• Nenhum resultado encontrado

A herança da resistência às ditaduras

Como já conhecido pela historiografia brasileira, as resistências à ditadura militar brasileira foram caracterizadas por momentos de eferves- cências e inflexões em decorrência das repressões e das perseguições que marcaram esse período. Apesar disso, partidos e grupos de esquerda atua- ram de maneira fundamental na articulação de uma visão de mundo que pautasse centralmente as desigualdades de classe e as injustiças econômicas que existiam no Brasil. Ligados principalmente a setores da igreja católica, a partidos políticos como o PCB e o PCdoB, ao movimento estudantil ou a organizações de diferentes tendências do pensamento comunista, esses grupos tiveram protagonismo na denúncia e na resistência ao autoritarismo vivido naquele momento e na projeção de ideais que almejavam transformar a realidade social.2

Ao longo desse processo, a participação das mulheres nessas lutas foi cada vez mais destacada pelas pesquisas que visibilizaram as suas presen-

2  Alguns exemplos importantes de organizações que tiveram ação destacada nesse contexto são a Ação

Popular (AP), que era muito próxima às tendências de esquerda da igreja católica e a Ação Libertadora Nacional (ALN), que propunha a luta armada.

ças tanto no movimento exclusivamente de esquerda, como nos grupos de mulheres, feministas e negros que ganhavam expressão a partir principal- mente da década de 19703 (PEDRO, 2010; WOLFF, 2010; COSTA, 1988; SARTI, 2004; SOIHET, 2013). No que se refere à presença das mulheres negras nos grupos de esquerda no período autoritário, ainda são tímidas as reflexões que buscaram compreender suas trajetórias, especialmente problemati- zando como as relações de classe, étnico-raciais e de gênero marcaram suas experiências políticas.

Nesse sentido, a discussão proposta neste artigo parte de entrevistas realizadas com algumas mulheres negras que atuaram politicamente nesse período. São elas: Arabela Pereira Madalena, Edna Maria Santos Roland e Maria do Espírito Santo Tavares dos Santos (“Santinha”).4 Com uma atuação que aconteceu dentro e fora do Brasil, essas mulheres tiveram uma traje- tória política interpelada pelas discussões da esquerda e dos movimentos populares, dos movimentos feministas e negros nas últimas décadas.

Arabela Pereira Madalena, nascida em Belo Horizonte, foi militante comunista do PCdoB, em que atuou no fim da década de 1960, enquanto muito jovem. Segundo comenta na entrevista concedida, foi presa e tor- turada em 1970, apesar de posteriormente ter saído da prisão por falta de provas. Tendo uma vida agitada ao longo dessa década, exilou-se na França por cerca de quatro anos e também viveu em Moçambique, onde seguiu atuando na causa comunista e partidária, e trabalhando no campo da educação, destacadamente na área dos estudos começados no Brasil e desenvolvidos na França: a Geografia (MADALENA, 2015, p. 20-22; 26-27).

Edna Maria Santos Roland, nascida em 1951 no Maranhão, foi mili- tante do grupo Política Operária (Polop) na década de 1970. Ingressou na universidade em 1969, onde atuou em mobilizações universitárias em Belo Horizonte nos primeiros anos da década de 1970. Migrou para São Paulo

3  É importante lembrar que a luta política, coletiva e articulada das mulheres no Brasil é anterior a essa

década. A participação das mulheres na vida pública brasileira remonta a séculos anteriores, e com mais destaque a partir do século XIX. No século XX, o Brasil conviveu com a mobilização crescente das mulheres nas primeiras décadas, assumindo uma identidade política feminista, reivindicando espaços diversos na sociedade, aprimorando pautas e construindo estratégias que viriam a garantir direitos importantes, como o de votar e ser votada. Já nas duas décadas imediatamente anteriores ao início da ditadura, as mulheres seguiam uma significativa atuação pública. Como aponta Céli Pinto (2003, p. 44), as décadas de 1940-50 foram marcadas por reivindicações populares protagonizadas por mulheres, mesmo não identificadas com o feminismo, que questionavam as precárias condições econômicas de grande parte da população e pautavam justiça econômica e social, sintetizadas pelas chamadas lutas contra “a carestia”. A partir da década de 1960, e especialmente a partir dos anos de 1970-80, a luta das mulheres esteve fortemente articulada a outras ideias, projetos e reivindicações sociais que emergiam nesse contexto, como as distintas expressões das esquerdas e o movimento negro.

4  Essas entrevistas foram realizadas no período de novembro-dezembro de 2014 e agosto de 2015,

no contexto de investigação para a tese de doutorado de Tauana Olívia Gomes Silva, produzida entre o período de 2012-2019 na Université Rennes 2 em cotutela com a Universidade Federal de Santa Catarina.

fugindo do clima de perseguição que existia na universidade nesse momento, especialmente após o AI-5. Nessa cidade, aproximou-se de grupos dos movi- mentos negro e feminista em fins da década de 1970 e ao longo dos anos de 1980, sendo uma das fundadoras do Geledés – Instituto da Mulher Negra –, em 1988 (ROLAND, 2015).

E, finalmente, Maria do Espírito Santo Tavares dos Santos, que atuou no Partido Comunista Brasileiro em meados dos anos de 1970, quando decidiu deixá-lo para ingressar definitivamente no movimento feminista. Apesar de nunca ter atuado oficialmente no movimento negro, a militante participou da defesa das pautas raciais no movimento feminista, como as relacionadas à saúde e aos direitos reprodutivos, principalmente destacando o modo como elas atingiam sobremaneira as mulheres negras brasileiras. Até meados de 2015, atuou na Rede Nacional Feminista da Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos.

Ao conhecermos a atuação dessas mulheres ainda no período da ditadura militar e nos anos de transição para o regime democrático, pode- mos perceber elementos interessantes sobre como as leituras classistas, antirracistas e feministas foram se combinando numa identidade política pessoal, assim como nas articulações políticas e sociais que fizeram parte de suas vivências.

Arabela Pereira Madalena, ao ser indagada sobre suas experiências políticas na esquerda, quando inicia sua militância, menciona que naquele momento a ação das mulheres e dos negros não estava no horizonte dos grupos e partidos, e que existia certo preconceito em relação a essas lutas (MADALENA, 2015, p. 25-26). Indo ao encontro do que outras feministas desse momento narram sobre suas experiências políticas, a ativista comenta que sua aproximação com o feminismo aconteceu quando foi viver na França na década de 1970.5 O exílio teria permitido esse acercamento aos grupos organizados de mulheres e com o pensamento feminista, que vivia uma importante fase no contexto francês. A ativista atribui parte importante dessa aproximação à relação que estabeleceu com a conhecida feminista e comunista Zuleika Alambert, que construía uma notável atuação na Europa nesse momento. Afirmou:

Foi a Zuleika. Foi esse negócio na França de começar a discutir sobre a questão feminina. Porque ela era muito ligada às mulhe- res francesas, às feministas francesas né. Então, e aí, ela colocava isso assim, poxa, se aqui é assim, imagina no Brasil né. Então ela começou com essa luta com as mulheres brasileiras e ela arre-

5  Essa foi uma questão comum entre as feministas desse momento. Uma espécie de “consciência

feminista no exílio”, principalmente nos EUA e na França, foi analisada por algumas pesquisadoras que buscaram entender o feminismo no Brasil nesse período (Ver: PEDRO, 2010).

banhou gente para esse trabalho na França né, com as mulheres brasileiras que estavam lá entendeu. E ela era uma pessoa muito entusiasmada com esse tema né. [...] porque era uma coisa muito complicada né. Porque até o pessoal de esquerda, até o pessoal do partido comunista, pelo menos comunistas brasileiros, eles viam com um pouco assim de... sabe, de restrição né. (MADALENA, 2015, p. 25).

Como é possível observar a partir desse fragmento, a comparação entre as realidades francesas e uma avaliação crítica de como os espaços de esquerda entendiam e se relacionavam com as pautas feministas são elementos marcadores do cruzamento entre as ideias e as estratégias des- ses movimentos. Zuleika Alambert, como sabemos, logrou uma relevante atuação ao longo da vida em defesa dos ideais comunistas dentro e fora do Brasil, consolidando uma leitura que combinava seus princípios às reflexões e demandas feministas. Por meio do trecho citado, podemos problematizar como a sua atuação possuía um caráter mobilizador e questionador sobre o lugar das mulheres e das pautas feministas nas lutas comunistas. Zuleika escreveu inúmeros textos na imprensa comunista e foi uma das fundadoras do Conselho da Condição Feminina em São Paulo. Como aponta Rachel Soihet (2013, p. 172), foi a primeira mulher a compor o Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro e travou uma luta crescente na articulação das ideias feministas nesse partido, especialmente no contexto do exílio no Chile e na França durante a década de 1970, e também quando retorna ao Brasil em 1979 (SOIHET, 2013, p. 178-179; 183-184).6

Ainda referindo-se ao período em que atuou na esquerda em inícios da década de 1970, quando foi presa, torturada e posteriormente exilada, Arabela contou que não conhecia muitas pessoas negras nos grupos dos quais fez parte. Em mais de um momento a militante comenta que era a única mulher negra da organização e, apesar de rememorar em poucas situações a presença de pessoas negras, afirmou que nem sempre elas se viam como tal (MADALENA, 2015, p. 16). Ao ser inquerida sobre como per- cebia sua identidade étnico-racial nesse período, se tinha uma espécie de “consciência de raça”, afirmou:

Não. Sabe onde que eu fui tomar essa consciência? Na França. Sabe por quê? Por causa dos africanos né, aí eu passei a ter contato com africano sabe, nossa foi assim maravilhoso tchu. E estava na

6  É importante demarcar que as tensões, as articulações e as contradições colocadas entre as reflexões

teóricas e práticas da esquerda e dos movimentos feministas foram fortes na França nos anos de 1970, mas elas apareceram também nas organizações fomentadas por brasileiras(os) exiladas(os) nesse país. Rachel Soihet comenta como as relações entre a Frente de Brasileiros no Exílio e o Comitê Central do Par- tido Comunista, formado por homens e mulheres, precisou constantemente dialogar com a influência crescente do Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris surgido em 1976 (SOIHET, 2013, p. 179-180), que realizava uma reivindicação crescente das questões específicas das mulheres.

época também do movimento negro nos Estados Unidos num é, os Black Power. É! Tanto é eu fui pra África porque Moçambique ficou independente né. Então, mas era o... Como é que ela chama gente? O símbolo da luta contra o racismo nos Estados Unidos, a moça, a Ângela Davis né. Ela era o símbolo da luta pela emancipa- ção dos negros né. E me parecia muito, dizem que eu me parecia muito com ela (risos) né. (MADALENA, 2015, p. 17).

Como é possível analisar a partir da citação, o perceber-se negra agre- gava elementos subjetivos e individuais, intermediados por um contexto social de lutas políticas que aconteciam fora do país, como as independên- cias de países africanos e as lutas antirracistas nos Estados Unidos, como a dos Panteras Negras, que ganhavam repercussão em distintos lugares do mundo. A aproximação com pessoas de origem africana no contexto do exílio na França também foi indicada como marcador fundamental dessa autopercepção, ou seja, foi em momentos de alteridade cultural e de efer- vescências políticas no que se refere às lutas anticolonialistas e antirracistas, em que alguns entendimentos sobre si e sobre o mundo emergiram como elementos que semeavam horizontes políticos. Além disso, a convivência estabelecida com latino-americanos e as possibilidades de vida num país que gozava de liberdades democráticas, como a França, também foram observados como importantes na fruição desses pertencimentos políticos (MADALENA, 2015, p. 17-18).

O fato da aproximação com grupos que se organizavam centrados nos debates das relações raciais e de gênero ter sido posterior às articulações com as esquerdas, que, não raras vezes, privilegiava uma leitura mais conceitual das relações de classe, não significava, no entanto, que o sexismo e o racismo não fossem percebidos ao longo da vida da ativista. Ainda sobre a questão da consciência, quando perguntada se as opressões raciais e sexuais já eram discernidas antes dos governos militares e do exílio, a militante respondeu: “Ah, claro. Lógico. Na ditadura, antes e depois certo. Porque não mudou, só foi agravando. Com a ditadura militar só fez agravar.” (MADALENA, 2015, p. 22). Em outro momento da entrevista retomou a questão da percepção do racismo: Eu não acho que era assim uma coisa... Isso que eu tive não é, eu não acho que eu era assim uma pessoa consciente. Eu sofria discriminação sabe, mas eu não tinha uma consciência assim: olha, é que eu deveria lutar por isso sabe, que eu deveria não baixar a cabeça, sabe como é, de retrucar né, sabe, não tinha isso, aprendi isso na França mesmo. (MADALENA, 2015, p. 24).

Podemos perceber por meio da narrativa que o uso político dessas identificações, ou seja, o entendimento subjetivo de que elas poderiam ser um motor de ação política, foi se dando a partir do momento em que o contexto internacional e as visibilidades públicas dessas discussões se fazem

mais presentes no imaginário social. Até então, as experiências relacionadas à esquerda permitiam uma observação de si e dos desafios do país e do momento através de lentes que enfocavam uma abordagem classista, que até então seria capaz de alçar teorizações sobre os problemas sociais, e que não permitia, sem choques, um simultâneo estatuto de urgência para outras lutas.

As rupturas relacionadas a essa leitura mais restrita e mecânica do pensamento de esquerda e marxista se deu dentro de seu próprio espectro, como, por exemplo, na articulação que as mulheres comunistas teciam com as feministas no contexto europeu. Segundo Arabela, havia um trabalho realizado por e para mulheres no Partido Comunista Brasileiro que a teria aproximado da organização das mulheres, e, também, permitido que ela mesma realizasse ações voltadas para outras mulheres. Ao ir para Moçam- bique, Arabela contou que um dos seus objetivos principais foi construir uma “Comissão de Mulheres do Partido” (MADALENA, 2015, p. 27), isto é, do Partido Comunista, na qual manteve atuação tanto no período no exterior quanto quando retornou ao Brasil em meados dos anos 1980. Apesar de ter passagens pelo movimento negro e pelo movimento feminista, essa militante teve uma trajetória principalmente vinculada às organizações classistas como o PCdoB e o Partido Comunista Brasileiro ao longo da vida.

A questão da confluência dessas lutas também pode ser percebida na trajetória de Edna Maria Santos Roland. Assim como Arabela, essa ativista teve sua trajetória política iniciada nas organizações de esquerda. Primeira- mente na adolescência, quando fez parte de grupos cristãos que, segundo ela, discutiam de um modo geral “a questão da pobreza”, a “questão da miséria” (ROLAND, 2014, p. 4) e, posteriormente, dos movimentos estudantis e operários, como a Polop, durante o período militar. No entanto, ao ser per- guntada sobre a formação da sua identidade racial, a militante comenta que tinha construído uma percepção de si marcada por elementos étnico-raciais antes mesmo de ingressar de modo mais intenso nos grupos de esquerda. Essa “consciência” teria se desenvolvido quando estudou, entre 1967-68, nos Estados Unidos da América. Edna Roland narra como a experiência de estudar fora, de conviver com pessoas de diferentes continentes e de viajar conhecendo algumas localidades desse país, permitiram um processo intenso e profundo na formação de tal “consciência”.

E com 16 anos eu ganhei essa bolsa de estudos e fui para os Estados Unidos. Fiquei um ano lá, e teve um papel muito importante na emergência da minha consciência racial. Não sei se você já leu, eu narrei em alguns lugares o confronto de dois ônibus: estudantes negros, estudantes brancos. Isso foi um momento, assim, da minha tomada de consciência da questão da minha identidade, foi uma

questão da minha identidade. E de criança eu já tinha percebido situações de discriminação, já tinha me sentido discriminada por vezes, coisas que tinham a ver muito com, como digamos é, uma negação e uma crítica dos aspectos corporais. [...] Então eu já tinha sentido isso quando criança. Aí, na adolescência acontece essa questão dos Estados Unidos em que eu tomo consciência. Eu falei: “Mas o que é isso? Por que as pessoas estão com medo né?” Então foi um momento de iluminação na minha cabeça, assim, de revelação, mas é uma questão de auto identificação, uma coisa assim bem “eu sou negra né”. (ROLAND, 2014, p. 5-6).

Mais adiante na entrevista, quando comenta sobre uma experiência de viagem dentro daquele país, retoma a narrativa sobre esse processo:

Nós passamos em Los Angeles, onde tem uma Disney World lá, e eu lembro que eu fui, e tinha lá essa estátua imensa de Lincoln, que eles colocam lá falando algumas coisas e tal. E aquilo foi muito impressionante. Eu lembro que eu tive, assim, muito forte, a consciência da questão de ser latino-americana entendeu? E eu saí da tal da Disney extremamente crítica. Eu sempre fui muito crítica, então passar pela Disneyland foi mais um elemento de crítica ao imperialismo, às relações internacionais dos Estados Unidos, à tentativa de dominar não somente pelas armas, mas também por um ponto de vista ideológico, da cultura e tudo mais. E ao longo desse mês eu fui me transformando, a minha própria imagem foi se transformando. Quando eu cheguei em Nova York eu tava de Black Power. (risos) Foi assim uma coisa muito forte. (ROLAND, 2014, p. 7-8).

A partir dos trechos acima, podemos observar alguns elementos inte- ressantes desse processo de “tomada de consciência”. De acordo com as narrativas da militante, é possível analisar que a percepção de si e os ele- mentos subjetivos que caracterizavam sua identificação racial passavam por conscientizações que abarcavam sua origem latino-americana e as relações de desigualdade existentes entre os Estados Unidos e outras regiões do mundo, com destaque para os países da América Latina. As referências ao “imperialismo” e à “dominação cultural” rememoradas pela entrevistada demonstram suas aproximações com as análises críticas compartilhadas pela esquerda brasileira a respeito das ações dos EUA na região, bem como das lutas por um empoderamento negro que perpassava por elementos estéticos e novas visibilidades públicas.

Assim como Arabela, essa percepção advinha de experiências de alte- ridade cultural decorrentes das vivências no exterior, em que a identidade pôde ser colocada em relação, em estranhamento, e, portanto, em reflexão. A experiência de viver fora teria despertado uma percepção politizada sobre si, um momento de “iluminação”, de “revelação” (ROLAND, 2014, p. 5-6).

No entanto as articulações políticas que marcaram a experiência de Edna Roland seguiram se realizando no campo das esquerdas, dos movi- mentos populares e do movimento sindical. Com a dissolução da Polop, a militante conta que passou a participar das ações que se desenrolaram na zona sul de São Paulo no fim da década de 1970, como as lutas sindicais no marco das greves do ABC (ROLAND, 2014, p. 8-9). A articulação com o movi- mento negro apareceu somente em meados dos anos de 1980, quando se aproximou do Movimento Negro Unificado (MNU) e, posteriormente, atuou em espaços próprios das mulheres negras, como o Coletivo de Mulheres Negras de São Paulo.

De acordo com as narrativas desenvolvidas ao longo da entrevista, essa aproximação com o movimento negro se deu no contexto da universidade, em meados dos anos de 1983-84, inicialmente motivada por interesses de estudo e pesquisa sobre a questão das empregadas domésticas no contexto paulistano.7 Foi também nesse momento que aconteceu um acercamento com os espaços feministas que se fortaleciam nesse período, como o Con- selho da Condição Feminina de São Paulo (ROLAND, 2014, p. 11-13), que em tal momento se constituía como um espaço ímpar na institucionalização das discussões e demandas das mulheres. No que se refere à aproximação com o feminismo, a militante não faz menção a uma identificação prévia com as ideias e demandas feministas que emergiram no país desde a década de 1960, embora destaque a percepção das desigualdades de gênero nas organizações de esquerda e na sociedade como um todo. De acordo com a entrevista realizada, a atuação engajada no campo dos direitos das mulhe- res teria acontecido a partir de uma perspectiva racial e por intermédio de atuações institucionais, quando algumas mulheres negras decidiram se arti- cular para pautar em São Paulo mais representatividade naquele Conselho (ROLAND, 2014, p. 15-16).

Explorando sua atuação política em meados dos anos de 1980, Edna

Documentos relacionados