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4. METODOLOGIA

4.5 Hermenêutica dialética como abordagem para análise de

Para a análise de informações, existe uma gama de possibilidades, a opção por uma delas dependera da corrente do pensamento do pesquisador, assim como de seus objetivos. Para a pesquisa de cunho qualitativa, Minayo (2008) apresenta três modalidades: análise de conteúdo, análise do discurso e análise hermenêutica- dialética, afirmando que "a proposta da hermenêutica-dialética é a que oferece um quadro referencial mais completo para análise do material qualitativo" (MINAYO, 2008, p.353).

Esta pesquisa optou pela análise hermenêutica-dialética, por encontrar, nela, argumentos teóricos próximos a nosso referencial teórico e método de pesquisa, no que diz respeito à compreensão de uma realidade de forma complexa, dinâmica, em constante transformação e imersa dentro de um contexto histórico-social, na que os sujeitos formam parte dessa realidade, sendo essa a nossa intenção ao estudar as relações de diálogo, integração e difusão de conhecimento entre universidade e comunidade local.

Minayo (2008) vincula ambos métodos (hermenêutica-dialética) se apoiando em estudiosos da hermenêutica como Gadamer (1999), Habermas (1987) e Stein (1987), já para a dialética apoia-se em Habermas (1987) e Stein (1987), reconhecendo ao filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas como o primeiro a combinar estas abordagens como síntese dos processos compreensivos e críticos.

Argumenta Minayo (2008) que a hermenêutica e a dialética podem contribuir na compreensão e na crítica da realidade social, se complementando uma com outra, dado que a primeira realiza o entendimento dos textos, dos fatos históricos, da cotidianidade e da realidade e a segunda incorpora movimento, dinamismo, dissenso e mudanças, se apresentando as duas como um método de abordagem e de análise qualitativo.

Do ponto de vista de Minayo (2008, p. 337), a hermenêutica é a arte da compreensão na que “compreender implica a possibilidade de interpretar, de estabelecer relações e extrair conclusões em todas as direções. Mas compreender acaba sempre sendo compreender-se”. Portanto, o ato de compreender implica a consideração do que o outro pensa e como esse outro vive a sua realidade, sua cotidianidade, sua história de vida.

Com respeito à dialética, Minayo (2008, p. 115) a define como um método de abordagem da realidade, na sua compreensão como processo histórico, dinâmico e de mudança, cujo fundamento está no "pensamento vivo e o caráter inacabado tanto da história como da ciência".

Procurando ampliar a compreensão sob a dialética, consultamos Lowy (2010) que coloca como hipótese fundamental da dialética a não existência de ideias, princípios, categorias e entidades absolutas, fixas, eternas e estáticas. De acordo com esta visão acrescenta Lowy (2010, p.14), "tudo o que existe na vida humana e social esta em perpetua transformação, tudo é perecível, tudo está sujeito ao fluxo da história", visão na que acreditamos quando adotamos o pensamento complexo e a ecologia de saberes.

Na visão de Minayo (2008), os três princípios de trabalho que caracterizam o método dialético são, em primeiro lugar, o fato de que cada coisa é um processo, denotando a ideia de dinamismo da dialética; o segundo princípio é a existência de um encadeamento nos processos, que traz a ideia de mudança e transformação que os seres vivos têm sempre, tudo muda dia após dia, a natureza tem movimento, transformações, mudanças; e o terceiro princípio, que diz respeito a que cada coisa traz em si sua contradição, de acordo com a concepção de Hegel, uma coisa é ao mesmo tempo ela e seu contrário; a existência da vida traz consigo morte, existe luz, mas também existe claridade; felicidade e a dor.

Em resumo, tomamos da modalidade hermenêutica-dialética de Minayo (2008) como aportes significativos para a análise dos dados desta pesquisa o fato de ser esta uma compreensão crítica da realidade, capaz de trazer e estabelecer relações dentro do contexto e do processo histórico imersa, que leva em conta os aportes e vivências dos atores sociais, entendendo que tal realidade é dinâmica, complexa, multirreferencial e em constante transformação, e a inexistência de verdades absolutas, ideias únicas, epistemologias e métodos únicos na sua interpretação. Sendo assim, assumimos esse olhar hermenêutico-dialético para a análise das informações desta pesquisa.

4.6 Técnica de análise de informações: Processo de operacionalização do método hermenêutico-dialético

Para a análise de informações, foi utilizado o método hermenêutico-dialético (MINAYO, 2008), seguindo o processo de operacionalização proposto por esta mesma autora, que compreende dois níveis de interpretação, delineados a seguir:

Processo de operacionalização do método hermenêutico-dialético:

1° Nível interpretativo. Determinações fundamentais: Trata-se do contexto sócio histórico do grupo social em questão. Este nível permite a aproximação ao campo da pesquisa e dos sujeitos envolvidos nela, na que de acordo com Minayo (2008) busca-se a compreensão do contexto, constituindo o marco teórico - fundamental para a análise.

2° Nível interpretativo. Encontro com os fatos empíricos: é um momento interpretativo no que se procura o encontro com os fatos surgidos durante a pesquisa de campo e os sentidos e interpretações que emergem dos mesmos. A interpretação exige a elaboração de categorias analíticas e empíricas.

Este segundo momento é operacionalizado da seguinte forma:

✓ Ordenação dos dados (informações): compreende a sistematização dos dados recolhidos. Inclui a transcrição das entrevistas, organização dos relatos, organização dos dados das observações. Este momento de acordo com Minayo (2008) corresponde ao processo hermenêutico, no que é tomado o material empírico dentro do conjunto, procurando relações, comparações e contrastes.

✓ Classificação dos dados: faz-se necessário, nesta etapa, compreender os dados nas suas interações entre o teórico-empírico, correspondendo a um passo maior de complexidade na compreensão da realidade. Segundo Minayo (2008), procura-se apreender as estruturas de relevância dos atores sociais, ideias centrais, posturas, momentos-chave que tentam transmitir

sobre o tema abordado, através das etapas de leitura horizontal e exaustiva dos textos, leitura transversal de cada subconjunto e do conjunto em sua totalidade, que permitirá o agrupamento de tudo em menor número de unidades de sentido, procurando compreender e interpretar o que foi exposto como mais relevante e representativo pelo grupo participante da pesquisa. ✓ Análise final: momento em que se estabelece a articulação entre os dados

coletados e os referenciais teóricos que vai dar baseamento teórico-prático a nossas questões e objetivos na pesquisa e que nos leva à análise circular do empírico ao teórico e vice-versa.

De acordo com este processo, o primeiro nível interpretativo de nossa pesquisa (determinações fundamentais), correspondeu à aproximação ao contexto sócio-histórico dos grupos e comunidades participantes da pesquisa, representados aqui pelos projetos acadêmicos comunitários vivenciados por: estudantes e professores da UBV e comunidade Casco Histórico de Macarao (PAC A); e, estudantes e professores da UBV e comunidade Santa Rosa del Ávila (PAC B).

O contexto sócio-histórico foi desenvolvido na fundamentação teórica dos capítulos II e III, nos que procuramos a compreensão: (a) do contexto dos confrontos epistemológicos entre conhecimento científico (universidade) e comum (comunidade local); (b) a ecologia de saberes e a complexidade como paradigmas emergentes, que possibilitam a integração de conhecimentos (c) contexto histórico-político do surgimento de uma nova concepção de universidade como é o caso da UBV e sua ação participativa conjunta com comunidades locais. Se complementando este contexto sócio-histórico no campo, na interação direta com os grupos, assim como do processo histórico que une à pesquisadora com o lócus da pesquisa (caso do PAC A).

O segundo nível interpretativo correspondeu, primeiro à ordenação dos dados, que teve como objetivo a disposição ordenada e classificada do material empírico e segundo a classificação dos dados.

A ordenação dos dados, significou o encontro com os dados empíricos obtidos através das diversas fontes utilizadas, quer dizer, nosso encontro com estudantes, professores e moradores das comunidades participantes, através das entrevistas, questionários, documentos, anotações de campo, fotografias e

gravações. Nesta etapa, todas as entrevistas foram transcritas (integras), digitadas e ordenadas em arquivos. Logo fizemos a escuta das entrevistas e verificamos que toda a informação estivesse na transcrição, na tentativa de diminuir possíveis erros de transcrição. Seguidamente, fizemos varias leituras do material empírico, fazendo anotações (notas de rodapé e comentários), seleção de parágrafos e palavras chave. Destas leituras foram surgindo significados e sentidos do diálogo entre sujeitos-sujeitos e fomos visualizando possíveis núcleos de sentido. Se fez o mesmo tratamento com os questionários, documentos e anotações de campo. As fotografias e gravações de vídeo passaram por um processo de escolha, identificação e classificação. A ordenação dos dados correspondeu ao processo hermenêutico.

A classificação dos dados, foi feita em duas etapas: na primeira foi uma leitura horizontal e exaustiva do material empírico, identificando ideias centrais, visando coerência interna e estruturas de relevância. Desta etapa surgiu uma primeira classificação por tópicos de informação que foram agrupados de acordo à semelhança de significados ou aspectos que se ressaltavam. Surgiram um conjunto de classificações que fomos lhe dando o nome de unidades de sentido (sub- categorias).

Posteriormente essa classificação passou por outras leituras (transversal) e interpretações, levando em conta nossas questões, fundamentações teóricas, experiência no tema da pesquisa e objetivos, procurando convergências, divergências, complementaridades e estruturas relevantes. Esta leitura transversal, permitiu afinar o conjunto de unidades de sentido que emergiram dessas leituras e interpretações. As unidades de sentido estiveram vinculadas a três categorias de análise: interação dialógica, integração de conhecimentos e difusão de conhecimentos.

Sendo assim, para a categoria de análise interação dialógica se estabeleceram as unidades de sentido: contexto das comunidades envolvidas no diálogo, experiências do encontro dialógico e etapas da interação dialógica; para a categoria de análise integração do conhecimento, as unidades de sentido foram: projetos integrados, experiência de integração, aprendizagens, mudanças e afetividade e finalmente para a categoria de análise difusão do conhecimento as unidades de sentido foram: atuação da comunidade nos espaços acadêmicos e atuação da universidade nos espaços comunitários.

A análise final consistiu na articulação dos dados e os referenciais teóricos e sua interpretação dialética através do movimento das interações entre os fatos, os contextos, mudanças e dinamismo da realidade estudada, procurando dar resposta aos objetivos da pesquisa. A partir do que foi explanado, na próxima seção se descreve a interpretação e análise dos resultados desta investigação. Com base nesta informação, foi representado o processo de operacionalização da análise hermenêutica-dialética da pesquisa no seguinte fluxograma (figura 18).

Figura 18 – Fluxograma do processo de operacionalização da análise Hermenêutica-Dialética da

pesquisa

Leitura horizontal e exaustiva do material, identificando ideias centrais, visando coerência interna

e estruturas de relevância

Unidades de sentido

Leitura transversal

Compreensão e interpretação

Articulação entre dados empíricos e fundamentos teóricos

Processo Hermenêutico Contexto sócio- histórico do grupo social

Análise Final Classificação dos dados Ordenação dos dados Determinações fundamentais

Leitura geral do material empírico varias vezes, fazendo anotações, procurando relações, comparações, contrastes

Análise circular do empírico -teórico 1 Nível Contexto 2 Nível Encontro com os dados empíricos, sentidos, interpretações

Transcrições das entrevistas. Entrevistas, questionários, documentos, anotações de campo, fotografias, gravações foram sistematizadas

*Aproximação ao campo da pesquisa e sujeitos participantes *Compreensão do contexto

PAC B(UBV-Comunidade Santa Rosa del Ávila)

PAC A (UBV-Comunidade Casco Histórico de Macarao)

PAC B PAC A Processo Dialético Estruturas de relevância Categorias de Análise Convergência Diferenças Complementaridade

Figura 19 – Mapa conceitual da metodologia da pesquisa

METODOLOGIA

Método de pesquisa participante

(BRANDÃO; BORGES, 2007; BARBIER, 2007)

Lócus da pesquisa e sujeitos participantes

Procedimentos para coleta de informação

Observação Participante

Entrevista semiestruturada

Análise das informações

Método Hermenêutico – Dialético

(MINAYO, 2008)

Linhas do pensamento: ecologia de saberes; complexidade , diálogo

representa

Caminho seguido pelo pesquisador para se aproximar do entendimento de uma realidade

Orientou-se

assumiu Pesquisa de cunho qualitativo, de tipo descritiva e analítica inspira-se

Procedimentos de pesquisa

1° fase. Pesquisa bibliográfica (capítulos teóricos) e documental (TCC, regulamentos UBV). 2° fase. Pesquisa de campo

Questionário (perguntas abertas)

Anotações de campo, gravações e registro de imagens fotográficas

Professores, estudantes e moradores das duas comunidades locais

Total =15 entrevistas (três grupais e 12 individuais): Grupo A (PAC A)= 7; Grupo B (PAC B)= 8 Roteiro, vinculado

aos objetivos específicos

Estruturado em 4 partes: identificação do participante; diálogo; interação e integração;

difusão do conhecimento Realizadas: novembro 2014-Janeiro 2015; dezembro 2015- janeiro 2016

Análise Documental (TCC; regulamentos UBV)

inspira-se

Hermenêutica (arte da compreensão) Dialética (abordagem da realidade, na sua compreensão como processo histórico, dinâmico e cambiante

Compreensão da realidade: processo, dinâmica, mudanças

Técnica de análise das informações

PAC do Programa de Gestão Ambiental-UBV-Sede Caracas. Escolhidas duas experiências: PAC A (UBV e Comunidade Casco Histórico Macarao) e PAC B (UBV e Comunidade Santa Rosa del Ávila).

Operacionalização da análise Hermenêutica- Dialética(MINAYO, 2008)