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2. MARCO TEÓRICO DOS TERMINAIS URBANOS E A PRAÇA PÚBLICA

2.6. GRUPO DE USUÁRIOS

A categorização de grupos é amplamente utilizada nas pesquisas sobre comportamento ambiental, nas ciências sociais. (NASAR, 1992; YIN, 2001; SOMMER & SOMMER, 2002; RHEINGANTZ, AZEVEDO, BRASILEIRO, ALCANTARA, QUEIROZ, 2009). De acordo com Carmona e Wunderlich (2012, p.5), as sociedades estão segmentadas entre distintos níveis de educação, de oportunidade, de riqueza, sendo também a etnia e a cultura outros dois fatores importantes de distinção entre grupos. Os estudos realizados por Rapoport apud Barros (2010, p.13), apontam o conceito de filtros culturais, sub-culturais e pessoais como norteadores para investigações do comportamento ambiental. Ou seja, é esperado que membros do mesmo grupo social compartilhem atitudes, preferências e normas comportamentais, servindo o filtro como “lentes” utilizadas pelos observadores ao

perceber o ambiente construído, as quais reforçam as associações entre os grupos e seu status social-econômico, educação, idade e gênero.

A cultura de cada povo é única por abarcar sua própria história e grande parte do comportamento humano é orientado pela cultura, indicando padrões de comportamento e símbolos os quais são compartilhados por um grupo de pessoas. As respostas de grupos de residentes e frequentadores do lugar e àqueles que raramente passam pelo local apresentam fortes correlações, de acordo com vários estudos de comportamento ambiental. (NASAR, 1992). Segundo Lynch (1999, p.8), qualquer objeto evoca uma imagem aos observadores e esta imagem tem maior probabilidade de ser consensual na medida em que se separam grupos de classes mais homogêneas, tais como: cultura, grau de familiaridade e temperamento, idade, sexo e profissão. Ainda o autor salienta que as distinções entre as percepções dos usuários existem, mas interessam aos planejadores urbanos as imagens mentais coletivas geradas por um grupo de pessoas, chamadas de “imagens públicas”.

Nesse contexto, os grupos de usuários do espaço público são diversos e apresentam diferentes necessidades, sendo que essa investigação intenciona considerar distintas categorias da população para definição de diretrizes que atendam a todos os grupos de usuários quanto à qualidade visual e a identidade do lugar. Sendo a utilização de grupos importante para a utilização de resultados científicos que pretender responder aos diversos graus de satisfação de distintos grupos de usuários. (STAMPS, 2000). Desse modo, com o objetivo de compreender, através da percepção dos principais grupos de usuários encontrados, qual foi o impacto da inserção dos terminais urbanos na praça pública, também comparando suas respostas avaliativas, foram selecionados os seguintes grupos de usários: (i) moradores do entorno; (ii) usuários dos terminais de ônibus; (iii) trabalhadores do local; (iv) pessoas que trafegam pelo lugar e (v) pessoas que praticam atividades opcionais.

2.7. AS IMPLICAÇÕES DAS CONEXÕES DA PRAÇA COM A CIDADE: UMA ANÁLISE SINTÁTICA

A Teoria da Sintaxe Espacial foi criada pelos pesquisadores Bill Hillier, Julienne Hanson e seus colaboradores na Universidade de Londres, na da década de 1970. Sua proposta surgiu através da observação das relações entre a configuração espacial e as interações humanas no espaço. A teoria investiga as relações sociais e a configuração espacial, abordando a distribuição de pessoas no espaço e a distribuição do próprio espaço e verifica que ambos são consequências da maneira que as sociedades se produzem e se reproduzem. (HILLIER & HANSON, 2005, p. 29).

A partir de exemplos de organização do espaço, Hillier & Hanson (2005) conseguiram perceber alguns princípios para a formação da configuração do mesmo. Essas regras estão baseadas na lógica e nos limitantes físico do espaço, estando a forma resultante de acordo tanto com as leis naturais como também com as ações da sociedade. As motivações e interligações dos indivíduos que constroem o espaço urbano são analisadas sistematicamente em relação aos padrões espaciais implantados. A análise sistemática busca estabelecer a distância máxima na qual os indivíduos conseguem relacionar suas ações espaciais com as dos outros com o objetivo de criar padrões e formas espaciais. Esses padrões e formas geram regras básicas que são representadas graficamente, expressando princípios geradores de ordem espacial. (HILLIER & HANSON, 2005, pp. 36- 55).

Para a construção da representação da análise sintática foram desenvolvidos alguns ideogramas, dentre os quais, se encontram as linhas axiais e os campos visuais. As linhas axiais são as maiores linhas retas que conseguem atingir todo o sistema de espaços abertos de um determinado recorte urbano, determinando o grau de integração das vias do sistema, representado graficamente pelo mapa de integração. (HILLIER & HANSON, 2005, pp. 36- 55). Os campos visuais são relacionados à permeabilidade visual, fornecendo a descrição do espaço a partir do ponto de vista do indivíduo ou representando os locais de maior alcance visual. O campo visual é representado graficamente por mapas de visibilidade e mapas das isovistas, sendo que o primeiro indica o lugar mais visível e o segundo representa tudo o que pode ser visto a partir de um ponto no espaço. (HILLIER, 2007, pp. 92-94).

A base de análise é a mesma tanto para as linhas axiais quanto para o campo visual, sendo realizada através do grau de profundidade das linhas axiais do sistema estudado. A diferença é que enquanto para a análise da integração são determinadas as linhas axiais que percorrem a menor distância no espaço, para o campo visual todo o espaço analisado é preenchido por linhas axiais, sendo que a avaliação da integração ocorre a partir da borda para o centro. (HILLIER, 2007, pp. 271-272). (Fig. 2.26).

Para analisar a medida do grau de integração, a análise sintática avalia não a distância métrica, mas a distância topológica, ou seja, o quão distante uma linha axial está de todas as outras do sistema. Sendo essa distância chamada, na Teoria de Sintaxe Espacial, de profundidade e sua média calculada através de uma fórmula especifica a qual apresenta matematicamente o nível de profundidade das linhas do sistema. Uma linha axial quando possui eixos a seccionando, diz-se que essas estão a um passo topológico em relação à primeira, já as linhas axiais que seccionam esses eixos, estão a dois passos topológicos em relação à primeira e, assim por diante. (HILLIER & HANSON, 2005, pp.104- 108; HILLIER, 2007, pp. 94-95).

Figura 2.26: Mapas de integração (à esquerda) - linhas axiais demarcam a maior distância sem interrupções entre os espaços. Mapa de visibilidade (à direita) todo o espaço aberto preenchido

com linhas axiais.

Para analisar a medida do grau de integração, a análise sintática avalia não a distância métrica, mas a distância topológica, ou seja, o quão distante uma linha axial está de todas as outras do sistema. Sendo essa distância chamada, na Teoria de Sintaxe Espacial, de profundidade e sua média calculada através de uma fórmula especifica a qual apresenta matematicamente o nível de profundidade das linhas do sistema. Uma linha axial quando possui eixos a seccionando, diz-se que essas estão a um passo topológico em relação à primeira, já as linhas axiais que seccionam esses eixos, estão a dois passos topológicos em relação à primeira e, assim por diante. (HILLIER & HANSON, 2005, pp.104- 108; HILLIER, 2007, pp. 94-95).

Para a compreensão da análise sintática a representação do grau de profundidade ocorre através da variação de cores, iniciando pelo roxo, passando pelo azul, ciano, verde, amarelo, laranja, até chegar ao vermelho. Com o objetivo de representar a menor distância topológica, ou seja, a maior integração, a cor apresentada é o vermelho, cor mais quente e para a maior distância topológica, menor integração, a cor utilizada é o roxo, cor mais fria. Também existem duas formas de verificar o grau de integração do sistema, podendo ser através do mapa global, onde todas as linhas axiais são consideradas ou do mapa local, onde são calculadas apenas três linhas de distância de cada uma em todas as direções. Desse modo, o primeiro mapa apresenta os locais mais integrados e segregados do sistema todo e o segundo demonstra a integração dos mesmos locais, mas relacionados a regiões menores dentro do sistema. (HILLIER& HANSON, 2005, pp.104-108; HILLIER, 2007, p.119). A partir destes estudos se verificou que as linhas axiais com alta integração são muito importantes porque têm o potencial de promover o acesso a diversas outras linhas axiais. Isso indica que os usos comerciais e serviços tendem a se instalar nessas vias, devido ao grande fluxo de pessoas que se movimentam naturalmente ao encontro desses

locais devido sua alta integração, sendo também apropriadas para o transporte coletivo. (HILLIER, 2007, p. 120).

Esses estudos também indicam que as praças públicas são espaços abertos na cidade e quando mais integradas ao sistema de conexões da mesma podem proporcionar mais interação e possibilidades de uso, devendo ser avaliado o aspecto da permeabilidade visual e acessibilidade os quais estão diretamente relacionados ao movimento de caminhada. Desse modo, se verifica que nos locais de maior visibilidade no espaço público devem se localizar os monumentos, edifícios religiosos e institucionais, assim como outros significados podem ser atribuídos a esses lugares através da composição dos diversos níveis de visibilidade.

Como um exemplo de praça pública de caráter histórico alvo de intervenções urbanas com a utilização da análise sintática, temos a Praça General Gordon a qual se localiza na região de Woolwich que fica ao sudeste de Londres, na Inglaterra. Essa praça passou por várias etapas de regeneração urbana, as quais causaram grande impacto no centro da cidade, sendo que entre as alterações está a inserção de novos terminais de transporte urbano. Para a realização do projeto de intervenção foi realizado um concurso para requalificação da área e a equipe vencedora utilizou a análise sintática para redesenhar os espaços abertos da praça. Juntamente com a Praça General Gordon foi estudada a Praça Beresford que fica muito próxima a primeira. (Fig. 2.27).

Figura 2.27: Projeto das praças General Gordon e Beresford proposto pela empresa Gustafson Porter. (Fonte: http://www.gustafson-porter.com/woolwich-squares/, 2011).

A Praça General Gordon se caracteriza como uma praça jardim, com canteiros gramados e caminhos geométricos, onde se localiza a antiga sede da Woolwich Building Society, importante referência visual e histórica do local. Já a Praça Beresford é reconhecida como um espaço aberto de comércio para Woolwich. O projeto se destaca por manter estas

situações, apesar da inserção de terminais de ônibus urbanos em uma das laterais da Praça General Gordon. Esses terminais urbanos foram solicitados para solucionar problemas de acessibilidade e mobilidade urbana, sendo a proposta da intervenção baseada na avaliação dos graus de integração física e visual, a fim de contribuir para qualificação das Praças, agrega a utilização de materias de boa qualidade.

Figura 2.28: Foto aérea da Praça General Gordon após a implantação do projeto. (Fonte: http://www.gustafson-porter.com/woolwich-squares/, 2011).

A Praça General Gordon que tem por característica uma grande área livre, sem equipamentos e com poucas árvores, recebe terminais urbanos em uma de suas laterais. (Fig. 2.28). A lateral escolhida é a mais integrada e visível, conforme indica os mapas de visibilidade e de integração. (Fig. 2.29 e 2.30). A pesquisa verifica que os terminais implantados não interrompem os acessos pavimentados existentes, bem como, apesar de extensos e apresentarem bancos, sua largura não ocupa toda a calçada periférica onde estão instalados, reservando um espaço para a circulação de pedestres.

Figura 2.29: Mapas de visibilidade (praças General Gordon e Beresford) indicando o grau de permeabilidade visual antes (esquerda), menor integração visual, e depois (direita) do projeto

Figura 2.30: Mapa de integração do local de estudo (praças General Gordon e Beresford) dentro da cidade de Londres. (Fonte: http:www.spacesyntax.com/Project/woolwich-squares/, 2011).

A composição formal dos terminais se integra a essa praça, ficando quase imperceptível sua presença no local. (Fig. 2.31 e 2.32). Isso ocorre devido à cobertura ser reta e ficar bem abaixo das copas das árvores, seu fechamento vertical ser transparente e também apresentar cores que não se destacam no local, sendo as mesmas encontradas em vários elementos da praça. Assim, as árvores que ficam dispostas ao longo dessa calçada são visualizadas pelos usuários do entorno, bem como todo o espaço do interior da praça.

Figura 2.31: Terminal urbano ocupa aproximadamente um terço da largura

da calçada, deixando espaço para circulação de pedestres. (Fonte:

http://hidden-

london.com/gazetteer/woolwich/, 2012).

Figura 2.32: Vista do interior da praça, na altura do observador darua onde estão implantados os terminais urbanos, os quais ficam integrados à paisagem. (Fonte: http://alexgrantdotme.files.wordpress.com/2014/06/cimg2257.j

pg, 2014).

Nesse contexto, a aplicação da Teoria da Sintaxe Espacial é verificada em projetos e estudos urbanos, os quais são desenvolvidos para melhorar a acessibilidade e a mobilidade urbana; mas também para fins de coesão social através da diminuição da segregação social, para melhoria a melhoria da segurança nos espaços públicos; e para às áreas comerciais. Desse modo, a Teoria é utilizada nessa investigação com o objetivo de avaliar o grau de integração física e visual, ou seja, a acessibilidade e visibilidade, da praça caso de estudo.