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2. MARCO TEÓRICO DOS TERMINAIS URBANOS E A PRAÇA PÚBLICA

2.4. SENTIDO DE LUGAR: IDENTIFICAÇÃO, ORIENTAÇÃO E SIGNIFICADO

O sentido de lugar é descrito por vários autores como um conceito abrangente o qual descreve, além da simples localização no espaço e suas caracterísitcas físicas, a expressão de um sentimento coletivo. (NORBERGH-SCHULZ, 1980; LYNCH, 1999; NAJAFI; SHARIFF, 2011; CASTELLO, 2007). Existem outros conceitos que auxiliam na compreensão do tema, um deles é o “espírito do lugar” ou genius loci, sendo esse termo existente desde a Roma antiga, conforme Norberg-Schulz (1980, p.21), o mesmo determina a essência do local. Desse modo, os antigos romanos respeitavam o genius loci dos lugares, pois entendiam que a boa relação entre o lugar fisico e seu sentido psíquico eram responsáveis por sua sobrevivência. Estudos realizados por Lynch (1999, pp.139-140) corroboram ao apresentar o senso de lugar como algo que se encontra no homem primitivo o qual distingue e dá nome às paisagens, devido a sua forte identificação e vínculo com ela, sendo que sua permanência traz segurança e representa continuidade.

Nesse sentido, Lynch (1999, p. 13) contribui para o entendimento do sentido do lugar ao definir o termo imaginabilidade como sendo a propriedade do espaço urbano que evoca uma imagem forte nos seus usuários e salienta a importância da identidade e da estrutura percebida pelos usuários para a avaliação do espaço urbano. Dessa forma, a identificação e a orientação são referidas como dois fatores relacionados ao senso de lugar que servem para a sobrevivência do homem no mundo, sendo que todas as pessoas possuem esquemas associativos que identificam o local e orientam o deslocamento das mesmas. (NORBERGH-SCHULZ, 1980; LYNCH, 1999).

A identificação é o reconhecimento do lugar através de suas características físicas e simbólicas e, de acordo com Norberg-Schulz (1980, p.22), estar identificado com o lugar é o mesmo que pertencer a este lugar, sendo que a experimentação do espaço urbano condiciona a ambientação com o mesmo, tornando a identificação um fator fundamental para o homem existir no mundo. Enquanto a orientação, conforme o mesmo autor, é o fator que possibilita ao homem conhecer novos lugares e realizar associações com os espaços urbanos e os elementos que o compõem assegurando sua localização no espaço, refletindo em segurança para seu deslocamento.

O significado simbólico é a representação das crenças, vivências, valores e aprendizagens dos indivíduos relacionadas ao ambiente físico. Lynch (1999, pp.7-13) corrobora para o entendimento do significado simbólico ao apresentar que a relação entre o observador e o ambiente no qual está inserido é um processo bilateral resultando em imagens ambientais direcionadas. Ou seja, as imagens apresentam o ambiente, que tem suas características próprias, mas o observador as percebe, selecionando, organizando e dando significado ao que vê, gerando uma imagem limitada e podendo variar entre observadores distintos, de acordo com seus aspectos simbólicos e da experiência de cada indivíduo. O autor demonstra a explicação através do seguinte exemplo: um espaço urbano muito desordenado pode ter identidade e ordenação em sua imagem mental devido à familiaridade das pessoas com o ambiente.

Desse modo, outros estudos relatam que pessoas diferentes imprimem significados distintos a mesmas variáveis arquitetônicas, afirmando que o processo psicológico de interpretação do significado simbólico tem respostas associativas que se alteram ao longo do tempo. Também demonstram que questões de segurança podem ser solucionadas através da utilização de elementos físicos os quais transmitam significados simbólicos que servem como marcos territoriais, sendo utilizados como delimitadores do espaço, para a identificação e orientação das pessoas no ambiente. Ainda, a configuração espacial de fechamento ou amplitude, a escala e a proporção, também carregam sensações associativas, nesse sentido é possível afirmar que alguns padrões espaciais possuem significados simbólicos. (NASAR, 1992, p.14). Nesse contexto, Norberg-Schulz (1980, p.59) corrobora ao afirmar que para a praça pública ter identidade, a caracterização do local, sua marcação territorial deve estar claramente definida, ou seja, elementos físicos visíveis devem delimitar as fronteiras do lugar e servir de orientação para os usuários.

O comportamento e as atitudes dos indivíduos no ambiente urbano estão conectados ao senso de lugar e devem ser compreendidos como resultados das crenças, valores, aprendizagem e memória dos indivíduos relacionados ao espaço estudado. Esses elementos são responsáveis pelos valores definidores da atração e repulsão do espaço urbano, estando associados às motivações, ao comportamento e às emoções do usuário. As

pessoas ligam certos lugares a pessoas ou eventos, não por suas características físicas, mas devido a sua configuração ter um significado simbólico, de acordo com os eventos que aconteceram por lá. (NASAR, 1992, pp.19-20). Estudos relativos aos espaços abertos nas cidades, realizados por Nohl (in NASAR, 1992, p.75), relatam que as pessoas costumam responder que gostam de parques e praças porque é um símbolo de natureza, por esses espaços serem distintos do ambiente árido da cidade, além disso, verifica que as pessoas também associam à natureza uma série de outras características simbólicas, tais como: paz, originalidade, liberdade e solidão.

Nesse sentido, Childs (2004, p.6) relata que para os projetos em praças públicas terem sucesso os projetistas devem conhecer as formas de projetar o espaço público as quais respeitam e contribuem para o genius loci do local, sendo elas: a verificação da paisagem natural e do ambiente construído do entorno e qual a relação existente entre o local e este entorno e, também, quais os elementos do ambiente que podem tornar o lugar mais sociável e democrático. Ou seja, os projetistas devem ter elementos para, a partir do sentido do lugar, projetar contribuindo para a identificação, orientação e significado simbólico do mesmo.

Desse modo, essa investigação aborda o sentido do lugar e alguns dos fatores, como identificação, orientação e significado simbólico, para compreender o impacto da inserção dos terminais urbanos no comportamento e nas atitudes dos usuários das praças públicas de caráter histórico. Através da análise de como esses elementos físicos podem interferir no sentido do lugar, sua identidade e na função da praça pública, também buscar variáveis físicas e simbólicas, as quais sejam favoráveis ao êxito do projeto.