INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA
UCIC 40 2.98 1.40 31 3.19 0.87 804 424 Número de dias internado na
1 RESULTADOS DOS TESTES DE HIPÓTESES
1.1 Hipótese 1 Prevê-se uma diferença significativa entre homens e mulheres na
adaptação psicossocial a curto prazo, no pós enfarte agudo do miocárdio,apresentando as mulheres maiores dificuldades de adaptação psicossocial do que os homens (avaliada pelas sub-escalas ansiedade e depressão do Hospital Anxiety and Depression Scale e pelo total e sub-escalas do
Sickness Impact profile, locomoção, mobilidade, tarefas domésticas, actividades recreativas e passatempos,
actividades sociais, emoções, alerta, sono e repouso, e alimentação).
Para testar esta hipótese foram utilizados o Sickness Impact Profile (SIP) e o Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), como indicadores da adaptação psicossocial. O SIP apenas foi utilizado no momento 3 (15 dias após a alta) e o HADS nos três momentos de avaliação.
Em relação ao valor SIP-Total e suas sub-escalas, esta hipótese foi testada recorrendo a análises de variância univariada (SIP-Total) e multivariada (sub-escalas) com a idade como concomitante (Ancovas e Mancovas), para avaliar as diferenças obtidas ao nível do género na adaptação funcional à doença (momento 3). Para avaliar o efeito do género no conjunto das sub-escalas do HADS (ansiedade e depressão), foram efectuadas análises multivariadas (Mancovas - medidas repetidas) com os valores obtidos pelo HADS em cada uma das dimensões nos três momentos de avaliação.
Como referido anteriormente, a variável idade foi utilizada como concomitante
(covariate) em ambas as análises, de modo a avaliar as diferenças do género na adaptação psicossocial ao enfarte do miocárdio, controlando a influência da idade.
Os resultados das análises de covariância univariada, relativos ao efeito do género no SIP-Total, foram não significativos (F=.32; p=.575) (ver quadro 18). As análises de covariância multivariada produziram resultados significativos para o efeito do género no conjunto das sub-escalas do SIP (F=2.89; P=.006). Os resultados univariados foram significativos para as sub-escalas locomoção (F=4.14; p=.045) e tarefas domésticas (F=12.16; p=.001), apresentando as mulheres piores valores de adaptação psicossocial.
No quadro 18 encontram-se descritos os resultados referentes às diferenças ao nível do género na adaptação funcional pós EAM (a negrito encontram-se os resultados com significância estatística).
Quadro 18
Resultados das análises de variância (Ancovas para o SIP-Total e Mancovas para as sub-escalas) referentes ao Sickness Impact Profile em função do género, considerando a idade como covariante
(N=78)
Dimensões do SIP Masculino Feminino F p
Sip-Total Média DP 55.52 15.95 60.47 9.01 F=.32 p=.575 Locomoção Média DP 27.43 22.25 50.22 25.40 F=4.14 p=.045 Mobilidade Média DP 38.43 43.04 53.28 39.41 F=.20 p=.656 Tarefas domésticas Média
DP 35.37 28.74 69.78 21.73 F=12.16 p=.001 Actividades recreativas e passatempos Média DP 26.07 24.94 26.59 27.16 F=.32 p=.572 Actividades sociais Média
DP 42.83 29.91 30.84 29.24 F=1.04 p=.312 Emoções Média DP 19.87 28.89 36.97 29.37 F=1.63 p=.205 Alerta Média DP 11.11 26.58 10.34 24.95 F=.006 p=.941 Sono e repouso Média
DP 49.35 41.90 51.25 36.16 F=1.47 p=.230 Alimentação Média DP 44.78 22.49 47.94 20.41 F=.17 p=.678
Como vimos anteriormente, os resultados obtidos revelam que existem diferenças significativas ao nível do género nas sub-escalas locomoção e tarefas domésticas, indicando que o género tem um efeito significativo sobre estas dimensões. Analisando as médias da dimensão locomoção, podemos verificar que estas são mais elevadas para as mulheres (M=50.22), comparativamente com os homens (M=27.43). O mesmo se verifica no que respeita à sub-escala tarefas domésticas (M=69.78), em relação aos homens (M=35.37). Os resultados obtidos, mesmo controlando o efeito da idade, sugerem uma maior disfuncionalidade ao nível da locomoção e realização de tarefas domésticas por parte das mulheres.
Numa segunda fase, para investigar o efeito do género na ansiedade e depressão nos três momentos de avaliação, foram efectuadas análises de covariância multivariadas
(Mancovas - medidas repetidas), utilizando a idade como concomitante.
Em termos dos resultados das Mancovas (medidas repetidas) relativos ao efeito do género e do género X tempo no HADS, os resultados foram não significativos para o efeito do género X tempo: ansiedade (F=.63; p=.54) e depressão (F=.74; p=.48). Os resultados foram
mais elevados de ansiedade e depressão do que os homens. Os resultados revelam que o género possui um efeito significativo sobre a ansiedade (F= 7.722; p=.007) no pós EAM nos 3 momentos de avaliação.
São apresentados no quadro 19, os valores relativos às médias estimadas do género na ansiedade, nos três momentos de avaliação.
Quadro 19
Médias referentes à ansiedade nos 3 momentos de avaliação (medidas repetidas), em função do género (valores estimados), considerando a idade como concomitante (N=78)
Momentos de avaliação Género
Masculino Feminino Média Média
1 6.00 10.34
2 6.37 9.81
3 5.93 9.22
Pela análise do quadro 19 podemos observar que globalmente, as mulheres apresentam valores médios de ansiedade mais elevados nos três momentos de avaliação, o que confirma a hipótese 1.
Em termos da ansiedade, efectuado o teste de esfericidade de Mauchly, este resultou não significativo (p=.114), o que significa que as variâncias entre os momentos são estatisticamente iguais.
Ao nível da depressão os resultados mostram um efeito estatisticamente significativo do género (F=15.09; p≤.001) na depressão. No quadro 20 são apresentadas os valores médios estimados ao nível do género sobre a depressão.
Quadro 20
Médias referentes à depressão nos 3 momentos de avaliação (medidas repetidas), em função do género (valores estimados), considerando a idade como concomitante (N=78)
Momentos de avaliação Género
Masculino Feminino Média Média
1 4.96 8.94
2 5.51 8.61
3 5.14 8.77
Pela análise do quadro 20, podemos verificar que relativamente à depressão, as médias são globalmente mais elevadas para as mulheres do que para os homens nos três momentos de avaliação, confirmando a hipótese 1. No caso dos homens, verifica-se que os níveis de depressão elevam-se da admissão hospitalar (M=4.96) para a altura da alta
(M=5.51), voltando a decrescer na avaliação das duas semanas após a alta (M=5.14). As mulheres apresentam na altura da admissão hospitalar os níveis de depressão mais elevados
(M=8.94), decrescendo ligeiramente na altura da alta (M=8.61), e mantendo-se duas semanas após a alta (M=8.77).
Em termos da depressão, efectuado o teste de esfericidade de Mauchly, este resultou significativo, o que significa que não podemos assumir a igualdade das variâncias entre os momentos. Os resultados obtidos nas análises intra-sujeitos demonstraram que existe um efeito significativo do factor tempo (F=3.32; p=.044) e efeito interactivo do tempo X idade (F=3.73; p=.030) sobre os níveis de depressão ao longo dos três momentos de avaliação. A análise da interacção tempo X idade, indica que existe uma variação diferencial da depressão ao longo dos momentos de avaliação segundo a idade: enquanto nos doentes mais novos a depressão diminui no momento da alta, nos mais velhos aumenta, como se pode constatar pela análise do quadro 21.
Quadro 21
Médias e desvios padrão referentes à depressão (nos 3 momentos de avaliação) em função da idade categorizada (< 60 anos e ≥ 60 anos) (N=78)
Momentos de avaliação Idade categorizada 36-59 anos ≥60 anos Média DP Média DP 1 4.74 3.70 8.75 4.87 2 4.02 2.84 10.00 4.83 3 4.67 3.82 8.92 4.69
Em resumo, os resultados encontrados comprovam parcialmente a hipótese 1 em termos de adaptação funcional, demonstrando que o género tem um efeito significativo sobre a funcionalidade ao nível da locomoção e das tarefas domésticas. Os resultados sugerem de um modo geral, que são as mulheres que apresentam uma maior disfuncionalidade do que os homens na locomoção e tarefas domésticas e, consequentemente, uma pior adaptação.
Nas análises de covariância multivariada, os dados obtidos permitem constatar que existem resultados significativos ao nível do efeito do género sobre a ansiedade e a depressão, apresentando as mulheres níveis mais elevados de ansiedade e depressão durante os três momentos de avaliação Os dados sugerem que as mulheres apresentam uma pior adaptação em termos emocionais, comprovando a hipótese 1. Os níveis mais elevados
de ansiedade e depressão correspondem nos homens à altura da alta hospitalar e nas mulheres, à altura da admissão hospitalar nos cuidados intermédios.
1.2 Hipótese 2 - Prevê-se que a adaptação psicossocial no pós EAM (avaliada pelo HADS,