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2. MARCO TEÓRICO DOS TERMINAIS URBANOS E A PRAÇA PÚBLICA

2.3. PERCEPÇÃO E COGNIÇÃO: CONCEITO E IMPORTÂNCIA

O termo comumente utilizado para designar o processo de interação entre o homem e o ambiente é percepção ambiental. Conforme apresenta Reid (1785, apud GIBSON, 1966, pp. 1-6) a crença na existência dos objetos externos é dada pelos sentidos os quais são responsáveis por nos fazer sentir e perceber tudo o que está ao redor. Desse modo, ainda

de acordo com o autor, a percepção é a crença que a natureza produz através dos sentidos e o sentimento gerado juntamente com a percepção é a sensação, impossibilitando essas de serem dissociadas. Também outros estudos como o de Gibson (1966, pp. 1-6) avaliam novos condicionantes para a percepção, tais como aprendizagem e memória.

Nesse sentido, para a compreensão da experiência estética no ambiente construído, os estudos de percepção ambiental se dividem. Enquanto uma esta focada na experiência sensorial, avaliando principalmente a forma, o ritmo e a complexidade do espaço construído, a outra também se preocupa com as sensações recebidas pelo ambiente, entretanto evidencia os significados associativos percebidos no ambiente construído. (LANG, 1987; NASAR, 1992).

Desse modo, surgem duas definições distintas as quais avaliam o ambiente físico através da percepção ambiental, são eles: percepção e cognição. O conceito de percepção é a interação entre o indivíduo e o ambiente sendo avaliado o comportamento do mesmo através dos sentidos básicos do ser humano como visão, audição, olfato, tato e paladar. Esse conceito considera a existência de padrões formais responsáveis pelas atitudes e comportamento do indivíduo no ambiente, analisando o processo neurológico existente em todo ser humano. Assim, no processo perceptivo, a avaliação do ambiente é realizada através dos fatores que influenciam a percepção da forma, tais como: proximidade, simetria, continuidade, relação entre áreas, entre outras “leis” que sempre orientaram os projetos arquitetônicos e urbanos. Assim, o processo perceptivo busca analisar a qualidade estética do espaço urbano e da arquitetura, com base no processo fisiológico do indivíduo o qual condiciona todo o ser humano a ter a mesma sensação física no momento em que entra em contato com determinados padrões formais encontrados nas edificações e no espaço urbano, de acordo com a teoria da Gestalt. (LANG, 1987; WEBBER, 1995).

Ao reconhecer que os mesmos elementos arquitetônicos podem representar significados diferentes a grupos distintos e ao mesmo tempo diferentes formas emitirem o mesmo significado a estes grupos, se verifica que as pessoas possuem padrões de associações, sendo essas características importantes para reconhecimento das variáveis que indicam significado simbólico. Desse modo, os atributos básicos dos objetos são as cores, formas e estruturas, sendo estes facilmente percebidos pelos nossos sentidos básicos, entretanto, num segundo momento ao transpor as qualidades psicológicas, estes mesmos atributos emitem sensações como prazer e medo e nesse nível se encontram os significados, a simbologia dos objetos, sendo que as variáveis físicas compostas pelos materiais, configuração espacial, iluminação e cores devem ser reconhecidas como carregadas de significado simbólico, bem como determinados lugares evocam associações com pessoas ou eventos, devido a fatos marcantes ocorridos no local. (NASAR, 1992, pp. 12-19).

Desse modo, surge o conceito de cognição que tem uma definição mais abrangente a qual considera a experiência passada, a memória e a cultura para avaliar a relação do indivíduo com o ambiente, verificando as diferentes concepções do mesmo espaço através de propriedades simbólicas existentes no ambiente. Essa definição considera padrões de relações significativas e de experiências passadas como base para compreender o comportamento do individuo no ambiente. O processo cognitivo descreve como um processo de construção, entendendo que a mente acumula informações e associações partindo da experiência cotidiana. Ou seja, a cognição ambiental se correlaciona ao aprendizado e à memória, por meio da sistematização, arquivamento, reconstituição e da solicitação de imagens de características ambientais as quais, inicialmente, não estão presentes no espaço físico. Para o indivíduo adaptar-se a um novo ambiente ou adaptar este ambiente ao seu modo de vida, é fundamental os processos de aprendizado, memória e generalização. O processo de cognição ambiental investiga o valor que é atribuído ao ambiente devido às experiências previamente vivenciadas, considerando fatores como memória, experiências passadas, conhecimentos, cultura e valores dos usuários. (ITTELSON, 1978; LANG, 1987).

Lynch (1999) corrobora para o entendimento do processo cognitivo ao apresentar o urbanismo da cidade como uma arte temporal, sendo compreendido com o passar dos anos. Observa que para a percepção do espaço urbano, os indivíduos buscam, através dos sentidos (olfato, audição, visão e tato), suas lembranças fazendo associações e criando significados para os lugares. Segundo Okamoto (2002), a mente é seletiva e recebe estímulos do ambiente de acordo com o interesse e essa sensação leva a um comportamento. No seu entendimento, o homem recebe estímulos de dois universos: exterior, para sua adaptação ao mundo, e interior, o qual reage de acordo com sua interpretação da realidade. Sendo que esses dois estímulos, juntos, geram o comportamento.

Nos estudos sobre praças realizados por Childs (2004, p.121), questões como insegurança, podem ser entendidas através da existência de obstáculos simbólicos. Ou seja, a iluminação do espaço, caminhos abertos ou, o contrário, a distância curta em uma vegetação muito densa, as modificações e texturas da superfície do trajeto a percorrer. Esses elementos podem ser identificados pelos usuários como limites para as zonas seguras e inseguras, através da associação do espaço construído com uma série de práticas sociais. (CHILDS, 2004, p.121).

Vários estudos tratam sobre a avaliação de projetos de edificações e de espaços urbanos através da análise perceptiva e cognitiva dos usuários. Conforme Reis (2009, p.56), essas pesquisas buscam através da produção de conhecimento sobre as relações entre o ambiente construído e natural - suas características físico-espaciais - e os seus usuários -

atitudes e comportamentos - a qualificação do ambiente construído. Para isso, se fazem necessárias a descrição e a análise do ambiente e do comportamento dos usuários. Ou seja, a percepção ambiental colabora para a realização de pesquisas na área das ciências sociais relacionando diante diversos fatores o comportamento das pessoas e o ambiente físico tema da investigação.

Nessa investigação a qual busca avaliar o ambiente construído através da percepção do usuário das praças e dos terminais urbanos inseridos nas mesmas, é fundamental a identificação das variáveis físicas para a compreensão de como a estética dos terminais pode influenciar na avaliação da mesma pelo usuário, observando como as características físicas desse elemento influem no uso e apropriação da praça. Assim como, a pesquisa também considera as relações pré-existentes do usuário com a praça, o senso do lugar, buscando a seleção de variáveis simbólicas que indiquem o comportamento do usuário na praça através da verificação da memória e identidade do lugar.

2.4. SENTIDO DE LUGAR: IDENTIFICAÇÃO, ORIENTAÇÃO E SIGNIFICADO