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4. As decorações

4.4. Grupo 4 – Motivos Geométricos

O estudo integral das cerâmicas decoradas possibilitou a identificação de um total de 22 peças com decoração enquadrável dentro dos motivos geométricos. Dentro destes, procedeu-se a uma individualização de quatro motivos, sendo eles os a) Triângulos preenchidos com linhas obliquas, onde constam dez peças, b) Banda com linhas intercruzadas, um fragmento, c) Losangos preenchidos, identificados quatro exemplares e d) Bandas cruciformes, onde se inscrevem quatro espécimes. O grupo referente ao motivo indeterminado conta com duas peças.

Neste caso específico é contemplada a única peça em que se associa a Folha de Acácia ao motivo geométrico, sendo que, no nosso entender, ainda que representem outro tipo de linguagem, expressa através de um motivo decorativo diferente, podem ser associadas e fazer sentido dentro do mesmo recipiente. Ainda assim não discutimos aqui questões cronológicas e de contemporaneidade, já que estas cerâmicas aparentam surgir em associação aos motivos Folha de Acácia.

A nível formal, ainda que já tenhamos referenciado este aspecto, os seis bordos em que foi possível identificar decoração geométrica, apontam um domínio para as formas de paredes rectas (quatro peças), também elas sublinhadas anteriormente. Esta forma apresenta, em três dos fragmentos, decoração exclusiva de tipo Losango Preenchido, correspondendo, o último

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fragmento, a um exemplar compósito, onde se associam os Losangos Preenchidos e os motivos Folha de Acácia vertical, uma associação que é recorrente em recipientes homólogos (Sousa, 2010, p.303), sendo disso exemplo o recipiente proveniente do Castro da Rotura (1971). As restantes formas, dois globulares de bordo reentrante e uma taça sem espessamento do bordo, encontram-se todas associadas a decoração de Triângulos preenchidos com linhas oblíquas, apresentando uma grande similitude, a nível de técnica e desenvolvimento, às cerâmicas, formas e pastas com motivos Folha de Acácia, embora com uma diversidade menos acentuada. Frisamos aqui a ausência, assim como verificado para o Penedo do Lexim, de recipientes de pequenas dimensões, identificados por João Luís Cardoso em Leceia, sendo este assumidos como “antepassados dos potes decorados com folha de acácia” (Cardoso, 2006, p. 36).

De forma geral os motivos geométricos dominantes na Ota são equiparáveis aos locais congéneres, onde se apresenta uma tendência para a dominância dos Triângulos, como detectável para Leceia e Penedo do Lexim, realidade também presente no sítio aqui em estudo – não podemos deixar de sublinhar que as 22 peças da Ota são claramente reduzidas para proceder a constatações relacionadas com domínios e tendências, sendo que os dados que aqui apresentamos, provenientes de prospecção e de recolhas antigas, são, necessariamente, fugazes. Acrescentamos ainda que os motivos são integralmente mono-temáticos, exceptuando o caso da associação entre geométrico/Folha de Acácia, fazendo novamente a integração e associação da Ota aos sítios congéneres estudados – leia-se aqui Penedo do Lexim (Sousa, 2010, p. 298), Leceia (Cardoso, 2006), Pedra de Ouro (2003) e Columbeira (Marques Gonçalves, 1994).

No que toca aos motivos com Triângulos preenchidos, como o próprio nome indica, somente foi possível identificar peças onde os triângulos são dotados de um preenchimento com linhas oblíquas. Estes surgem associados a caneluras que, no nosso caso específico, não foram possíveis de contabilizar devido ao estado fragmentado da amostra, realidade que não ajuda na compreensão total do desenvolvimento da expressão decorativa.

As linhas intercruzadas, ou linhas horizontais oblíquas intecruzadas, vão de encontro com os restantes motivos geométricos, recorrendo-se à técnica de incisão para a sua produção, como identificado para o Penedo do Lexim (Sousa, 2010, p. 302), Olelas (Marques Gonçalves, 1997) e Leceia (Cardoso, 2006). Neste caso concreto as matrizes de produção assumem-se ligeiramente diferenciadas, consoante o tipo de realidade decorativa a desenvolver – as matrizes aplicadas na produção das linhas delimitadoras de bandas apresentam-se como mais largas, sendo que as utilizadas nas produções das linhas intercruzadas apresentam uma incisão mais fina e que, em muitas das vezes, extravasa as linhas delimitadoras de banda. Contrariamente à realidade do Penedo do Lexim, não foi identificado nenhum fragmento onde se mantivessem vestígios de uso de pasta branca (Sousa, 2010, p. 302), o que não aponta para uma inexistência desta realidade que, por motivos de conservação, podem já não ser identificáveis.

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Já os losangos preenchidos, realizados recorrendo à técnica de incisão, essencialmente fina, ainda que tenham sido identificados um total de XX fragmentos, a sua constituição a nível de pastas, forma e decoração, parece apontar para um único recipiente dotado de uma perfuração – única no contexto da Ota. Estas peças encontram-se ainda em sítios como a Penha Verde, onde é abundante, chegando a servir como nome deste motivo (Ferreira e Silva, 1970, p. 216). Acrescentamos ainda, como referido anteriormente, que este recipiente apresenta claros paralelos com o recipiente do Castro da Rotura, sendo estas decorações normalmente associadas a períodos mais tardios (Sousa, 2010, p. 301) – realidade para a qual não dispomos de dados elucidativos e explicativos.

Por fim, o motivo que nos levantou mais problemas, o que denominámos como bandas cruciformes. Ainda que reconheçamos que esta terminologia não seja a mais correcta e objectiva, surgiu-nos como a mais ilustrativa da realidade a tratar e, devido às reservas do registo, optou-se por não se incluir no grupo Folha de Acácia, como realizado para o sítio da Penha Verde, para o único fragmento com um motivo decorativo similar ao aqui apresentado (Cardoso, 2010/2011, p.513). Estas peças apresentam motivos geométricos agrupados em bandas, cuja realização de triângulos preenchidos forma, no somatório dos seus vértices, losangos não preenchidos. Estes fragmentos não se separam das restantes cerâmicas a nível técnico, podendo representar motivos locais ou ainda uma realidade com pouca expressão no registo arqueológico. No que toca à técnica de produção dos motivos, a incisão, mostra uma intenção clara na demarcação dos triângulos e, por sua vez, dos losangos, sendo as linhas de preenchimento, com uma tendência ligeiramente oblíqua, realizadas através de uma incisão mais fina e menos marcada. Este motivo pode ser enquadrado nos Triângulos preenchidos, ainda que os motivos apresentem tendências e associações decorativas diferenciadas.

A nível de paralelos estilísticos, sublinhamos a existência deste tipo de decoração num fragmento proveniente de Leceia (Cardoso, 2006, p.221), assim como o já referido pertencente ao espólio de Penha Verde (Cardoso, 2010/2011, p.536), uma realidade que vai de encontro com a hipótese de um estilo decorativo com pouca expressão no registo arqueológico. Neste último caso, o fragmento de Penha Verde, foi possível proceder ao estabelecimento formal, apontando para um recipiente de paredes rectas que, pela sua forma, e como foi problematizado anteriormente, não nos permite tecer considerações cronológicas ou contextuais – mais frisamos que os fragmentos da Ota são integralmente referentes a bojos, não nos sendo possível estabelecer relação directa com o fragmento de paredes rectas de Penha Verde (Cardoso, 2010/2012, p.513).

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