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A Indústria de Autopeças Brasileira

5.1 Histórico

A indústria nacional de autopeças é anterior à implantação da indústria automobilística no Brasil, em meados da década de 50. Desde a chegada do automóvel no país, no início do século XX, criou-se um ativo mercado de peças para reposição e oficinas mecânicas de reparos, associadas ou não às revendedoras de veículos. Gradativamente, diversas destas oficinas tomaram-se fabricantes de peças e componentes, processo que se intensificou com a dificuldade de importação durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1949, o Brasil possuía cerca de 100 fabricantes de autopeças e, já em 1949, começava a fabricação de veículos, com a Brasmotor instalando uma fábrica em São Bernardo do Campo (SP), e passando a montar veículos da Chrysler. Em 1956, com a implantação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) e os incentivos concedidos pelo governo Juscelino à instalação de montadoras de automóveis no país, a Brasmotor chegou a tentar um acordo com a Chrysler para instalação de uma fábrica no Brasil. Porém, a empresa norte- americana não se interessou e cancelou o acordo que até então mantinha com a Brasmotor (GAZETA MERCANTIL, 2000).

Paralelamente a estes fatos, a Brasmotor, em 1950, importou o primeiro “Fusca” do Brasil e, no mesmo ano, em um acordo com a alemã Volskwagen, passou a montar esse automóvel no país. O acordo durou até 1954. Em 1956, a empresa recusou uma oferta de parceria com a Volkswagen, pois não aceitou uma situação de sócio minoritário, sem condições de interferir na gestão da empresa. Assim, a Brasmotor reorientou os seus negócios e passou a se dedicar ao ramo de eletrodomésticos. Finalmente, em 1958, a Brasmotor deixa o ramo automobilístico.

Durante este período, outras empresas estrangeiras já começavam a mostrar interesse em investir no Brasil. Em 1951, a alemã Mercedes-Benz inicia seus planos de fabricar ônibus e caminhões no País, que seriam concretizados em 1956; em 1952, é fundada a Willys- Overland, de capital norte-americano, para produção de jipes e carros de passeio.

O parque automobilístico brasileiro amplia-se rapidamente, passando de 426 mil veículos em 1950 para 708 mil em 1956, com crescimento de 66%. Em 1957, a sueca Scania Vabis começa a construir sua fábrica de caminhões pesados; um ano depois, instalam-se no Brasil a japonesa Toyota, para fabricar utilitários, e a francesa Simca, para produzir automóveis. Em 1955, o País já contava com 520 empresas fabricantes de componentes, destacando-se a Metal Leve S.A. Indústria e Comércio, Cinpal Ltda, Metalúrgica Levorin S.A., Cofap, Nakata S.A. e a Francisco Stedile S.A.

Definitivamente, a chegada das montadoras alterou o fornecimento de autopeças (em dezembro de 1960, 1200 fabricantes já estavam em atividade), anteriormente direcionado principalmente ao mercado de reposição. A produção de componentes passou a se dirigir às montadoras que se tornariam as principais clientes do setor.

A década de 60 foi o período de consolidação da indústria automobilística, que então procurou reduzir os custos dos componentes. Para tanto, as montadoras além de aumentarem sua produção própria de peças e, portanto, seu índice de verticalização, procuraram atrair para o Brasil fabricantes de seus mercados de origem, de modo a ampliar o número de fornecedores para, no mínimo, três por componente, como forma de estimular a competição e a queda nos preços. A indústria automobilística começa então a exportar veículos: no início, ônibus (em 1960), posteriormente caminhões (1965) e, por último, automóveis (a partir de 1969). Ainda durante esta década, a entrada de novas montadoras continuou ocorrendo, como a Chrysler Motors do Brasil Ltda., que em 1966 comprou as instalações para fabricação de caminhões da International Harvester Máquinas.

Na década de 70, instalou-se, em Minas Gerais, a Fiat para fabricar automóveis. Durante o final dessa década e parte dos anos 80, estimularam-se as exportações do setor automotivo e de autopeças, como alternativa às constantes oscilações do mercado interno. A produção de veículos manteve ritmo de crescimento constante até 1980, quando foram produzidas 1,1 milhão de unidades (automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões); em 1981, a produção caiu 29%, para 780,8 mil unidades, mantendo-se oscilante, mas em níveis baixos, até 1990, quando foram produzidos 914 mil veículos.

É interessante ressaltar que, entre 1975 e 1985, as vendas de veículos ao exterior aumentaram 305%, passando de 52,6 mil para 160,6 mil unidades. No setor de autopeças, no mesmo período, as exportações de motores quintuplicaram-se, passando de 81 mil unidades em 1975 para 407,1 mil em 1985. A participação das autopeças, na exportação do setor automobilístico, aumentou de 3,1% do total em 1977 (primeiro dado disponível), para 12,7% em 1985. Como resultado destas iniciativas de conquista do mercado externo, as empresas fabricantes de autopeças e as montadoras foram obrigadas a se adequar tecnologicamente e a utilizar técnicas produtivas mais modernas, nos padrões da indústria japonesa. Entretanto, este fato não significa que a indústria nacional tivesse seus resultados alçados aos mesmos níveis internacionais na questão dos padrões.

Desde 1990, a indústria de autopeças está passando por um processo turbulento de modernização. A abertura de mercado, promovida pelo governo Collor, foi o fator que finalmente lançou o setor à concorrência de produtos estrangeiros. As tarifas alfandegárias foram reduzidas de 80%, em 1990, para 35%, em 1994, com o objetivo de estimular a concorrência e obrigar a modernização de produtos e empresas. Neste doloroso processo de ajuste, o nível tecnológico dos modelos em circulação aumentou consideravelmente, pois o fim da reserva de mercado também permitiu intensificar a importação de dezenas de componentes.

Desde então, a indústria de autopeças tem evoluído rapidamente para suprir as novas demandas e fazer frente à nova realidade do mercado mundial, catalisada pela aceleração do fenômeno conhecido como globalização, descrito anteriormente. Atualmente, o país conta com um parque industrial bastante diversificado e competitivo internacionalmente.