• Nenhum resultado encontrado

Proceder a uma leitura geral e integrada é, sem dúvida, uma das componentes mais importantes no desenvolvimento de uma dissertação, sendo que só assim podemos compreender o sítio como um todo, bem como interliga-lo com as realidades regionais. Estas interligações estão sempre dependentes dos ritmos de investigação associados à área em estudo, neste caso a Estremadura portuguesa que, desde cedo, viu identificada a “Cultura de Vila Nova de São Pedro”, utilizada como base para estudos nacionais e internacionais, ainda nos dias de hoje. Esta noção de uma cultura estremenha é ainda hoje difundida, encontrando-se melhor fundamentada em muito pelos contextos identificados e intervencionados até ao momento, que suportam este conceito supraestrutural organizativo do pensamento mais materialista - o tipo de implantação dos locais, os artefactos associados e as mentalidades/ideais conjecturados para estes sítios arqueológicos suportam, de forma empírica, a existência de uma realidade cultura superior agrupadora. Ainda assim é necessário compreender que cada sítio arqueológico representa um conjunto de pessoas diferenciados, agentes e identidades distintas, bem como ritmos e vivências condicionadas pelo espaço que experienciam, tendo de se ter em conta que é necessário conhecer profundamente um sítio antes de proceder a leituras gerais e integradoras que vão, certamente, negligenciar as especificidades internas do local em estudo – esta foi a realidade seguida no

108

decorrer deste trabalho, estando agora, depois da análise completa das suas realidades territoriais, materiais e contextuais, mais aptos e prontos para posicionar o sítio da Ota numa corrente cultural e identitária regional, ou numa rede de contactos maior.

Uma das principais condicionantes na estruturação, e posterior identificação de territórios, é o próprio espaço em si, já que funcionaria enquanto realidade natural com pouco espaço para alteração antrópica. Outra das esferas onde o Meio vai actuar é a esfera social e mental, afectando assim o povoamento em todas as suas possíveis justificações – com os métodos e preceitos processualistas o destaque encontrava-se mais relacionado com as questões práticas e económicas do espaço, o tempo de obtenção de matérias, as horas de marcha associadas a cada tipologia de povoamento e as questões de visibilidade, contudo, com o surgimento e consolidação da corrente pós-processualista, mais especialmente nos modelos pós-antropocêntricos pensados por Gavin Lucas (2012), começam a surgir as questões mais sociais e culturais em relação ao espaço, recorrendo-se à Antropologia do Espaço, pensando mais como o Homem se entendia e se influenciava, a nível de pensamento e de materialização, pelo Ambiente.

O primeiro e principal conceito que surge, estruturando marcadamente a leitura que temos do sítio da Ota ou dos sítios congéneres, é a noção de sítio/povoado fortificado, assumindo-se que os sítios com estas características funcionam como sítios centrais de um território (teoria do lugar central), promovendo uma leitura directa da área envolvente aos espaços (Kunst, 1995) seguindo um modelo de observação linear (e redutor), esperando aceder-se, bem como determinar, qual a zona de influência e domínio da comunidade presente no recinto fortificado. A estes locais é ainda associada a prática da agricultura que, funcionando como riqueza (Gonçalves, 1989), vai gerar modelos territoriais mais rígidos, relacionados com o controlo das terras e gestão dos recursos produtivos (Sousa, 2010, p. 581).

Neste pacote conceitual é então inserido o sítio da Ota, que apresenta um conjunto de fragilidades que, essencialmente, se relacionam com o facto de este sítio não dispor de datações radiocarbónicas, ou de intervenções arqueológicas, que facilitariam, através da existência de um perfil estratigráfico e contextos, considerações de sucessões de ocupações, bem como ritmos e funcionalidades do espaço. Assim sendo torna-se difícil enquadrar temporalmente a estrutura defensiva existente na Ota, ainda que esta apresente paralelos com as técnicas construtivas das estruturas construídas no final do 4º/ inícios do 3º milénio, como o caso de Olelas (M. Gonçalves, 1997; Sousa, 2010), Moita da Ladra (Cardoso, 2010). A sua implantação, e desenvolvimento, bem como o tipo de materiais identificados inscrevem a Ota nesta linha dos povoados fortificados, com paralelos em sítios como Pedra de Ouro (Branco, 2007), Vila Nova de São Pedro (Paço e Jalhay, 1945), Leceia (Cardoso, 2006), Penedo do Lexim (Sousa, 2010), entre outros. Ainda assim, no que toca às questões de definição do posicionamento e funcionalidade do sítio, numa

109

teórica rede de povoamento especializado/hierárquico, não conseguimos estabelecer grandes considerações, podendo sim referir que, pela única linha de muralha identificada no terreno, a área do sítio da Ota, intramuros seria de 6653 m2, podendo ser considerado de pequenas

dimensões (Sousa, 2010, p.585), quando comparado com sítios como o Zambujal (Kunst, 1987; 2005), Vila Nova de São Pedro (Paço e Jalhay, 1945) ou Leceia (Cardoso, 2006). Os sítios anteriormente referidos, apresentam uma complexidade arquitectónica muito grande, aliada a uma distribuição equilibrada no espaço estremenho (Sousa, 2010, p. 585) à construção de diversas linhas de muralha, podendo representar ritmos de ocupação e estruturação maiores enquanto “sítios centrais” de uma área de influência. Neste caso concreto, tanto Ota como Pedra de Ouro, o sítio congénere mais próximo, também ele de pequenas dimensões, se poderiam inserir dentro da esfera de influência do sítio de Vila Nova de São Pedro, partilhando, essencialmente, afinidades geográficas e culturais. Sublinhamos ainda que, tal como verificado para o Penedo do Lexim (Sousa, 2010, p.585), não é possível identificar a área total ocupada, já que assumimos que os sítios têm, certamente, uma vida externa ao perímetro muralhado, como tal, e relembrando a existência de cinco estruturas circulares de tipo cabana na parte mais baixa do vale, bem como a existência de uma segunda linha de muralha identificada por Hipólito Cabaço, essa área é sempre fictícia e reflexo das realidades identificadas – se tivermos em conta o limite definido pelas estruturas e pela dispersão de materiais, é-nos possível chegar a um segundo valor, para lá da área do recinto muralhado, de 58131 m2, duplicando o recinto definido pela linha de muralha visível

no terreno.

A visão hierárquica do espaço local tem vindo a ser questionada (Hurtado, 2003; Valera, 2006), sendo sim necessário compreender o sítio numa rede maior de interligações, totalmente dependente dos ritmos de investigação e publicação (Sousa, 2010, p.583), não se podendo olhar para o espaço exclusivamente de forma económica, sem ter em conta a realidade social - não definimos claramente redes de povoamento afectas a Ota, contudo reconhecemos que com um estudo mais aprofundado do espaço, tal realidade se pode tornar possível, como é teorizado para Porto Torrão e Porto das Carretas (Soares, 2013).

Associar locais arqueológicos entre si, em especial este tipo de sítios fortificados, parte, essencialmente, de bases arqueográficas e empíricas pouco sólidas, em muito justificadas pelos trabalhos antigos que muitos destes sítios sofreram, não tendo sido documentadas as suas sequências estratigráficas ou ritmos/fases de ocupação. A Ota sofreu do mesmo problema, ainda que aparente ter áreas que permaneceram por escavar, identificadas no âmbito dos trabalhos de prospecção, que possibilitarão, no futuro, conhecer a sequência estratigráfica do “Castro” – as cronologias para aqui desenhadas baseiam-se, assim, em meras correspondências tipológico- formais com sítios com cronologias fundamentadas. Tendencialmente estes sítios, tanto os considerados de grandes dimensões, como os mais reduzidos, apresentam ocupações que

110

remontam ao Neolítico final (Sousa, 2010, p. 586) - indicando que os ritmos de desenvolvimento dos sítios podem não ser de crescimento, mas sim de retrocesso, como claramente identificado para o sítio do Zambujal (Kunst, 1987; 2005) – tendo uma maior expressão, sempre inflaccionada pela maior visibilidade das últimas fases de ocupação, ou pelas fases cujos “fósseis-directores” são mais abundantes e reconhecíveis. O Neolítico final da Ota assenta, em termos gerais e de forma relativa, nas propostas cronológicas estabelecidas para Leceia

O Calcolítico Inicial, já identificado para sítios como Leceia, Vila Nova de São Pedro, Olelas, Pragança, Castelo e Penedo do Lexim (Sousa, 2010, p. 586), não foi identificado, claramente, para o sítio da Ota, pela ausência de copos canelados – esta realidade pode ser justificada com um efectivo abrandamento da ocupação entre 2870-2400 a.n.e. (Cardoso e Soares, 1996), ou com uma invisibilidade relacionada com a pressão da ocupação posterior na Ota. As restantes peças, como as taças caneladas, foram detectadas, não sendo a sua cronologia totalmente clara.

Não há dúvida que as fases mais visíveis e mais comuns neste tipo de sítios, são as referentes ao Calcolítico Pleno, onde as cerâmicas de tipo Folha de Acácia, extremamente abundantes neste tipo de contextos domésticos, servem enquanto elementos datantes, bem como elementos funcionais determinantes das actividades praticadas nos sítios onde surgem – entenda- se aqui actividades relacionadas com a produção e armazenamentos de alimentos, realidade que seria praticável nos terrenos próximos ao Castro – sem deixar de, nas fases finais, se sentir um abrandamento e transformação nas dinâmicas presentes (Sousa, 2010, p. 587), surgindo, em sítios como o Penedo do Lexim, Zambujal e Leceia, utilizações de cariz funerário, indiciando já o fim da correspondência mental entre estas estruturas e uma realidade exclusiva dos “vivos”.

Quanto ao surgimento da cerâmica Campaniforme neste tipo de contextos, esta parece ter uma distribuição irregular, a nível temporal e espacial, dependendo essencialmente das implantações no terreno, ainda que surja em praticamente todos os sítios fortificados estremenhos. A principal diferença encontra-se na expressão e na cronologia de introdução destas influências, já que existem locais onde os conjuntos Campaniformes são amplos e ricos a nível decorativo, como o caso do Zambujal e Vila Nova de São Pedro, podendo ser associados a introduções precoces, novamente no Zambujal e em Leceia (Sousa, 2010, p. 588; Kunst, 1987; Cardoso, 2004). Na Ota, ainda que os fragmentos sejam de reduzidas dimensões, podemos aceitar que existe uma revisitação neste período cronológico – entre o final do 3º milénio e o 1º quartel do 2º milénio a.n.e. – que, tendo em conta as realidades estruturais identificadas, mais propriamente a estrutura 3, se pode assumir como uma possível presença associada a um contexto funerário ou, como acontece noutros sítios, um período de colapso/abrandamento do sítio. Na área de Ota, definida por uma mesma base geológica, encontramos o sítio da Porta da

111

Conceição/Alenquer/Castelo que apresenta um conjunto de 29 fragmentos com decoração campaniforme (Gomes, 1978, p. 61), sem se conhecer o tipo de utilização do espaço ou se reconhecer a existência de uma muralha – esta realidade permite, de acordo com os dados disponíveis, enquadrar este sítio dentro das tendências que se registam noutras áreas regionais, como a Ribeira dos Cheleiros (Sousa, 2010, p. 588), onde se verifica o surgimento de sítios abertos com grandes concentrações de cerâmica Campaniforme.

Estas dinâmicas temporais não podem ser desassociadas das questões espaciais que permitiram entender o destaque de determinadas ocupações, em alturas que outros locais sofrem um abrandamento, contudo, para a área da Ota, a inexistência de datações e de contextos minimamente seguros dificulta este processo de leitura mais ampla. Estes ritmos diferenciados e mais, ou menos, complexos podiam ser justificados como sendo um reflexo de um processo de especialização, como pensado por Francisco Nocete (2001), mas quando observada a componente material compreendemos que as evidências primárias lidas através dos materiais nos mostram uma realidade relativamente homogénea, sem sinais de concentração dos sítios em torno de uma função concreta. A especialização compreende-se, de forma mais clara, quando analisamos a presença da cadeia de produção da metalurgia (não identificada na Ota) e da produção de artefactos em Pedra Lascada, esta última bem representada – não podemos deixar de referir que na área do Canhão Cársico de Ota foi identificada uma zona com nódulos de sílex abundantes, enquanto que para outros sítios esta realidade não se verifica, tendo sido possível encontrar toda a cadeia operatória referente ao trabalho do sílex, onde contam núcleos não exaustos, pré-formas de diversos materiais, bem como um conjunto bastante grande de resto de talhe, mostrando que os materiais seriam talhados e trabalhos no espaço do sítio arqueológico, contrariando a ideia de que, na Estremadura, a mobilidade passa por peças já transformadas, e não pelas matérias-primas em bruto (Sousa, 2010, p.590, Aubry, Llach e Matias, 2014). A presença total dos processos de debitagem no sítio da Ota surge como uma realidade diferenciada da identificada para os sítios semelhantes, que não apresentam este tipo de registo (Sousa, 2010, p. 590), sendo mais compatível com cronologias mais recuadas (Diniz, 2003; Carvalho, 2007). A nível de representatividade e de evolução da presença das peças líticas, esta realidade é-nos impossível de alcançar pela inexistência de contextos e de sequências, ainda assim é certo que os materiais como as pontas de seta (103), as lâminas (123) e lamelas (70) têm uma grande representatividade no conjunto, sendo curioso que único paralelo para o domínio das Lâminas face às Lamelas é no sítio do Zambujal (Uerpmann e Uerpmann, 2003, p.29).

Outra das realidades que aproxima alguns dos povoados fortificados identificados para a área da Estremadura portuguesa, é o tipo de arquitecturas existentes, quer nos sítios arqueológicos em si, como nas imediações. A questão já debatida para a presença de fossas/estruturas funerárias no interior dos sítios parece começar a constituir-se como uma realidade recorrente, podendo

112

demonstrar que estes sítios, claramente marcados na paisagem e na sua envolvência, permanecem na memória das comunidades, sendo integrados, ainda que com outro sentido e noutra esfera do mundo social, nas práticas e vivências das populações posteriores, funcionando como mecanismo de legitimidade espacial através da associação aos antepassados, ainda visíveis no espaço. Estes dados necessitam de maior fundamentação teórico-prática, já que os dados da Ota e da Pedra de Ouro são baseados em realidades já intervencionadas e descritas há algumas décadas.

As questões identitárias não são exclusivas das fases seguintes ao abrandamento da ocupação dos sítios arqueológicos, estando igualmente expressas em realidades decorativas e tecnológicas, essencialmente identificadas na cerâmica e nos líticos, sendo estes o reflexo de um enquadramento conceptual mais amplo, quase normativo, em muito influenciado pela transmissão social dos preceitos e técnicas de produção (Sackett, 1977), que suporta, ao mesmo tempo que reflecte, a visão e a interpretação do Agente. Assumimos, claramente, que as afinidades morfológicas, bem como a diversidade formal, podem ser o reflexo de uma resposta eficaz a necessidades semelhantes, a práticas e ritos diferentes, ainda assim é necessário compreender que os elementos estilísticos são, necessariamente, diferentes dentro dos próprios sítios, tendo em conta que a interacção social é a verdadeira influenciadora da partilha de semelhanças culturais e, por inerência, sociais (Sackett, 1977, p. 376).

Dentro desta realidade teórica podemos igualmente inserir as questões decorativas, que, na área em estudo, ganham um ênfase maior quando compreendemos a importância que a cerâmica decorada têm nos conjuntos – uma análise deste tipo é sempre difícil para o caso da Ota, ainda assim a expressão decorativa é muito maior quando tidos em conta os números do Sul do país (Silva e Soares, 1987, p. 75; Gonçalves, 1989; Sousa, 2010, p.601) encontrando paralelos no Norte de Portugal (Valera, 2007, p. 606; Jorge, 1986). Na Ota a existência de cinco grupos decorativos vêm sustentar as considerações feitas acima, sendo que o 78% do conjunto vem dar destaque à ocupação do Calcolítico Pleno, essencialmente representa pelos motivos Folha de Acácia. Estas aparecem numa grande diversidade de formas, não sendo exclusivas, como se verifica, por exemplo para as taças caneladas presentes na Ota, agrupando um conjunto de motivos dentro de uma única “família” decorativa, que partilha uma técnica decorativa comum (Sousa, 2010, p. 605). A quase exclusividade do motivo decorativo Folha de Acácia em contextos domésticos, permite um pensamento mais concreto sobre o seu possível significado e funcionalidade, ainda que seja sempre uma análise hipotética, permitindo uma rápida associação com as noções de armazenagem e produção agrícola, sendo associada a uma produção menos cuidada de uso “diário”, não conotada com possíveis elites (Sousa, 2010, p. 607). A nível regional o sítio da Ota é de difícil integração, em especial porque os números integrais dos conjuntos dos principais sítios no seu entorno não se encontram publicados ou disponíveis. Para outras áreas, foi identificada uma diversidade de motivos dominantes consoante o sítio que se analisava,

113

ilustrando diferentes tipos de recolhas ou, efectivamente, ritmos, preferências e correspondências identitárias maiores com determinados motivos decorativos – esta questão é detectada quando observamos o caso da Pedra de Ouro, onde a cerâmica Folha de Acácia, dominante em Ota, tem pouca expressão (38 fragmentos em 238), podendo desenhar-se dinâmicas diferenciadas para estes dois sítios arqueológicos, que partilham uma mesma base geológica, mas aparentam ter identidades dominantes diferentes.

Novamente, a questão das identidades levanta problemas a nível do estabelecimento de limites identitários regionais que, para a Estremadura, parecem refectir ritmos de investigação, estabelecendo-se áreas de influência e de partilhas à medida que se vão conhecendo melhor as realidades arqueológicas. Os graus de mobilidade destas sociedades reflectem um modelo organizativo urbano (Ver conceito de Rémy e Voyé, 1994), onde existe uma necessidade de se movimentar para suprimir uma necessidade, podendo ela ser de caracter económico, produtivo, social ou cultural, funcionando o espaço como uma realidade móvel influenciadora da esfera mental do Homem que, pelo grau de mobilidade, se vai relacionar e deparar com outras realidades que podem, de certa forma, ser absorvidas e replicadas – é neste sentido que se podem então explicar as especificidades quase locais, dentro de uma área, a Estremadura, com semelhanças culturais e sociais claras.

É também a mobilidade que justifica os modelos economicistas muitas vezes aplicados na aquisição, troca e “comércio” de determinadas matérias primas e objectos, ainda que a noção de comércio actual não possa ser transferida, directamente, para os contextos mais antigos. A existência de trocas, num sentido mais genérico e neutral, esta atestada pelo menos desde o Neolítico, onde se verifica um gosto especial pela pedra verde, extraída em várias minas na Península Ibérica (Edo et al, 1997; Sousa, 2010, p 613; Odriozola et al, 2013). Outra das matérias que implica também um grande grau de mobilidade é o anfibolito, podendo ser considerado uma matéria-prima relativamente rara (Sousa, 2010, p. 614), mas que contribuiria e seria, certamente, usada enquanto ferramenta diária – a esta realidade podemos adicionar, na Ota, a presença de materiais metálicos cuja base de transformação, os minérios, também não se encontrariam na zona estremenha, sendo estes utensílios reduzidos no conjunto.

O anfibolito tem um grande destaque no conjunto da Ota, sendo que os 31 fragmentos caracterizados como anfibolitos, representam um peso de 7904 gramas de peso total, enfatizando- se ainda que a existência de utensílios de morfologia semelhante foi igualmente detectada em matérias calcárias locais, podendo ser utilizada como recurso mais substituível, não sendo possível aceder a distribuições cronológicas, ou espaciais. Certo é que a maioria das peças da Ota apresentam sinais de uso, acentuando, claramente, a utilização destes objectos enquanto ferramentas. Alguns dos machados identificados na Ota, sem marcas de uso, aparecem associados

114

a contextos funerários, pela sua dimensão, peso e polimento cuidado – esta realidade vai dar fundamento à ideia da existência de uma estrutura funerária/enterramento na área da Ota. Certo é que a proveniência desta matéria seria externa à Estremadura, sendo genericamente associada a filões no Alentejo (Cardoso, 1999/2000, p. 267), não se devendo deixar de referir que poderia, igualmente, ser proveniente do Norte de Portugal, da área das Beiras (Cardoso, 1999), intensificando e criando uma imagem mais ampla das possíveis redes de troca inter-regionais. Não foram identificadas peças inacabadas, ou blocos de matéria-prima, dando-nos a imagem de que estes materiais chegariam já transformados ao sítio da Ota, podendo existir uma rede de relações a uma micro-escala, já que na Pedra de Ouro foram identificados materiais inacabados (Branco, 2007), bem como em Vila Nova de São Pedro (Paço e Jalhay, 1945, p. 199), acentuando a eficácia que estes materiais teriam, na realização das suas funções, sendo as matérias primas locais preteridas em relação a este material “exógeno”.

No que toca à metalurgia, esta é sempre difícil de trabalhar quando não se encontra associada a contextos estratigráficos bem definidos. Ainda assim, de forma geral, representam sempre conjuntos minoritários, realidade também observável para o sítio da Ota, ainda que, se os machados planos e a ponta confirmarem, após estudos arqueométricos, terem sido desenvolvidos com uma liga de cobre, este seja um dos conjuntos metálicos melhor conservados. As cincos peças metálicas cujas tipologias parecem apontar para as cronologias aqui em estudo, pesam um total de 1153 gramas, número que ultrapassa o peso para as 130 peças identificadas para Leceia (Muller e Cardoso, 2008), mostrando que as peças da Ota saem do paradigma observado para contextos

Documentos relacionados