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3 O TÓPICO NA LITERATURA LINGUÍSTICA

3.2 Halliday e a estrutura da informação

(3.2) As for the pláy, John saw it yésterday. Quantotàtpeça,totJohntviutelatontem.

Considerando (3.1) e (3.2), linguistas variados tendem a apontar (3.4), em Inglês, como uma tradução adequada de (3.3), em Chinês.

(3.3) nèi-xie shùmu shù-shen dà. thosettreettree-trunktbig. aquelastárvorestgalhotgrande.

(3.4) As for those trees, the trunks are big.

Quantotàquelastárvores,tostgalhostsãotgrandes.

Chafe, entretanto, é categórico ao considerar inexata essa correspondência. O autor afirma que, se no Inglês é fundamental a ideia de contraste, no Chinês o contraste é inexistente. Sendo assim, o elemento “aquelas árvores” é evocado não para se opor semanticamente a outro elemento, mas sim para estabelecer uma restrição do âmbito de aplicação da predicação de “ser grande”. Além disso, para o autor, não se pode dizer nem mesmo que, em (3.3), a oração é sobre “aquelas árvores”. Pelo contrário, a predicação de “ser grande” parece ser aplicada a “galhos”. Nessa oração, é a grandeza do galho que está em jogo, e não das árvores. Com base nessas considerações, o tópico é definido como o elemento que “estabelece uma referência espacial, temporal ou individual dentro da qual se dá a predicação”.

O autor diz ainda que, embora o Inglês não apresente uma estrutura inteiramente correspondente a (3.3), existem elementos nessa língua que parecem desempenhar a função de tópico, como alguns advérbios temporais:

(3.5) Tuesday I went to the dentist.

3.2 Halliday e a estrutura da informação

informação e a tematização41. Segundo o autor, a informação e a tematização são diferentes tanto do ponto de vista conceitual quanto em relação aos seus âmbitos de aplicação. Por esse motivo, as estruturas dado te novo t(pertencentes ao nível da informação) e tema e remat (pertencentes à tematização) não podem ser generalizadas sob um mesmo rótulo.

3.2.1 A informação

O nível da informação tem a função de identificar, no discurso, as partes da informação consideradas novas e as partes consideradas dadas pelo falante. Isso é feito por meio da entonação: cada enunciado produzido por um falante é composto por um conjunto de unidades informacionais separadas umas das outras por quebras prosódicas. Halliday nota que as unidades informacionais devem ser vistas como um tipo de constituinte sintático por si só, uma vez que não coincidem necessariamente com orações, nem com outros tipos de constituinte. Cada unidade informacional pode ter um ou dois focos informacionais, que se localizam em pontos de proeminência tônica, e que têm a função de assinalar o que é dado e novo.

Na notação adotada pelo autor, os limites de unidades informacionais são anotados com barras duplas (//) e os pés42 de cada unidade informacional são marcados com barras simples (/). Os pontos de proeminência tônica aparecem sublinhados. Além disso, ao início de cada unidade informacional, constam símbolos que indicam o tipo de curva melódica ali desempenhada43. Essas características podem ser observadas na transcrição do enunciado abaixo, oriunda de uma gravação realizada pelo autor:

//4 and / what one / really ought to / do is //4 not be / mean as //4 I am and //4 hire a / catalogue for a / shilling but // 1 buy one for about //1 ten / shillings and / then sort of //1– study it be // 1– for one / goes the / second / time //

Halliday chama a atenção para o fato de que as estruturas novo e dado devem ser entendidas de forma ampla. Assim, o dado deve ser entendido como uma informação que possa ser 41 Em um primeiro momento, HALLIDAY (1976) descreve um terceiro nível de estruturação da informação, a

identificação. Posteriormente (HALLIDAY, 1994), as estruturas pertencentes ao nível da identificaçãot

(conhecido e desconhecido) são analisadas como um caso particular de tematização. Por esse motivo, não será dado destaque, nessa instância, à identificação.

42 Para HALLIDAY (1976), o pé (feet) é a unidade de referência para o estudo do ritmo, no Inglês falado. Os pés normalmente apresentam uma sílaba saliente ao seu início (a qual pode ser sucedida por sílabas fracas) e tendem a ser realizados com uma duração semelhante. Uma unidade informacional (unidade de referência para o estudo da entonação) pode ser formado por um ou mais pés.

43 O número 4, por exemplo, indica uma curva melódica descendente-ascendente realizada de forma arredondada. Já o número 1 indica uma curva descendente.

derivada do discurso e não somente como um elemento previamente mencionado por um dos falantes. Já o novo é um elemento que, segundo o falante, não pode ser derivado do discurso. O autor diz ainda que, se a presença de um elemento novo em uma unidade informacional é obrigatória, a presença do dado é facultativa. No caso em que uma unidade informacional seja formada somente por elementos novos, a proeminência tônica deve estar sempre na última palavra de valor lexical. Segundo o autor, o foco ocorre na última palavra lexical de uma unidade informacional e não em sua última palavra em absoluto uma vez que os itens não lexicais são intrinsecamente entendidos como dados. Essa é, segundo o autor, a forma não marcada de se organizar a informação no discurso.

Quando, por outro lado, o foco informacional recai sobre um dos outros elementos que formam a unidade informacional, o que está em foco é considerado novo e os demais elementos são dados.

A escolha de onde colocar o foco informacional é feita com base em exigências comunicativas diversas. Uma mesma afirmação como “João lavou o carro ontem” pode ter seu foco posicionado em posições diferentes se usado para responder a perguntas diferentes. No caso do foco estar em “João”, esse enunciado seria uma resposta adequada a “Quem lavou o carro ontem”. Da mesma forma, se o foco for colocado em “ontem”, essa afirmação seria uma resposta adequada a pergunta “Quando João lavou o carro?”.

3.2.2 A tematização

O nível da tematização (ou seja, a estrutura tema-rema) diz respeito à estruturação da oração enquanto mensagem e é expressa pela morfossintaxe. Segundo o autor, as orações de toda e qualquer língua dividem-se em duas partes. A primeira, chamada de tema,t funciona como ponto de partida para a mensagem veiculada na oração. É no tema que são apresentados elementos que servem de base para a compreensão do que virá depois. A segunda parte, o rema, é responsável pelo desenvolvimento da mensagem.

Em algumas línguas, a tematização é realizada por meio da adjunção de um sufixo que marca que o elemento que o precede é o tema. O Japonês, valendo-se do sufixo -wa, funciona dessa forma. Já em outras línguas, a exemplo do Inglês, a divisão entre tema e rema é feita com base na ordenação dos constituintes na oração. Nessas línguas, o tematé sempre posicionado antes do rema. Nos exemplos abaixo, extraídos de Araweté: t os t Deuses t canibais,t de Eduardo Viveiros de Castro (1986), o tema aparece em destaque:

(3.6) Boa parte das páginas que seguem tentará justamente descrever os processos e categorias da organização social Araweté.

(3.7) A navegação pelo Ipixuna é praticamente impossível entre setembro e dezembro. (3.8) Para isso, é preciso que sejam capazes de introjetar a diferença.

Em línguas como o Inglês, Halliday nota que, em muitos casos, o tema coincide com o dado e o rema com o novo, mas essa relação não é necessária. Nesse ponto, cabe lembrar que as unidades informacionais – constituintes delimitados pela entonação – nem sempre coincidem com as orações. Por mais que Halliday confira à entonação uma função secundária e assistemática de marcar, na fala, a divisão entre tema e rema44, é seguro afirmar que, no nível de análise da tematização, a divisão entre dado e novo deve-se principalmente a estrutura morfossintática das orações. Ainda, o autor define a diferença entre dado e tema dizendo que o primeiro significa “o que você estava falando”, enquanto o tema indica “aquilo sobre o que eu estou falando”.

Para Halliday, com relação ao Inglês, a escolha do tema de cada oração está ligada ao sistema de moods dessa língua. Nas declarativas, o tema tende a ser o sujeito da oração. Já nas interrogativas, cujo objetivo primário seria o de extrair alguma informação do interlocutor, o tema corresponde “àquilo que eu quero saber” (1994: p.45). Assim, nas perguntas parciais (ou perguntas WH-), o tema não marcado é expresso justamente pelo elemento WH-. Nas perguntas totais (ou perguntas yes/no), por outro lado, é a polaridade que está em jogo, o que é representado pelo verbo flexionado na posição de tema não marcado. Quanto às orações no imperativo, a mensagem corresponde a “eu quero que você faça algo” ou “eu quero que você e eu façamos algo”. No primeiro caso, o tema tende a ser expresso pelo verbo flexionado. No segundo, pela forma let’s.

Tabela 3.1 – Moods e exemplos de temas não marcados para o Inglês

Mood Tema Rema

Indicativo Declarativo tshe

Interrogativo Yes/No tdid

WH- tWho tKilledtCocktRobin?

Imperativo tanswert talltfivetquestions!

tlet’s tgothometnow

44 A esse respeito, “the Theme of a clause is frequently marked off in speech by intonation, being spoken on a separate tone group. […] And if a clause is organized into two information units, the boundary between the two is orverwhelmingly likely to coincide with the junction of Theme and Rheme” (HALLIDAY, 1994: p. 39).