcionalidade. O estado dominante é referente à área distal, com 25 peças enquadráveis nesta categoria, seguido das peças mesiais, cujo potencial de informação é ligeiramente menor. Por fim foram identificadas cinco peças proximais, que nos poderiam dar indicações de técnicas produtivas e cadeias operatórias que, para esta tipologia de materiais, são de difícil acesso (Sousa, 2010, p.226). Outra das questões

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que se apresenta difícil, em muito pela falta de contextos concretos onde os materiais surjam em âmbito de “uso”, é a nomenclatura que lhes é atribuída, estando em muito contaminada pelas funcionalidades e utilizações modernas de objectos com formas similares – assim sendo, tentando proceder a um estudo integrável e comparável com as realidades já existentes, optámos por seguir as terminologias já estabelecidas por Clara Salvado (2004) e João Luís Cardoso (2003), ainda que se tenha, em alguns caso, procedido a uma análise e aplicação crítica das mesmas. Optámos por não proceder a uma divisão entre utensilagem de uso comum e objectos de osso, como realizado por Ana Catarina Sousa (2010, p. 228), devido à reduzida amostragem em estudo que, em certa medida, não nos permite tecer considerações fiáveis e extrapoláveis para uma realidade arqueológica maior.

Em primeiro lugar falamos de furadores, que podem adquirir um diverso leque de funcionalidades relacionadas com o tratamento e/ou cosedura de peles, onde se enquadram todos os objectos com uma extremidade pontiaguda, com excepção dos alfinetes que decidimos individualizar. Novamente, como referido antes, seguimos as divisões criadas por João Luís Cardoso (2003, p. 27), diferenciando-se os furadores obtidos por seccionamento longitudinal sobre esquirolas de diáfise de ossos longos – encontrando-se dois dos quatro exemplares inteiros – dos restantes quatro fragmentos, cuja tipologia não foi possível identificar. Quanto aos alfinetes, foi possível identificar um total de cinco peças que se enquadram nas tipologias definidas por Clara Salvado (2004, p. 81), tratando-se estes de exemplares fragmentados, de pequenas dimensões, aparentemente totalmente produzidos em osso – aqui poderíamos ainda incluir os alfinetes de cabelo que, como efectuado por Ana Catarina Sousa (2010, p. 230), aparentam indicar uma outra realidade ou função, onde consta uma extremidade lisa ou com uma decoração/trabalho elaborado. Na Ota foram identificados sete exemplares enquadráveis dentro desta categoria classificativa, não se encontrando nenhum completo – são realidades fáceis de identificar, em especial porque todos os fragmentos em estudo são referentes às “cabeças” que, neste caso, não são amovíveis. O conjunto em estudo é bastante significativos quando tomamos consciência da densidade da sua presença em sítios semelhantes à Ota – no caso do Penedo do Lexim constam um total de três peças (Sousa, 2010, p. 230), enquanto que no Zambujal foram identificados 18 (Jimenez Gomez, 1995, p. 163), número que dão algum destaque ao conjunto da Ota.

Foi possível individualizar cinco fragmentos distais de espátulas, cuja funcionalidade poderia passar, como o próprio nome sugere, por um instrumento para mexer e misturar ou, no nosso entender, ter servido como instrumento de produção de recipientes cerâmicos e, possivelmente, respectiva decoração – estas realidades só são confirmáveis com estudos traceológicos, que esclareceriam muitas duvidas funcionais e, por consequência, terminológicas. Identificaram-se igualmente quatro peças enquadráveis na categoria dos brunidores que, pela sua superfície rugosa e tendencialmente desgastada, apontam para processos relacionados com

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tratamento e acabamento de peles ou cerâmicas, num acto de abrasão. Não foram identificados fragmentos semelhantes a escopros ou formões.

Referindo-nos já à categoria das agulhas, optámos por seguir as indicações de Clara Salvado, que assume que a terminologia “agulhas” só deve ser aplicada a peças com sinais evidentes de preensão de fio (Salvado, 1999, p. 79). Por sua vez, João Luís Cardoso, assume, como característica essencial, a capacidade de perfuração destes objectos, não sendo obrigatória a existência de perfurações, chegando ainda a associar as agulhas às sovelas (Cardoso, 2003, p. 26). Tendo estes pressupostos morfológicos em mente, foi possível identificar um total de seis agulhas, onde se incluí um exemplar cuja perfuração se encontra inacabada. O conjunto da Ota é, ainda que reduzido, expressivo, quando comparado com Penedo do Lexim, onde somente se registou um exemplar (Sousa, 2010, p. 229, ou ainda o sítio da Pedra de Ouro, com três exemplares “pontiagudos” (Branco, 2007, p. 91).

Às agulhas poderíamos associar, como referido antes, as sovelas que, ainda hoje, se

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