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Do híbrido à pureza: Gabriela como projeto civilizacional Em Gabriela, Cravo e Canela Amado expõe a hipocrisia de uma socie dade

Gabriela: esporos do Novo Mundo no Portugal contemporâneo

3. Do híbrido à pureza: Gabriela como projeto civilizacional Em Gabriela, Cravo e Canela Amado expõe a hipocrisia de uma socie dade

de aparências, que se move sobre a economia política do prestígio e do dinheiro do cacau. É notável a segmentação racial e familial no mundo sul-baiano retra - tado na obra: “Jamais, ah!, jamais poderia querer assim, tanto dese jar, tanto neces sitar sem falta, urgente, permanentemente, uma outra mulher, por mais branca que fosse, mais bem vestida e bem tratada, mais rica ou bem casada.” (Amado, 2000, 168).

Roque Pinto

Aqui se tem um ponto de convergência dos feixes relacionais e das categorias representacionais que são descritas por muitos autores como uma particularidade sociológica brasileira: a convivialidade “à Gabriela”. Com efeito, para além de um mero personagem, ela simboliza um modelo relacional, é o emblema das relações multifoliadas que continuamente mudam de orientação: ora se vê uma relação laboral, ora familial, ora de amizade, ora de galanteio e paixão:

Nunca fizera um negócio tão vantajoso como ao contratar Gabriela no mercado de escravos. Quem diria ser ela tão competente cozinheira, quem diria esconder-se sob trapos sujos tanta graça e formosura, corpo tão quente, braços de carinho, perfume de cravo a tontear?... (Op. Cit, 164).

Tempo bom, meses de vida alegre, de carne satisfeita, boa mesa, sucu - lenta; de alma contente, cama de felizardo. [...] Como arranjava tempo e forças para lavar a roupa, arrumar a casa — tão limpa nunca estivera! —, cozinhar os tabuleiros para o bar, almoço e jantar para Nacib? Sem falar que à noite estava fresca e descansada, úmida de desejo, não se dando apenas mas tomando dele, jamais farta, sonolenta ou saciada. (Ibid, 165-6).

A personagem representa uma exploração múltipla e invisível, embora tal pers - pec tiva não seja adotada na obra, ao contrário, o autor a situa, veladamente, como o próprio elogio da brasilidade — daí a “aproblematicidade” desse tipo de relação (Moura, 2001): seu patrão é seu amante e provedor e a mantém em seu negócio porque lhe é rentável.

Na obra, os “homens bons” de Ilhéus vão ao bar de Nacib para ver, conversar, tocar e fazer propostas sexuais para Gabriela. Nacib tem ciúmes, mas a mantém lá porque com sua presença aumentam os lucros do negócio.

Como ia se importar se a presença dela era mais uma atração para a freguesia? Nacib logo se deu conta: demoravam-se mais, pedindo outro trago, os ocasionais passavam a permanentes, vindo todos os dias. Para vê-la, dizer-lhe coisas, sorrir-lhe, tocar-lhe a mão. Afinal que lhe importava, era apenas sua cozinheira com quem dormia sem nenhum compromisso. (Ibid, 166).

Quando Gabriela começara a vir ao bar, ele — idiota! — alegrara-se inte - res sado apenas nos vinténs a mais das rodadas repetidas, sem pensar no perigo dessa tentação diariamente renovada. Impedi-la de vir não devia fazê-lo, deixaria de ganhar dinheiro. Mas era preciso trazê-la de olho, dar-lhe mais atenção, comprar-lhe um presente melhor, fazer-lhe promessas de novo aumento. (Ibid, 167).

Por outro lado, para além de um “tipo relacional”, Gabriela pode ser identificada como a corporificação da suposta síntese das três “raças míticas fundadoras do

Brasil” e, de algum modo, ícone da “democracia racial”, simultaneamente emblema de uma pretensa harmonia social brasileira, baseada em arranjos de “cordialidade” entre desiguais — que seria o reflexo de uma ideologia do masca - ramento das tensões (raciais, de classe e de gênero) — e de sua superação pela via da sensualidade (Vale de Almeida, 2000).

Essa espécie de Brazilian way of life, que ao nível empírico seria verificado nas relações sociais aproblemáticas e distensionadas (Moura, 2001) que se estabeleceriam no âmbito de uma balança de poder altamente desequilibrada, já foi exaltada como a grande contribuição brasileira para um virtual projeto civilizador pós-colonial, especialmente a partir da agenda teórica do “luso-tropi - calismo” de Gilberto Freyre (Silva, 1995), embora logo denunciada como uma ideologia de encobrimento da realidade social, particularmente pelos especia - listas das questões raciais (Moura, 1988).

Como se sabe, a questão racial é um elemento-chave para a interpretação da complexidade social brasileira, tanto em termos das elaborações teóricas que historicamente pretendiam explicar o Brasil, quanto ao nível das relações con cretas e cotidianas — problemática esta que se faz presente nas reflexões sobre a própria viabilidade do Brasil enquanto “nação” e “país” desde pelo menos 200 anos.

Não é possível aqui glosar a complexa genealogia das idéias racistas/racia - listas no país que, inclusive, foram fundamentais para a construção de uma identi dade nacional (Skidmore, 1994): num continuum do pensamento social bra - sileiro, considerando nomes como Sílvio Romero, Euclides da Cunha, Oliveira Vianna, Paulo Prado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda, Viana Moog e Darcy Ribeiro, entre outros, tem-se um espectro donde se verifica desde o darwinismo social e o racismo científico adaptados5até um culturalismo radical

e um anti-racismo que culminará com o protagonismo da idéia de “demo cracia racial”, relacionada tanto ao elogio da brasilidade (à direita do espectro político) quanto ao mascaramento de uma realidade racista (à esquerda deste).

Vale mais aqui ressaltar que no Brasil no só “elementos negros” relacio na - dos à culinária, à música e às religiões de matriz africana, por exemplo, foram profundamente assimilados numa suposta “cultura brasileira” (Fry, 2005), como desde o início do século XX e sobretudo depois de Gilberto Freyre e os desdo bra -

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5O “racismo científico” foi mantido no Brasil como “verdade científica” por um largo período,

inclusive a despeito do rechaço veemente das comunidades acadêmicas do resto do mundo. Inclusive, hoje em dia, estranha e desafortunadamente, não é raro encontrar em classes universitárias brasileiras — especialmente em cursos de prestígio como direito e medicina — referências apologéticas às teorias lombrosianas.

6É dizer, revérberos desse pensamento podem ser verificados dentro de um gradiente que

contempla desde intelectuais “estabelecidos” até o senso comum. Com isso, o discurso do movimiento negro, por exemplo, soaria como uma proposição alienígena, aduzida a partir de uma realidade que “não tem nada a ver com a nossa [brasileira]”. Uma ilustração nítida dessa tensão subsumida na “brasilidade” é o resgate hodierno da “democracia racial” por parte da imprensa nacional como reação à criação, no governo Lula da Silva, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção Racial e da discussão de estabelecimento de cotas para o ingresso de grupos historicamente excluídos nas universidades, como negros e indígenas.

7Logicamente que não se está a falar de “raça” aqui desde o ponto de vista biológico, mas sim

social, nos termos brasileiros de uma hierarquia classificatória politômica e altamente matizada. mentos da teoria da “democracia racial” (expressão jamais utilizada por ele), que o pensamento hegemônico sobre o Brasil6o define como “o grande modelo

de convivência harmônica entre raças” e mais além, que a mistura das três raças “míticas” (o branco, o negro e o índio) seria o estribo da “civilização brasileira” e seu modelo relacional um “exemplo para o mundo”.

Não é casual que Gabriela seja inscrita como uma “mulata”, uma mestiça: é importante ter em conta que do naturalismo/realismo ao modernismo regiona - lista (onde os críticos situam a obra de Amado), que a literatura brasileira elabora a psicologia dos seus personagens de acordo com o complexo espectro racial brasileiro.

Assim, o fato de Gabriela ser uma mulata não se aparta da sua perso na lidade hedonista e da sua conduta infantilizada, ao contrário, pode-se afirmar inclu sive que, nesse contexto, a personagem apresenta tais caracteres psico lógicos preci - sa mente por que é uma mulata, numa relação biunívoca entre “raça” e “perso - na lidade”, bem ao gosto da literatura brasileira da primeira metade do século XX. E o próprio Amado sinaliza para a idéia de que Gabriela seria, para além de personagem, uma espécie de matriz representacional ao intitular o quarto ca pí - tulo do livro de: “O Luar de Gabriela: talvez uma criança, ou um povo, quem sabe?” (Amado, 2000, 239). Desse modo, a inocência, a “pureza”, a sen sua li da - de/sexualidade e o hedonismo seria mesmo a marca de um povo sintetizado na personagem.

E nesse sentido Gabriela representa, a seu modo, um “projeto civilizacio - nal” baseado num híbrido pós-colonial (Almeida, 2000) representativo da espe - ci ficida de brasileira (sendo ela própria um híbrido racial)7, na medida em que

em blematiza não o herói colonizador e extraordinário que rompe com um mun - do anterior para construir outro à sua vontade e glória — ao modo dos monarcas ibéricos ou dos coronéis sul-baianos, por exemplo — mas sim a anti-heroína humilde e mundana, que vai “civilizando” à medida em que tece e dá sentido a tramas relacionais aparentemente inconciliáveis.

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3. “O Brasil é uma vénus fértil”: Gabriela em Portugal

No dia 8 de novembro de 2004, depois de 27 anos8, Gabriela voltava, pela

primeira vez em cores, a ocupar a grade de programação da televisão portugue - sa. No episódio de re-estréia, transmitida pela emisora SIC, a telenovela liderou a audiência no horário (à tarde), obtendo uma média de 44% do share, contra 34% da segunda colocada, a TVI, que então exibia o programa de con curso “Quem Quer Ganha” e um episódio repetido de “Queridas Feras” (Havas Media/Media Planning Group, 2004).

O sucesso da reprise da telenovela bem ilustra o que significou sua aparição no contexto português. Primeiramente, por ser um gênero midiático até então inexistente no país e, em segundo lugar, porque pela primeira vez se via na televisão um universo social simultaneamente exótico e familiar:

O Portugal que via televisão parou para ver esta coisa nova que dava todos os dias à hora do jantar: o novo hábito ou ritual de ver a tele novela estabeleceu-se mais depressa do que qualquer outro nas últimas décadas. Quem não tinha televisão em casa juntava-se nos cafés ou tascas; e até as pessoas importantes, como os deputados — a Assembleia da República! —, interrompiam o trabalho pela nação para se juntarem à multidão separada que assistia aos episódios, aliás capítulos, e conhe cia e aprendia, também pela primeira vez, esse orgulho quente que é o português falado no Brasil. [...] O navio torna-viagem trazia agora outro néctar de além- -Atlântico. A Gabriela era o novo ouro, os novos diamantes, o novo pau- -brasil, o novo samba: o Brasil é uma vénus fértil, chegava agora a vez de nos presentear com o melhor da sua televisão. (Torres 2008 [2001]). Com efeito, a empatia instantânea de Portugal com a telenovela se dá, não só pela descoberta de uma complexa indústria cultural em língua portuguesa, como também, e sobretudo, pelo reconhecimento por parte do público português de si próprio na televisão, através das lentes de um outro próximo (Brasil), dotado de similitudes e coincidências míticas, históricas, imagéticas e identitárias, plasmadas pelo mesmo idioma (Cunha, 2003):

A comemorar neste ano de 1977 os seus 20 anos, a RTP traz aos seus telespec tadores uma surpresa que iria mudar completamente a empresa e os hábitos do país: a telenovela. E a primeira foi mesmo esta, ‘Gabriela (Cravo e Canela — crónica de uma cidade do interior)’, com autoria de Jorge Amado. [...] Lenda ou facto, a verdade é que ainda hoje deambula o boato de que certo Conselho de Ministros terá mesmo sido interrom pido pelo tempo que durou o último episódio de ‘Gabriela’, pois ninguém no

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8Gabriela estreou em Portugal no dia 16 de maio e 1977, transmitida pela emissora RTP1, sendo

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país queria perder o desfecho desta produção da TV Globo. Não houve dúvidas quando ‘Gabriela’ chegou ao seu términus de que a televisão tinha mudado, e continuaria a mudar. (RTP, 2008).

Se, por um lado, Gabriela representou um êxito de audiência ímpar por conta dos seu próprios méritos técnicos e de conteúdo, por outro, a telenovela foi beneficiada pelo contexto histórico em que Portugal se encontrava quando da sua exibição, de modo que a ambiência da modernização e da redemo cra ti zação, inscritas no momento histórico imediatamente após a Revolução dos Cravos, acabaram por influenciar o modo como a obra foi apreendida:

No momento da exibição da Gabriela, a expansão da indústria cultural e de conteúdos brasileira é percebida como um factor de reforço da identidade, ao recuperar tanto elementos da história colonial (coloni za - ção e emigração portuguesa para o Brasil) como elementos da história recente de Portugal. [...] A exibição da telenovela Gabriela, Cravo e Canela alfabetizou [Portugal] num novo género e numa nova estética, após quarenta anos de ditadura propagan dística e dois anos de revo lu ção manipuladora televisiva [...], beneficiária de uma língua comum mas, também, dum imaginário comum, de mitos, heróis, aconte ci mentos, paisa gens, recordações e saudades, facilmente, identificados por todos os portugueses. (Cunha, 2003, 69).

A “gabrielomania”, que transformaria Portugal num “país televisivo” (Cunha, 2004), veio a contribuir para a formatação de um novo estilo de vida feminino português, marcadamente consumista e urbano — embora Gabriela fosse consi - derada uma novela rural no contexto brasileiro —, e com especial incidência sobre a sexualidade principalmente feminina, cujos “indícios” de alteração dos cotidianos provocada pela interpenetração abrupta entre a ficção e a experimen - tação da realidade são elencados por Cunha (2003, 70) nos seguintes termos:

Um primeiro [indício] é a adopção de novos ritmos domésticos pautados pelos horários de exibição; um outro indício é a interrelação entre novas propostas de consumo — como os refrigerantes Pepsi e Coca-Cola, os êxitos da trilha sonora ou tipo de penteados femininos — e a telenovela; um terceiro indício de alteração manifesta-se nos cons trangimentos, nas surpresas ou nas expectativas perante a visua li za ção de novas formas de sensualidade e sexualidade. Nesta perspectiva, Gabriela teve um papel importante ao dar a ver as relações de poder exis tentes não só entre as classes sociais como, no interior destas classes, entre homem/mulher, nomeadamente no casamento e na sexualidade.

É notável que essa espécie de tele-realidade em que Portugal emergia — coincidente com o momento de transição democrática que culminaria com sua inserção na União Européia em 1985 — deu-se através de uma alteridade bastante peculiar: o portal de entrada do Brave New World midiático lusitano foi cons -

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truído por uma obra produzida numa ex-colônia (embora de algum modo o Brasil goze de um status diferenciado no imaginário português em relação às suas ex-possessões em África).

É dizer, não foi nenhuma série televisiva estadunidense ou nenhum pro gra - ma desenvolvido em França ou Inglaterra que se inaugurou, por assim dizer, esta nova etapa da vida social portuguesa — previsível não só em função da cliva gem “civilizacional” norte-sul em Europa, como também do refluxo moral deri vado do “orgulhosamente sós” e das conseqüentes guerras de indepen dência em África: pois aí se teria o “ópio do povo” trabalhando silmultanea mente para “apa gar” o passado recente e apontar para modelos mais centralmente “euro peus”, que de algum modo teria um valor semântico equivalente a democrático e pós-colonial. Pode-se aventar duas hipóteses não excludentes a esse respeito. Seguindo o pensamento de Miguel Vale de Almeida, o Brasil seria, desde o ponto de vista português, “o lugar de todas as projecções identitárias; genéricas umas (a alteri - dade exótica, a tropicalidade, a alteridade sensual — todas mercantilizáveis), especificamente portuguesas, outras (a comprovação da grandiosidade dos desco - brimentos, do luso-tropicalismo, o ‘filho’ que cumprirá o que o ‘pai’ não foi).” (Almeida, 2001).

Desse modo, tem-se que o Brasil, ou melhor, uma certa representação de Brasil, funcionaria como um espelho, um duplo português, no sentido de uma projeção simultaneamente deslocada para um remoto passado de conquistas gloriosas e para um futuro de promessas igualmente grandiosas, tal qual um filho, como ressalta o autor, que embora singre seu próprio destino, seguiria contendo em si os genes e os moldes do pai — e portanto não deixaria de ser de algum modo uma extensão simbólica deste.

Uma outra linha de raciocínio, menos abstrata e mais próxima de uma lógica geo-econômica global, desenhada por Boaventura de Sousa Santos, apontaria para o fato de que Portugal, ao se inscrever na heteróclita semi-periferia da economia-mundo, representando o “Sul do Norte” e o “Norte do Sul” (Santos, 1999, 22), estaria numa posição menos contrastante em relação ao Brasil — do que, por exemplo, estaria a França em relação às suas ex-colônias.

Logicamente que aqui não se pretende acercar-se da idéia de um “bom colonizador”, mais “plástico e integrado” com o colonizado, re-editando velhas teorias já sepultadas a seu tempo. Ao contrário, pretende-se pensar de que modo os ícones midiáticos circulam na economia política dos sistemas-mundo (Ianni, 1998; Arrighi, 2003) e, especificamente, qual a dinâmica (imagética) que orienta a triangulação luso-atlântica entre um “mundo sem fronteiras” (Scherer, 1997, 115), um continuum das “expansões marítimas do século XV” (Batista Jr., 1997, 297) e uma globalização como mito (Hirst e Thompson, 1998).

Roque Pinto

Ora, como salientam Lash e Urry (1994, 12), “As sociedades deste final de século se caracterizam por fluxos de capital, trabalho, mercadorias, informações e imagens” e, nesse contexto, a imagem de Ilhéus e de sua Gabriela circula no âm bito de uma economia cultural global, especialmente no contexto das comu - ni dades de língua portuguesa, como um ícone da brasilidade se tornar um dispo - sitivo reflexivo no Portugal contemporâneo, repercurtindo inclusive em África, como indica Pedro Rosa Mendes em Baía dos Tigres, obra literária sobre a história angolana recente:

O Lubango recebeu também uma contribuição basca com refugiados da ETA, e ainda elementos do Tupac Amaru, incluindo uma uruguaia quase sexagenária, cujo quarto no Hotel Continental — onde as carpetes vermelhas se tinham tornado cinza-bolor por causa das inundações — era chamado o Bataclã, nome tirado da novela brasileira ‘Gabriela’. (Mendes, 2001, 227-228).

Assim, verifica-se no mundo plasmado pela experiência colonial portuguesa um itinerário imagético mediado por alteridades que cabotam dentro de paisa gens ideológicas e midiáticas, num jogo fluido de aproximação e distancia mento. Tais deslocamentos, possibilitados pelas tecnologias de informação-comunica ção, parece encontrar em Gabriela uma ambiência propícia para o debate e a reflexão, fenômeno que se torna ainda mais flamante por ser datado nos finais da década de 1970.

5. Conclusões. Ou o paradoxo Ilhéus: uma universalidade derivada