• Nenhum resultado encontrado

3. METODOLOGIA

3.1. SELEÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

3.1.2 A Praça Almirante Tamandaré

A Praça Tamandaré localizada no centro comercial e adjacente ao centro histórico do município, ainda em 1829, não constava no mapa da Vila, sendo descrita pelo historiador Torres (2003) como uma área de difícil ocupação, com grande quantidade de areia. Desse modo, formava lagoas que eram utilizadas pelos escravos e populares como fonte de água potável, desde o início do século XIX, sendo que a qualidade da água assegurava muito valor ao local e poços foram sendo construídos. (ESTIMA, 2005, p.35). (Fig. 3.8).

Figura 3.8: Poços da Praça em 1860, com a Rua General Neto ao fundo. (Fonte: ESTIMA, 2005, p. 35).

Apesar da primeira denominação de Praça dos Quartéis, era conhecida popularmente por Geribanda, palavra que significa descompostura, devido às brigas e discussões as quais aconteciam regularmente no local. (ESTIMA, 2005, p. 34). Em 1865, a Câmara Municipal homenagiou o Almirante Joaquim Marques de Lisboa ainda em vida devido a sua atuação nas guerras do Rio da Prata e do Paraguai, dando à Praça seu nome: Praça Almirante Tamandaré. (LEITE, 2008, p. 12). Sendo esse herói, nascido em Rio Grande, o patrono da Marinha do Brasil que pelos serviços prestados em defesa do território brasileiro ainda na época do império, recebeu o título de marquês de Tamandaré. (RIBEIRO, 2013).

Novas ruas foram abertas nos arredores do local, reafirmando o espaço como praça e apesar de ter sido muito disputada, a área permaneceu como espaço público. Sendo um terreno muito alagadiço recebeu obras para canalização das águas e a proposta de arborização e construção de um lago, em conformidade com outras cidades brasileiras que no mesmo período também passaram pela implantação de projetos de saneamento básico e embelezamento, conforme apresentado no item 2.2.1. Desse modo, a praça foi aterrada e a sua área central recebeu um chafariz vindo da Europa. Em 1896, foram inaugurados o lago e as torres dos moinhos, sendo construída, em 1900, uma casa para o guarda da Praça, mas ainda no inicio do século XX a praça fornecia água potável e os cata-ventos tinham a função de retirar o excesso de água do lago. (Fig. 3.9). (ESTIMA, 2005, p.35-39).

Figura 3.9: Postal da Praça Tamandaré após a remodelação com o lago e os cata-ventos. (Fonte: http://www.darcyjunior1.xpg.com.br/pra%C3%A7as.html).

O desenho urbano estabelecido no início do século XX segue até os dias de hoje, apresentando traçado em cruz, com dois estares centrais, calçadas periféricas e vários recantos para contemplação e descanso. Essas características revelavam uma tipologia de praça brasileira conhecida como romântico-clássica, de acordo com o item 2.2.1, misturando atributos da praça brasileira de tipologia clássica com o tipo romântica. A partir desses melhoramentos, a Praça começou a receber monumentos que faziam homenagens a

personagens ilustres da história do Brasil. Entre eles se destacavam o monumento ao Almirante Tamandaré e o túmulo do Bento Gonçalves, o qual se instalou no centro da Praça. Os restos mortais de Bento Gonçalves foram depositados na Praça Almirante Tamandaré, no dia 20 de setembro do ano de 1909 (Fig. 3.10). Esse ato demonstrou o quão importante esta praça é do ponto de vista simbólico para a história do Estado do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Figura 3.10: Imagem do Monumento Túmulo General Bento Gonçalves. (Fonte: Autora, 2014).

A Praça Tamandaré ainda comportava um coreto, edificações protomodernistas, playground, mesas para jogos de xadrez e damas, várias esculturas, além de grande e variada concentração de árvores. Devido à grande dimensão da Praça a manutenção da mesma era uma constante preocupação. Dessa forma, as pontes de ferro foram substituídas por cimento armado, o passeio de lajes foi substituído por tijoletas e foram construídos mictórios. (ESTIMA, 2005). Também, durante a década de 1940 ocorreu à inserção do abrigo de bondes, sendo este terminal utilizado exclusivamente por bondes elétricos. (LEITE, 2008, p. 16). (Fig. 3.11 e 3.12).

Esse foi o inicio da utilização da praça por terminais de transporte urbano, já visando à acessibilidade e mobilidade urbana, de forma empírica, observando a sua localização central e o sistema viário que destacava as vias do seu entorno como vias arteriais. A partir de 1939, de acordo com Leite (2008, p.16), os bondes foram gradativamente substituídos pelos ônibus urbanos, sendo que após a desativação dos mesmsos, o ônibus se tornou o principal transporte público de passageiros. O antigo terminal de bondes se transformou

numa espécie de terminal de ônibus, mas seus espaços internos foram arrendados para lanchonetes e prestadores de serviços, sendo conhecido atualmente como Abrigolândia.

Figura 3.11: Antiga Estação de Bonde de Rio Grande, na Praça Tamandaré. (Fonte: http://mbasic.facebook.com/RGHistorica?v=timeline&timecutoff=1382561043&page=6&sectionLoadin gID=m_timeline_loading_div_1388563199_1357027200_8_6&timeend=1388563199&timestart=13570

27200&tm=AQC7L1QOL-bLUqYn, 2013).

Figura 3.12: Imagem atual da Abrigolândia, antiga estação de Bondes. (Fonte: Autora, 2013).

Além do antigo terminal de bondes, foram distribuídos pelas calçadas da praça vários pontos de ônibus, utilizados pelas empresas de transporte como ponto final e de partida de várias linhas. Além disso, diversos ambulantes se instalaram próximo aos pontos de ônibus da rua 24 de Maio, privatizando o espaço e criando o chamado camelô de Rio Grande. Em 2001, foi construído, longe do centro comercial, um local para instalação destes ambulantes, retornando o espaço da praça à população. Algumas bancas e quiosques foram construídos para comercialização de revistas, ervas de chá, entre outros espaços de comércio e serviço que se mantiveram até os dias de hoje. Também, foram construídos espaços para comercialização de passagens de transporte coletivo, até a recente e maior modificação que foi a implantação dos novos terminais urbanos, iniciada em 2012.

Muitas dessas novas inserções ocorreram com o passar dos anos, de acordo com as novas necessidades da cidade. Conforme o item 2.2.1, a partir do adensamento populacional e verticalização das cidades, ocorreu o surgimento do lazer ativo em praças públicas, se estabelecendo locais como playgrounds e quadras poliesportivas. Ainda, no final do século XX, surgem atividades de comércio e serviços, como camelôs e restaurantes, na praça pública. Desse modo, o programa de atividade das praças se amplia também para privilegiar a circulação de pedestres e do apoio ao transporte público, através da instalação de terminais de ônibus.

Nesse contexto, assim como as demais intervenções, a instalação dos novos terminais de ônibus urbano, objeto de estudo dessa pesquisa, foi concebida por técnicos, sem consulta a população local. Dessa forma, começaram a construção dos terminais urbanos no ano de 2012, sendo construídas quatro plataformas, até o momento em que o IPHAN-RS (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, superintendência do Rio Grande do Sul), interviu ao receber uma denúncia da realização de escavações em local de importância histórica sem laudo arqueológico, determinando que as obras parassem. Desde então, as obras estiveram paradas até final do ano de 2015.